A INCLUSÃO E SEUS DESAFIOS NO COTIDIANO BRASILEIRO:



INTRODUÇÃO

A falta de entendimento das diferentes entre os seres humanos no decorrer da existência das civilizações fez com que os diferentes sempre fossem tratados de forma relativamente agressiva e confusa, por vezes, usados, rotulados, segregados, discriminados e excluídos; outras vezes pela mesma falta desse entendimento a própria pessoa diferente assume atitudes particulares como a autopunição, o isolamento e a agressividade. O direito de ser diferente nos dias atuais é considerado um direito humano, sujeito a uma análise crítica dos critérios sociais, que determinam preservar e reproduzir uma sociedade, um sistema, educacional.

Sendo assim, a presença da pessoa com necessidade especial começou a ficar mais visível na sociedade provocando diversos debates sobre a discriminação e marginalização das mesmas. A integração da pessoa portadora de deficiência na sociedade é baseada na declaração dos direitos humanos, fundamentada no princípio da igualdade e garantida na Constituição Brasileira de 1988 (CANOTILHO, 2002). A Política Nacional (Decreto nº 3298 de 20/12/99) "assegura o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiência", sendo direito básicos" os acessos a educação, a saúde, ao trabalho, ao transporte e a edificação pública" e tem como uma de suas diretrizes " estabelecer mecanismos que acelerem e favoreçam a inclusão social da pessoa portadora de deficiência" (BRASIL, 1999).

Isso posto, a partir do direito básico da pessoa portadora de deficiência ter acesso á educação, a atual política educacional brasileira inclui, em suas metas, a integração de crianças e jovens portadores de deficiências na escola regular, com atendimento educacional especializado, quando necessário (MEC,1994).

Observa-se que, a implementação dessa nova política, de certo modo revolucionária pela conjuntura da educação no Brasil, deve considerar como importantes desafios, este pensamento é visualizado por CANOTILHO (2002), quando diz que a capacitação de recursos humanos e a promoção das mudanças necessárias dos recursos físicos, materiais e pedagógicos são fundamentais para a sua concretização. O desenvolvimento de novas atitudes e formas de interação social na escola pode influenciar diretamente na efetivação da inclusão dos alunos com necessidades especiais no sistema de ensino regular.

Segundo o rol dos direitos fundamentais da CF/88, o Estado Democrático de Direito deve garantir, dentre outros, o direito à vida. Essa premissa visa dar a qualquer cidadão a plenitude do seu existir, participando ativamente na construção da vida pessoal,tendo uma existência digna, feliz e de qualidade.

De acordo com as estimativas da Organização das Nações Unidas- ONU, as pessoas portadoras de deficiências representam 10 % da população mundial.Esse percentual pode ser mais elevado quando se trata de países, como o Brasil, onde as condições socioeconômicas da população são precárias.

Dentro da filosofia em que se fundamentam os direitos humanos, é evidente que todos devem ter as mesmas oportunidades de aprender e desenvolver suas capacidades, para, assim, alcançar a independência social e econômica, bem como poder integrar-se plenamente na vida comunitária.

Por essa razão, as mesmas oportunidades oferecidas pela sociedade aos alunos considerados como "normais" devem ser extensivas aos educandos especiais.

Sendo assim, esta pesquisa justitifica-se pelo fato de que se torne evidente que as instituições educacionais regulares precisam contar com meios apropriados e suficientemente flexíveis, para facilitar a tais educandos pleno desenvolvimento e real integração social na comunidade em que vive.

Dessa forma, objetivou-se verificar como está sendo aplicado o processo de inclusão da educação especial se são idênticos aos da educação em geral, porém atendendo às diferenças individuais dos educandos. Neste estudo utilizaremos a observação participativa onde faremos o registro de uma "fato" do cotidiano escolar, sendo que os sujeitos citados são nomes fictícios,mantendo com isso sua privacidade.

CAPÍTULO I- A CRIANÇA E OS PAIS: UMA REFLEXÃO PARA O AMANHÃ.

Através de observações e indagações dos pais, diante da preocupação em relação ao comportamento e desenvolvimento. Além do atraso na área da linguagem oral,agitação psicomotora,e das queixas das professoras nas atividades propostas como: resistência diante dos limites estabelecidos, o que dificultava seu desempenho acadêmico,pois freqüentemente diante das atividades de escrita, ele iniciava tirando os enunciados da lousa e de repente, dizia que não iria fazer, que estava cansado, empurrando o caderno. Neste momento se fazia necessário a intervenção da professora ou estagiária estimulando-o para que o mesmo retorne as atividades, necessitando sistematicamente de um prazo maior para concluí-las e de um adulto ao seu lado.

