OS BENEFÍCIOS DE EXERCÍCIOS FÍSICOS AQUÁTICOS (NATAÇÃO) PARA DEFICIENTES FÍSICOS
Valdênya Souza, Larianne
Menezes & Marília Amorim1
1
Acadêmicos de Educação Física da PUC-Go
Práticas Corporais,
Educação e Saúde / Educação Física
Pontifícia Universidade Católica
de Goiás
Resumo:
A deficiência física pode ser definida como sendo uma desvantagem, resultado de
uma incapacidade ou de um comprometimento, a qual limita o desempenho motor de
determinada pessoa, porém, não significa invalidez social. A prática de
exercícios físicos (esportes) para os deficientes físicos representa uma
ampliação de interação social, o que leva qualquer deficiente a superar a si
próprio e a melhorar a sua auto-estima por meio de trocas e de experiências. A
natação é um dos esportes mais completos e proporciona uma variedade de
benefícios tanto para indivíduos em geral como para os portadores de algum tipo
de deficiência física. O presente trabalho ressalta a necessidade de trabalhar
a natação para deficientes físicos na perspectiva da corporeidade, a qual
proporciona o desenvolvimento da sensibilidade e da percepção corporal do
indivíduo, permitindo à pessoa se conhecer primeiro, tendo noção do seu próprio
corpo, seus limites, suas possibilidades. O objetivo deste artigo é apresentar os
benefícios que a natação pode proporcionar aos deficientes físicos.
Palavras
Chave: Natação, deficiência física e aptidão física.
INTRODUÇÃO
Atualmente, pode-se observar que na sociedade moderna um número cada
vez maior de pessoas com algum tipo de deficiência física (necessidades
especiais) está envolvido em esportes e atividades físicas devido aos
benefícios que trazem para a reabilitação, saúde e para a auto-estima. A
exclusão dessas pessoas da prática do esporte ou da atividade física pode induzir
a diminuição da eficiência dos movimentos, da aptidão física ou até mesmo das
habilidades motoras.
Um dos esportes mais apropriados para pessoas com algum tipo de
deficiência física é a natação, pois devido às facilidades e aos benefícios
proporcionados pela execução do movimento do corpo dentro da água, a natação
desenvolve o condicionamento aeróbio, a coordenação motora e “reduz” a fadiga muscular.
Para indivíduos com deficiência física, o exercício na água significa muitas
vezes um momento de liberdade. Este movimento livre proporciona a possibilidade
de vivenciar suas limitações e de experimentar suas potencialidades. A partir
do momento em que o deficiente físico descobre suas potencialidades de se
movimentar na água o seu prazer em usufruir a água aumenta, sua auto-estima
cresce e a sua auto-confiança floresce. A natação tem valor social, terapêutico
e recreativo, além disso, contribui bastante com o processo de reabilitação,
diminui o grau de complicações e de fraqueza corporal (LÉPORE, 1999).
Desta forma, este artigo tem como objetivo
geral apresentar, por meio de aspectos
teóricos, os benefícios da natação para deficientes físicos. E como objetivos
específicos apresentar, de forma teórica, os benefícios fisiológicos deste
exercício físico (natação) sobre os sistemas cardiovascular, respiratório e
locomotor; os benefícios psicossociais; os benefícios cognitivos e os efeitos
terapêuticos dos exercícios aquáticos.
1 DEFICIÊNCIA FÍSICA
O conceito de deficiência e de deficiência
física de acordo com o Decreto Nª 3.298/99, da Política
Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Governo Federal) segue:
Art. 3…: - Para os efeitos deste DECRETO,
considera-se:
I - Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma
estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade
para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser
humano;
Art. 4…: - Deficiência Física – alteração completa
ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o
comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia,
paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia,
triparesia, hemiplegia, hemiparesia, amputação ou ausência de membro, paralisia
cerebral, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as
deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de
funções.
A deficiência física se refere
ao comprometimento do aparelho
locomotor que compreende o Sistema Osteoarticular, o Sistema Muscular e o
Sistema Nervoso. (BRASIL, 2006, p. 28). O comprometimento da função física poderá acontecer quando existe
a falta de um membro (amputação), deformação (alterações que acometem o sistema
muscular e esquelético) ou sua má formação. Ainda encontraremos alterações
funcionais motoras decorrentes de lesão do Sistema Nervoso.
