E A Vida?



Almir tem 43 anos (como poderia ter trinta ou cinqüenta ou sessenta. A idade dele é o que menos importa!). É casado, tem dois filhos. Não consegue quase nunca lembrar a idade deles. Também, eles cresceram e ele nem teve tempo para acompanhar o crescimento de nenhum dos dois.

Almir trabalha muito! Sempre foi assim. Acorda todos os dias bem cedinho, e logo de manhã se sente ansioso, impaciente, diante de tantos compromissos e obrigações que tem para cumprir. Por mais que corra, que se esforce, não adianta. Está sempre com a sensação de que está atrasado.

Já levanta da cama apressado. Sem tempo! Até tem vontade de conversar um pouco com a esposa e com os filhos, de lhes dar um beijo de bom dia antes de sair. Mas não tem tempo. Mesmo assim, tem vontade!

Acordou bem cedo, dormiu pouco, pois ontem teve que trabalhar até mais tarde foram vários aborrecimentos no trabalho, e quando chegou em casa estava tão cansado, tão estressado que não tinha paciência e muito menos ânimo, para qualquer atitude de carinho com a família. E ainda dormiu pouquíssimo, pois após um dia tão atribulado, teve muita dificuldade para conseguir relaxar e pegar no sono! E ainda acordou várias vezes à noite!

Dá um pulo da cama, lava o rosto, faz a barba rapidamente. Escova os dentes. Engole rapidinho um golinho de café (até que está com fome, mas não pode se atrasar ainda mais!).

Mais uma vez não teve tempo para ficar um pouco com a família, como tanto tem vontade. E sai correndo! Extremamente irritado e estressado. E olha que mal começou o dia!

Mesmo diante de tanta correria, de vez em quando, Almir até sonha com as férias. Não com prazer ou tranqüilidade, mas com ansiedade. Mas se contenta, pois pelo menos ainda consegue sonhar com alguma coisa! Inclusive já esteve em uma agência de viagens para adquirir um pacote para suas férias. Uma excursão ótima! Está tão acostumado em seguir roteiros, que mesmo quando é livre para só fazer o que quer, prefere que alguém trace o roteiro para ele. Força do hábito!

Na ida para o trabalho, Almir passa diante de uma loja de eletroeletrônicos e se lembra que ontem, no horário do almoço, esteve lá, e comprou um aparelho de DVD, pois gosta muito de assistir filmes. Se lembra também que a esposa comentou com ele que entregaram o aparelho ontem a tarde. Nem teve tempo para ligá-lo.

Não é a primeira vez que isso acontece. Já comprou várias outras coisas que tinha vontade, mas nunca teve muito tempo para curti-las como desejava. Almir suspira com uma pontinha de tristeza e resignação. Trabalha tanto! Corre tanto...Que não dá mesmo para ter tempo! Mas pelo menos acaba conseguindo comprar os objetos que quer...

Precisa ganhar dinheiro, pois além das despesas da casa, ele tem muitos sonhos de consumo!
Por um momento, Almir se dá conta de que, na imensa maioria das vezes, ele não faz o que quer, o que tem vontade, e sim o que deve, o que tem obrigação de fazer...Ele sabe que tem muita responsabilidade. Mas felicidade...

Se considera bastante eficiente. Mas é pouco sorridente! Para se consolar, de forma resignada, ele pensa que “se quer conseguir alguma coisa na vida, é assim mesmo”. Será? E a vida?


Autor: Maria Aparecida Francisquini


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