DISPUTAS POLÍTICAS NA CIDADE SERRANA



O presente trabalho tem o intuito de abordar o período da história itabaianense compreendido entre 1930 e 1935 analisando os embates que ocorreram nesse período. Estudar a história do município de Itabaiana não é tarefa fácil devido a dificuldade ao acesso das fontes. Diversas documentações de instituições públicas que poderia servir de subsídios para a construção da história perderam-se devido ao descaso que se tem com a memória. Para execução desse estudo foram visitados o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe (IHGS), o Arquivo Público do Estado (APES), a Biblioteca Epifânio Dórea, a Biblioteca central da UFS – (BICEN) e o Programa de Documentação e Pesquisa em História (PDPH). A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, documental e oral através da consulta de obras teóricas, dos jornais de circulação e de entrevistas. A pesquisa foi concluída e verificou-se que durante esse período ocorreram diversos conflitos no município pela disputa do poder. Os intendentes que estiveram à frente da administração municipal eram comerciantes bem sucedidos, isso fazia com que eles adquirissem prestígio e respeito, pois utilizavam o comércio para realizar suas atividades políticas. Palavras-chave: Itabaiana, intendentes, política.

A estrutura política administrativa do Brasil após 1930 passou por várias transformações, as medidas adotadas posteriormente possibilitaram a centralização municipal e contribuíram para a perca de hegemonia dos chefes políticos locais. No entanto, as oligarquias vão amoldando-se a política nacional como forma de preservar o seu domínio.

Segundo Figueiredo (1989, p. 211), "a alegria dos vitoriosos é grande, contagiante, a impressão é que a "revolução de 1930" é a salvação de Sergipe e do Brasil. Os liberais, jovens e velhos sonham, deliram, vêem pessoas e não fatos, falam em política, porém não analisam em profundidade, o processo econômico e social". Assim,

O momento é opportuno para lembrarmos os tristes dias que Serjipe vem de passar, no seu ultimo malsinado governo. As ordeiras populações ruraes, os habitantes das florescentes localidades do interior, viviam debaixo do mais severa tutela por parte de "bravos chefes políticos", dictadores das vontades do principal mandatario, e, mais que isso, - da Porversidade submissos e derrotados servos ... Mas é do texto bíblico a muitas vezes citada sentença: "os maus por si se destróem (SERGIPE – JORNAL, 1930).

Aqueles que se mostravam simpatizantes aos ideais revolucionários eram perseguidos pelos chefes políticos, como foi o caso de Silvio Teixeira, secretário da Intendência de Itabaiana, preso por defender as idéias da Aliança Liberal. "A prisão de Silvio Teixeira ocorre no dia 2 de fevereiro de 1930. É carregado pela polícia. Mesmo assim, não se cala, continuando a discursar, retratando, nas suas atitudes, uma liderança diferente, inovadora e renovadora, pela coragem com que, sozinho, enfrentava todo um regime"(CARVALHO, 2000, p.680).O da Intendência era um fervoroso defensor dos ideais da revolução em Itabaiana.

Há tempos, o "O Liberal" apresentou o Sr. Sylvio Teixeira como representante do "Partido liberal" em Itabaiana. Nessa qualidade, elle cabalou e votou nas eleições federais de 1° de março, ostenta um lencinho vermelho e prega a revolução. Entretanto, o "Diário da Manhã", noticiando a partida desse moço para o Rio de Janeiro, no sabbado, 5 do corrente, a bordo do Itaúba, em que também viajou o chefe da celebrada "Colligação" qualificou-o de seu "decidido amigo e correligionário". Mas, si o Sr, Sylvio Teixeira é "decidido correligionário" da "Colligação" e representava o "Partido Liberal" em Itabaiana, forçoso é concluir-se que entre estas treis entidades há communhão dos mesmos ideaes políticos. (CORREIO DE ARACAJU, 1930).

