MANAUS: ENCONTRO DAS ÁGUAS ENCONTRO DOS SABERES



Roberto T.Tangoa & Maria I. Nogueira

A ciência em quanto criação de conhecimentos gerados por cientistas quebra barreiras transcende fronteiras culturais e flui incessantemente na busca do bem comum. Esse fato foi constatado na semana de 12 a 17 de julho de 2009, com ocasião da 61ª. reunião da SBPC, em Manaus, onde conhecemos também o singular encontro das águas do rio Negro, de águas negras, e Solimões de águas turbas, ambos os rios com abundancia aqüífera, que por analogia consideramos como encontro dos saberes. Saberes ancestrais e conhecimentos científicos dialogam esporadicamente, mas nesse evento, que por primeira vez realizou-se nessa latitude, terminaram como verdadeiros parceiros para o desenvolvimento.

Conhecimentos novos trazidos por renomados pesquisadores e jovens cientistas, cientistas de amanhã, de todos os cantos do Brasil e estrangeiros estiveram lá, para divulgar e propor soluções para o desenvolvimento sustentável, com propósito veemente de preservar, desenvolver e salvar não somente a Amazônia, mas todo o planeta.

Não se trata de delírio pelo calor tropical da região, trata-se de automotivação dos cientistas de gritar em todas as mídias que a ciência é transdisciplinar, extraterritorial, atemporal que luzes do saber podem brilhar em qualquer universo das culturas, é resgatar a totalidade dos espaços com homens, instituições, infraestruturas e meio ecológico, é deconstruir mitos aos pressupostos, que povos urbanos da floresta não produzem ciência. Rompendo esses conceitos foi premiada no primeiro lugar do concurso dos jovens cientistas de amanhã a Elilde de Souza (15) de Castanhal, Pará, com seu trabalho "Fenômenos químicos e físicos alterando o fenótipo do organismo", ovacionado pela comunidade científica reunida lá.

Torrentes de saberes científicos fluíram qual analogia com a imensidão da floresta e rios da Amazônia. Tentativas ousadas no contexto da ciência formal surgiram para incluir social, cultural e cientificamente os povos da região, tais como o projeto de educação científica para as comunidades indígenas da Amazônia, ressaltando a não mercantilização e degradação de gaia (mãe terra), pois para aquelas comunidades a ciência é movimentada pelo coração e não pela razão, e enfatizando as etno-ciências, discurso defendido pelo físico Marcílio de Freitas da UFAM (Universidade Federal do Amazonas).

Riachos de límpidas águas doces percorrem o mato, assim idéias originais também emergiram e convergiram, para acrescentar fontes que desembocariam em vertentes maiores, fluindo torrentes de conhecimentos trazidos por cada um dos cientistas e, pesquisadores que assistiram à reunião por cinco dias na cálida cidade de Manaus.

Ao todo o que mais interessou foi refletir sobre problemáticas em comum da ciência, da tecnologia e da cultura amazonense (Pontos da cultura na concepção do geógrafo Milton Santos) e brasileira no se conjunto, e buscar alternativas de solução tendo como suportes subsídios das ciências biológicas exatas e humanas. Foi lembrado que os conhecimentos fornecidos pelos avanços científicos e tecnológicos devem ser aproveitados no máximo para enfrentar os graves distúrbios climáticos e ajudar às populações urbanas e ribeirinhas da Amazônia a preservar os encantos e salvar a biomassa desses espaços tropicais.

Os matizes de cores, sistemas eco-biológicos e a gama de conhecimentos espalhados na natureza, são fontes que enriquecem os outros sistemas que pulsantes e convidativas são laboratórios abertos que contribuem para articular o binômio ciência e sociedade, que diante fracassos dos sistemas políticos, outros pensamentos - que estruturam a nossa noosfera, na concepção de Pierre T. de Chardin - e novos desafios que trazem as atuais doenças, pessoas de todo o planeta depositam sua confiança na seriedade e metodologia das ciências empíricas.

O reencantamento pelas ciências, a beleza natural e receptividade das pessoas simples, mas felizes de Manaus, fizeram que a reunião fosse de êxitos, assim como botos que inocentemente brincam nas tranqüilas águas da lagoa da reserva biológica de Uatumã, enriquecem os mitos da região, assim as ciências acrescentaram conhecimentos e alimentaram outros mitos pós-modernos como a sustentabilidade, novas tecnologias para a inclusão digital das comunidades indígenas, mitos que sejam superados pela prática social formulada nos discursos.

Como reflexiona Goethe, a "natureza é o único livro que oferece um conteúdo valioso em todas as suas folhas", assim nessa alfombra verde, que albergou homens, mulheres, jovens e crianças no período da 61a. reunião, qual encontro primeiro sem se misturar e união final dos rios Negro e Solimões para verter as suas águas no Oceano, assim nos que participamos finalizamos numa comunhão quase religiosa, num mimetismo de cores e pensamentos que se cruzaram e convergiram com o objetivo planetário: refletir sobre meio ambiente.

encontro aguas

Apoio financeiro: FAPESP


Autor: Roberto Torres Tangoa


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