O Sentido do Ser



O sentido do ser: uma questão fundamental

José Reinaldo F. Martins Filho[1]

Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz

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Resumo:

O presente artigo procura discutir o tema "o sentido do ser" e apresentá-lo como questão fundamental para a humanidade. Baseado no pensamento de Martin Heidegger em sua obra Ser e Tempo. Após a compreensão do ser e de sua existência, o homem terá a possibilidade de melhor se relacionar com o mundo em que habita.

Palavras-chaves: Ser; questão fundamental; Martin Heidegger.

Zusammenfassung:

Dieser Artikel versucht zu erörtern, die Frage der Sinn des Seins und präsentieren sie als ein grundlegendes Problem für die Menschheit. Basierend auf den Gedanken von Martin Heidegger in seinem Werk Sein und Zeit. Nach dem Verständnis seines Bestehens und der mensch kann besser, beziehen sich auf die Welt, inder wir leben.

Schlagworte: Sein; grundsätzliche Frage; Martin Heidegger.

Introdução

A sociedade hodierna é testemunha de uma acentuada crise de princípios. Ainda pior é pensar que a causa da desvalorização do homem e do outro, da ridicularização da ética e da moral, da destruição da vida, própria e de outrem, ainda se passa por desconhecida perante os olhos da maior parte da humanidade. Diante dos tantos questionamentos que surgem, um se apresenta mister em meio aos demais. Talvez a questão fundamental para entender em que passo o mundo está caminhando ainda esteja esquecida. Muitas indagações se insurgem, mas nenhuma alcança a profundidade do todo. É preciso retomar o rumo certo. Quem sabe, se o homem buscasse refletir acerca de sua própria existência, e também, sobre quais são as atitudes para as quais deve se voltar para manter sua essência, conseguiria encontrar uma resposta positiva e satisfatória para a situação em que se encontra.

É neste intuito que se faz necessária uma retomada da questão que se apresentou fundamental ao longo dos séculos, desde a Grécia Antiga, passando pelo medievo e chegando aos dias atuais. Tal questão é encarada por muitos como um questionamento inútil, mas se entendida em sua profundidade pode representar a salvação tão esperada pela humanidade. O Ser, já esquecido por muitos, é a resposta para várias das questões lançadas pela contemporaneidade. A maior parte dos problemas existentes se dão pelo fato do homem ter se afastado de sua própria essência e assumido um papel voltado unicamente para uma existência vazia e sem fundamentos. A existência se dá na medida em que o homem possue os elementos necessários para que ela aconteça. Um homem sem o mundo que o rodeia não seria capaz de existir. O ser do homem é ser-no-mundo, ser-com, e isso significa que suas atitudes devem se voltar para sua essência e colaborar para a edificação da mesma.

O presente texto procura discutir a questão fundamental levantada por Martin Heidegger (1889-1976), filósofo alemão da contemporaneidade, que procurou, acima de tudo, encontrar um caminho pelo qual o discurso do ser pudesse percorrer de maneira segura e em condições de alcançar a profundidade que encerra. Muitos foram os que, ao longo dos séculos, procuraram discorrer acerca do conceito de ser, entretanto, este ensaio se delimitará à abordagem heideggeriana do sentido do ser, ou seja, não se é procurado discutir conceitos firmados ao longo dos tempos, mas apresentar-se-à a necessidade de uma retomada da questão fundamental do ser, buscando encontrar os vários modos através dos quais ele se apresenta. Assim, o mais importante não será o conceito, mas o sentido que este traz consigo diante de situações e maneiras diversas de se apresentar.

Através da análise bibliográfica de várias das obras do prolixo autor citado anteriormente, será traçado o rumo desta discussão, tentando chegar a um ponto seguro que sustente a necessidade de uma retomada da questão do ser. Muitos são os que afirmam ser desnecessário o questionamento sobre o ser, contudo, tal aversão revela, unicamente, a debilidade do conhecimento a propósito desta questão. Uma sistemática busca pelo verdadeiro sentido de ser pode garantir uma reviravolta na atual situação da sociedade e, assim, representar uma luz lançada sobre a névoa que oculta a verdadeira visão dos olhos do homem.