2 NATAÇÃO
A natação é um exercício físico praticado na água. Este esporte já
era praticado na Grécia Antiga
por trazer benefícios ao corpo humano. O esporte já fazia parte das Olimpíadas. Atualmente, são
definidos quatro estilos de natação: crawl costas, peito e borboleta (ABRANTES;
LUZ e BARRETO, 2006).
A natação pode colaborar desde a melhora das capacidades físicas
como também nas relações sociais entre as pessoas, quando se trabalha a
percepção corporal. Esta atividade aquática trabalha todos os grupamentos
musculares, alivia tensões, ajuda a diminuir a gordura corporal e a recuperar
lesões (MASI, 2000).
Segundo Campion (2000), a natação para pessoas portadoras de
deficiência física é compreendida como a capacidade do indivíduo para dominar o
elemento água, deslocando-se de forma independente e segura sob e sobre a água
utilizando, para isto, toda sua capacidade funcional, residual e respeitando
suas limitações.
A aprendizagem da natação, na perspectiva da corporeidade, tem a
seguinte concepção: uma aprendizagem onde os movimentos não sejam
preestabelecidos, dados como prontos. A teoria da corporeidade diz respeito à
humanização do sujeito, para que este venha a ser um sujeito-ativo e não um
objeto-passivo da história e da cultura (ABRANTES; LUZ e BARRETO, 2006).
O ponto básico da proposta teórico-metodológica para se trabalhar
a natação na perspectiva da corporeidade é promover o desenvolvimento da
sensibilidade e da percepção corporal, permitindo à pessoa se conhecer
primeiro, tendo noção do seu próprio corpo, seus limites, suas possibilidades (BONACELLI,
2004).
2.1 NATAÇÃO ADAPTADA
No final do século XIX e início do século XX, os
exercícios aquáticos começaram a ser utilizados como meios corretivos
eficientes, e as doenças reumáticas e do aparelho locomotor recebem o
tratamento pioneiro nas estâncias termais européias. Em 1924, Lowman organiza
uma hidroginástica terapêutica, dentro de tanques ou piscinas, para portadores
de poliomielite paraplégicos e portadores de outros problemas ortopédicos (ADAMS,
1985).
A iniciação da natação para pessoas com deficiência
física normalmente se dá através do Método Halliwick, que ensina desde o
controle respiratório até os movimentos básicos de um nado. A partir daí, são
utilizadas técnicas de aprendizagem dos nados como na natação normal, claro que
respeitando a individualidade e a capacidade de cada pessoa (CASTRO, 2005).
As competições são divididas em categorias femininas e masculinas.
As provas podem ser disputadas individualmente ou por estafetas. As disputas
são feitas nos quatro estilos oficiais. Participam atletas com vários tipos de
deficiência. Os atletas recebem a letra S (de swimming). Os deficientes motores
são agrupados de S1 a S10 e os visuais de S11 a S13. Cada atleta recebe uma
classe para os estilos crawl, costas e borboleta, outra para o estilo costas e
uma terceira para o estilo individual. As regras são as mesmas da Federação
Internacional de Natação Amadora, com adaptações. Por ser uma modalidade que
abrange competidores com diversos tipos de deficiência, cada entidade
desportiva estabelece as adaptações específicas para seus atletas (GRACHAT, 2008).
3 BENEFÍCIOS COGNITIVOS
Os aspectos motivacionais
e propriedades terapêuticas da água estimulam o desenvolvimento da aprendizagem
cognitiva e o poder de concentração, pois o aprendiz busca compreender o
movimento do seu próprio corpo explorando as várias formas de se movimentar,
adaptando suas limitações às propriedades da água (DULCY, 1983 apud LÉPORE et al 1998).
3.1 BENEFÍCIOS
PSICOSSOCIAIS
As atividades aquáticas devem propiciar ao
indivíduo situações de desenvolvimento de atividades em pequenos e grandes
grupos, estimulando assim as experiências corporais, a integração e o convívio
social (LÉPORE, 2000).
O aspecto psicológico, o
efeito na melhoria do humor e na motivação em pessoas portadoras de deficiência
é altamente significativo através da natação, além de possibilidade de
descarregar as tensões psíquicas através do poder de relaxamento da água e
satisfazer as necessidades de movimento (CAMPION, 2000).
