SI VIS PACEM, PARA BELLUM



Foi divulgada com grande destaque nos jornais do dia 07 de Setembro, a notícia de que Brasil e França estão assinando um contrato que estabelece uma parceria militar estratégica para a compra de submarinos e de helicópteros franceses por um valor que ficará em torno de R$ 24 bilhões, dinheiro cuja maior parte será financiada por bancos estrangeiros. Segundo ela, representantes dos dois governos assinarão uma série de acordos nas áreas de defesa, cooperação policial, imigração, transportes, agricultura, tecnologia, entre outras.

 

A justificativa para tal parceria, é a de que o Brasil ambiciona colocar em prática uma política industrial de defesa, além de alavancar sua presença em organizações internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Tentam explicar o acordo, alegando que “o Brasil precisa renovar a frota da Marinha para ter condições de proteger as megarreservas nacionais de petróleo e que até 2020, o Brasil pretende ter a maior e mais poderosa força naval da América Latina, com submarinos, fragatas, navios leves e corvetas, além de mísseis de longo alcance, torpedos, aviões e helicópteros de tecnologia avançada”.

 

Ao ler a notícia, não pude deixar de recordar aquela velha máxima romana atribuída a Publius Flavius Vegetius, traduzida na locução “SI VIS PACEM, PARA BELLUM” que significa em português, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Com o referido adágio, ele queria dizer que a possibilidade de guerra, sendo inerente aos grupos humanos, não poderia ser negligenciada ao analisarmos as relações internacionais. Pois referido pensamento, tem levado a uma corrida armamentista por parte de vários países, para alegria dos fabricantes de armas. Tanto que a frase também foi usada pela fabricante alemã de armas Deutsche Waffen und Munitionsfabriken, dando origem à palavra Parabellum, usada para designar calibre de armas de fogo e munições.

 

Eu poderia me debruçar sobre o tema e fazer uma análise séria sobre as razões do Estado brasileiro para tomar tal iniciativa, fazendo elucubrações profundas e trazendo à baila frases de grandes pensadores para, ao final, acabar dizendo nada com nada, pois é sempre assim quando trilhamos este caminho. Afinal, filosofia é que nem produto de supermercado: encontramos uma para cada gosto. Tudo aquilo que quisermos justificar, usamos ou a Bíblia ou  um compêndio de filosofia.

 

O que eu pus a me questionar é sobre quem o Brasil está tentando se preparar para combater com 50 helicópteros e cinco submarinos. Qual é o país que poderá ser uma real ameaça a segurança e estabilidade nacional? A quem se referia o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando disse que o Brasil “precisa assumir sua grandeza” e que precisa investir em sua capacidade militar. “Não pensando em atacar, mas em se defender”? Afinal, nossas questões fronteiriças sempre foram resolvidas sem precisarmos disparar um tiro que fosse.

 

Será que é a Venezuela de Hugo Chavez com seus planos de Bolivarismo, ou será que é a Argentina, com sua eterna arrogância? Lembro-me que na minha juventude, eu escutava histórias contadas por velhos ferroviários que afirmavam que os trilhos dos trens brasileiros tinham uma largura diferente dos trilhos argentinos porque o nosso governo temia uma invasão argentina por via ferroviária. Bem, eu acho que não. Até porque há menos de uma semana nós os derrotamos dentro de sua própria casa no único campo em que seremos eternos rivais: o do futebol.

 

Existem outros países europeus e asiáticos com poderio militar capaz de tentar uma invasão ao Brasil, porém a distância que eles se encontram tornaria isso tão dispendioso, que não lhes traria qualquer compensação econômica.

 

Sem querer a me arvorar a cientista político, posso afirmar que, tão logo acabou a antiga União Soviética com o consequente final da chamada “guerra fria”, estabeleceu-se no planeta uma espécie de pirâmide hierarquica tácita, no topo da qual estão os Estados Unidos, país mais poderoso do mundo em termos militares. Seria ele o único que poderia alimentar sonhos de invadir o Brasil. Acontece que para tanto, ele não precisaria de aparatos bélicos, eis que há muito tempo eles já nos invadiram cultural e politicamente. De qualquer forma, seus armamentos sofisticados e forças convencionais, têm surtido resultados apenas a curto prazo, tão logo eles inventam de invadir um país qualquer sobre o qual eles tenham um interesse econômico qualquer. Ao final, a longo prazo, eles não resistem à ação constante da guerrilha que pouco-a-pouco vai minando sua resistência e eles acabam se retirando dos países invadidos com sabor amargo de derrota. Foi assim no Vietnam e está sendo agora no Afeganistão e Iraque.

 

Talvez eu esteja sendo repetitivo, mas continuo achando que a melhor arma para nos destacarmos perante outras nações, é a educação e a saúde de nossa população. Bem que o Presidente Lula poderia injetar esta fábula de dinheiro que pretende gastar em armas, justamente na criação de escolas e hospitais de primeira qualidade, com incentivos para formação de professores e pesquisas científicas no campo da medicina. Ao invés de seguir o adágio do “si vis pacem, para bellum” ele poderia optar por outra citação latina que a meu ver, tem uma importância maior, que é justamente aquela que traz o princípio do “mens sana in corpore sano” ( uma mente sã no corpo são).

 

Para finalizar, não posso deixar de trazer à baila uma citação de Dwight D. Eisenhower (1860-1969), homem que paradoxalmente, foi presidente dos Estados Unidos (1953-1961) e comandante-em-chefe das forças aliadas na II Guerra Mundial. Disse ele:

"Cada arma fabricada, cada navio de guerra lançado, cada foguete disparado significa, no final das contas, um furto daqueles que sentem fome e não têm alimentos, daqueles que sentem frio e não têm agasalhos. Este mundo em armas não está apenas gastando dinheiro. Está gastando o suor de seus trabalhadores, o gênio de seus cientistas, as esperanças de suas crianças."

 

 

Jorge André Irion Jobim. Advogado de Santa Maria, RS


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Autor: Jorge André Irion Jobim


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