De Hoje Em Diante
Pensando nisso, decido que de hoje em diante viverei e deixarei viver: deixarei a luz do sol ser simplesmente luz, a água da chuva ser apenas água e as pessoas serem somente pessoas.
Assim como aprendi que não devo bater nos outros, de hoje em diante vou me lembrar disso, mas também terei minhas defesas para não apanhar.
Como nunca me vali dos outros e de seus pertences para conseguir as minhas coisas, de hoje em diante preservarei nesse propósito, mas não me calarei quando vir que as pessoas ao meu redor fazem o contrário para me prejudicar.
De hoje em diante, a simplicidade será meu estilo de vida: quero o natural da natureza e o suficiente para que minhas necessidades, sonhos e desejos se realizem naturalmente, e não me frustrarei se o artificial bater nos meus pés.
De hoje em diante, buscarei saber apenas o que me faz saborear melhor a vida e deixarei de lado a tentativa de querer um depósito sábio maior do que minha mente e meu coração podem carregar, e admitirei minhas ignorâncias quando elas forem inarredáveis.
De hoje em diante, deixarei a falsidade aos falsos, a mentira às bocas mentirosas, a dissimulação aos dissimulados e a maldade aos corações maldosos, cuidando de me defender quando tudo isso e seus sujeitos partirem para cima de mim.
De hoje em diante, ensinarei o que sei, sabendo que o que sei é aquilo que posso comunicar bem, contribuindo para que o outro possa me fazer de ponte e saber mais de si, tornado-me dispensável de sua vida, ainda que necessária a nossa relação.
De hoje em diante, respeitarei a liberdade dos outros, assim como quero que respeitem a minha, e ficarei feliz quando nossos limites forem até onde vão nossas liberdades comuns, esconjurando esquemas de escravidão e servilismo impostos ou voluntários.
De hoje em diante, vou atentar para a necessidade de partilhar minhas coisas, de não ser egoísta e narcísico, como me ensinaram na primeira infância, mas cuidarei de saber o que me pertence e o que é dos outros para que eles próprios tomem suas providências.
Entenderei, de hoje em diante, que jogo bom é jogo jogado dentro das regras acordadas em comum entre os jogadores, preferindo sempre os limpos, dignos e construtivos, e não me entregarei a esquemas, trapaças e malversação de nossas potencialidades humanas.
Quero o equilíbrio, desde hoje, mas o quero como resultado natural daquilo que sou, vivo, penso, sinto e faço, e não me descabelarei quando o equilíbrio for passear, a calma der uma saidinha ou a desesperança me levar ao sono.
Se eu magoar alguém, de hoje em diante, vou pedir desculpas e me esforçarei para dar o devido perdão a quem me magoar e vier pedir a minha compreensão, mas deixarei os algozes onde devem estar, caso não tenham a humildade de reconhecer suas ações.
Se me ensinaram que cada coisa merece um lugar, de hoje em diante vou observar essa regra e o que a ela diz respeito, mas não me omitirei quando quiserem que minhas coisas não estejam onde me fazem bem.
Vou procurar me organizar, mas não ficarei louco da vida quando a desorganização momentânea me surpreender para testar minha liberdade, para exigir minha criatividade e para me colocar de frente com a necessidade de saber que caminho estou a palmilhar.
De hoje em diante, vou mudar o que for passível de mudança, conviver com o que não se pode mudar e estudar o necessário para compreender uma coisa e outra, para o bem da minha humanidade e da humanidade daqueles que me cercam.
Enfim, de hoje em diante, apenas serei o que sou, no natural da natureza, sem artificialismos desnecessários, sem medo da vida, mas com intensa vontade de alcançar o que me realiza e me faz bem.
De hoje em diante, serei simplesmente.
Simplesmente o que sou.
Autor: Wilson Correia
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