3.2 BENEFÍCIOS
FISIOLÓGICOS
Tratando-se de pessoas portadoras de deficiência, juntamente com
grande dificuldade de equilíbrio e desenvolvimento da marcha, as
características peculiares da água como alta viscosidade, espessura, eliminação
da gravidade vêm contribuir para a realização de exercícios de educação e
reeducação motora, proporcionando-lhes maior segurança na execução dos
movimentos (LÉPORE, 1999).
3.3 BENEFÍCIOS TERAPÊUTICOS DE EXERCÍCIOS FÍSICOS NA ÁGUA
A água apresenta propriedades que facilitam para o indivíduo sua
locomoção sem grande esforço, pois sua propriedade de sustentação (empuxo) e
eliminação quase que total da força da gravidade, podem segundo Campion (2000),
“aliviar o estresse sobre as articulações que sustentam o peso do corpo,
auxiliando no equilíbrio estático e dinâmico, propiciando dessa forma maior
facilidade de execução de movimentos que, em terra seriam muito difíceis ou
impossíveis de serem executados”.
Segundo Lépore (1999), Mcardlem et al. (2003) e Weineck (2005),
exercícios físicos na água podem proporcionar diversos efeitos terapêuticos
para diferentes tipos de deficiências físicas, dependendo da natureza,
intensidade e freqüência de aplicação do exercício físico. Os principais
benefícios terapêuticos alcançados são os seguintes: diminuição de espasmos
musculares e relaxamento da musculatura esquelética; alívio da dor muscular e
articular; manutenção ou aumento da amplitude do movimento articular; fortalecimento
e aumento da resistência muscular localizada; melhoria circulatória e na
elasticidade da pele; melhoria no equilíbrio estático e dinâmico; relaxamento
dos órgãos de sustentação (coluna vertebral); melhoria da postura e melhoria da
orientação espaço-temporal.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
Exercícios físicos ou
atividades na água, e o próprio ato de nadar, significa para o portador de
necessidades especiais muitas vezes, um momento de liberdade, no qual este
consegue movimentar-se livremente, sem auxílio de bengala, muletas, pernas
mecânicas ou cadeiras de rodas. O movimento livre lhe proporciona a possibilidade
de experimentar suas potencialidades, de vivenciar suas limitações, ou seja, de
conhecer a si mesmo, confrontar-se consigo, quebrar as barreiras da
incapacidade. A partir do momento em que o portador de necessidades especiais
descobre suas potencialidades, apesar das suas limitações, descobrindo sua
capacidade de se movimentar na água, sem auxílio, inicia seu prazer em
desfrutar a água, isto aumenta a sua auto-estima, sua auto-confiança e
consequentemente sua independência.
A partir das experiências
oferecidas durante a natação, o deficiente físico pode compreender o mundo em
que está e agir propriamente nele. Não é importante apenas desfrutar das
experiências e sim, saber usá-las no dia-a-dia, como por exemplo, a auto-percepção,
o autoconhecimento corporal e os limites do corpo, e, através dos desafios que
são proporcionados, saber transportá-los, acelerando o despertar dos sentidos,
desencadeando aquisições mais precoces, proporcionando um desenvolvimento
psicomotor com criatividade e prazer.
A natação comprovadamente já
demonstrou, cientificamente, sua eficiência no desenvolvimento do
condicionamento cardiorrespiratório, flexibilidade, coordenação motora e
equilíbrio corporal, como anteriormente abordado no presente trabalho.
Diante do exposto, neste
trabalho, conclui-se que exercícios físicos e até mesmo atividades corporais
(movimentos não sistematizados) aquáticas satisfaz as necessidades do
deficiente, especialmente a necessidade de adquirir sua liberdade ou
independência de certos movimentos corporais dentro d’água, por isso estas
devem ser vistas como fatores de desenvolvimento das capacidades fisiológica,
psicossocial e cognitiva que podem desvincular-se das situações reais e
levá-los a agir de modo independente.
Portanto, seria imprescindível
a elaboração de um adequado programa de exercícios físicos aquáticos,
respeitando-se as necessidades de cada portador de necessidades especiais,
sendo relevante enfatizar a intensidade de força e o impacto do exercício,
trabalhar a flexibilidade de movimentos, a coordenação motora, o equilíbrio e o
condicionamento cardiovascular, já que esses fatores contribuirão indiretamente
para a melhora da qualidade de vida do indivíduo, levando-o a ter um estilo de
vida mais ativo.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
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BONACELLI, M.C.L.M. A
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Autor: Marilia Amorim
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