ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL



ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL
UM ELO ENTRE A CRIANÇA, A FAMÍLIA E A ESCOLA.

Luciani Gallo Machado Barreto
Neide da Silva2
Solange dos Santos Melo3

RESUMO: O presente artigo trata a questão do processo de adaptação e socialização da criança na instituição escolar infantil, sendo este um período de mudança e renovação na vida da criança, do professor e da família. Busca entender este momento como um processo que envolve uma rede de relações que implica a escola, seus professores e os pais das crianças, fazendo-se necessário que se definam suas funções nessa passagem. Mostra também uma experiência comprovada através de um projeto de adaptação, trabalhado no Centro de Educação Infantil Eusébio Justino de Camargo, com crianças de 04 anos de idade.


UNITERMOS: Adaptação escolar; criança; família.

ABSTRACT: This article deals with the process of adaptation and socialization of children in the school playground, which is a period of change and renewal in the life of the child, the teacher and the family. Seeks to understand this moment as a process involving a network of relationships involving the school, their teachers and parents of children, making it necessary to define their roles in this passage. It also shows a proven means of an adaptation project working at the Center for Early Education Eusebius Justino de Camargo, with children 04 years of age.

KEYWORDS: Adaptation school; child; family.










INTRODUÇÃO

O processo de adaptação foi, ao longo da história da educação infantil, muitas vezes encarado pelos profissionais como sendo um período de tempo e espaço determinados pela própria escola e tinha como objetivo fazer as crianças pararem de chorar. Imaginar que o sucesso de um processo de adaptação se resume à ter ausência de choro é banalizar uma situação que não termina em si mesma. Os sintomas que as crianças apresentam como doenças, regressões, alterações de comportamento, etc., estão aí para comprovar que elas não falam que as coisas não vão bem somente chorando. (BORGES, 2002: 32)
Considerando a importância do período de adaptação da criança à escola, sobretudo a criança pequena que freqüenta a escola pela primeira vez, ou aquela que terá um novo nível de escolaridade, o professor deve ser facilitador neste processo, de forma lúdica, atrativa, segura, prazerosa, dando início ao processo de ensino-aprendizagem.
Segundo DAVINI (1999:45): A adaptação é todo um grande período, que abrange desde as entrevistas e visitas preliminares dos pais às escolas, bem como os primeiros dias e o primeiro ano de escolarização da criança.
As crianças, que estão indo para a escola pela primeira vez, sofrem de ansiedade da separação. Elas sentem medo de que os pais não voltem para buscá-las e fantasiam o abandono. É importante que os pais lhes demonstrem interesse pela experiência que elas estão vivendo que as encorajem, reforçando-lhes a auto-estima, diminuindo-lhes a ansiedade, mostrando-lhe aspectos entusiasmantes da escola como: conhecer novos amiguinhos, poder brincar com eles, etc. e tranqüilizando-os quanto ao amor que sentem por elas, quanto à proximidade que manterão com a escola e com sua professora e quanto a estarem lá, para buscá-los no horário de saída.
A intensidade com que cada um vai experimentar, ou a forma como vai atravessar esse período, vai depender dos aspectos particulares de cada personalidade participante do processo e, também, da dinâmica familiar. Um fato a ser admitido é que essa separação é algo inevitável na vida de cada um de nós e, ainda que seja um processo doloroso, costuma trazer crescimento para todos os envolvidos. É importante que os pais vejam a situação não como "um mal necessário", mas como algo bastante positivo e enriquecedor no desenvolvimento de seu filho.



ADAPTAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

O processo de adaptação da criança à escola é um período muito delicado, pois envolve toda a comunidade escolar, ou seja, os pais, professores e demais funcionários da instituição na qual a criança está inserida. A separação afeta as crianças. Afeta os pais. Faz brotar sentimentos nos professores. O início da vida escolar pode ser uma ocasião excitante ou também uma ocasião agradável. Junto com aqueles que realmente estão encantados por estarem iniciando sua vida escolar, existem freqüentemente outras crianças chorando ou pais tensos e nervosos. (BALABAN, 1988: 24)
É importante lembrar que a separação é um processo que gera sentimentos, precisando ser entendidos, discutidos e superados gradativamente.

