Uma Polêmica na Semântica... Quem a Desenrola?...



5 CRITÉRIOS DE SEPARAÇÃO,NÃO PROPRIAMENTE DIFERENÇAR O JOIO DO TRIGO MAS O FEIJÃO FRADINHO DO CARIOCA:

 Como saber se um conjunto dado de homógrafas homófonas caracterizam-se como homônimas perfeitas ou constituem termos polissêmicos?

Tendo o cuidado de não se deixar ler influenciado pelo desejo de provar um critério que ache correto e assim ver como válido algo que pode não ser, vale a experimentação científica testável por outros cientistas da linguagem e da semântica que cheguem a mesmo fim e confirmação. Assim sendo, como num laboratório de Química, demonstrar um processo de diferenciação válido que possa ser testado e validado por outros cientistas ou estudiosos os quais chegariam ao mesmo resultado ou conclusão, e diriam: - Sim, por esse caminho sempre chegamos a uma boa solução, sem contra-exemplos invalidadores.
Por conseguinte, vejamos os critérios de caracterização sugeridos no Forum Claretiano de Linguística III (critério do traço semântico / critério do radical ou raiz / critério da ambiguidade / critério das classes gramaticais diferentes / critério dos morfemas flexionais ou flexivos (a vogal temática e as desinências) / ):

1) Critério do traço semântico ou de sentido:
No livro Iniciação à Semântica, 6a. edição, Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2003, de Maria Helena Duarte Marques, da UFRJ, na página 65, disponível na biblioteca da faculdade, cita-se Ullmann e diz: // a distinção entre polissemia e homonímia é, às vezes, precária e tem sido proposta com base em critérios díspares e insatisfatórios. Para Ullman, significados diferentes são expressos por um mesmo nome, na homonímia; matizes diversos de um mesmo sentido básico de um nome caracterizam a polissemia, (ou seja, polissemia é) a existência de um traço comum de significado entre sentidos diversos de uma mesma palavra.//
Esse traço de sentido comum para caracterizar uma polissemia também é apresentado por John Lyons no livro Linguagem e Linguística (Uma Introdução), editora LTC, igualmente disponível na biblioteca da faculdade.
Isto é, na polissemia existe um traço semântico; na homonímia inexiste. Na homonímia há sentidos diversos perdendo-se o traço comum de sentido que os uniria; na polissemia conserva-se um traço comum de significado embora indiquem cousas diferentes.

