O PASSAGEIRO - Europa: vem comigo...
Por Leonardo Ramalho
Em dezembro de 1975 viajei para a Europa com meu amigo Rogério para conhecermos 10 países. Além do mais, eu tinha um encontro com Helena em Roma.
Era uma manhã gelada quando desembarcamos em Lisboa. Porém a Revolução dos Cravos anuncia o plano de descolonização de Angola, que deixara Portugal em “estado de alerta”. Logo partimos no primeiro vôo para Madri.
Aproveitamos o Natal em Puerta del Sol, onde encontrei por acaso meu amigo Hugo, que lá estudava medicina e logo ele convidou a mim e a Rogério para uma feijoada na Casa do Brasil no dia seguinte.
Eu havia comprado duas garrafas de cachaça ainda no aeroporto de Recife e as levei para a feijoada. A turma de brasileiros residentes na Casa do Brasil logo bebeu tudo, pois se tratava de aguardente muito apreciada no nordeste brasileiro. Foi uma festa!
Em visita ao “Vale de los Caídos” – símbolo da guerra civil espanhola, relembrei com emoção as cenas do livro “Por Quem Os Sinos Dobram” de Ernest Remingway.
Apreciando a bela vista do vale repassei os meus antigos ideais de “rebelde” a época em que eu era diretor do Grêmio Estudantil e sonhava em lutar ao lado de Che Guevara, mas logo percebi o quanto eles estavam arquivados em distante recanto da minha memória.
Refleti também sobre o Brasil e a Ditadura Militar que aprisionou o espírito do povo num calabouço de repressão, transformando o país num sumidouro de corrupção e decadência, pois a avidez de políticos e empresários corruptos e um Poder Judiciário coxo, faziam a “festa” dos militares sedentos de poder e crueldade. O Congresso Nacional havia se transformado num “sindicato de ladrões, que pisava firme e seguro pelos corredores do Supremo Tribunal Federal. Podia-se até imaginar essa escória rindo do povo!
O prédio da UNE foi incendiado e muitos estudantes perderam o direito de estudar pelo AI-5. A nação brasileira perdera sua alma e a pátria-mãe certamente estava desolada.
Viajamos para o sul da França e passamos o réveillon no Hotel Plaza em Nice na companhia de amigos de Rogério. Por toda uma semana nos divertimos naquele recanto encantador do Mar Mediterrâneo. Depois de uma noite glamorosa no cassino de Monte Carlo seguimos para a Itália, pois Helena já me esperava em Roma.
Helena fazia o curso de turismo, e como uma bruxa, nos transportava para o antigo esplendor de Roma: o Fórum romano, o Capitólio, as colunas do Palatino, do Viminal e do Esquilino; o Coliseu e a Casa dos Vestais, as Termas e o Arco de Tito, a Coluna Rostral, e os templos de Castor e Pólux, de Júpiter e de Saturno, da Paz e da Concórdia. Roma era o centro do mundo. Imperadores gastaram somas fabulosas em palácios, templos e obras monumentais por todo o império. O estádio Circus Maximus em Roma acomodava mais de 200.000 pessoas. Aquedutos abasteciam mais de um bilhão de litros de água a capital e seus balneários.
Helena falou também sobre a sombra desse Império:
- Essa maravilha era uma ilusão. A riqueza imperial se limitava aos nobres e o povo miserável se aglomerava em cortiços ao redor de Roma, vivendo de doações manipuladas pelos políticos e denominadas nos corredores do palácio imperial de "pão e circo". (Esse tipo de política lembra muito os programas sociais no Brasil, pois a maior parte desses recursos financeiros serve para saciar a “fome” e a “sede” de políticos e empresários corruptos, que sempre acabam impunes).
Assim, com um Poder Judiciário fraco, os corruptos transformaram a grande Itália que outrora exportava produtos agrícolas, num império decadente, pois a soberba e altíssima carga tributária transformou agricultores independentes em favelados. Por fim seguiu-se o caos.
Esse momento da História me fez lembrar mais uma vez do Brasil, pois em contraste com os privilégios dos “nobres” políticos brasileiros, o povo vive miseravelmente. Suas casas são precárias construções situadas nos arredores das cidades. Essas moradias, as favelas, abrigam inúmeras famílias e se incendeiam facilmente (como acontecia na Antiga Roma com as ínsulas, que eram as favelas daquele tempo). O fogo se alastra com rapidez tomando proporções catastróficas, como anuncia o Jornal Nacional com freqüência, lembrando o ano de 64 d.C durante o célebre episódio em que o imperador Nero tocava a sua lira, enquanto Roma ardia em chamas. Entretanto, o povo não se revolta contra seu imperador, pois este lhe garantia alimento e diversão.
Helena, com sua bagagem de conhecimentos históricos, tornou a cidade mais encantadora e mágica. O vinho, as massas e o passeio pela via Venetto se tornaram ainda mais deslumbrantes.
