A menina que não sabia sonhar



Ela abriu os olhos. Assustada, mais um pesadelo. Já não aguentava mais aquela situação. Levantou-se, caminhou até a geladeira e ficou ali, parada, analisando os restos do almoço. Na verdade, não estava de fato ali, aquilo era apenas uma distração para tentar esquecer o que sonhara. Toda noite era isso e já estava ficando impossível de suportar. E o pior é que os sonhos a atormentavam durante todo o dia.

 O que sonhava? Com a rotina, com as pessoas hipócritas ao redor, com gente sem rosto, sem sentimento, com a solidão. Sonhava com um vazio interior incomensurável e com os olhares de reprovação espreitando em cada esquina. Sonhava com expectativas, planos e sonhos se desmoronando como um castelo de areia e o mais perturbador: com a apatia dela própria e o seu conformismo mudo.

Quando acordava era bem diferente, a vida era bem diferente, seus sonhos estavam lá esperando por ela, havia vontade, havia garra, a realidade era simplesmente ótima, completa, se não fossem, é claro, os pesadelos de cada dia.

Foi então que um dia ela percebeu, finalmente, que havia confundido tudo. Que os pesadelos eram a realidade e que justamente o que julgava real não era nada além do sonho de cada dia.

E ela ficou tão profundamente perdida que resolveu se afundar de vez naquela montanha sufocante de sonhos.


Autor: Rhay Peres


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