a) Exemplos validados pelo critério:
a.1) O termo //nó//, tem o significado básico de entrelaçamento de uma ou mais cordas, linhas ou fios, para encurtá-los, marcá-los ou uni-los. Deste significado se desenvolvem outros sentidos para a palavra, conotativos ou extensivos: /união/, /vínculo/, /articulação das falanges dos dedos/, /parte mais saliente e dura da madeira/, /embaraço, dificuldade/, /obstáculo/.
*
E o referido livro continua em dizer: //Todos esses sentidos polissêmicos de nó se encontram em oposição homonímica (a este outro significado: nó como sendo) /unidade de velocidade, igual a uma milha marítima por hora/. //
*
a.2) A Viviane além da questão acima referente à palavra //cabo// também apresentou-nos este caso sobre o /entre=entrar/ e /entre=ao meio/:
// A empresa responsável pela publicidade certamente não se ateve às questões teóricas que envolvem polissemia/homonímia, mas utilizou, de forma criativa, esse fato da língua para divulgar os atrativos turísticos do estado da Paraíba. O enunciado /Entre Recife e Natal, entre em João Pessoa/ ocupa lugar de destaque na propaganda. A localização geográfica da capital da Paraíba, João Pessoa, é dada no enunciado que apresenta a topicalização da preposição entre. O verbo entrar convida o leitor a conhecer a cidade. Na parte inferior da página há um retângulo com a seguinte informação: "RECIFE/JOÃO PESSOA - 120 Km / NATAL / JOÃO PESSOA - 185 Km" e logo abaixo, lê-se o texto: "Entre, fique à vontade e descubra o que o mundo está descobrindo: [...] Um lugar tranqüilo entre o rio e o mar [...]. Aproveite que você está pertinho e entre [...]", (grifo nosso). Alterna-se assim a preposição entre, que aponta a localização geográfica de João Pessoa e o verbo entrar que convida o leitor ao turismo naquela localidade. Observa-se assim, a importância da utilização da polissemia/homonímia na linguagem publicitária.
*
Entre: /Vá a dentro/ e Entre: /Está no meio/. Parece-me que /Entre=entrar, venha para cá, para dentro; introduzir-se em algum local/ e /Entre=ao meio/ sejam em princípio homônimos.
Por outro lado, se quando se entra por uma porta passa-se entre ou pelo meio das duas ombreiras ou umbrais da porta, sustentadas acima pela padieira, considerando-se esse traço de sentido do verbo entrar, então é polissemia. Porém, no sentido de introduzir-se, vir para dentro, desaparece o traço semântico que caracterizaria a polissemia por esse critério.
*
a.3) Questão colocada pela Márcia: As palavras /morro=monte, elevação de terra/ e /morro=um acabar da vida biológica/ são polissêmicas se há traço comum de sentido; em princípio parece não haver, porém:
- /Morro/ de saudade de voltar à minha terra!... Subir no/morro/ da fazenda e ver longe aquela imensidão de terras...
A palavra /Morrer/ vem do latim /mori/ que em espanhol fica /morir/, em italiano /morire/, em francês /mourir/, e em português /morrer/. E quanto a /morro/ como monte, colina, de onde vem? Informa alguma coisa o radical ou raiz? Que traço de sentido liga o substantivo morro e o verbo morro?
E o sentido conotativo de morro como colina ou monte pode ter surgido do modo de falar de alguém ao subir um monte alto. Então criei a historinha abaixo como um mito ou lenda do surgimento da palavra /morro/ como sinônima de /colina ou monte/:
//
Isso é um eu morro, um morro...
(uma historieta polissêmica)
*
- Compadre, estamos subindo e estamos na metade..., ufa!..., haja fôlego, esse monte é um morro, morro antes de chegar lá em cima, compadre!
*
- Ôxenti, ele é um cabra! Um cabra macho que só se vê se teme!!
- E o queijo do leite da sua cabra que me prometeste mês passado, então, vai sair? Só de pensar, é água na boca! Ô queijo bom!!
- Morro de saudade de voltar à minha terra!... Subir no morro da fazenda e ver longe aquela imensidão de terras...
E foi chegando o cabra em trajes Virgulino cangaceiro...
- Que falam aí, é de Lampião?! E que me olhas seu homem barata! Tu não é macho não, é uma barata que se pisa feito capacho, e se mata quando se quer. Cabra macho sou eu, Zeca Diacho Virgulino, em Sucupira todos me teme! E se quiser ver, puxo a peixeira!
- Homem?
- E duvida!?
- Só é homem quem vence a gincana municipal de Morro Grande, e vai ser nesse domingo.
- Então vou lá me inscrevê. Sou macho e forte e topo qualquer parada!
- É em dupla... Pra vencê há de levar junto um velho...
- Um velho?... E onde encontro um velho forte assim como eu?...
- Tem o Osmarino Fabiano, rijo como uma rocha, e como ocê, metido a grande valente e caçador de onças...
- Osmarino!? Bem lembrando, vou lá buscá e vámu vencê!
(...)
- Compadre, estamos subindo e estamos na metade..., ufa!..., haja fôlego, esse monte é um morro, morro antes de chegar lá em cima, compadre!
- Ô, velho, vê se anda, temos que chegar lá em cima antes do anoitecer!
- Calma, seu menino, minhas pernas estão amarrando, e essa subida me mata, eu morro antes que chegue lá.
- Larga de moleza, homem, morre nada, tu é rijo feito rocha, morro eu de te esperar nessa vagareza! Tamo atrasado, não vê!
