O CASO DO SUDÃO ENTRE 2006 E 2007



Esse artigo foi desenvolvido para avaliação na disciplina História do Tempo Presente, ministrada pelo professor André Ricardo Vasco no curso de Graduação em História da Universidade Federal do Espírito Santo – UFES. O texto busca discutir, a partir de notícias sobre o Sudão disponibilizadas em jornais entre janeiro de 2006 e maio de 2007, a situação política e econômica daquela região, não se esquecendo de seus conflitos religiosos internos.

  1. INTRODUÇÃO

Ao analisarmos a situação atual do Sudão, nos deparamos com diferentes possíveis respostas para o que realmente está acontecendo no país. Diferentes autores possuem diferentes visões e posicionamentos em relação aos motivos dos conflitos internos sudaneses. Entre os autores com análises globais e que colaboram em situar a situação do país estudado, discutiremos três posições: a de Samuel Huntington, a de Francis Fukuyama e a de Michael Hardt e Antonio Negri.

  1. A DISCUSSÃO

Huntington, no "Choque das Civilizações" (Rio de Janeiro: Objetiva, 1997), discute durante todo o livro as grandes Civilizações, entre elas a islâmica. Para ele, essa civilização passa atualmente por um processo de ascensão, reafirmação e expansão, entrando em conflito, junto com a China, com as pretensões universalistas do Ocidente, em sua maioria cristão, religião que tende a diminuir.

Entretanto, os conflitos mais perigosos não ocorrem entre civilizações. O Islã é uma Civilização que não possui Estado-Núcleo devido ao fundamentalismo religioso, o que acarreta em conflitos entre tribos e etnias, dentro das próprias civilizações.

O islamismo, influenciando cultura e valores, dificulta a democracia nos países membros. Essa dificuldade do islamismo é uma rejeição ao Ocidente, não estando relacionada à modernização, industrialização e desenvolvimento.

Os governos fundamentalistas islâmicos ganham força na década de 1990, aonde temos como exemplo, o Sudão. Essas ditaduras se apóiam em clãs ou tribos e costumavam depender de apoio do exterior. Entretanto, a dominação do Ocidente nesses países ficou abalada após o surto do petróleo, que teve papel decisivo na revitalização muçulmana.

O autor prevê ainda relações tensas do Ocidente com o Islã e a China, civilizações que ele chama de desafiadoras. A China, segundo ele, tem a maior probabilidade de desafiar o Ocidente. Além disso, há uma maior interação entre os póvos, incluindo entre os chineses e os muçulmanos.

As questões conflitantes entre o Ocidente e os desafiadores passam por armas, direitos humanos e democracia. Os dois últimos ganharam destaque mundial após o fim da Guerra Fria.

Huntington define os tipos de conflito existentes e destacamos os de linha de fratura. Esses conflitos ocorrem entre civilizações diferentes, como a hipótese de conflito entre a Ocidental e a Chinesa, ou dentro de um mesmo Estado, freqüentemente entre muçulmanos e não-muçulmanos. O Sudão é destacado como um país fendido, termo utilizado por causa dos dois grandes grupos em conflito: os muçulmanos no norte e os cristãos no sul. Essa relação complicada entre as religiões acontece por causa de suas naturezas: monoteístas, dualistas, universalistas e missionárias.

Ao analisar as Guerras de Linha de Fratura, o autor afirma que raramente chegam a uma solução e tem surgem a partir de desacordos entre clãs ou tribos. Os grupos combatentesestariam em um nível primário (termologia utilizada por Huntington), tendo no nível secundário Estados ligados aos primeiros e, em um último nível, Estados distantes porém ainda com laços com os outros envolvidos. No caso do Sudão, poderíamos colocar os Estados Unidos ao lado dos Cristãos e a China em apoio ao governo muçulmano.

Os Estados de nível secundário ou terciário tem o papel de intervir e negociar, sem se envolver diretamente, buscando evitar a guerra. Entretanto, esses conflitos, como já dito,dificilmente chegam ao fim, devido à proximidade dos grupos, religiões e culturas diferentes, entre outros. A situação se agrava quando se trata de um país de Civilização sem Estado-núcleo, como no caso do Sudão.

Há períodos de trégua e paz temporária, normalmente devido a exaustão dos envolvidos ou mesmo por intervenção dos níveis superiores. Organismos Internacionais não têm força nessas situações, pois não têm como agradar os dois lados. Mais uma vez o Sudão aparece, sendo um caso raro onde a paz foi negociada através da ONU e de ONGs.