Impossibilitado de viver no município, Sílvio Teixeira passou a residir no Rio de Janeiro, devido as perseguições e insultos de Othoniel Dorea, chefe político municipal, de grande prestígio. Do Rio registra por meio dos jornais locais, os seus atos de violência. O movimento de 1930 eclode e, em Itabaiana, apesar da maioria da população, não terem votado em Getúlio Vargas nas eleições federais para presidente em 2 de março de 1930, nas quais ele obteve apenas 13 votos, a nomeação de José Calazans para ocupar o governo provisório produziu um clima de motivação na cidade.

Vários foram os telegramas de congratulações enviados ao governador provisório, felicitando-o pelo sucesso da revolução. Dentre eles, o telegrama do intendente municipal Antonio Dultra de Almeida, publicado no Diário Oficial em 26 de outubro de 1930, parabenizando pela vitória sagrada da revolução.

Assim que o governo assumiu encarregou-se de substituir os intendentes, nomeando-os e encarregando-os de exercer as funções executivas e legislativas, para isso dissolveu os conselhos municipais. Em Itabaiana, por decisão do decreto nº 1, de 6 de novembro de 1930, o intendente Antonio Dultra de Almeida tem seu cargo cassado. Ao assumir o governo provisório, José Calazans, por decreto de 10 de novembro do mesmo ano, nomeia Antonio Dultra para assumir o mesmo cargo de intendente. Outras medidas são tomadas pelo general José Calazans em relação a Itabaiana. Registrada no Sergipe-jornal de 13 de novembro de 1930, a designação do Dr. Abílio de Vasconcelos Hora para exercer o cargo de juiz de direito da cidade.

Em 16 de novembro de 1930 assumiu o governo de Sergipe o tenente Augusto Maynard que exonerou Antonio Dultra e a nomeou Paulino Aristides de Menezes. Segundo Carvalho (2000), a nomeação causou surpresa e decepção, pois o defensor da Aliança Liberal no município era Silvio Teixeira. Sempre se manifestou a favor dos ideários do movimento, denunciava as arbitrariedades de Otoniel Dorea chegando a ser perseguido. "De surpresa, na medida que um nome do regime decaído, duas vezes conselheiro, é convocado para chefiar Itabaiana num momento de mudança tão radical. Não era adepto da Aliança Liberal, não tendo votado em Getúlio Vargas para a presidência da República" (CARVALHO, 2000, p. 688).

Segundo Dantas (1987) "os interventores não encontraram outra alternativa senão comporem-se com os coronéis. Estes por sua vez, necessitados de obterem o reconhecimento de sua influência para continuarem imperando sem dificuldades tenderam a aproximar-se dos governantes do dia, com métodos adequados à conjuntura". Ainda segundo o mesmo autor (1983):

Para verem preservado seu prestígio, os coronéis se apresentavam flexíveis, aceitando com mais obediência as políticas dos interventores, se acomodando à centralização administrativa desprovida daquele espírito de autonomia de outrora. E será justamente essa flexibilidade que lhes permite atravessar os períodos mais autoritários, conservando influência (DANTAS, 1983, p.58).

Em Itabaiana, esse fato é comprovado pelos intendentes nomeados, todos vinculados à política da República Velha: Antonio Dultra, Paulino Aristides, Otoniel Doria e indicações de nomes como o de Esperidião Noronha. Percebe-se, portanto que há uma adaptação das velhas lideranças ao novo regime a fim de não perder o controle da localidade, bem como do poder estadual para garantir sua permanência obtendo o respaldo desses influentes líderes políticos.

No que diz respeito a Sílvio Teixeira, ao retornar a Itabaiana, tinha esperanças de ser convocado para assumir o cargo de intendente do município, visto que foi representante da Aliança Liberal, assim sendo foi conversar com o interventor Augusto Maynard.

O contato de Sílvio Teixeira com o interventor Maynard Gomes, em Palácio, ficou famoso, Sílvio tinha discurso pronto no bolso. Estava certo que seria o intendente. Maynard é seco e frio, não parecendo estar conversando com líder da Aliança Liberal em Itabaiana. A tradição registra que teria dito a Sílvio: Acabo de nomear Paulino Aristides de Menezes para intendente de Itabaiana e Esperidão Noronha para delegado. Qualquer coisa, procure os dois, que são os nossos representantes em Itabaiana. Passe bem até logo" (CARVALHO, 2000, p.689).