Proposta da questão do Ser

Martin Heidegger propõe uma volta à questão do ser, não unicamente para se conformar com o que já havia sido elaborado, mas prevendo uma inovação na maneira de conceber o ser e suas relações no mundo em que vive. Caindo no esquecimento, a questão do ser não oferece hoje a repercussão que já apresentou na antiguidade e no período medieval. Foi a questão do ser que norteou as pesquisas de Platão, Aristóteles, de Tomas de Aquino. A questão do ser é anterior a nós e precisa ser transposta ao nosso tempo. "Illud, quod primo cadit sub apprehensione, este ens, cuius intellectus includitur in omnibus, quaecumque quis apprehendit." [2](Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-I qu. 94, art. 2) Assim, Tomás de Aquino confirma o conceito mais universal de ser. O ser é tratado como qüididade, ousia , ou seja, sua existência fica submetida à sua essência, ao passo que em nenhum discurso tratam-no a partir de sua essência. O ser é sempre observado partindo de seus acidentes e não de sua própria existência. A compreensão mais antiga de ser, e que vigora até os dias hodiernos, é o conceito elaborado por Aristóteles que afirma: "to on esti kaqolou malista pantwn" [3] (Aristóteles, Metafísica, B 4, 1001 a 21). Assim, o princípio de contradição se firma no postulado de que o ser é e não pode não ser. Mais uma vez o ser se apresenta como essência presente nos acidentes e se relacionando com eles, ao mesmo tempo em que se mostra distante dos mesmos.

Tamanha é a falta de compreensão do que significa ser, que a maioria das pessoas não ousa discuti-la. Várias dificuldades impossibilitam uma elaboração rápida e pragmática dessa questão. Todos compreendem as seguintes afirmações: O gato é bonito; o céu é azul; a criança é feliz. Entretanto, o que significa este "é" exposto em cada uma dessas frases? Todos sabem o que querem dizer, mas definir o que significa "ser" é um trabalho que exige séria elaboração. Em todos os idiomas o verbo ser ocupa lugar de destaque. Seja Sein, Essere, Sous, To Be, Ser, todos verbos com a função de dizer o que determinada coisa é, mas o que significa ser? Não podemos reduzir a palavra ser a um simples verbo auxiliar, que por maior papel que exerça dentro de uma determinada língua não consegue alcançar a profundidade de seu sentido. O significado é aquilo que de fato entende-se da afirmação. Sua compreensão se dá na medida em que sabemos o que é o azul do céu, por exemplo. Todavia, se avaliarmos a conotação de ser a partir de seu sentido, e não de seu significado, poderemos encontrar um pouco mais de dificuldade. É impossível falar do ser sem falar de seus entes. Sempre estaremos sujeitos a essa dicotomia. Todas as vezes que falarmos do ser estaremos, impreterivelmente, falando de seus entes. Da mesma forma, sempre que falamos dos entes, nos referimos ao ser cujos entes se remetem. Segundo pascal: "On ne peut entreprendre de definir l'être sans tomber dans cette absurdité: l'exprime ou qu'on lê sous-entende. Donc pour definir l'être, il faudrait dire c'est, et ainsi employer le mot défini dans la definición." [4](Pascal, 1912, p. 169) Atribue-se à dificuldade envolta nesta questão o fato de quase não se encontrar discursos que tratam essa temática. Cabe voltar-se para a nova proposta de Heidegger e procurar encontrar nela um novo modo de conceber o ser para, assim, conhecê-lo.

