O PAPEL DAS BIBLIOTECAS NOS TRABALHOS DE PESQUISA E NO USO DA METODOLOGIA CIENTÍFICA



O maior estímulo para estudar a ciência é que precisamos entender o mundo atual, que está em constante modificação, sempre influenciando nossas vidas.

Conforme Ávila, "Etimologicamente, [...], metodologia significa estudar e/ou pesquisar caminhos para se conhecer o que não foi conhecido, o que se situa além do já conhecido (meta=além + odós=caminho + logía=estudo, pesquisa)" (grifo do autor) (ÁVILA, 2000, p. 109)

Conceituar a ciência é uma tarefa difícil. Ela não é só tecnologias ou técnicas isoladas. Ela é ilimitada, visto que o mundo está sempre em mudança, adaptando-se constantemente às exigências da sociedade.

Neste sentido, Tomanik nos diz que:

Por incrível que pareça, não há coisa mais controversa em ciência que sua própria definição. Partimos, pois, do ponto de vista de que se trata de uma discussão insolúvel, pelo menos no sentido de que não se pode atribuir em momento algum a ela uma posição definitiva. (DEMO apud TOMANIK, 1994, p. 4)

Seu objetivo, portanto, é o que ela se propõe a conhecer; já o método é como ela está disposta a realizar essa tarefa.

Porém os métodos não se limitam apenas a forma, mas também aos caminhos percorridos para se chegar aos resultados. Existem autores como Newcomb que dizem que os resultados não podem ser melhores que os métodos utilizados para se chegar a eles. (NEWCOMB apud TOMANIK, 1994, p. 10)

Para o cientista a metodologia é indispensável, pois é ela que auxilia e orienta o desenvolvimento dos estudos e suas avaliações.

Como diz Tomanik: "Embora a Metodologia não deva ser supervalorizada, por ser apenas uma disciplina instrumental, desempenha papel decisivo na formação do cientista, à medida que o faz consciente de seus limites e de suas possibilidades. [...]." (DEMO apud TOMANIK, 1994, p. 11)

Nesse mesmo sentido, Encarnação afirma:

A Metodologia Científica, como disciplina essencialmente instrumental, preocupa-se em especial com o conjunto técnico de leitura, documentação, criação, produção e transmissão do conhecimento científico, atribuindo, em geral, importância máxima à elaboração de trabalhos monográficos. (ENCARNAÇÃO, 2003, p. 43)

A mesma autora ressalta que a Metodologia Científica é uma disciplina essencial aos acadêmicos, pois a pesquisa é imprescindível, bem como a divulgação dos resultados obtidos. Para isso ela deve oferecer meios que facilitem a produção dos acadêmicos, que devem estar aptos metodologicamente para ler, produzir e transmitir informações criticamente. (ENCARNAÇÃO, 2003, p. 43)

Os cursos universitários deveriam ter como seu maior objetivo o de formar profissionais aptos a pesquisar e elaborar novos conhecimentos, pois estes são tão importantes quanto as técnicas estudadas ao longo dos cursos.

O estímulo que os docentes deveriam dar aos alunos para o uso das bibliotecas e de seus serviços é fundamental para que desperte o gosto pela pesquisa. A interação entre acadêmicos e biblioteca é o início do estreitamento dessa relação que pode auxiliar na produção de trabalhos importantes no meio acadêmico e científico.

Essa é uma das falhas dos cursos atuais, que não estão preparando profissionais capazes de realizar tais tarefas e sim, muitas vezes, apenas reproduzirem o que já existe.

Fazer ciência não é tarefa fácil. Exige do cientista um esforço desde a aquisição de informações, o desenvolvimento, até a realização da pesquisa propriamente dita. A burocracia também dificulta essa tarefa, além de ser praticamente impossível realizar trabalhos de forma individual.

Metodologia não é apenas uma forma de apresentar trabalhos, mas é verdade que trabalhos científicos necessitam de padronização para que seu conteúdo fique de mais fácil compreensão.

Existem regras que devem ser observadas, representam a formalidade do trabalho. Aspectos como clareza, regras gramaticais corretas, indicação de fontes e outros são de fundamental importância no momento de redigir um trabalho.

Porém, não são as regras o mais importante em um trabalho, elas auxiliam, mas nunca irão superar o conteúdo em grau de importância. As normas são parte da Metodologia Científica, mas não apenas isso.

Um pensamento errôneo que existe no meio acadêmico é de que o conhecimento da ciência não é importante para eles, pois caso não tenham a intenção de cursar uma pós-graduação, de ser professor de metodologia ou de ser um pesquisador não haverá necessidade de conhecimento de Metodologia Científica. Estariam dispensados disso, visto que seus objetivos são de tornarem-se técnicos, desvalorizando, assim, o profissional ao desvalorizar a ciência.

Tomanik pensa que: "[...] o papel do especialista deveria ser o de sintetizar o seu conhecimento de forma clara para o leigo, para que este, de posse de novas informações, pudesse tomar suas decisões a partir de uma nova reflexão." (TOMANIK, 1994, p. 39)

Os acadêmicos ou mesmo os pesquisadores em geral necessitam conhecer essa ciência para elaborar suas pesquisas cujo primeiro passo é a definição do tema, o centro a ser trabalhado.

Ele não deve ser imposto, pois o estímulo será essencial nessa caminhada. Assim o tema será enriquecido, graças ao interesse que o autor terá no foco escolhido.