- Então vá na frente..., e avise que o velho tá chegando..., ufa!, já me farta até ar...
- Gingana de prêmio bom, de se vê e pôr no bolso. Vitória é certa, falta pouquinho pouquinho. Já vejo mesmo o que vou comprar, ter para me agradar... Então vá, levante, tenha fibra, cabra, força!
- Não posso..., nem passo mais sinto em dar, vou parar, descansar um tantinho..., tomar..., tomar fôlego...
- Deixa de ser homem froxo e molenga, sô! Vámu, o prêmio só vão dá se chegar nóis dois lá no alto e na hora certa: támu na frente, não vê!?, já deixámu outras dupla pra trais...
- Então me leve, carregue um tanto esse velho nos braços... Homem dos diachos, tu é forte...
- Se te carrego nem eu chego!, morro antes de ver nossa vitória..., e o prêmio... Ande, vámu, já tô vendo outra dupla alcançando nóis! //
*
E /morro/ pode ser algo totalmente diferente do que pensávamos... Em www.fflch.usp.br/dlcv/lport/site/images/arquivos/FLP2/Biderman1998.pdf: //No livro Como aprendi o português, e outras aventuras, Paulo Rónai (famoso intelectual e tradutor de origem húngara) relata um caso emblemático sobre os descaminhos da tradução. Ele estava traduzindo poemas do português para o húngaro. Num dado momento, Rónai tentava entender a alusão aos morros cariocas nos poemas de cunho social que estava traduzindo. Consultando por correspondência um jovem poeta brasileiro, o referido poeta deu-lhe uma lista de sinônimos para a palavra morro, a saber: "colina, outeiro, etc." Ora, Rónai continuava não entendendo. Depois de ter feito várias consultas ao seu correspondente por carta, ele finalmente chegou ao valor correto da palavra morro naquele contexto específico : /conjuntos de habitações populares toscamente constituídas e desprovidas de recursos higiênicos/. Esse fato documentava uma situação oposta ao meio ambiente de sua cidade - Budapeste. Aí moravam os ricos em palacetes construídos nos morros da cidade, justamente o oposto do Rio de Janeiro onde morro é sinônimo de favela. Portanto, embora morro possa ser traduzido por seu equivalente em húngaro ao nível da denotação, ao nível da conotação a equivalência não existe, confirmando o relativismo lingüístico. //
*
a.4) O traço semântico polissêmico entre o substantivo /barata=inseto/ e o adjetivo /barata=preço baixo/ seria o pouco valor dado à coisa.
a.5) O caso / rosa = uma tipo de flor/, /rosa = a cor padrão das rosas/, /rosa = mulher formosa /, /Rosa = nome de mulher/, teriam como traço semântico polissêmico a beleza, o frescor e perfume de suas pétalas, a cor padrão desta flor das roseiras (que aliás se vê as amarelas, brancas, etc)
a.6) /bater trigro/ e /bater ovos/ referem-se a modos de bater diferentes com o traço de sentido comum /bater/, são expressões polissêmicas.
a.7) /leque como objeto de abanar/ e /leque como um conjunto de opções ou possibilidades/ têm como traço semântico polissêmico um conjunto de setores que se abrem de um semicirculo; em um caso unidos formando o abano, em outro cada setor é um item das opções.
a.8) /cabra=homem valente/ e /cabra=animal/: se a primeira situação foi dita em tom de ironia, mesmo assim que traço semântico há? Talvez se considerar que ambos deem cabeçadas... Esse caso ainda fica a dúvida: Polissemia ou homonímia?
a.9) /pescoço=parte cilindrica entre a cabeça e o tronco humano e de animais/, /pescoço= gargalo de garrafa, parte cilindrica entre a boca e o bojo/. A parte cilíndrica em meio a dois pontos seria o traço semântico dessa polissemia.
a.10) O termo "cabo" vem do Latim "caput" (cabeça), usado com o significado genérico de "chefe". Em outros países, o mesmo termo latino, com o sentido de chefe, evoluiu para "caporal". Nesses países, por exemplo, os termos "corporal" (Inglês), "caporal" (Francês) ou "caporale (Italiano), são usados para designar a graduação correspondente a "cabo". (de http://pt.wikipedia.org/wiki/Cabo_(militar) ).
Existe o caput de um artigo de Lei, o texto que encabeça.
Todavia, a cabeça é uma extremidade do corpo, e por aí, por semelhança ou conotação ou metáfora passou a sinônimo de término de algo, fim, extremidade.
*
E assim teríamos os seguintes termos polissêmicos //cabo//:
i) cabo como sinônimo de rabo, como uma extremidade, um prolongamento do corpo de certos animais como o macaco, o prolongamento da coluna vertebral, a cauda.
ii) cabo como corda grossa usada em navios ou embarcações; como uma cauda ou rabo em sentido de prolongamento.
iii) cabo elétrico, feixe de fios revestidos por borracha, como uma corda grossa, se assemelhando ao cabo de marinharia ou rabo de macaco. TV a cabo. O cabo da impressora, do microcomputador.
iv) cabo como suporte para segurar ferramentas manuais: vassoura, enxada, picareta, martelo, machado, faca, etc. A cabeça ou caput desses instrumentos através da qual os comandamos; ou a extremidade ou prolongamento de tais e pela qual os pegamos.