Na versão de Álvaro Fonseca de Oliveira citado por CARVALHO (2000), "o interventor Maynard Gomes não teve participação na escolha",o pedido foi feito pelos irmãos Álvaro Andrade e João Pereira de Oliveira ao general Gois Monteiro, que não simpatizavam com Silvio Teixeira, e este interveio. Constata-se que algumas práticas persistiam, uma delas a indicação a pedido de colegas partidários. Foi o caso da exoneração de Otoniel Dorea do cargo de exator: "O Cel. Augusto Maynard Gomes, actual governador provisorio do estado, assignou, hontem, os seguintes decretos: Exonerando, a pedido, o exactor de Itabaiana, sr. Othoniel da Fonseca Doria" (SERGIPE-JORNAL, 1930). A reação perante a destituição de uma figura ligada a cenas de violência e repressão representou para os itabaianenses a esperança de novos rumos na vida política da cidade. Assim os atos do interventor Maynard Gomes são elogiados no jornal por um observador:

O que se interessam pelas cousas publicas do Estado e observam serenamente a marcha que vae tomando a sua vida administrativa não podem deixar sem justos applausos, os actos que vêm sendo baixados pelo Sr. Coronel Augusto Maynard Gomes actual Governador Provisório dentre os quais, estão, os que se referem á escolha dos intendentes dos municípios, que se vem fazendo com uma real selecção dos valores (SERGIPE-JORNAL, 1930).

Sob a administração de Paulino Aristides de Menezes, a cidade recebue os primeiros melhoramentos. Constata-se pelas obras empreendidas pelo então intendente que Itabaiana necessitava urgentemente progredir. Segundo documento extraído do Jornal da cidade de São Paulo, atual Frei Paulo, sob a direção de Josias Nunes, intitulado "Um intendente de verdade":

A semana passada, tivemos opportunidade de ver e adimirar quanto pode a bôa vontade d' um administrador, laborioso e honesto. Viajavamos para Aracaju e tivemos, como é natural, de passar e demorar um pouco na vetusta cidade de Itabaiana. A antiga cidade serrana modernisa-se diuturnamente. O casario velho está sendo substituído pelas platibandas, notando-se alli uma febre de progresso e ezar da crise terrível que avassala o mundo. Mas a remodelação da cidade não consiste unicamente no movimento popular. A municipalidade também trabalha, e trabalha com afinco e com ardor. Parece que ali existe um milagre de administração, pois as rendas daquele municipio são pouco superiores ás do nosso. Entretanto o intendete de Itabaiana reconstruiu toda aestrada de rodagem d'aquelle município da cidade ao rio da Cancela, está concertando todas as ruas; limpando os tanques e reformando o prédio da municipalidade, tornando-o como já esta, um dos mais bellos do interior de Sergipe; emquanto aquelle prefeito faz tudo isto e traz em dia os seus compromissos e mantem num asseio irrepreensível toda a grande cidade (..). Tenha-se em vista o que se passa em Itabaiana, onde toda à população está satisfeita com o Sr. Paulino Menezes. As rendas crescem e a sua operosidade se mutiplica. Porque? Porque elle age de accordo com os próceres locaes. De commum accordo com os bons elementos da terra, tendo em mira, não o filhotismo, mas o progresso sempre crescente da bella cidade. Alli não há intrigas; há união de vistas. Não há milagre, há o pulso firme e seguro dum administrador" (O PAULISTANO, 1931).

O intendente mantinha uma harmonia entre os credores da municipalidade, por isso podia empreender diversas obras modernizadoras na região. Além de sanar as irregularidades das contas do município, como atesta o Relatório apresentado pelo intendente, ao interventor federal do Estado pelo qual o administrador enumera as obras empreendidas na cidade.