O ser é um conceito evidente por si mesmo, podendo ser definido a priori e a posteriori. A priori, como princípio de existência fática dos entes, ao passo que a posteriori como causa geradora do contingente. Na busca por seu sentido nos deparamos com dificuldades que precisam ser delimitadas e superadas. Para isso, Heidegger procura construir um discurso transparente no qual todas as dúvidas referentes ao conteúdo tratado possam ser transpostas. Segundo Heidegger:

Enquanto busca, o questionar necessita de uma orientação prévia de que se busca. Para isso, o sentido de ser já nos deve estar, de alguma maneira, à disposição. Já se aludiu que sempre nos movemos numa compreensão de ser. É dela que brota a questão explícita do sentido do ser e a tendência para o seu conceito. Não sabemos o que diz 'ser'. Mas já quando perguntamos o que é ser, mantemo-nos numa compreensão do 'é'. Nós nem sequer conhecemos o horizonte em que poderíamos apreender e fixar-lhe o sentido. Essa compreensão vaga e mediada de ser é um fato. (Heidegger, 2006, p. 41)

Esta mediação apresentada por Heidegger diz respeito ao contato primário com os entes, aos quais são submetidos todos aqueles que procuram discutir acerca do ser. Mesmo de maneira vaga e mediada faz-se imprescindível uma retomada pela questão do ser. Talvez o mais difícil já tenha sido descoberto. Cabe ainda aprofundar os questionamentos na esperança de que o conhecimento encontre no ser o solo adequado para seu desenvolvimento.

Re-elaboração [5]da Questão do Ser

A partir daquilo que já havia sido elaborado, desde os antigos até sua época, Martin Heidegger monta sua nova concepção de ser. Pode-se dizer que, de certa forma, Heidegger propõe uma destruição da ontologia, não destruindo sua história, como muitos apontam, mas re-elaborando sua perspectiva. Destruir a história da ontologia seria impossível pelo fato de que seriam necessários fundamentos para erigir sua nova concepção. Assim, partindo daquilo que representava a ontologia até então, e excluindo o que percebia como inútil para sua compreensão, monta o conjunto de ensinamentos sobre o ser que se encontram em sua obra mais conhecida, Sein und Zeit[6].

O fato da ontologia sempre avaliar o ser partindo de seus entes se torna uma dificuldade para Heidegger. A isso salienta:

Ser é sempre ser de um ente. O todo dos entes pode tornar-se, em seus diversos setores, campo para se liberar e definir determinados âmbitos de objetos. Estas, por sua vez, como por exemplo: história, natureza, espaço, vida, existência, linguagem, podem transformar-se em temas e objetos de investigação científica. A pesquisa científica realiza, de maneira ingênua e grosso modo, um primeiro levantamento e uma primeira fixação dos âmbitos de objetos. (Heidegger, 2006, p. 44)

O que já havia se constituído como conhecimento ontológico é usado por Heidegger como manual para a construção de sua concepção. Deixando de lado as antigas noções ontológicas e procurando encontrar o sentido de ser, Heidegger parte rumo à resposta para seus questionamentos.

Evidentemente, a tarefa à qual nos propomos não se apresenta munida de facilidades. Ao contrário, traz consigo desafios e riscos que podem amedrontar aqueles com os quais se depara. Deixar de lado todo um sistema de compreensão requer o esforço de procurar outro solo seguro sobre o qual se possa levantar. Todavia, o termo desconstrução ontológica reclama atenção redobrada. "Por destruição da história da ontologia, é necessário entender, em sintonia com a presente colocação da questão do sentido do ser, uma evidenciação da origem dos conceitos ontológicos fundamentais que predeterminam nosso acesso ao ser, que até mesmo o obstruem ao impor um conceito médio de ser." (cf. Dubois, 2004, p. 21) Não se pode conhecer o ser por completo, uma vez que se manifeste unicamente pela demonstração contingente de seus entes. É preciso procurar uma forma de conhecê-lo por ele mesmo, sem que haja mediadores de sua compreensão. Esse erro da antiga ontologia se torna, então, a mola propulsora para uma mudança do foco das indagações filosóficas e, ao mesmo tempo, a semente de uma nova concepção, que dará início a todo movimento heideggeriano de busca pelo sentido do ser. Como já foi dito, a busca pelo sentido vai além da busca pelo significado, mesmo que para sabê-lo seja necessário compreender a definição do objeto estudado, inserindo-o diretamente na situação em que se encontra.

