Magistério e Absenteísmo



Município gaúcho investiga o número excessivo de atestados médicos apresentados como justificativa para ausências no trabalho docente. Para isso, ingressou no Ministerio Público- MP e instaurou procedimento administrativo, o que pode resultar, provada a má-fé, em processo de improbidade administrativa. É preciso salientar que, contando com 3.940 trabalhadores da educação, foram apresentados 4,8 mil comunicados de afastamento por recomendação médica. Obviamente, mais de uma pessoa registrou licença médica por mais de uma vez. Há casos em que um único servidor teve, no espaço de oito meses, 30 registros de atestados. Como também o registro de que um mesmo profissional da saúde, liberou 200 atestados.

Os dados são espantosos e caracterizam o setor educacional como campeão no absenteísmo. Se nos ativermos somente no plano das estatísticas, podemos, equivocadamente, pré- julgar a categoria como relapsa, descompromissada com o labor, com a comunidade escolar e as funções pertinentes à classe. Todavia, estaríamos sendo precipitados e desconsiderando as hipóteses que levam o professor ao uso do expediente.

Com a remuneração aviltante, o professor, para manter a subsistência da família e a sua, dobra a carga de trabalho. Muitas vezes acumulando a tarefa em locais diferentes o que leva à necessidade de deslocação e conseqüente despesa. Com o excesso de alunos nas turmas, ele retorna à casa com trabalhos para correção e avaliação multiplicados, em muitas vezes, por dez. Dependendo da carga horária contratada, 20 horas ou 40 horas, um contingente de alunos pode chegar aos quinhentos. Esse dado, somado a outras questões de ordem pessoal ou familiar, pode gerar um estresse enorme somado à depressão causada pela baixa valorização.

O leigo pode perguntar:- E o piso nacional do magistério proposto pelo governo?

Como todas as políticas, é mais uma: Casuística e sensacionalista. Repercute na opinião pública parafins eleitoreiros. Carece de regulamentação, e como outras coisas, demanda tempo. O tempo que os profissionais não tem para esperar, porque a vida urge, assim como a fome dos miseráveis só é apaziguada por políticas assistencialistas que desfiguram a falta de investimento, de desenvolvimento social, e a detenção de riquezas por uma mínima parcela da população.

Existe também um outro fator que desgasta o trabalho docente: O da violência nas escolas, a falta de segurança, as ameaças, o trabalho de ensinar a quem não tem perspectiva, objetivos para o futuro; o mau relacionamento com as famílias que entregam a educação como função exclusiva da escola.

As condições adversas são tão reconhecidas que o professor tem direito à aposentadoria especial aos vinte e cinco anos de efetivo exercício em sala de aula. Assim como existem teses sobre a Síndrome de Bournier que afeta aos trabalhadores da educação.

Então, perguntamos: É por acaso ou descaso que o professor se afasta da sala de aula? Não é legítima a necessidade de afastamento por ordem médica? Descaso, sim. Não do profissional, desgastado e aviltado, mas descaso das autoridades que deixam de investir na educação.


Autor: lucia czer


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