A política de cobrança de imposto adotada por Paulino Aristides, diferenciava-se daquelas empreendidas pelos administradores anteriores, os credores do município pagavam-no sem querelas, visto que a administração não coibia ou utilizava-se de violência para tal ato. Entretanto, algumas cenas antes cotidianas permaneciam na cidade, visto que uma série de agressões estava sendo constante no município. Intitulado "Uma aggressão em Itabaiana", o jornal denuncia o descaso da autoridade policial:

Em Itabaiana actualmente se tem desenrolado uma serie de desatinos assistidos com a indifferença da autoridade policial. Há poucos dias, em plena rua da cidade fora aggredido, por quatro homens da privança do delegado, tomou, procedendo, assim, da mesma forma que procedeu quando foi desacatado, pelo seu irmão, o honrado exactor coronel João Gomes de Sá Barretto. Diante dos repetidos factos que vêm sendo thetro a pacata cidade serrana e das queixas diárias que chegam ao conhecimento do exm. Sr. Dr. Chefe de policia, estamos informados de que S. ex. tomará as providencias necessárias" (A TRIBUNA, 1931).

O policiamento do interior estava desde novembro de 1930, sob a jurisprudência do Batalhão da Força Pública do Estado, que enviaria mediante destacamentos para atuarem nos municípios interioranos, a fim desarticular as milícias armadas que serviam aos interesses dos grandes coronéis. Mesmo assim, percebe-se que a força policial continuava servindo aos interesses dos próprios detentores do poder. Havia ainda na cidade choque de interesses entre o coronel Otoniel Dorea e o delegado Noronha.

Durante a administração de Paulino Aristides, de 25 de novembro de 1930 até 1933, foram empreendidas diversas obras na cidade, dentre elas: a construção da estrada de rodagem, importante como via de comunicação entre outros municípios e a capital.Notificada no jornal Universitário da Bahia da seguinte forma:

Para o Oeste de Sergipe também foi inaugurada [a estrada de rodagem Itabaiana- S. Paulo] ainda em 24 de outubro do ano findo. A 19 de dezembro inaugurou-se com desusado entusiasmo, a estrada de rodagem ramal do Saco da ribeira que deriva da Itabaiana-S. Paulo. Prosseguem as construções de Itabaiana- Campo do Brito, S. Paulo-Carira, Dôres – N. S. da Gloria e varias estradas secundarias de iniciativas municipais" (JORNAL UNIVERSITÀRIO, 1933).

Essas estradas viabilizaram o comércio entre a capital e demais cidades vizinhas. Em 1933, a cidade contava com "uma ótima estrada de rodagem ligando essa capital e um serviço de auto-onibus irrepreensível e diário"(ESTADO DE SERGIPE, 1933).

Enquanto os transportes estavam progredindo, os meios de comunicações apresentavam problemas, provocando insatisfação e protestos por parte dos itabaianenses. Desde vinte e nove de janeiro de 1930 que a cidade contava com serviço telefônico. O proprietário da Rede Telephonica Sergipana, o Sr. Deoclides Azevedo instalou uma estação telefônica, encurtando assim, a distância entre a cidade e a capital. Entretanto, o proprietário abandonou o serviço e no ano de 1933 explodiram queixas. O caso era tão sério que até o material utilizado estava preste a desaparecer completamente.

Assim, em protesto os moradores de Itabaiana exigiam que o Sr. Deoclides restaurasse o serviço telefônico, visto que a cidade necessitava dos serviços. Alegando que outras cidades de menor importância dispunham do telefone, então porque Itabaiana não podia usufruir de tão importante veículo de comunicação, já que foi avultada por outros bens do progresso.

Neste cenário tem papel fundamental o vigário da cidade, o padre Freitas, que direcionou os moradores a fim de exigirem uma solução do proprietário da Empresa Telefônica de Sergipe. No entanto, nos documentos lidos não consegui encontrar o desfecho do caso do telefone na cidade.

Outro problema com relação a comunicação foi o caso do serviço postal. As malas da correspondência não eram dirigidas diretamente para a capital, eram enviadas para Laranjeiras, ali ficavam dois dias a espera dos trens para serem despachadas a Aracaju, por serem entregue por particulares, as correspondências eram contrabandeadas. Portanto, a demora e o contrabando traziam prejuízos para o comércio e para o próprio correio. Reclamações e pedidos para se montar na cidade um serviço postal direto entre a capital eram registrados relatando o arcaico beneficio.