Segundo Salomon, a fase de escolha do assunto significa:

a)preferir de acordo com as própria inclinações e possibilidades uma questão em meio a tantas que surgem no âmbito de cada objeto científico;

b)descobrir um problema relevante que mereça ser investigado cientificamente e tenha condições de ser formulado e delimitado tecnicamente em função da pesquisa. (SALOMON, 1997, p. 191)

Meadows também nos fala sobre esses passos:

Em primeiro lugar vem a formulação da necessidade de informação. Segue-se a identificação de possíveis fontes que contenham a informação requerida. Então vem o processo de extrair e absorver a informação das fontes. Por fim, a informação é avaliada e, sendo satisfatória, incorporada à atividade de pesquisa. (1999, p. 212)

A pesquisa começa realmente no momento em que se começa a escrever, até lá é simplesmente um amontoado de informações, aguardando organização para fazer algum sentido, organização essa orientada pela ciência em questão.

Meadows, reproduzindo uma entrevista de referência, demonstra o quanto o cientista necessita da ajuda do bibliotecário no momento da coleta de material para sua pesquisa: " 'Ele já tinha em mente o que desejava que eu lhe fornecesse, mas me deu um trabalho imenso arrancar dele o mínimo de informações'." Elecomplementa dizendo que: "Quanto mais incerta for a natureza da lacuna no conhecimento de um cientista, mais provável será que o desejo percebido não seja a necessidade real." [com grifo no original] (1999, p. 212)

Nesse momento o bibliotecário aparece novamente como coadjuvante na construção do trabalho, pois ele poderá orientar o autor na utilização da metodologia.

Marques nos diz que "[...] o valor de nossas pesquisas depende do valor de nossas leituras" (MARQUES, 1997, p. 112). Leituras não somente de livros, mas também de situações da vida, do mundo em si, das experiências de cada um.

Salienta o mesmo autor que "[...] pesquisar é puxar os cordões que ligam entre si as práticas de um mesmo campo empírico e sua continuidade histórica e, ao mesmo compasso, os entrelaçam com os cordões que vinculam e conduzem os entendimentos que de tais práticas se alcançam no campo teórico." (MARQUES, 1997, p. 102)

Ao realizar a construção do trabalho propriamente dito, é preciso, então, organizar os dados coletados, e isso se faz, primeiramente, através da definição do título da pesquisa, que é a principal porta de entrada para o trabalho apresentado. O sumário deve mapear todo o trabalho realizado.

Após, cada capítulo deve ser trabalhado de forma a serem harmônicos entre si, mantendo a integridade da pesquisa.

Segundo Severino na elaboração do corpo do trabalho não é suficiente que hajam subdivisões aleatórias. Elas devem atender as necessidades de clareza, e os subtítulos devem ter um sentido, dando a idéia exata do que será tratado. (SEVERINO, 1980, p. 87)

Dentro deles, as citações devem aparecer sempre sinalizadas, pois são idéias que estão sendo revalorizadas.

Conforme nos diz Descartes "Se os meus escritos valem alguma coisa, possam os que os tiverem [...] utilizá-los do melhor modo que entenderem". (DESCARTES apud SALOMON, 1997, p. 203)

Isso demonstra que outras leituras foram realizadas, mas não podem ser simplesmente adotadas como suas, elas devem sempre ser indicadas, e as notas são uma forma de fazer essa referenciação.

As citações e a bibliografia devem estar sempre em conexão para que o autor seja autentico em sua pesquisa.

Introdução e conclusão devem ser realizadas após o término da pesquisa. Na primeira etapa o autor conta suas motivações iniciais, o caminho percorrido, os métodos aplicados. Na última aponta novas investigações, não encerra a pesquisa apenas toma fôlego para um próximo o trabalho.

Ao finalizar essa parte do trabalho, inicia-se uma nova, onde ele deve então ser amadurecido e leituras serem realizadas mesmo depois de pronto, para que sejam observadas dimensões não identificadas no momento da escrita. Dessa leitura resultará uma nova visão, diferente de quando o trabalho estava sendo elaborado.

Conclui-se então, que o ser humano está constantemente estudando seus semelhantes e suas reações. Ele está sempre em transformação, seja qual for sua profissão. Também o cientista recebe interferências em seus estudos e deve observá-las para que um próximo trabalho sirva como experiência a ser utilizado, fazendo uso das metodologias, dos recursos informacionaise dos profissionais disponíveis auxiliá-lo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ÁVILA, Vicente Fideles de. A pesquisa na vida e na Universidade. 2. ed. Campo Grande: Ed. da UFMS: Ed. UCDB, 2000, p. 109.

ENCARNAÇÃO, Fátima Luvielmo. Guia para apresentação de trabalhos científicos para os acadêmicos do Curso de Direito. Rio Grande: Ed. da FURG, 2003.

MEADOWS, A. J. A comunicação científica. Brasilia, DF : Briquet de Lemos/Livros, 1999.

MARQUES, Mario Osório. Escrever é preciso: o princípio da pesquisa. Ijuí: Ed. Unijuí, 1997.

SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Moraes, 1980.

TOMANIK, Eduardo Augusto. O olhar no espelho: "conversas" sobre a pesquisa em Ciências Sociais. Maringá: EDUEM, 1994.


Autor: Roseli Prestes


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