v) cabo como uma estreita península (acidente geográfico), como uma cabeça de terra que avança no mar, cercada de águas por todos os lados menos por um, a grande porção de terra, o seu corpo ao qual se liga; ou uma pequena extremidade de terras estreitas que avançam mar adentro.
vi) cabo como posto das forças armadas ou de segurança que /corresponde à primeira ou segunda graduação que pode ser obtida por um soldado/.
Neste caso: soldado numa extremidade e coronel na outra; cabo aqui não seria extremidade..., teria o sentido de primeiro posto-cabeça ou de chefia: Soldado 2a. classe/ Soldado 1a. classe/ Cabo / 3º Sargento / etc./ Coronel.
*
b) Exemplos de contra-exemplo invalidantes; ou casos de exceção:
Não encontrei contra-exemplos que invalidasse esse critério.
*
Enfim, considerando-se um leque de termos homógrafos homófonos a analisar do ponto de vista pragmático ou como itens explicados em um dicionário, por esse critério se há traço semântico é polissemia, e não ocorrendo o traço que os ligue semanticamente é homonímia, por exemplo, são homonímas perfeitas as seguintes palavras: São (verbo), são (sadio), são(santo).
*
2) Critério do Radical ou Raiz: por esse critério seriam termos polissêmicos quando se originam de um mesmo radical ou palavra primitiva empregada em sentido conotativo (conservando um mesmo traço semântico); e seriam homônimas perfeitas quando proveem de radicais ou raízes diversas gerando significações diferentes e sem traço comum de sentido.
*
a) Exemplos validatórios:
a.1) O caso já referido acima: São (verbo; da raiz /sedere/), são (sadio; da raiz ), são (santo; da raiz ) de raizes diferentes não possuem traço comum de sentido, e, portanto, são homônimas.
a.2) O caso / rosa = uma tipo de flor/, /rosa = a cor padrão das rosas/ (adjetivação), /rosa = mulher formosa / (conotação), /Rosa = nome de mulher/. Sendo por conotação ou adjetivação, uma só raiz, então seria polissemia.
a.3) /bater trigro/ e /bater ovos/: bater é um só radical: termos polissêmicos.
a.4) cabo nas suas várias significações tem por origem caput, uma só raiz, é polissemia.
*
b) Exemplos invalidantes ou contra-exemplos; ou por outra, casos de exceção:
b.1) Nó de milhas marítimas (1 nó = 1 milha náutica/hora, 1,852 Km/hora), nó de fios entrelaçados ou embaraço... Qual o radical de nó de milhas e nó de fios entrelaçados, enroscados, embaraçados? Em princípio, nó milhas marítimas nada tem a ver com nó dado em um cordão, nenhum traço semântico, mas, pesquisando resposta, o caso é interesssante, nó milhas marítimas tem origem em nós de cordas para aferir a velocidade de um barco! Lendo-se em http://pt.wikipedia.org/wiki/Nó_(unidade), temos: // O nó tem a sua origem nas práticas utilizadas nos navios para estimar a velocidade. Uma das formas mais comuns consistia em lançar da popa do navio um flutuador com uma forma calibrada, que devido ao atrito com a água ficava relativamente imóvel à superfície, ligado ao navio por um cabo que tinha nós feitos a distâncias regulares. Medindo o número de nós que eram largados durante determinado tempo para permitir que o flutuador não fosse arrastado, isto é contando o número de nós saídos do navio no período de medição, dava uma estimativa da velocidade. // Nós de uma corda soltos ao mar e contados num período de medição... Não obstante, em nó como milhas por hora deixou de existir aquele traço de sentido comum da sua origem, desligou-se do conjunto polissêmico e passou a contrapor-se como homônimo.
*
c) Situações ainda nebulosas ou obscuras:
c.1) /Entre=entrar, venha para cá, para dentro; introduzir-se em algum local/ e /Entre=ao meio/ sejam em princípio homônimos. Porém, de que raiz diferentes vieram, ou se originam? Ou /entrar/ viria por sentido figurado: - Lá vem ele passando entre as ombreiras da porta. E se ele vem de entre as ombreiras, de lá a cá, então é entrar! Assim se poderia até em pensar algum traço comum de sentido... Ou não?
c.2) morro (verbo), morro (monte), morro (conjunto de habitações pobres), de onde vieram, de que raizes diferentes? Podem ser considerados homônimos ou termos polissêmicos?
c.3) O substantivo /barata=inseto/ e o adjetivo /barata=preço baixo/, este último proveio do primeiro (por derivação imprópria - adjetivação) e assim conservado um traço de sentido (polissemia) ou têm raizes diferentes e próprias (homonímia)?
c.4) /leque como objeto de abanar/ e /leque como um conjunto de opções ou possibilidades/ proveem de raiz diferentes ou um proveio do outro por conotação? Parece ter sido por conotação e assim havendo uma só raiz é polissemia.
c.5) /cabra=homem valente/ e /cabra=animal/, uma só raiz, parece que um proveio do outro por conotação, talvez pela cabra ser valente, e assim seria polissemia...
c.6) /pescoço=parte cilindrica entre a cabeça e o tronco humano e de animais/, /pescoço= gargalo de garrafa, parte cilindrica entre a boca e o bojo/. Parece que um proveio do outro por conotação, há uma só raiz, portanto, polissemia.
c.7) O carro bateu num /banco/. A palavra /banco/ com os sentidos de assento ou instituição financeira de que raízes provieram? Pois é uma homonímia...