Este comportamento comparece também quando é contrariado por mais que seja explicado a criança cruza os braços, modificando sua expressão facial (cara de irritado), necessitando mais uma vez da intervenção do professor. Apresentava dificuldade em compartilhar com o grupo o brinquedo que traz de casa e até os de sala de aula. Às vezes ele brincava um pouco com os colegas depois isolava-se para brincar sozinho, segundo ele os colegas iriam quebrar seus brinquedos e sua mãe e pai iriam brigar com ele.

Em relação aos conteúdos que estão sendo trabalhados que fazem parte do planejamento da 1º/9 Felipe não conseguia interagir espontaneamente, principalmente quando estávamos trabalhando a pronuncia dos sons das famílias silábicas em estudo, como também a leitura de pequenos textos; ele baixa a cabeça, mexe no caderno, olha para o outro lado se desviando totalmente do assunto que esta sendo abordado em sala de aula. Percebe-se que este comportamento ficava mais em evidência quando envolvia leitura e escrita, apesar de apresentar uma coordenação motora fina em desenvolvimento satisfatório.

Diante dessa realidade, a escola orientou os pais que permanecesse com acompanhamento pedagógico externo e com especialistas nas áreas psicologia e fonoaudiológicas.

CAPÍTULO II- EM BUSCA DE UM LUGAR PARA PERTENCER.

Buscando uma visão interacionista ao postular que o conhecimento é construído pela criança a partir de suas ações e interações no meio social a que o indivíduo está exposto, apreendendo as regras, o conjunto de leis que rege a sociedade, a moral os valores e o sistema de linguagem a que está exposto em seu meio com outras pessoas. Para o Teórico, a criança constrói, ao longo do processo de desenvolvimento, o seu próprio modelo de mundo. As ações da criança, inicialmente, desenvolvem formas de exploração do mundo e aos poucos se integram em esquema psíquicos ou modelos elaborados por ela.

Diante de tal situação da criança, houve um envolvimento de todos (família x escola) em proporcionar soluções adequadas e especializadas.

para que o mesmo tenha uma melhor qualidade de vida para interagir com o meio.

Felipe recebeu o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).E o mesmo foi encaminhado para uma avaliação com uma Neuropediatra, a fim de descartar comprometimento neurológico e complementar o diagnóstico. Foi realizado exame de ressonância magnética, cuja resultado situou-se dentro da normalidade.

Vale ressaltar que diagnóstico do TDAH não é realizado através de exames clínicos ou de neuroimagens, embora às vezes esses exames constatem algumas alterações neurológicas. O diagnóstico é realizado através de pelos menos 06 (seis) sintomas de desatenção, hiperatividade ou impulsividade, que deverão estar presente antes dos sete anos de idade.

O trabalho com o menor iniciou-se com atendimento psicológico, pois os pais trouxeram como queixa os seguintes comportamentos: hiperatividade (não conseguia parar para fazer determinadas atividades, agitação psicomotora, não conseguia concluir as atividades proposta interrompendo-as, dificuldade de atenção seletiva, dificuldade em guardar sua vez, dificuldade de concentração, de linguagem, em obedecer a comandos, baixa resistência a frustração e alteração de humor.

Logo depois iniciou-se atendimento fonoaudiológico, a partir de dados obtidos na avaliação, concluiu-se que Felipe apresentava em relação a linguagem oral: distúrbios articulatórios, caracterizado por trocas, omissões e substituição de fonemas; narrativa oral defasada para sua idade; alteração do processamento auditivo, com dificuldades nos aspectos não verbais (consciência fonológica), e supra-segmentais.Em relação as demais competências necessárias para a escrita: dificuldade em memória de trabalho.

Estas manifestações são compatíveis com o quadro de Distúrbio de Linguagem Oral. Porém, em virtude de estarem alteradas competências fundamentais para o processo de apropriação da escrita, podemos dizer que é um quadro de risco para Dislexia Disfonética. Com isso foi indicado condutas sugerida: Fototerapia, Acompanhamento Neurológico e retornar o acompanhamento Psicoterápico.

CAPITULO III- ESCOLA INCLUSIVA: TODOS TÊM DIREITO

Quando falamos de inclusão, falamos de uma sociedade que se percebe heterogênea e que permite que apareça as diferenças. A inclusão se concretiza, quando existe uma mudança na forma de tratar e de educar as pessoas, respeitando-lhes as diferenças e a nossa singularidade como individuos de uma mesma espécie. Queremos, contudo, deixar claro que a nossa perspectiva de inclusão não nos remete a globalização, ao mesmo, ao universal cânones neoliberais.

