Síndrome do Ninho Vazio



 

“Que proveito tem o homem, de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol? Uma geração vai-se, e outra geração vem, mas a terra permanece para sempre.” (Eclesiastes 1:3-4)

 

 

Quando me casei pensei em ter uma grande família, e este sonho foi compartilhado com meu marido que aceitou de pronto. Então nossa vida foi dirigida para este fim. Fizemos casa grande, vários quartos e longas varandas para poderem brincar. O quintal era enorme, frutas de todas as espécies, durante todo ano havia frutas a colher. Várias árvores para amarrar balanço. Quando começaram a vir foi nossa alegria, praticamente era um por ano. Assim se tornaram seis, e em nossa casa oito. O barulho começava cedo, uns arrumando para escola, outro chorando pela mamadeira o mais novo querendo colo para o peito e um na barriga pronto para sair. O carro, coitado, parecia um ônibus escolar. Na igreja tínhamos um banco só para nós. Não cabia mais ninguém.

 

Em meio a tantos filhos e o marido fomos sendo absortos pelo evento. Era tudo muito bem dividido, nós formávamos uma dupla dinâmica. Não perdíamos festas, pois éramos quem mais enchia os eventos. Meu pastor brincava que se minha família faltasse à igreja ela ficava vazia. Nunca nos chateamos por isso. Éramos felizes com tantos à volta.

 

O barulho era tamanho para o banho, o almoço nem se fala, era quase um pacote de arroz por dia. Um restaurante particular com a mãe como cozinheira e governanta. Eu e meu marido nos divertíamos muito com eles.

 

Aos pouco foram crescendo, o primeiro vestibular chegou, parecia inacreditável, nosso menino, ontem usava frauda e hoje estudante de Direito. Veio o segundo e aos poucos fui sofrendo menos com o evento. Quando o último prestou o vestibular o primeiro estava formado. Que susto! Quando o último entrou na faculdade, resolveu fazer História. Talvez por tantas ouvidas dentro de casa.

 

Hoje amanheci assim, com lembranças dentro de casa. Estou aqui só, não há mais barulho de criança pela casa, quando olhei no espelho me vi velha, cabelos brancos e sozinha. Eu não me preparei para este dia. Não há canto alto, não há mistura de sons, afinal seis cada um ouvia algo. Meu marido? Há ele ainda trabalha, mas está como eu se sentindo vazio. Alguns dos filhos já casados, outros morando fora e não voltarão para cá, pois já planejam suas vidas onde estudam.

 

Olhamos para cada cômodo da casa, não havia brinquedos espalhados, nem nada para tropeçar, o que é comum onde há muita criança. Fomos hoje a cozinha, cozinhar só para nós dois nesta enorme cozinha com uma mesa para oito pessoas. Choramos de mãos dadas. Recebemos proposta de nossos filhos para irmos morar com eles, mas não dá. Precisamos de nosso espaço. Até porque já criamos criança demais, não queremos criar netos. Parece que perdemos nossa função. É como se não servíssemos mais para nada dentro da nossa própria casa.

 

Todos os nossos projetos parecem ter tido um fim. Nasceram, cresceram, foram educados e cada um tem hoje sua casa. Começamos então a tentar fazer novos planos, mas parecia tudo tão complicado. Todos falam da melhor idade. Melhor idade de que? Pensávamos nós dois ali naquela enorme cozinha. Então oramos e pedimos a Cristo direção para que pudéssemos tomar um novo rumo.

 

Buscamos então ajuda em um grupo chamado “terceira idade”, ficamos meio estranhos naquele grupo, mas só no inicio. Aos poucos durante as palestras fomos nos soltando e descobrindo novos dons e talentos.

 

Estamos colaborando com creches, fazendo missões e largamos a tristeza de lado meu marido aposentado deixou o trabalho extra para estar comigo nos grupos. A vida se tornou mais agradável e nada de ficar em casa triste, chorando a perda. O ninho continua vazio, mas nós saímos dele para preencher as nossas vidas. Não vale ficar em casa chorando filhos que se foram eles vão mesmo. Alguns voltam mais vezes para nos ver, outros moram longe e demoram mais. Mas eu não dependo mais da presença deles para ser feliz e viver abundantemente.

 

 

Até a próxima...

 

Silvia Letícia Carrijo de Azevedo Sá

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Autor: Silvia Leticia Carrijo


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