Constata-se que a cidade apesar de ter conseguido avanços em alguns setores, outros estavam completamente insuficiente para atender a população, como a iluminação que ainda neste momento era fornecida por particular, o Senhor Manoel Vieira Neto, e movida a vapor provindo da lenha, só funcionava durante a noite e até as vinte e quatro horas. Segundo Sr. Bartolomeu (2003), "o local era uma fábrica de algodão, lá tinha um motor que gerava a luz até doze horas, quem dirigia esse motor era Zé de Nacum. De meia noite em diante o pessoal para aproveitar o restinho da festa acendia a luz de caborete, com um mau cheiro, o fogo vermelho" (PEIXOTO, 10/01/2003).

A falta de água também era um problema. O fornecimento estava localizado em um lugar de difícil acesso, o abastecimento dava-se por meio do tanque da Santa Cruz. No período da seca de 1932 a população foi bastante castigada, tanto na zona rural como na cidade. Segundo D. Cristina (2003) "foi uma calamidade,o povo passou fome, eu tinha um irmão que vinha todo dia pra praça buscar água na bomba, água saloba, ele era quem fornecia água lá em casa". (NORONHA, 07/01/2003). Segundo depoimento do Senhor Bartolomeu (2003), no inverno de 1932 não houve chuvas impossibilitando a criação de lavoura. Prolongando por todo o verão, o gado morreu, a mandioca não brotou provocando a falta da farinha o que ocasionou fome. Na zona rural as pessoas deslocavam-se por uma enorme distância para conseguir água.

Apesar das dificuldades enfrentadas pela população que ficavam a margem da administração pública, havia no município as festividades, destacando as festas religiosas: a tradicional festa de Santo Antonio e de Nossa Senhora da Conceição, onde se realizava congresso. Para comemorar, o padre mandava enfeitar as ruas, a população ajudava com entusiasmo, reunindo-se em grupo e cada ficava encarregado de realizar uma tarefa a fim de enfeitar as ruas por onde a imagem ia passar. A procissão realizava-se no domingo a tarde.

Outra festa tradicional era a feirinha de Natal realizada em poucos dias. Os brinquedos: trivolin, onda, balanço alegravam a criançada. Para fazer movimentá-los era utilizada a força humana. A rifa, o jogo de cuca, o jogo de baralho, serviam para distrair os adultos e também contava com bazar. O carnaval denominado de Micareme era outra festa de cunho popular que fazia a animação da cidade. Existiam três blocos, um formado por Zé Pretinho chamado Dos Moreninhos, composto por moças pobres e de cor escura, o outro formado por Noronha chamado de Tirolezas e outro formado por José de Almeida Pinheiro denominado Batalhão do amor. Os blocos saíam às ruas e depois seguiam para a praça onde se realizava o julgamento, Silvio Teixeira fazia parte dos jurados, ganhava o bloco que demonstrasse maior criatividade. Como afirma D. Cristina (2003), o vencedor sempre era o Batalhão do amor. Para participar do bloco não precisavam pagar, os organizadores davam as fantasias.

Outra forma de diversão na cidade era o futebol, originado dos antigos clubes na época da república Velha em Itabaiana, o Margem da Serra Futebol Club, cujo nome foi sugerido por Sebrão sobrinho foi fundado por José Almeida Pinheiro e participava de campeonato entre as cidades vizinhas. Grande foi o desempenho desse clube que por várias vezes foi campeão do futebol profissional sergipano, chegando ao penta campeonato e também recebeu de Campeão do Nordeste de 1973, da Confederação Brasileira de Futebol.

Na zona rural, destacavam-se: o reisado, as festas animadas por sanfoneiros, o leilão, os brinquedos de roda. A vida citadina de Itabaiana estava centrada no comércio, os maiores nomes da política itabaianense eram ligados ao setor.