Francis Fukuyama trabalha com o poder de intervenção dos Estados Unidos. Segundo ele, em seu texto "O dilema americano: democracia, poder e o legado do neoconservadorismo" (Trad. Rio de Janeiro: Rocco, 2006), os EUA tem uma preocupação moral com os direitos humanos, a democracia e com a capacidade das instituições internacionais de solucionarem conflitos globais. Apesar de defenderem mudanças de regimes em Estados "malévolos", como dizem Kristol & Kagan, os EUA parecem não interferir diretamente no conflito sudanês, atuando apenas a partir de discursos.

Sobre os estados do Oriente-Médio, o autor diz que não há neles o desejo de democracia liberal, mas sim o de modernização, apesar da possibilidade de expansão a longo prazo da democracia.

Jihadismo é o termo utilizado pelo autor para definir a busca de uma nova doutrina do Islã, uma ideologização da religião para ser usada com fins políticos, fugindo do radicalismo que, segundo ele, tem sua origem, em alguns casos, no próprio ocidente, e não islâmica.

Ao contrário de Huntington, Fukuyama não acha que o Islã é necessariamente hostil à democracia, utilizando a Turquia como exemplo de país com um partido islâmico no poder e que apoiou sua entrada na União Européia.

Entretanto, muitos países caem na falta de desenvolvimento por não acompanharem os modelos bem-sucedidos de modernização. De acordo com Douglass North, a violência endêmica, junto com a competição militar levam apenas ao caos e ao colapso social, a atual situação do Sudão.

  1. CONCLUSÃO

Vemos então algumas crises que só se resolveram após a intervenção dos Estados Unidos, como na Bósnia e em Kosovo, mas Fukuyama destaca que deve-se buscar não a democracia, mas sim um bom governo, pois uma democracia ineficiente não é melhor que um governo autoritário em processo de modernização.

Além disso, o autor destaca que apenas a ONU não é capaz de administrar sozinha o mundo: ela não tem papel decisivo na solução de crises internacionais. A multiplicidade de instituições é o passo necessário para o desenvolvimento global.

Já os autores Michael Hardt e Antonio Negri defendem um Islã mais radical do que o Islã de Fukuyama. Para eles, o Islã coloca seus textos sagrados como o centro de suas constituições políticas e rejeita a nova ordem imperial, sendo contra o secularismo.

No livro "Império" (Trad. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005), eles concordam com os outros autores sobre a mentalidade islâmica de anti-ocidentalização e afirmam que os países islâmicos não deveriam ver a globalização como homogeneização mundial, pois para eles as diferenças são apenas efeitos de um regime de produção.

O Sudão, entretanto, parece ir contra a posição dos escritores: aderindo à nova ordem imperial, à globalização, o país desenvolve em Cartum uma cidade global. Um verdadeiro complexo empresarial está sendo construído na capital sudanesa, com da China, para torná-la um centro comercial e financeiro mundial. O objetivo é criar na África mais um ponto de negócios das redes globais de produção.

Os autores destacam também o crescimento das ONGs. Procurando representar as populações que não podem se representar, essas organizações humanitárias, como a Anistia Internacional combatem doenças, fome e defendem populações com a sudanesa, que sofre com os conflitos internos do país.

  1. BIBLIOGRAFIA

FOLHA de São Paulo. Periódico. Edição Eletrônica. Janeiro de 2006 a Maio de 2007. Disponível em: http://www.folha.uol.com.br/.

FUKUYAMA, Francis. O dilema americano: democracia, poder e o legado do neoconservadorismo. Trad. Rio de Janeiro: Rocco, 2006.

HARDT, Michael; NEGRI, Antonio. Império. Trad. 7. ed. Rio de Janeiro: Record, 2005 [1. ed. EUA 2000].

HUNTINGTON, Samuel. O choque de civilizações - e a recomposição da Ordem Mundial. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997

Jornal de Negócios Online, de 4 de maio de 2007. Disponível em:
http://www.negocios.pt/default.asp?Session=&SqlPage=Content_Opiniao&CpContentId=295245. Data de acesso: 07/05/07.

The Economist de 7 de dezembro de 2006. Disponível em:
http://www.economist.com/world/displaystory.cfm?story_id=8380843. Data de acesso: 10/05/07.


Autor: Fabio Paiva Reis


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