Criança



Linda criança de uns olhos vivos

De súplicas ingentes no olhar.

Vi-te passar por entre mendigos

No calçadão à beira-mar.

À beira-vida, quase um sopro

Quase esvaindo em desespero.

Brincando ingênua sem ter abrigo

Correndo riscos e até perigo

De acidente e atropelo.

 

Vi-te criança de pele clara

Roupas rasgadas, pés no chão.

Cabelos ruivos em desalinho

Mãos estendidas pedindo pão.

E meu coração descompassado

Nos passos teus no calçadão

Quis logo ser recompensado

Por decidir estender-te a mão.

 

Mas logo atrás de ti vieram

Uns homens sujos e mau olhar.

Carrancas graves e as mulheres

Semi-nuas a acompanhar.

E triste a vida e triste o sonho

E quão medonho é o meu pensar:

Que é o homem? meu Deus

Que é o homem? para dele lembrar...

 

E eu com medo e muito aflito

Recolho a mão, guardo a carteira

Meu coração que estava contrito

Murcha e silente pensa besteira.

Pensa em pânico, num arrastão,

Os homens monstros sobre mim

E nesta visão uma multidão

Me massacrando até o fim!

 

Corro entre carros, bem apressado,

Busco um abrigo e segurança.

Amar neste mundo é complicado

Meu coração só quer bonança.

Pulo num táxi ainda andando

Quero sumir da Zona Sul.

Vejo a criança ao longe chorando

Disfarço o olhar no céu azul...

 

Disfarço a vida, revejo os sonhos.

Encaro a luta do dia a dia.

Meus compromissos são tamanhos

Não sei se volto à alegria.

De outra vez te encontrar

O fato é que em mim persiste

E fixa firme e não desiste

A ingente súplica de teu olhar...


Autor: Josué Ebenézer de Sousa Soares


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