Em 19 de dezembro de 1933, o interventor Maynard Gomes nomeia o Otoniel Dorea para ocupar o cargo de intendente no lugar de Aristides de Menezes permanecendo até 1934. Esse fato se deu devido a grande influência do coronel no cenário político e também por ser grande amigo de Lendro Maciel que exercia influência no governo.

Será possível que o governo que põe ao seu (dele Leandro Maciel) dispor, funcionários da Secretaria Geral, como sr. Julio Soare para fazer eleitores...

que nomeia as autoridades municipais que se demitem. Por sugestão dele, como Teófilo de Freitas Barreto, de Riachuelo ... e outros. Que permite faça ele certas excursões eleitorais em carro oficial; Que prestigia os chefes do PRS, isto é, da facção do sr. Leandro Maciel, que ainda não estão no poder somente por uma questão de habilidade política, como aconteceu (...) em Itabaiana com o sr. Otoniel Dorea; será possível, repetimos, que o sr. Interventor ante esses fatos negue que o sr. Leandro Maciel desfruta suas preferências, tem o seu concurso, tem o seu apoio (ESTADO DE SERGIPE, 1933).

O PSD criado por Leandro Maciel elegeu Otoniel da Fonseca Dorea deputado na eleição de 14 de outubro de 1934, da qual no segundo turno obteve 18.668 votos e também o elegeu para o senado na eleição de 02 de abril de 1935 com 15 votos. E o Partido Republicano de Sergipe fundado em torno de Augusto Maynard Gomes elegeu no segundo turno, Esperidião Noronha e José Sebrão Carvalho (Sebrão, sobrinho), deputados estadual, o primeiro com 18.633 e o segundo com 18.562 votos e conseguiu 14 votos nas eleições para governador em 02 de abril de 1935.

A separação entre o chefe do executivo estadual e Leandro Maciel refletiu em Itabaiana, na nomeação em 1934 de Edson Leal Menezes, para intendente, genro de Esperidião Noronha, que fundou o Partido Republicano em Itabaiana e dispunha nesse momento de grande prestígio junto ao governador. No entanto, após a eleição de 02 de abril de 1935, para governador, ele passa para o lado de Eronildes Ferreira de Carvalho.

No pleito eleitoral de 3 de outubro de 1935, para eleição municipal, disputaram Manoel Francisco Teles apoiado por Maynard Gomes, figura nova na política itabaianense, mas que adquiriu prestígio perante a comunidade por prestar-lhes todos os tipos de favores, era comerciante rico e influente. E o outro candidato foi Sílvio Teixeira, apoiado pelo deputado Esperidião Noronha na chapa de Eronildes Ferreira de Carvalho, o qual saíram ambos vitoriosos. No entanto, o grupo oposicionista de Maynard Gomes fazia diversas acusações:

e por último, na hora do pleito, como um legítimo atentado e desrespeito à própria religião da qual são ministros, dois sacerdotes andaram de casa em casa, rua em rua, de braços dados com os perigosos esbirros do governo, a cabalar votos de adversários, resistindo, assim, pela prática da deslealdade, da falta de cumprimento da palavra empenhada entre elementos de agremiações partidárias (DIÁRIO DA TARDE, 1935).

Em Assembléia Legislativa, Sebrão Sobrinho também denúncia na tribuna, as violências praticadas por aqueles que apoiavam a candidatura de Sílvio Teixeira. Aos que eram a favor recebiam benefícios do governo municipal. Era importante para o chefe municipal receber o apoio da Igreja, já que esta detinha um grande poder, sendo capaz de conduzir as pessoas a aceitarem a sua ideologia política, ficando assim mais fácil induzir a população na aceitação dos interesses do poder municipal.

Em Sergipe, segundo Ibarê (1983), a criação da Ação Católica Brasileira (ACB), em 1935 fez com que a atuação da Igreja aumentasse. Isto se deu devido a expansão das idéias do movimento dos trabalhadores que pregava o comunismo, considerado uma ameaça à instituição e a ordem vigente. Sendo assim, era preciso embutir outras concepções político-ideológicas.

