Fenômeno Bullying



Fenômeno Bullying

No livro Fenômeno Bullying, obra de Cleo Fante, a autora define o tema em toda a sua dimensão como forma de torná-lo conhecido e também como forma de prevenir a violência nas escolas e, principalmente, como educar para a paz.

A autora discorre sobre os maus tratos que alguns alunos sofrem no ambiente escolar por parte de colegas agressivos e como esse fato é negligenciado por parte dos educadores, seja por omissão, ou seja, por desconhecerem o assunto em toda a sua profundidade.

Este trabalho faz referências de como o bullying acontece nas escolas públicas e particulares de todo o mundo e como identificá-lo para combatê-lo.

Principalmente, o livro propõe atitudes concretas que visam minimizar a problemática da violência nas escolas dirigidas aos pais, aos professores, aos educadores e às autoridades educacionais.

O termo bullyng é usado para definir as atitudes agressivas de uns alunos contra outros. É comum que sem motivo plausível, alguns deles comecem a insultar ou intimidar, colocando apelidos ou fazendo gozações com o intuito de magoar e infernizar a vida dos demais. Tem-se constatado que o bullying é um fato comum na maioria das escolas do mundo inteiro e isso está despertando a atenção da sociedade, justamente, por suas conseqüências nefastas estarem evidenciando desigualdades no contexto escolar.

Esse tipo de comportamento interfere nas relações interpessoais onde os mais fortes convertem os mais fracos em objetos de prazer ou diversão através de brincadeiras que mascaram o propósito de maltratar ou intimidar impossibilitando a vítima de se defender e, ainda, essa não consegue alguém que a defenda dos agressores pelo fato do bullying não ser confundido com outras formas de violência.

Historicamente, o bullying é antigo e transformou-se numa questão social extremamente preocupante gerando insegurança na comunidade escolar e as soluções apresentadas até hoje são paliativas sem preocupação com a melhoria das relações interpessoais que deveriam ser desenvolvidas através de estratégias sócio-educativas num esforço sistemático para intermediar o problema existente entre agressor e vítima.

Contudo, pesquisas em todo o mundo atentam para esse fenômeno e o tema tem gerado interessa e é classificado como conflito global e a previsão é de que seja grande o número de jovens que se tornarão abusadores e delinqüentes, caso persista essa tendência atual.

Segundo constatações, é comum a existência de conflitos e tensões entre alunos de uma classe, onde um ou vários deles apresentam comportamento agressivo influenciando nas atividades e promovendo interações ásperas, veementes e violentas entre eles.

Com relação ao temperamento do agressor, esse se mostra irritadiço e sente necessidade de ameaçar, dominar e subjugar os outros pela força usando métodos violentos em situações de conflito. Sua preferência é atacar os mais fracos pela certeza de poder dominá-los.

Entretanto, os casos de bullying não podem ser confundidos com maus tratos ocasionais e não graves, pois os comportamentos que o caracterizam são repetitivos e prolongados, sempre contra uma mesma vítima que não se defende por sentir-se inferiorizada perante o agressor. Esses comportamentos agressivos dão-se de forma direta que inclui agressão física e indireta que é a forma verbal, visando à discriminação e que provoca traumas irreversíveis para o resto da vida do agredido.

No Brasil vem acontecendo alguns estudos pioneiros sobre o bullying com o intuito de conscientizar pais, professores, alunos, psicólogos, psiquiatras e demais profissionais envolvidos no processo educacional de que é possível reduzir os índices de manifestação por meio de programas educacionais que têm a paz, como objetivo. Os mesmos estudos revelam que há um despreparo muito grande por parte dos meios educacionais em lidar com a violência, principalmente, a velada e há, inclusive, diretores que negam a existência em suas escolas, principalmente, quando a escola é particular.

Nesse sentido, os profissionais da educação devem valorizar os sentimentos que as vítimas expressam entendendo que é muito difícil para as mesmas falar sobre o que lhes está acontecendo e que elas só pedem ajuda quando não mais suportam o sofrimento que lhes é impingido ou quando já estão próximas do suicídio.

