Põe ética
PÕE ÉTICA
Foi lida a arte como sinônimo de beleza
"Que não põe mesa, que não põe mesa!"
Então não apodreça o poema,
Falando do cheiro de sangue,
Da lama da cidade, do lixo do mangue!
Não descreva as mazelas, não fotografe as favelas!
Vamos copiar, invejar o cabelo das magrelas,
Que o padrão da dona Maria
De barriga na pia e chinelão
Não rende verso, não!
Quem já viu uma escultura
Do menino, do mendigo da rua?
Não tem graça! Só se for de mulher nua!
No esguicho cerebral do comercial de televisão,
Na música da glamourosa, no pancadão
Eu vejo a beleza, que abre o apetite, mas não põe a mesa
Por isso que eu vejo os moleques vestindo a etiqueta:
No punho o relógio, uma doze e uma chupeta.
Na mamadeira tinha a pinga do Exu da Cara Preta,
Que com o leite da escola a diretora fez mutreta.
Não estragues o poema, arranjes outro tema,
Que de feio já basta o povo!
Não fales do busão lotado, fedido, apertado
De todo mundo com cara de ovo!
Não seja que nem o professor teimoso:
Que queria falar, de novo,
Sobre a tal da Constituição!
"Melhor mandar embora, assim, sem demora
Pra não criar confusão!"
Cheguemos no bar do Inácio, camarada!
Vamos tomar a gelada , da loira siliconada!
Desce muito mais redondo com etílico,
Fermentando a farinha e o horário político...
Pra reforçar o ato cívico: "Meu amor, eu dirijo!
Por favor, dá um real prá esse menino raquítico."
Bom Prato, moleque, prá amolecer o estômago rijo!
Aqui jaz como guspe o poema chulo, INSS, de perna manca
Tanta praia bonita, tanto Domingo e requebrar de anca...
E o verso flamingo rasteja descalço, no rasgado que o vidro estanca.
Como dizia Silvio Santos: "-Ôe!"
Uma salva de tiro!
Autor: Thalita Pacini
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