Vida e morte do executivo



É no mínimo instigante – para não dizer trágico – o modelo de Executivo que o mercado de produtos e serviços está tentando produzir. E entre estas ações merece destaque tudo aquilo que é oferecido na linha intitulada de "auto-ajuda".

Estas fórmulas "mágicas"estão criando um segmento de mercado com pessoas inodoras, incolores e insípidas, ou como diria o filósofo esloveno Slavoj Zizek,"uma geração desprovida de sua essência nociva".

Já temos o café sem cafeína, cerveja sem álcool, sexo virtual e cigarro com baixo teor. Então, porque não ter o Executivo Turbinado para estar sempre feliz, bem vestido, "sarado"e imune aos altos e baixos de uma vida pessoal e profissional cheia de desafios, ambigüidades , dúvidas e interrogações?

A cada dia ficção e realidade se confundem. Não apenas porque a novela das oito mobiliza pessoas e debates sobre uma mistura que não faz diferença entre ficção,personagens e realidade. Os "Big Brother" tentam simular o que são, mas no fundo estão representando o que gostariam de ser. Da mesma forma que a CNN "cria " guerras e fatos antes, ou até em substituição, ao mundo real.

É cada vez mais uma sociedade do "chocolate laxante", que transmite uma ilusão de digerir algo que contém prazer sem sentir-se culpado por descuidar da silueta.

Para os executivos os programas, literatura, palestras, CD's, massagens, horóscopos, florais e outros tantos produtos ou serviços são a cada dia mais oferecidos como forma de evitar a dor da ambigüidade. Ou no mínimo, uma capacidade de "fazer de conta"que está tudo bem, mesmo quando este não é o verdadeiro estado interior.

Muito breve deve estar sendo lançado no mercado algum programa típico de "Descarrego Gerencial". E os mesmos que criticam e se escandalizam com os recursos da Teologia da Prosperidade utilizadas pelas igrejas pentecostais, ou os novos métodos empregados pela Igreja Católica numa tentativa desesperada de não perder seus fiéis, empregam recursos não muito diferentes na forma e conteúdo.

É claro que os produtores de auto-ajuda para executivos não aceitam esta comparação, pois seus produtos e serviços recebem outra "embalagem"para seduzir seu diferenciado cliente.

Utilizando uma reflexão de Maurice Blanchot, escritor e crítico francês, recentemente falecido, quando diz que "as respostas são a má sorte das perguntas".

Para alguns pensadores o escritor argentino José Luis Borges sintetizou na sua obramuitas destas ilusões , especialmentequando nos ensina sobre a futilidade dos sonhos de precisão total, de exatidão absoluta, de conhecimento completo, de informação exaustiva sobre tudo, mais especialmente sobre as ambições humanas que , no final, se revelam ilusórias e nos mostram impotentes.

Querer poupar os executivos de viverem as contradições próprias das suas dúvidas existenciais, interrogações de uma carreira que a cada dia é menos linear, de pressões de um mercado competitivo e organizações em mutação permanente, é criar uma figura artificial. Ela estará desprovida de qualquer defesa natural ou poder de reflexão sobre suas próprias incertezas e ambigüidades. O executivo, como qualquer ser humano, deve estar construindo, permanentemente, seus papéis, que também mudam, como cidadão, companheiro, filho, pai, profissional e outros tantos.

Segundo Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, "a experiência humana é mais rica do que qualquer de suas interpretações, pois nenhuma delas, por mais genial e "compreensiva"que seja, pode exauri-la. Aqueles que embarcam numa vida de conversação com a experiência humana deveriam abandonar todos os sonhos de um fim tranqüilo de viagem. Essa viagem não tem um final feliz – toda sua felicidade se encontra na própria jornada."

O cuidado que os Executivos precisam ter é de não perder sua visão crítica ao participarem de atividades que lhe prometem "a felicidade como estado permanente", ou um despreparo para derrotas, quedas ou desafios. Que ocorrem em todos os segmentos da vida, que deve ser vivida intensamente.

Existe um perigo de estarmos formulando um conjunto de estilos de vida que procuram fazer surgir um homem desenraizado e sem identidade própria.

E no caso dos Executivos isto é ainda mais grave.

A responsabilidade continua sendo de cada um. Pois cada vez mais estamos substituindo desenvolvimento por auto-desenvolvimento.


Autor: Renato Bernhoeft


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