Justiça Segundo a República de Platão



Pode-se entender que a justiça desenvolvida por Platão na República, assume um caráter antropológico, ou seja, não é uma conceituação restrita e fechada, mas assume um sentido lato no qual trabalha envolvendo todo comportamento humano. Em um primeiro embate, Sócrates refuta a idéia simplista de que justiça é apenas fazer bem ao amigo e mal ao inimigo, ou então dizer a cada um a verdade e restituir o que é devido, mas somente quando Sócrates é desafiado por Trasímaco, é que a discussão passa ser mais intensa, pois o sofista levanta a questão de que a justiça não é nada mais do que a vontade do mais forte, e exemplifica relacionando justiça ao governo, sendo que as leis que representam de forma tácita a justiça em si, não são nada mais que o desejo dos mais poderosos e que a não prática ou "injustiça" é dada pelo não cumprimento de tais leis, resultando assim na conclusão exposta por Trasímaco. É levantado concomitantemente a esta analogia o seguinte aspecto; o homem justo, seja qual for o negócio em que se envolva, sempre sai perdendo para o injusto, o qual, obviamente, permaneceria sempre em melhores condições, usufruindo maior riqueza e prestígio. Esta tese levantada pelo sofista era uma corrente perfunctória na época de Platão sendo este totalmente contra, e através do discurso socrático por meio de inúmeras outras analogias diverge desta opinião. Porém a idéia preponderantefocaliza no fato de que cada coisa possui uma função própria. Sejam os instrumentos de trabalho, os animais ou os órgãos dos sentidos, cada um possui uma virtude própria (arete), que o possibilita executar da melhor maneira sua função específica (por exemplo, a aptidão de um médico para curar, a facilidade de um artesão para moldar, a visão aguda dos olhos etc.). A psyche humana também tem sua função sendo que para atingir sua arete seria através da justiça. Podemos afirmar assim que é na alma humana onde reside o sustentáculo ideal de justiça. Quando porém pensava-se que o debate dava por encerrado Gláucon e Adimanto instigados por ouvir Sócrates advogar mais intensamente a respeito do benefício em que reside na prática da justiça, afirmam que seria mais proveitoso praticar a injustiça. Sócrates com toda sua argúcia e oratória julga prudente primeiro a explanação do conceito de justo primeiramente no Estado para depois aplicar ao indivíduo. Sócrates afirma como sendo a justiça no caso da cidade o princípio de que cada pessoa deve realizar sua própria tarefa, "aquela para qual a sua natureza é a mais adequada" sendo assim, justiça seria a saúde, a beleza da alma, e o vício sua enfermidade, fealdade e fraqueza. Com isso Sócrates mostra novamente a superioridade do justo sobre o injusto. Para Platão o conceito de justiça deve ser entendido como uma virtú ou um bem interior pelo qual deve seguir não apenas por objetivar riquezas ou bens efêmeros, mas sim pela realização interna e a conservação da saúde da alma.
Autor: Guilherme Vilela


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