Maldito ou Bendito Estrangeirismo? Parte 1
Da “Belle Epóque” a “Bealtifull Time”
Antigamente,
o que vigorava no Brasil, no que diz respeito ao uso de termos estrangeiros na
fala cotidiana, era o amor à elegância da fala francesa, ou melhor, ao que de
distinto e nobre certas palavras da Língua Francesa conferiam às pessoas. Falar
nos mesmos paradigmas de Victor Hugo e Balzac significava status, prova clara
de eminência. Nunca fomos colônia da França, mas a cultura também tinha (bem
como ainda tem) o poder influenciar. A diferença que sem maiores imposições e
com certo consentimento do influenciado.
Ora, hoje presenciamos fenômeno parecido. Também nós, modernos,
convivemos com um controverso modismo lingüístico. Trata-se do Anglicismo, que,
de acordo com os dicionários renomados, é a prática de palavras ou termos
ingleses em países onde ele não é oficial. Todavia, o galicismo, que consiste
no uso de vocábulos e expressões franceses em terras estrangeiras, não possuía
a seu favor a maior das revoluções tecnológicas: a informática. Aquilo que no
passado era praticado apenas pela elite dominante, hoje faz parte da vida de
milhões de brasileiros, sem distinção de camadas sociais.
De tal maneira que, aonde quer que você vá, seja lá o que
você leia, palavras da língua de Shekspeare são presença marcante. Misturam-se
as de nossa idioma materno para dar vida à variação lingüística mais polêmica da
atualidade. Anglicismos estão em nomes de canções, nomes de estabelecimentos
comerciais, empresas de entretenimento, nas rodas de conversa infanto-juvenis.
Principalmente, na rede mundial de computadores.
O que provavelmente suscitou debates sobre o assunto na
Câmara dos deputados foi essa última informação, a de que a Internet tornou-se
o Éden dos estrangeirismos. Ou seja, se o ambiente onde a nova juventude se
encontra freqüentemente para interagir está sendo intermediado pela Língua
Inglesa em muitos aspectos, a tendência natural será a potencialização do
anglicismo como prática comum, cultura pop. A começar pelos termos oficiais da
informática, popularizados e consagrados em Inglês. Como dizer a uma criança
que ela, por ser brasileira, não deve dizer Internet e sim mega-rede; deve
dispensar o termo e-mail para utilizar somente correio eletrônico; que em vez
de Windows melhor falar “janelas”; que enter, shift, control, loalding, podem e
devem ter correspondentes em Português. Talvez por isso a idéia de Aldo Rebelo
não tenha conquistado tantos adeptos. Não seria nada objetivo abrasileirar o
vocabulário virtual da informática apenas para demonstrar apreço ao idioma
materno. Esse é certamente um caminho sem volta.
Nunca o processo de globalização que, a bem da verdade,
começou com as caravelas lusitanas, esteve tão veloz. Mais uma boa razão para a
prática de estrangeirismos. Ora, se a Internet exige dos internautas
praticidade, nenhum idioma mais afeito ao conceito de objetividade e rapidez
que o Inglês. Conjugação verbal simples, termos curtos, palavras de boa
sonoridade. Qualquer pessoal com o mínimo de boa vontade pode aprender o
Inglês. A Internet converge o mundo em torno de si e dentro de si. Se cada
internauta decidisse respeitar integralmente sua língua de origem, teríamos uma
Babilônia Cibernética.
Estrangeirismos
Universais
À maneira dos termos digitais já devidamente
supracitados, tais como e-mail e Windows, há tantos outros que o mundo inteiro
pronuncia sem atentar para qual seja seu correspondente nacional. Estamos
falando dos termos universais, cuja tradução literal recai ironicamente em
truculência de comunicação.
Por exemplo, imagine as seguintes informações: a
Coca-Cola já escolheu sua frase de efeito deste ano; você precisa de um estudo
de mercado pessoal melhor planejado; o navio ficou retido por um bloco de gelo;
comida rápida prejudica o desenvolvimento infantil; o texto de diálogos chegou
com atrasos às mãos do diretor. Alguma dúvida sobre o que se está falando?
Talvez todas! Frase de efeito é slogan; estudo de mercado é marketing; bloco de
gelo é iceberg; comida rápida é fast food; e texto de diálogos é script. Os
caminhos da linguagem são, em alguns aspectos importantes, incontornáveis.
Quando os falantes consagram determinados termos (mesmo que os importando) nada
há que se possa fazer. A comunicação dá passos para frente somente. Agilidade,
praticidade, clareza são conceitos que não combinam com o retrocesso jamais.
Interessante notar que os estrangeirismos assim como
surgiram permanecem: avassaladores. Nascem da necessidade de nomear acontecimentos,
seres e objetos cujo interesse é internacional. Difundem-se de jeito a ignorar
qualquer força contrária. Nascem imperceptíveis, contra-regras do espetáculo,
para depois assumir um dos principais papéis no tablado da linguagem
contemporânea.
Excessos:
Outra cultura digna de nota dentro dessa acalorada
discussão é o uso de gírias vinculadas exageradamente a palavras inglesas. O
excesso, sim, trunca a comunicação. Ninguém pode se esquecer de que o Brasil
ainda não conquistou a proeza de muitos países da União Européia, a saber: o
bilingüismo. Isto é, a fala fluente do idioma materno para uso doméstico e a
fala fluente do idioma inglês para uso globalizante. De tal forma que, uma vez
empregados muitos termos ingleses num diálogo, o interlocutores correrão riscos
de desentendimento.
A estrutura da sintaxe inglesa possui diferenças
importantes em relação a nossa sintaxe. A sonoridade da palavra falada em
relação à sua versão escrita passa por ser ainda mais distante do que ocorre na
Língua Portuguesa. Nós basicamente falamos da maneira como escrevemos, enquanto
que os falantes da Língua Inglesa geralmente não, ou melhor, creditam outros
sons aos símbolos do alfabeto. Toda essa informação pode prejudicar a interação
comunicativa.
A despeito do que ainda será discutido sobre os
anglicismos, uma verdade ninguém poderá questionar: o ambição é a melhor
escolha. Rejeitar completamente a presença do Inglês em nosso meio; aceitar
apenas os termos universais. Nem isso nem aquilo. O ideal seria aprender
efetivamente esse idioma que o mundo já escolheu como o seu arauto posmoderno.
A Língua Portuguesa e a Língua Inglesa seriam naturalmente capazes de conviver
simultaneamente em nosso cotidiano. Afinal, atenderiam a necessidades muito
distintas: o idioma materno está aí por uma questão histórica, cultural,
literária. O idioma inglês esta aí por uma questão global, nosso elo na
corrente universal.
Autor: Ricardo Souza Rabelo
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