Partindo desses pré-supostos, o filósofo Christian Dubois afirma que "é o caso, em primeiro lugar, de desfazer, dês-construir o que, ao longo da história da filosofia, é transmitido, muitas vezes de maneira imperceptível, como sentido inquestionado do ser: a destruição coloca primeiro em evidência, de Platão a Hegel, um fundo permanente de conceituação ontológica." (cf. Dubois, 2004, p. 21-22) Usando de trampolim o que foi construído durante a história da ontologia se torna possível partir rumo aos novos horizontes do ser. Abre-se uma janela no que diz respeito à compreensão do mundo, graças a essa nova forma de conceber o ser.

Dessa forma, a re-elaboração da questão do ser aparece como condição essencial para se continuar a tratar de questões referentes ao homem. Contudo, o antigo método usado na ontologia tradicional não deixa margens para que a busca pelo sentido do ser seja realizada em suma. Faz-se necessário encontrar outra forma de investigação filosófica que supra as expectativas daqueles que esperam e, não obstante, alcance os objetivos almejados. Daí a necessidade da aplicação do método fenomenológico, criado por Edmund Husserl, como meio de entendimento e conhecimento do ser que se revela por si só.

Estrutura do Método Phenomenológico

Antes de tudo faz-se imprescindível começar pela definição do termo phenomenologia, que mesmo sendo muito usado no campo da filosofia, possui conceituação que pode ser desconhecida por muitos. Oriunda da junção de dois vocábulos gregos, a palavra phenomenologia é introduzida na filosofia por Edmund Husserl a fim de denominar o método de investigação filosófica por ele criado. A partir da união das palavras fainomenon e logos origina-se a palavra phenomenologia. A expressão grega fainomenon possui origem no verbo fainestai que se traduz por mostrar. Todavia, fainestai é a forma média de fainw - trazer para a luz do dia, por no claro. Ambas possuem a mesma raiz fa, como fws, ou seja, a luz do dia, a claridade. Todas expressões que designam uma ruptura entre a escuridão e a luz, uma mudança de posição trazendo para a claridade aquilo que se encontra obscuro. Aqui já se pode destacar o sentido fundamental do aparecer para a phenomenologia. O papel da phenomenologia é fazer com que o objeto estudado possa se manifestar e revelar seus próprios segredos.

A partir do conhecimento do conceito de fainomenon pode-se passar à palavra logos, que aparece como fundamental na busca pelo entendimento de phenomenologia. A palavra logos, segundo Heidegger, apresenta conceito polissêmico, de tal modo que não pode ser traduzida em sua profundidade. Dependendo da circunstância na qual se encontre, essa palavra pode ser traduzida de formas diferentes. Aqui a palavra logos será traduzida por fala, possuindo um sentido de revelação. Ou seja, aquilo que fala de si mesmo. Esta palavra - logos – assume o papel de apofainesqai, um deixar ver a partir daquilo que se fala. A fala aparece em uma posição mister diante do objeto de estudo. O prefixo apo indica um a partir de, ou seja, a fala - logos – unida ao mostrar-se - fainestai - possibilita a eficácia do método diante do objeto de investigação.

Segundo Heidegger, uma vez que são

apresentados concretamente os resultados da interpretação de 'phenômeno' e 'logos', salta aos olhos a íntima conexão que os liga. Pode-se formular em grego a expressão fenomenologia com as palavras: legein ta fainomena; legein porém, significa apofainesqai. Phenomenologia diz, então: apofainesqai ta fainomena - deixar e fazer ver por si mesmo aquilo que se mostra, tal como se mostra a partir de si mesmo. É este o sentido formal da pesquisa que traz o nome de phenomenologia. Com isso, porém, não se faz outra coisa do que exprimir a máxima formulada anteriormente- 'para as coisas elas mesmas.' (Heidegger, 2006, p. 74)

A forma mais segura de conhecer alguma coisa é por ela mesma. Com isso, o método investigativo que parte dos entes para conceituar o ser não mais corresponde às necessidades deste tempo. O método phenomenológico aparece como a maneira mais eficaz na busca pela compreensão do ser.