3) Critério da Ambiguidade: homônimos perfeitos causam ambiguidade; termos polissêmicos não.
a) Exemplos validados pelo critério:
a.1) O carro bateu num banco. (bateu num assento da praça, na parede um banco de financiamentos, ou em um banco de areia?) É homonímia.

b) Exemplos invalidantes ou contra-exemplos; ou casos de exceção:
b.1) O leque incomodava a senhora que fazia compras. (o leque de opções das mercadorias expostas ou o leque com o qual ela se abanava?) Já foi visto que é polissemia, porém, por esse critério informa-nos que é homonímia devido a ambiguidade causada...

4) Critério das classes gramaticais diferentes: termos polissêmicos têm mesma classe gramatical; homônimos perfeitos possuem classes gramaticais diversas.

a) Exemplos validados pelo critério:
a.1) cabo (soldado), cabo (por onde se pega um objeto), substantivos, polissemia.

b) Exemplos invalidantes ou contra-exemplos; ou casos de exceção:
b.1) barata (inseto), barata (de preço baixo): substantivo e adjetivo, seria então homonímia, mas é polissemia.

5) Critério dos morfemas flexionais ou flexivos (vogal temática e desinências):

a) Exemplos validados pelo critério:
a.1) A Márcia apresentou o seguinte no forum: //Ainda restam muitas dúvidas, mas complementando minha participação anterior, entendo que nas palavras morro (elevação da terra) e morro (verbo) ocorre homonímia uma vez que o "o" no primeiro é vogal temática e, no segundo, é um morfema verbal. Nas palavras cabra (animal) e cabra (macho) ocorre uma polissemia uma vez que ambas terminaram com vogal temática.
(tem mais sobre esse critério em "www.ich.pucminas.br/posletras/Relacoes Lexicaispolissemia e homonimia.pdf")
a.2) O mesmo se poderia dizer de /entre=verbo/ e /entre=preposição/?

b) Exemplos invalidantes ou contra-exemplos; ou casos de exceção:
b.1) manga(fruta) e manga (pedaço de roupa), em princípio seriam homônimas perfeitas, porém, ambas tem vogal temática /a/.