A Função da família na adaptação

Para a criança é difícil o fato de ter que se separar dos pais, de ficar desprovida do convívio familiar ao qual já estava habituada, mesmo que por algumas horas apenas, para passar a freqüentar um novo espaço, a lidar com novos desafios.
Tudo isso acaba por provocar a ansiedade, o medo, à insegurança. A forma pela qual muitas crianças manifestam os seus medos é através do choro, e isso é considerado normal por professores e estudiosos na área da Educação Infantil. Nesse momento a ajuda dos pais é fundamental, é importante que ao ver o choro do filho não o leve de volta para casa, pois agindo dessa maneira irá prolongar ainda mais o processo de adaptação, outro aspecto importante também é vir buscá-lo na escola no horário combinado.
BALABAN (1988) orienta que antes do início das aulas, sejam organizadas reuniões coletivas e individuais com os pais, para a escola expor aos mesmos a sua proposta pedagógica, os seus objetivos, explicando-lhes como se dá esse processo de adaptação, enfatizando que esse momento merece uma atenção especial.
Fica possibilitado nesse momento o esclarecimento de dúvidas, pois serão plantadas sementes nesse encontro para o estabelecimento de uma relação de confiança, afetividade e amizade entre escola e família.
É importante salientar que já existiram casos de pais que esqueceram o filho na escola e que este fato poderá criar um trauma irreparável na vida escolar da criança.

A Função do professor na adaptação

Quanto ao professor, este deve estar proporcionando um ambiente agradável e acolhedor com atividades lúdicas e prazerosas as quais supram o processo de separação vivido pela criança, e que estimule a sua individualidade e socialização, como músicas e danças, jogos e brincadeiras, histórias dentre outras, dessa forma o professor irá conquistar a confiança da criança e conseqüentemente facilitará o processo de adaptação e socialização da mesma, principalmente em se tratando da pré-escola.
O professor nesse processo aparece como mediador principal no contexto da adaptação à vida escolar. Assim como as crianças e os pais, nesse momento, também passa pelo processo de adaptação, pois a cada ano que se inicia novas experiências, novas crianças, novos pais serão conhecidos. As expectativas são muitas: como serão as novas crianças? Serei bem aceita por elas? Será que elas confiarão em mim? Ademais, a rotina de sala de aula e muitas vezes da própria escola são modificadas diante das peculiaridades encontradas no processo de adaptação.
Enfim, o professor é o principal mediador e tem que atender as expectativas dos pais, ganhar a confiança das crianças e de seus familiares e ainda, conduzir esse processo, além de trabalhar seus próprios sentimentos. Está sendo posto o tempo todo à prova e é necessário sempre ampliar e capacitar os seus conhecimentos.

EXPERIÊNCIA COM PROJETO
Experiência de Adaptação comprovada

Tendo em vista às considerações apontadas acima, desenvolvemos no CEI Eusébio Justino de Camargo o projeto “Pequeno Ser” que trata do processo de adaptação e socialização da criança na pré-escola, projeto este que foi desenvolvido com crianças na faixa etária de 04 anos.
O objetivo principal deste projeto foi o de favorecer um ambiente rico em estímulos, onde a criança poderá conhecer e viver novas experiências, expressando seus pensamentos, sentimentos e emoções livremente, bem como, proporcionar, além de um clima de afetividade e confiança mútua entre os alunos, pais e os colaboradores da escola, o desenvolvimento psicomotor das crianças, através de um ambiente lúdico e prazeroso.
Para alcançar os objetivos propostos, trabalhamos com as seguintes estratégias: apresentação das dependências da escola, bem como de seus colaboradores e suas respectivas funções, atividades que proporcionaram o desenvolvimento das diversas formas de linguagem como cantar, dançar, imitar, balbuciar, desenhar, pintar, dentre outras, atividades que auxiliam no desenvolvimento psicomotor como engatinhar, arrastar, correr, rolar, pular, rasgar, amassar, subir, descer, andar em linha reta, empurrar e atividades que instiguem a imaginação e a criatividade: faz-de-conta, reconto de histórias e brincadeiras livres.
Apresentação da escola
A apresentação das dependências da escola aconteceu de forma natural, através dos momentos de alimentação e de execução de atividades, ou seja, na "sala de aula", nos banheiros, no lanche da manhã e da tarde, na brinquedoteca, no pátio, no contato com os funcionários e demais alunos da Escola. O vínculo de confiança entre pais e professores foi estabelecido através da constante comunicação dos fatos ocorridos, tanto em sala de aula como em casa.
Linguagem
"A linguagem oral tem um impacto surpreendente no desenvolvimento cerebral de uma criança, o número de palavras que uma criança escuta cada dia é o único e mais importante fato para predizer sua futura inteligência, o êxito escolar e a competência social" (SANCHEZ, 2006). A comunicação foi explorada em todas as atividades propostas, ou seja, a todo o momento as professoras incentivaram a fala das crianças e conversaram com elas.
Como atividades desenvolvidas que incentivaram as diversas formas de linguagem apresentamos:
• Roda de música;
• Dançar ao som de CD's;
• Imitação;
• Momento de leitura;
• Roda de conversa;
• Momento da higiene;
• Chamada "Quem veio à escola hoje";
• Como está o tempo?
• Que dia é hoje?
• Brincadeiras dirigidas.
Psicomotricidade
No desenvolvimento total da criança a estimulação através do movimento é essencial. Segundo SANCHES (2006) "a psicomotricidade ou a manipulação, o uso e o manuseio de objetos são necessários para se ter todas as habilidades, formando parte das aprendizagens naturais da criança, que lhe servirão de base para sua maturidade, preparando-a para escrever, ler e falar corretamente". Sendo assim, atividades que estimulem a psicomotricidade nessa faixa etária são de extrema importância. Dentro desse contexto, apresentamos como atividades que foram desenvolvidas:
• Bolinhas de crepom;
• Dança das cadeiras;
• Pega-pega (correr, parar);
• Serra - serrador;
• Rasgar papel;
• Pular;
• Rolar;
• Espreguiçar.
Imaginação e criatividade
Criatividade e imaginação estão muito relacionadas com a curiosidade, portanto responder aos porquês da criança e deixá-la explorar sua curiosidade natural são atitudes essenciais. Para tanto, apresentamos as seguintes atividades:
• Brincadeira livre;
• Brinquedos de encaixe;
• Dramatização;
• Leituras;
• Brincadeiras de casinha;
• Mímica;
• DVD.