Phenomenologia e Hermenêutica

Dando continuidade em sua busca pelo sentido do ser, e agora auxiliado pelo método phenomenológico, Heidegger ainda não se sente suprido em sua necessidade. O método phenomenológico apresentado por Husserl ao mesmo tempo em que parece romper com o objetivismo tradicional, reconstruindo o conhecimento de uma maneira diferente, acaba não escapando do objetivismo quando busca por assuntos referentes à vida fática, à historicidade e à temporalidade. Husserl, mesmo quando tenta compreender o homem fica preso na ontologia da coisa. Ainda que constitutivo, seu ver teórico é objetivante. Diante desse fato, Heidegger instaura sua hermenêutica da faticidade. Com ela teria condição de ultrapassar a objetividade da coisa.

Como salienta Ernildo Stein, "Heidegger supera essa eterna aporia da metafísica colocando o homem, com sua faticidade e historicidade, já sempre para fora de si mesmo, para dentro da compreensão do ser como eksistência. A condição fática, existencial, revela uma estrutura própria do homem. Não são categorias que o explicam, mas existenciais que permitem compreende-lo." (Stein, 2002, p.49-50) Com sua phenomenologia hermenêutica, Heidegger alcança o sentido do ser em sua faticidade e temporalidade. Acabam-se as discrepâncias entre ontologia e objetividade existentes na phenomenologia até então. O ser é ser de relações com o mundo. Todas essas relações devem ser consideradas para, a partir delas, se chegar à compreensão do ser. "O homem, em sua faticidade, está ex-posto, ex-taticamente nas suas possibilidades, e isso é compreensão. Compreensão do ser e compreensão da vida, irmãos na temporalidade." (Stein, 2002, p.50)

A junção entre phenomenologia e hermenêutica atua de maneira altamente eficaz na busca pela compreensão do ser.

A phenomenologia é a via de acesso e o modo de comprovação para se determinar o que deve constituir tema da ontologia. Ontologia só é possível como phenomenologia. O conceito phenomenológico de phenômeno propõe, como o que se mostra, o ser dos entes, o seu sentido, suas modificações e derivados. Pois mostrar-se não é um mostrar-se qualquer e, muito menos, uma manifestação. O ser dos entes nunca pode ser uma coisa 'atrás' da qual esteja outra coisa 'que não se manifesta. ' (Heidegger, 2006, p. 75)

Com a adequação da phenomenologia de Husserl aos paradigmas de sua hermenêutica existencial, Heidegger consegue o método adequado para a busca do sentido que o ser emprega em suas mais variadas circunstâncias.

Todo esse conjunto aparece como elementos formadores do caminho de busca pelo entendimento do ser. Ambos formam o contingente necessário para que esse caminho seja percorrido. Como dizia Heidegger:

"ontologia e phenomenologia não são duas disciplinas distintas da filosofia ao lado de outras. Ambas caracterizam a própria filosofia em seu objeto e em seu modo de tratar. A filosofia é uma ontologia phenomenológica e universal que parte da hermenêutica da presença, a qual, enquanto analítica da existência, amarra o fio de todo o questionamento filosófico no lugar de onde brota e para onde retorna." (Heidegger, 2006, p.78)

Assim, a busca pelo ser, por sua origem e por seu fim pode ser levada a cabo, com a certeza de que, possuindo os elementos necessários, serão alcançadas as respostas tão almejadas.

