Educação moderna, sociedade pós-moderna. Futuro?



As linhas que seguem não têm por objetivo concluir nem tão pouco dar conta de tecer apontamentos que finalizem os problemas da educação contemporânea. Sob a luz da Sociologia e da História se propõe a refletir, de maneira sucinta, sobre o cotidiano escolar atual permeado por seculares elementos históricos, nestes, a cultura livresca advinda da modernidade, sendo possível localizar seu engendramento na fase final do medievo.

A proximidade e o apelo aos livros são marca da cultura burguesa há pelo menos dois séculos. O livro didático é o suporte histórico do saber universal que não concedeu espaço a minorias e regionalismos lingüísticos, sociais, culturais. O saber escolar enciclopédico, baseado na transmissão-aquisição de valores propalados como universais materializa o arquétipo da camada dominante, que cuida por espraiar seus valores minando realidades locais.

A escola se encarregou em dar continuidade a saberes ditos imprescindíveis nas mais plurais ciências sem parar para pensar a realidade do educando e o quanto tal cabedal de conhecimento lhe desperta interesse e de que forma agregará valores em sua vida. A profissão da educação na escola do pós-Grande Cisma, no dizer de Bauman (Globalização – as conseqüências humanas, 1999), e inserida na velocidade cotidiana que a recente reordenação mundial, rotulada de globalização, provocou nos últimos vinte anos possibilitou a sociedade contemporânea propostas das mais variadas, por diversos meios, ter acesso ao conhecimento, conhecimento este que se potencializa em função do interesse daquele que o busca, porém construir o interesse pelo conhecimento tem sido o desafio de cada dia.

No recorte histórico chamado pós-moderno a escola dispõe da interatividade propiciada pela ferramenta chamada internet e a partir desta, inumerável possibilidade de construção de saberes, contudo não cuidou de dar um norte, seja ao corpo docente, seja ao discente. A rigidez de outrora perde espaço ao mesmo tempo em que submerge na fluidez atual. No correr da história, a primeira década do século XXI foi divulgada como a plena era da comunicação, da interatividade, porém ao ter acesso a fala das crianças e adolescentes de hoje, ou abrindo mais o leque, desde que o acesso aos computares conectados a internet se tornou massivo, o relato dos menores de idade transmite características de isolamento inserido no sistema que tanto bradou a chegada da sonhada aldeia global. Lugares virtuais onde milhares de pessoas se relacionam como amigos sem jamais terem se encontrado ou compartilhado os mínimos gostos em comum se convertem em verdadeira vitrine para os que imbuídos por práticas criminosas organizam seus catálogos de próximas vítimas. Orkut, Facebook, Flickr para ficar em apenas três exemplos, arrebanharam milhões de usuários que dedicam horas diárias no uso destes canais de relacionamento não concreto, virtual.

Na rede mundial de computadores há de fato conhecimento acadêmico, científico, técnico, amostras culturais e muito entretenimento, cabendo a este último a maior parcela de apreciação cotidiana. Nesta larga gama de repertório disponível, urge direcionar as novas gerações à construção intelectual, fazendo uso do computador, objeto comum na vida de tantos e que se torna a cada dia mais presente nos lares, tanto quanto o televisor, a fim de que mais conhecimento seja construído. Assim, é imperativo o repensar do modus operandi do sistema educacional para que sejam atendidas as necessidade de N grupos imersos em suas respectivas localidades, realidades ricamente permeadas de valores locais introjetando o discurso hegemônico da globalização em processo contínuo de construção naquilo que Ghemawat (Redefiniendo La Globalizacion: La Importancia De Las Diferencias En Un Mundo Globalizado, 2008) chamou de semi-globalização, que absorvem sim um saber global e o transmutam, porém tamanho potencial não pode se limitar a mutação da língua escrita, convertida em nova grafia inventada e reinventada todos os dias no MSN.


Autor: Roger Santos


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