A diversidade humana esta sendo cada vez mais reconhecida, valorizada e considerada como condição primeira para implementação de arrojados projetos sociais e educacionais. É nessas e em outras ocasiões similares que constatamos o peso e a importância da diversidade como meio pelo qual aprendemos mais sobre nós mesmos e sobre os outros. A intenção de incluir todos os alunos nas escolas comuns implica que reconheçamos as diferenças e a multiplicidade dos saberes e das condições sobre as quais o conhecimento é aplicado. E de transitar por novos caminhos, estabelecendo teias de relações entre o que se conhece e que se há de conhecer, nos encontros e nas infinitas combinações entre os conteúdos disciplinares.

Em virtude à inclusão escolar implica a criação de espaços educacionais abertos, em que as diferenças são a mola que impulsiona os educadores, os especialistas,os pais, as crianças e a sociedade em geral a mudarem comportamentos idéias, procedimento,em busca de uma educação e vida de qualidade para todos.

CAPITULO IV- CONSIDARAÇÕES FINAIS

Entendemos que a inclusão é, portanto, um conceito revolucionário, que busca remover as barreiras impostas pela exclusão em seu sentido mais pleno. Aplica-se a todos os que se encontram permanentemente ou temporariamente incapacitados, pelos mais diversos motivos, a agirem e a interagirem com autonomia e dignidade no meio em que vivem.

Nota-se que o desafio da inclusão para os profissionais que estão a serviço da melhoria da qualidade de vida humana e projetar artefatos e lançar proposta que não se destinam apenas a um grupo restrito de pessoas. Como a intenção não é "homogeneizar" soluções e apresentá-las previamente definidas e estabelecidas, em função particulares, a inclusão nos leva a avançar mais, dado que, para atender a seus preceitos, temos de atingir situações de equilíbrio geral, as grandes e tão almejadas soluções que atingem fins qualitativamente mais evoluídos. Visto que na educação escolar, a inclusão veio revolucionar o sistema organizacional e as proposta curriculares vigentes.

A intenção é fazer valer, verdadeiramente, o direito a educação, prescrito em nossa constituição de 1988. Para tanto a meta da inclusão escolar é transformar as escolas, de modo que se tornem espaços de formação e de ensino de qualidade para todos os alunos e não apenas para os têm uma deficiência. A inclusão implica mudança de paradigma, de conceitos e posições, que fogem as regras tradicionais do jogo educacional, ainda fortemente calcados na linearidade do pensamento no primado do racional e da instrução, na transmissão dos conteúdos curriculares, na seriação dos níveis de ensino.

Para que as escola sejam verdadeiramente inclusivas, ou seja abertas as diferenças, há que reverter o modo de pensar e de fazer Educação nas salas de aula, de planejar e de avaliar o ensino e de formar e aperfeiçoar o professor e especialmente os que atuam no ensino fundamental e em outra etapas da educação básica. As propostas educacionais inclusivas rompem com as práticas escolares vigentes e apontam para a necessidade de um processo ensino- aprendizagem ser banhado na riqueza da subjetividade, nas diferenças e no dinamismo das transformações que ocorrem na vida, dentro e fora das escolas quando entendemos que o conhecimento é produzido no caldo do cotidiano escolar e inventado no encontro dos saberes e dos fazeres dos que constroem, com suas mãos e com suas mentes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Decreto nº 3298 de 20 de dezembro de1999.

CANOTILHO, Marta Martins. A integração de crianças portadoras de deficiência fisiocano ensino regular segundo as perspectivas de seus pais. Revista brasileira de educação especial, vol. 8 nº 1, Marilia: 2002, p.p 15 -20.

MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Inclusão ou o direito de ser diferente na escola. Revista Construir Notícias, Recife/Pernambuco, Ano 2003.

RAMOS, Rossana Regina Guimarães.Novos caminhos da inclusão. Revista Construir Notícias, Recife/Pernambuco, Ano 2003.

RODRIGUES, B. (org) Educação e diferença. Valores e praticas para uma educação exclusiva. Coleção educação especial. Portugal: Porto, 2001. p.p.156.

ZILIOTTO, Gisele Sotta. Educação Especial e educação inclusiva. 2.ed.rev. Curitiba.


Autor: Rosana LUZ


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