Graças ao trabalho pertinaz da Igreja, através de seus sacerdotes, ao apoio decidido do governo e aos serviços e auxílios que a instituição oferecia a um corpo de trabalhadores necessitados e marcados pelos valores religiosos de uma sociedade estruturada em tradições legitimadoras da ordem burguesa, o número de adeptos cresceu. Um ano depois, já se dizia que se congregavam "2.000 irmãos, orientados pelos sãos princípios de Fé e Patriotismo", e o movimento adquiria repercussão pelo interior do Estado (IBARÊ, 1983, p. 137).

Assim, as figuras que atuaram no cenário político municipal nomeadas pelos interventores estiveram sempre ligadas a velha política. Aquele que esteve ao lado da revolução de 1930, só conseguiram a administração por meio do voto, mas mesmo assim, por ter sido apoiado por pessoas ligadas as velhas correntes políticas itabaianenses.

Os intendentes que estiveram a frente da administração municipal eram comerciantes bem sucedidos, isso fazia com que eles adquirissem prestígio e respeito perante as pessoas da localidade, pois utilizavam o comércio para realizar suas atividades políticas, detendo junto a si pessoas que necessitavam comprar seus produtos nessas lojas comerciais.

Quanto ao desenvolvimento da cidade, apesar de ter sido iniciado alguns projetos que viabilizaram o comércio, por meio da construção de estradas que interligaram a cidade a outros municípios, muitas coisas ainda tinham que ser implantadas, tanto no que diz respeito as comunicações, como na melhoria das condições de vida da população. As pessoas continuavam sendo influenciadas pelas velhas oligarquias, sem representatividade no âmbito político.

Com os processos eleitorais prosseguem os acordos entre as figuras de prestígio na política na cidade e os líderes estadual. Neste contexto a adesão de várias facções foi fundamental para o resultado nos pleitos eleitorais. Continuava o sistema de pedidos, atendidos conforme a ligação com o interventor.

Assim, estudar o período de 1930 a 1935 é fundamental para a história do município em virtude da existência de poucos estudos abordarem essa época, Carvalho (2000, p. 684; 696) cita em algumas páginas breve relatos de alguns acontecimentos. É preciso debruçar-se sobre a fim de preencher essa lacuna historiográfica existente.

BIBLIOGRAFIA

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Decretos do governo provisório. Sergipe – Jornal, Aracaju: 20 de novembro de 1930, Anno XI, num. 2579.

Prevenção necessária. Sergipe – Jornal, Aracaju: 20 de novembro de 1930, Anno XI, num. 2579.

Actos do Sr. chefe de polícia. Sergipe – Jornal, Aracaju: 10 de novembro de 1930, Anno XI, num.: 2584.

O Sr. Dorinha não é mais exactor. Sergipe – Jornal, Aracaju: 27 de novembro de 1930, Anno XI, num.: 2585.

O estado de Sergipe e suas vias de comunicação. A.U.B. Jornal Universitário. Bahia, 29 de abril de 1933.

Itabaiana ligada, pelo telefone, a esta capital. Correio de Aracaju. Aracaju, 29 de janeiro de 1930, anno XXIII, n° 1281.

O intendente de Itabaiana demitiu vários empregados do município. Correio de Aracaju, 11 de março de 1930, anno XXIII, n° 1312.

Os demandos do intendente de Itabaiana. Correio de Aracaju. Aracaju, 1 de março de 1930, anno XXIII, n° 1313.

Coronel Otoniel Dorea. A Tribuna, Aracaju, 20 de abril de 1931.

Uma aggressão em Itabaiana. A Tribuna, Aracaju, 30 de abril de 1931.

Itabaiana, o seu serviço postal. O Estado de Sergipe. Aracaju, 26 de março de 1933, ano I, n° 21.

Querem telefone em Itabaiana. O Estado de Sergipe. Aracaju, 04 de abril de 1933, ano I, n° 27.

Itabaiana quer um serviço postal direto. Jornal de Notícias. Aracaju, 28 de março de 1932, ano I, n° 200.


Autor: silvânia santana costa


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