O Avaliar



Sempre quando inicio a correção de provas vem-me à mente um fato que praticamente mudou o meu jeito de avaliar e, principalmente, de como "olhar" o aluno no momento em que está sendo avaliado.

Eu tive um aluno, (por felicidade), que tinha enorme dificuldade para aprender matemática. Misturava tudo. Trocava sinais. Não conseguia acertar quase nada por mais simples que fosse.Álgebra então, nem pensar. Tão logo percebi, tais dificuldades, comecei a dar-lhe atenção especial, a utilizar-me de táticas pedagógicas, até de simpatia e tapinhas nas costas. Porém, parecia, que quanto mais eu me empenhava em mostrar-lhe que eu estava interessado nele e que gostaria, imensamente, que aprendesse um pouco, pelo menos um pouco, do conteúdo que ora estava sendo ministrado, a situação piorava, as notas eram mais baixas ainda. Quase desisti dele.

Um dia eu estava de "janela" (naquela época ainda não havia hora-atividade), comecei escutar alguns "gritos" do tipo: "vai Fábio", "olha o Fábio", "passa pro Fábio", etc, etc...ou seja, Fábio era o centro das atenções de todos os colegas que se encontravam em quadra naquele instante. E isso me chamou muito a atenção e fui ver o jogo. Lá estava ele, o Fábio, [meu calo], matando a bola no peito, descendo na coxa, rolando na quadra, olhando em todas as direções antes de inteligentemente "tocar" a bola para o coleginha que se deslocava. Lá estava ele, entre os adversários, "dividindo" cada lance, (ganhava todas), orientando os companheiros quanto às posições e os advertindo quando usavam de violência para "travar" o adversário. De repente, ele foi lançado.
Dominou magistralmente a "pelota" e, antes que ela tocasse o chão, ele "bateu" e... goooool. Eu vibrei.(De verdade, quase chorei). E ele, num relance, me olhou com um sorrisinho meio tímido no canto dos lábios, como que diz: "foi pra você!".

Naquele instante eu, que nunca  consegui passar de "perna-de-pau", e que sempre tive a avaliação escolar como o maior de todos os espinhos de minha amada profissão fiquei imaginando ele, o Fábio, sentado em uma mesinha ao lado da quadra me dando uma bela nota vermelha, meneando a cabeça e dizendo: esse eu acho que não vai dar em nada.


Autor: Davrison Anselmo


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