Em visita as Catacumbas onde o apóstolo Pedro fazia suas pregações, Helena reviveu os primeiros momentos do cristianismo:
- Naquele tempo, disse Helena, antigos símbolos sob influência Cristã se renovaram: a Fênix para a ressurreição; a Pomba, simbolizando a alma liberta da carne; a Âncora representando a esperança e a Palma, a vitória sobre as paixões terrenas. O peixe se torna o ícone de Jesus Cristos, por causa da frase grega “Yesoús Christós Theou Yiós sotér” (Jesus Cristo filho de Deus salvador), pois a primeira letra de cada palavra forma o termo “Ichtys”, que em grego significa peixe.
Eu e Helena partimos para Veneza, enquanto Rogério seguiu para a Suíça, onde esperaria por mim.
Já em Veneza, passeamos e namoramos dentro de uma gôndola. Na praça de São Marco um intenso romantismo nos envolveu e quase pedi Helena em casamento.
Veneza estava em seus primeiros momentos de Carnaval, que é um período no qual se permite todo tipo de divertimento e tem sua origem nas festas pagãs da antiga Roma. A fantasia típica era a do "baùtta", um capuz de seda preto, uma capa, um chapéu de três pontas e uma máscara branca. Tem seu início depois do Ano Novo e vai até a Quarta-feira de Cinzas.
Na antiga Roma havia festa semelhante, na qual se comemorava as saturnais: glória ao deus Saturno. Essa celebração era tão importante que o comércio não funcionava. O povo saía às ruas para dançar com grande euforia. Bigas desfilavam com homens e mulheres nus, chamados CARRUM NAVALIS. Era também uma homenagem à Loba de Rômulo e Remo.
Visitamos o Teatro della Fenice, Ponte do Suspiro e muitos outros sinais do esplendor de outrora.
Alguns dias depois partiram para a famosa estação de esqui Cortina d`Ampezzo na província de Belluno.
Após uma semana nas montanhas, retornaram para Roma e me despedi de Helena com o coração cheio de saudades.
Encontrei meu amigo em Zurich, que já havia conhecido outros turistas brasileiros desgarrados de excursões pré – organizadas: um juiz de São Paulo com sua esposa e um jovem casal, que se tornaram nossos companheiros inseparáveis em passeios e restaurantes no período de oito dias que passamos por lá.
Daí eu e Rogério partimos para Munique, Alemanha. Ficamos quatro dias de pileque nas tradicionais cervejarias e com o fim de curtirmos a “ressaca”, saímos do nosso projeto original de viagem e partimos para a Áustria, onde nos hospedamos na casa da irmã de Flaviana, uma colega de faculdade que viajou conosco até Lisboa.
De lá para Estocolmo, Suécia, e ficamos hospedados na casa de Emíliana, amiga de minha mãe que lá residia e trabalhava.
A Escandinávia nos revela a História dos Vikings e sua mitologia. Entre os deuses dos Vikings, o principal era Odin, e Thor, o deus do trovão, cujo símbolo era o martelo. Os Vikings eram notáveis exploradores, conquistadores, artífices e haviam desenvolvido leis justas e um sistema de democracia (800 – 1110 d.C.). Eram também hábeis na arte de construir navios e para traçar rotas no mar aberto, pois sabiam ler o vôo das aves e Polares, a estrela do norte, e eram peritos na arte do comércio.
Seguimos viagem para Copenhague... Bruxelas... Finalmente Paris.
Na “Cidade - Luz” era uma festa toda noite.
Notre Dame, Torre Eiffel... E o Louvre invadiu meus olhos como se já conhecesse o lugar, que me fez lembrar o livro “Angélica e o Rei” de Anne e Serge Golon. Para mim foi como voltar no tempo enquanto caminhava pelo palácio.
Foi nesse ambiente mágico e cheio de sedução que conheci Fara, uma jovem egípcia que estudava na Sorbone.
Daí em diante, ficamos juntos na visita ao museu e passamos o resto da tarde caminhando pelas ruas de Paris. Foi o melhor dia de toda a minha viagem, pois a companhia dessa mulher misteriosa causou-me uma imensa sensação de paz interior. Fomos também a la coline de Montmatre e a basilique du Sacre-Coeur, onde nos despedimos.
Em seguida fui me encontrar com Rogério num cabaré do Pigally. Bebemos muito e saímos pela noite parisiense com duas graciosas prostitutas.
Na manhã seguinte, com terrível ressaca, me despedi do meu amigo, que embarcou para Londres, onde iria fazer um curso de inglês. Por outro Portão de Embarque, tomei o meu vôo para Nova York.
Do Aeroporto Kennedy segui viagem em outro avião para Vermont e passei dez dias em Winooski. Onde reencontrei meus colegas de high school.
Daí, viajei para Miami e de lá para o Rio de Janeiro ao encontro de Carol, que era minha namorada e estava de férias na Cidade Maravilhosa. Quando retornamos para João Pessoa já era carnaval...
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Autor: Leonardo Ramalho_O Caduceu
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Qual é Mesmo A Abreviatura De “mestre”?