Conclusão
Pode-se concluir que a adaptação é uma situação de muito estresse tanto para os pais, como para as crianças e de certa forma para os professores. A decisão de colocar o filho na escola ou creche tem que ser muito bem pensada. Os pais têm que estar muito seguros desta atitude. Eles devem estar prontos, pois terão que se manter firmes, não deverão em hipótese alguma se arrepender e voltar atrás, pois esta atitude resultará em danos tremendos à criança.
Toda situação nova, tanto para as crianças como para os adultos é uma posição incômoda, pois tira o indivíduo da sua zona de conforto. Enfrentar o desconhecido é sempre uma condição estressante independente da idade.
No que diz respeito à experiência realizada durante o desenvolvimento do projeto “Pequeno Ser” buscou-se fazer com que o momento de adaptação e socialização fosse de descontração e alegria, e para tal, foram realizadas várias atividades: brincadeira livre pela sala, brincadeira com vários jogos (montar, encaixar, quebra-cabeça, dentre outros), jogo de bola, manuseio de livros, idas ao parque, brincadeiras de roda, brinquedos de areia, cantos, dança, DVD, além disso, trabalhamos todas as datas comemorativas relevantes referentes ao período em que se desenvolveu o projeto.
Todas as atividades tiveram uma resposta positiva da turma, embora algumas crianças tenham dificuldade de se concentrar em uma atividade, dispersando-se com facilidade.
Enfim, pode-se concluir que o grupo adaptou-se facilmente ao ambiente escolar, uma vez que as crianças desta turma nunca tinham freqüentado outra unidade escolar.












REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AROEIRA, Maria Luisa Campos. Projetos para a educação infantil. Belo Horizonte: Dimensão, 2004.

A NOVA, pré-escola. 2.ed. Curitiba; Bolsa Nacional do livro, 2004

BALABAN, Nancy. O início da vida escolar: da separação à independência. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988

BARBOSA, Maria Carmen Silveira. Por amor e por força: rotinas na educação Infantil. Porto Alegre: Artmed, 2006.

BORGES, M. F. S. T. e SOUZA, R. C. de (org.) A práxis na formação de educadores de educação infantil. Rio de Janeiro: DP & A, 2002.

BRASIL. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Brasília, MEC/SEF, 1998. vol. I, vol. II.

DAVINI, Juliana; FREIRE, Madalena (Org). Adaptação: pais, educadores e crianças enfrentando mudanças. São Paulo: Espaço Pedagógico, 1999. (Série Cadernos de Reflexão).

RAPOPORT, Andréa. Adaptação de bebês á creche. Porto Alegre: Mediação, 2005.



























Autor: Solange Melo


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