Desvalidos
Desvalidos
Conheço seus caminhos, e seus passos pela noite.
Você anda por todas as ruas onde impera os desejos,
Onde afoga e esquece as dores do mundo,
Em conversas vazias e goles de absinto.
Quando todas as portas se fecham, só de resta
Voltar para casa e dormir enrolado
Em qualquer trapo, feito um cão faminto.
Depois de rondar mais um pouco, tentando
Resistir o desejo de me ver , você se rende...,
Pela centésima última vez; e vem subindo á escada,
Se enroscando nos passos e trombando na parede.
Você vem quando já estou cansada
E não espero mais ninguém.
Você bebe de mim, o último gole que resta,
Esquece o mundo em meu peito;
E não me pesa nada...,e ainda tenho a palavra certa,
E mais o sorriso compreensivo de mãe,
E as mãos delicadas de esposa carinhosa.
Você se deixa iludir, e nada mais te falta.
Refeita a sua auto-estima, você me recompensa,
Sem precisar deixar o coração.
Pela centésima ultima vez, você desce á escada,
Disposto a conquistar o mundo,
Como todas as outras vezes, que você saiu por esta porta.
Continuo ali onde você me deixa; adormeço sem culpa,
E amanheço outra vez, Deusa de vagabundo e desvalido.
Espero por você até o próximo fracasso,
Até que se renda de vez, e se entrega feito um animal abatido;
Então compartilharemos da mesma alma,
Do mesmo fracasso, sem a hipocrisia das palavras certas.
HERMINIO VASCONCELOS
J.NUNEZ
O IMPARCIALISMO
Autor: José Nunez
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