Entretanto, os mesmos estudos comprovam que o interesse pelo assunto vem crescendo e que há novos pesquisadores trabalhando em prol da erradicação do fenômeno e de suas trágicas seqüelas.

Quanto às conclusões sobre os estudos realizados, o bullying é uma realidade em qualquer situação da escola, seja essa pública ou privada, e o fenômeno é responsável pelo clima de medo e perplexidade entre os membros da comunidade educativa que não sabem que medidas tomar para contê-lo. Outro fato constatado é com relação às causas da ação do agressor que numa ação individual acaba afetando coletivamente todo o grupo numa espécie de aliciamento atacando geralmente a mesma vítima. Segundo especialistas a autoridade do agressor provem de sua força física ou psicológica que o destaca dos demais e o transforma num modelo a ser seguido e, muitos o seguem para não serem transformados na nova vítima ou pela necessidade de serem aceitos pelo grupo.

Especialistas afirmam que o comportamento agressivo também tem como causa a carência afetiva, a ausência de limites, os maus tratos físicos e explosões violentas de pais sobre filhos na primeira infância.

O autor enfoca como os principais fatores destes comportamentos de bullying, os problemas sociais como, a pobreza, o desemprego, a desigualdade social, além da grande influencia que a mídia tem exercido sobre nossos adolescentes, mas, porém não podemos deixar de responsabilizar a família como a maior de todas as influências, pois é através dela que construímos uma base sólida que proporcionará aos jovens serem pessoas melhores.

É na família que a criança aprende a lidar com seus próprios sentimentos e emoções e com seus conflitos interpessoais, valorizar e respeitar as diferenças relacionar-se com as pessoas e não desenvolverem atitudes agressivas.

Conseqüentemente o agressor sente a necessidade, em razão desses modelos de se impor pela força, de se fazer notado para se auto-afirmar perante o grupo.

Pelo exposto acima, a ausência de modelos educacionais humanistas capazes de orientar uma criança para uma convivência social pacifica vem induzindo e educando ao caminho da intolerância, da não aceitação das diferenças sejam elas de ordem físicas, psicológicas, sociais, sexuais ou ligadas aos aspectos como força, coragem e habilidades desportivas e intelectuais. E é justamente na constatação dessas diferenças que surgem os conflitos interpessoais de convivência que vão aumentando conforme o grau de escolaridade com formas diversificadas de manifestação dando origem ao bullying.

Tudo isso evidencia que há correlação entre o bullying e a formação de gangues, pois os alunos vão buscar proteção fora como forma de resolver seus conflitos pessoais dentro da escola. Outro fato relevante é a participação das meninas que se tornaram tão agressivas quanto os meninos fazendo uso dos maus-tratos físicos para mostrar poder em seus grupos sociais. O que tem facilitado essa tendência é o uso do celular e da internet que é o método usado entre as meninas para perseguir umas às outras.

Com relação à postura de alguns professores em relação ao bullying praticado no meio acadêmico, fica evidente que alguns também se transformam em agressores devido ao autoritarismo e intimidação que empregam na tentativa de obter poder e controle diante do grupo-classe. Exemplo disso é a maneira como chamam a atenção dos alunos usando palavras depreciativas e discriminatórias, fazendo comparações e usando de apelidos na frente dos colegas, com vistas a corrigir o comportamento apresentado em aula.

No entanto, o bullying quando praticado dentro e fora da sala de aula deixa um dos lados envolvidos em prejuízo maior, que é o agredido. Essa vítima não viola a lei do silêncio por medo, por conformismo ou por vergonha de se expor perante os colegas e virar motivo de gozações ainda maiores. E os familiares desse não reagem por temerem represálias dos agressores o que tornaria a situação do agredido mais grave e insustentável no ambiente escolar. Outro fato bem mais preocupante com relação ao bullying, é o despreparo dos professores que têm dificuldades de detectar esse problema muitas vezes expresso por linguagem não verbal, por olhares intimidatórios, por risadinhas ou por atitudes corporais entre outras, principalmente, fora da sala de aula por falta de supervisão em relação à quantidade de alunos, como na hora do recreio. Existe outro agravante ainda, que é a passividade dos colegas do agredido. Esse expectador e testemunha ocular não denunciam o agressor e se sente coagido à omissão por medo de se envolver ou de se transformar na próxima vítima.