Conclusão

Partindo do que já foi abordado, pode-se perceber a importância de explorar esse horizonte do ser, tão pouco conhecido pela sociedade em geral. O homem se perde em meio a tantas discussões e esquece aquilo que pode dizer respeito à sua própria existência. Seu caráter de ser questionador não pode se resumir aos questionamentos unicamente referentes ao meio que o circunda e às maneiras de melhorá-lo. A busca pelo sentido de ser garante ao homem uma re-caracterização de sua essência. Confere à humanidade a possibilidade de se encontrar na profundidade de seu parecer. De nada adianta o continuado avanço tecnológico sem que o homem entenda profundamente quem ele é, de onde ele veio, para onde ele vai, e, de maneira especial, qual é sua missão no mundo em que vive. O homem que pensa sobre sua própria existência é capaz de construir uma vida mais fecunda e, por conseqüência, um mundo melhor. "A relação ser-homem acontece numa unidade múltipla, que sempre se revela com novas faces e sob nova luz, à medida que progride o passo e o caminho se alonga. É sempre o mesmo 'pensar que leva para sua plenitude a relação do ser coma essência do homem. '" (Stein, 2002, p.171) O homem se relaciona com o ser de modo impreterível, fazendo com que essa união seja contínua e eterna.

Uma retomada da questão fundamental apresentada até então, representaria uma oportunidade de salvação para a atual crise vivida pela sociedade mundial. Questões elementares, muitas vezes cedem lugar a assuntos secundários, isso deve cessar. Enquanto não houver uma profunda compreensão de quem é o homem, partindo pelo entendimento do sentido do ser, não se terá as condições necessárias para dar avanços no que diz respeito à caminhada da humanidade. O mundo da técnica deve ser o palco no qual o homem e o ser se encontrem para uma construção conjunta.

O homem e o ser se abordam mutuamente na era técnica pela com-posição na qual ambos se provocam para a transformação, a manipulação, a fundação do estoque de reserva. Portanto, a constelação em que ser e homem se encontram na era da técnica é a do âmbito da provocação. Este modo de o homem e o ser pertencerem a uma unidade nos aproxima surpreendentemente do fato e do modo como o homem está entregue ao ser e o ser se apropria da essência do homem. (Stein, 2002, p.173)

Com esse parecer, damos por encerrada a busca por fundamentos que autentiquem uma nova investigação pela questão do ser, prevendo as inovações estabelecidas por Martin Heidegger e unindo reflexão filosófica com realidade contingente. Buscando pelo verdadeiro sentido de ser o mundo atual, terá muito a ganhar.

Bibliografia

1. Aristóteles, Metafísica.

2. Dubois, Christian. Heidegger: Introdução a uma leitura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

3. Heidegger, Martin. Ser e Tempo. Trad. Márcia Sá Cavalcante. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2006.

4. Pascal. Pensées et opuscules. Paris: Brunschivicg, 1987.

5. Stein, Ernildo. Introdução ao pensamento de Martin Heidegger. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. – (Coleção Filosofia)

6. Tomás de Aquino, Suma Teológica.




[1] Acadêmico do curso de filosofia do Instituto de Filosofia e Teologia Santa Cruz.

[2] O ente que por primeiro cai não apreensão é o ente, cuja intelecção está inclusa em todas aquelas coisas que alguém apreende.

[3] O ser é o que há de mais universal.

[4] Não se pode tentar definir o ser sem cair no seguinte absurdo: quer se o exprima, quer se o submeta. Portanto, para definir o ser seria preciso dizer é, e assim, pegar a palavra definida por sua própria definição.

[5] Re-elaboração aqui aparece separada por hífen, ao contrário de reelaboração, palavra da língua portuguesa que significa nova elaboração do mesmo objeto em questão. Aqui, re-elaboração assume um caráter de, não somente uma nova elaboração de um mesmo objeto, mas, ainda, uma elaboração levando em consideração novos paradigmas, novas situações.

[6] Ser e Tempo – principal obra de Martin Heidegger.


Autor: José Reinaldo Felipe Martins Filho


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