Maldito ou Bendito Estrangeirismo? Parte 2
Fundamentação Teórica:
O Inglês do modo como nós o concebemos hoje mantém uma
larga distância do que era exercido pelos habitantes da Grã-Bretanha séculos
atrás. Grandes transformações de ordem política e cultural permitiram a
edificação de um idioma que usou várias bases lingüísticas para se estruturar.
Hoje a Língua Inglesa rege a comunicação planetária. Tornou-se a voz da
globalização. No passado as façanhas de invasores diversos desenharam
gradativamente sua personalidade idiomática. Isso porque nenhum dominador
ignora a necessidade de impor seu idioma materno.
Os estudiosos asseguram que, tamanha é a diferença entre
o inglês arcaico e o inglês moderno, que, sem prévio e aprofundado estudo,
mesmo um falante nativo hodierno teria sérias problemas para entender o texto
de alguma obra documental ou literária daquela época.
O clássico do Lirismo Inglês Beowolf, poema épico dos
primeiros séculos, apresenta um dos registros mais famosos desse período. Conta
a saga de um herói homônimo, grandiloqüente, nos tempos de grandes batalhas
navais. Essa obra já foi submetida a muitos estudos lingüísticos importantes,
pois ficou como testemunha de fatos marcantes ocorridos nos princípios da
história britânica.
Os três grandes
momentos da Língua Inglesa:
O primeiro fato importante na formação do idioma remonta,
igualmente, a própria origem do povo, da nação. Povos celtas invadiram regiões
da Europa, tais como as que hoje conhecemos como Irlanda, Espanha e Inglaterra.
Ali fincaram raízes e começaram a explorar a terra. Desse modo, o celta falado
nesses lugares representou o primeiro impulso àquilo que a posteridade chamaria
depois de Língua Inglesa. Mas não foi apenas isso.
Antes do contato com os primeiros invasores, já havia uma
terra devidamente civilizada e uma cultura bastante difundida. Tanto que ainda
hoje muitas manifestações culturais nos países sob o domínio da Rainha
estabelecem laços firmes com as raízes celtas. Tudo o que ocorrerá depois não
será capaz de apagar totalmente essa realidade inicial.
Logo vieram os ambiciosos romanos e sua sede insaciável
de dominação. Chegaram por volta de 55 e 54 a.c. O Latim, evidentemente,
começou a fazer parte do cotidiano local, a entrelaçar-se ao celta, a figurar
em documentos oficiais, etc. O império romano partiu depois de três séculos e
meio de dominação, mas deixou rastros culturais para trás. Não à toa muita
gente pensa que o Inglês também faz parte dos idiomas neo latinos, visto que
muitos vocábulos assemelham-se aos nossos.
Ora, com a partida de Roma os celtas ficaram à mercê dos
inimigos. Recorreram, então, a tribos germânicas, como Jutes, Saxons e
Frisians. A presença de tais povos trouxe mais dominação e mais interação
lingüística. Será a partir de dialetos germânicos, portanto, que a Língua
Inglesa chegará, por assim dizer, à puberdade.
Partindo disso, os estudiosos de hoje costumam distribuir
a análise histórica em três grandes momentos denominados Old English, Middle
English e Modern English. Eles, na verdade, englobam muitos acontecimentos
cruciais. Cada fase abarca um grupo de fatos afins entre si.
Old English:
Trata-se dessa fase marcada pela presença de tribos
germânicas, a partir do século V. Esse período foi marcado por significativa
uniformidade, pois já havia importantes documentos registrados: forte
influência do Latim, do cristianismo através de bíblias e textos concernentes,
e, também por conta da era cristã, influência do Grego. O dialeto Anglo-Saxão
foi a massa de um bolo recheado com ingredientes latinos, gregos e pelos
dialetos de invasores escandinavos.
O fim dessa primeira era ocorreu com a invasão dos
Normandos, quando a língua foi influenciada por um número maior de povos que
falavam o Norman Dialect. Pessoas comuns adquiriram novas palavras para seu
léxico pessoal, ou seja, escravos e servos. Depois também os nobres admitiram
utilizar as novidades advindas com as novas lutas pela dominação.
Middle English:
Com a permanência do novo dominador, a cultura política
dos povos normandos marcará a segunda fase de evolução da Língua Inglesa.
Período de castelos suntuosos, de muralhas imponentes, terras imensas nas mãos
de poucos e poderosos donos. Eis o famigerado modelo feudalista de governar o
mundo.
Estamos agora no momento intermediário dessa história. E
o fato preponderante indiscutivelmente fora a forte influência do idioma
Francês. Apesar de ter passado por fortíssimas interferências de tantos
idiomas, a essa altura o Inglês ainda pôde manter sua essência, visto que tudo
não passara de enriquecimento. Por mais intenso que seja tal processo, nada foi
capaz de destruir um idioma para a efetivação de um novo.
Os embates entre nativos e colonizadores
intensificaram-se. De forma que houve um crescente sentimento nacionalista de
defesa das origens, inclusive do idioma materno. Foi então que o Inglês passou
a prevalecer em relação ao Latim e ao Francês, pelo final do século XV.
Modern English:
O Mordern English está marcado por uma revolução complexa
na estrutura fonológica da Língua. Comeca no século XVI, período a partir do
qual surgirão os maiores nomes da Literatura Britânica em todos os tempos. O
Inglês efetiva-se como um idioma nobre e concebe mentes como William
Shekspeare, Daniel Defoe, Charles Dickens, Lord Byron, Oscar Wilde, entre
tantos outros.
Se o Middle English caracterizava-se pela presença
simultânea de muitos dialetos, o Modern Englih mostrará a fase de unificação,
de padronização. No entanto, sem uma pronúncia única e uniforme. Algo natural
num território habitado por tantas etnias. Hoje não por acaso fala-se do inglês
escocês, do inglês irlandês, do inglês galês, etc. Cada qual defendendo suas
peculiaridades dentro de tal unificação.
Relevante citar também que durante o exercício do Modern
English surgiu paralelamente uma das maiores revoluções intelectuais da
história da humanidade: a Renascença, que questionou os valores e conceitos da
época, elevou o homem à categoria de centro da existência e o convidou a
pensar. Com a retomada do pensamento Greco-latino, termos de tais povos
voltaram a faz parte da realidade inglesa.
Considerações Finais:
Somente quando vasculhamos as origens de um idioma
podemos dimensionar quão complexos são os caminhos percorridos até os tempos
atuais. O Inglês não surgiu de um único acontecimento relevante. Fatores
políticos, históricos, econômicos, cenas de dominação, fatos literários,
manifestações lingüísticas e étnicas, ufanismo, ideologias. Tudo isso tem sua
participação na formação do idioma Inglês.
Quem intenta em investigações idiomáticas dessa natureza
descamba incidentalmente na própria história de um povo. O povo faz a Língua e
vise versa. Descamba, portanto, num agradabilíssimo incidente. Pede uma maça ao
passado e ganha o Éden inteiro.
Autor: Ricardo Souza Rabelo
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