Tudo isso tem evidenciado que há pouca ou nenhuma consideração pelo aluno vítima de bullying na escola. Por conseqüência, providências não são tomadas e soluções não são dadas e a vítima do fenômeno não sabe como lidar com a situação e vai se isolando do grupo, evade-se da escola por sentir-se fragilizado ou, até mesmo, se transforma em caçador e reproduz os maus-tratos e as violências sofridas e outros colegas serão vítimas contribuindo com isso para a disseminação do problema.

Como uma das principais características do bullying é a violência oculta, os pais e educadores devem observar as crianças quanto ao mutismo, à queda do rendimento escolar e a resistência em ir à aula. Isso quando a mesma é vítima da bullying. Quanto ao agressor, o procedimento é observar seu comportamento quanto às brincadeiras, gozações, hostilidades, insultos, ameaças, ordens, empurrões, apropriações indevidas de pertences de colegas entre outros. Pelos estudos feitos até agora, o bullying deve ser combatido nas escolas em atenção ao agredido e ao agressor através de programas especiais de prevenção, visando à conscientização da comunidade escolar e sensibilizá-la, principalmente, no apoio às vitimas que devem ser encaminhadas a tratamentos especializados para que sintam protegidas.

Pelas considerações feitas, ficou evidente que o bullying é um fenômeno real, que ocorre em todas as escolas do mundo em maior ou menor escala, independente das características culturais, econômicas ou sociais dos alunos. Entretanto, a conscientização e a aceitação das comunidades escolares com relação ao problema é o primeiro passo para o desenvolvimento de estratégias de intervenção e de preservação como forma de combate a violência entre os escolares.

Essa luta por parte dos educadores pela redução do comportamento bullying é imprescindível porque o fenômeno é complexo e de difícil identificação, pois se manifesta de maneira sutil e velada e se propaga pela imposição do silêncio. Portanto a prevenção do bullying deve começar pela capacitação dos profissionais da educação a fim de que esses identifiquem quem é a vitima e quem é o agressor bem como conhecer as estratégias respectivas de intervenção e de prevenção que hoje existem.

Nesse sentido, ultimamente, a reflexão pedagógica sobre a temática deve centrar-se no desenvolvimento dos valores humanos como, ética, moral e cidadania com vistas à redução da violência nas escolas seguindo os clamores da sociedade pela tolerância e pela solidariedade como os construtores da paz entre todos os envolvidos em educação. E, se violência é um comportamento que os alunos aprendem nas interações sociais deve-se contrapô-la com as maneiras de ensinar-lhes comportamentos não violentos para que os alunos aprendam a lidar com as frustrações, com a raiva e ensinar-lhes, sobretudo habilidades para que seus conflitos interpessoais sejam resolvidos por meios pacíficos.

Considerando-se que qualquer ato consciente ou inconsciente que fere que magoe que constrange é uma forma de violência é imprescindível que o profissional da educação considere qualquer ato violento ou agressivo como causadores de grande sofrimento a muitos alunos e como tal causam grandes prejuízos emocionais e seqüelas irreparáveis que rebaixam a auto-estima e estimulam reações como ansiedade e pensamentos de vingança. Reações essas que afetam a sociedade como um todo, atingindo diretamente crianças de todas as idades, de todas as escolas do país e do mundo, com reflexos na vida adulta de cada um dos agredidos ou dos agressores.

________________________________________________________________________Bibliografia

FANTE, C. Fenômeno Bullying: como previnir a violência nas escolas e educar para a paz. São Paulo, Verus, 2005.


Autor: Cirléia Maioli


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