*Digitando Polissemia na busca do Google aparecerá uma tonelada de sites sobre o assunto..., até um debate ocorrido em 2007 em Lisboa sobre o tema...


E entrou em forum a polêmica...
 

UM NOVO CRITÉRIO:

Pelo que entendi, a função sintática faz a diferença entre homônimas e polissêmicas.
Façamos um pequeno teste.

Eles SÃO inteligentes (verbo)
Ele é SÃO => predicativo.

Ele MANGA de todos. (verbo)
Fruta boa é MANGA. (predicativo)

Será???

PUXA, ENTÃO APARECEU MAIS UM CRITÉRIO DISPONÍVEL A DIFERENCIÁ-LAS?! SERÁ?...:

Tentemos um contra-exemplo para demonstrar que funções sintáticas diferentes utilizando homógrafas homófonas é também viável com palavras polissêmicas:

 * * * * *

- O cabo meneou (ou manejou) com destreza o cabo da vassoura.

    O cabo = sujeito  /  o cabo da vassoura = objeto direto

- Pensava em um leque de opções enquanto abanava-se com um leque pelo muito calor.

    Pensava /em um leque/ = objeto indireto  /  abanava-se /com um leque/ = dentro da locução adverbial indicando instrumento

SE PELA SINCRONIA INEXISTE TRAÇO SEMÂNTICO COMUM, E PELA DIACRONIA EXISTIU... QUE DECIDIR?:

Exemplo: Nó, milhas náuticas, e nó, fios entrelaçados... O nó milhas náuticas surgiu (pela diacronia) a partir de nós feitos em uma corda como recurso para medir a velocidade de um barco, tinha relação semântica com nós entrelaçados. Hoje (sincronia) nó náutica é apenas medida de velocidade, milhas por hora, desapareceu o traço nó entrelaçado. Então, para se decidir sobre a polissemia deve se considerar o fato diacrônico? Ullmann não considerou, pois mostra o caso como exemplo de homonímia (inexistência de traço de sentido comum).

A CONJUNGAÇÃO DO VERBO SER VEM DE TRÊS RAIZES, E A RAIZ DE SÃO=SADIO E SÃO=SANTO?:

São como santo se não me engano é uma evolução fonética da palavra santo.
Agora são igual sadio..., de que raiz proveio?...

Do LATIM:

 são (1) Subs. masc. 1. Forma apocopada de santo, usando antes de nomes que principiam por consoante
são (2) Adjetivo - [do latim sanu] 1. Que tem saúde; sadio.

Dicionário Aurélio Eletrônicio, v. 5.0.40

Então FECHOU O CASO:SÃO=VERBO(DE/SEDERE/),SÃO=SADIO(DE/SANU/) E SÃO=FORMA APOCOPADA DE SANTO

Termos de um homonímia vindos de radicais diferentes, sem traço comum de sentido...

DISTINGUINDO POLISSEMIA E HOMONÍMIA...:

A Polissemia é a propriedade que algumas palavras possuem de apresentar vários significados, mantendo inalterada a escrita e a pronúncia, cujo sentido das palavras dá-se no contexto, ou seja, das suas relações dentro de um mesmo conjunto. Tomemos como exemplos:
- Os ingressos para o show eram de GRAÇA.
- Os fiéis agradecem a GRAÇA alcançada.
Enquanto a Homonímia é a relação que se estabelece entre as palavras cuja estrutura fonológica seja a mesma.

HOMÓFONAS HOMOGRÁFICAS: - são as palavras iguais na pronúncia e na escrita:
- alvo ( substantivo, coisa que se deseja alcançar) - alvo( adjetivo = branco)
- cura ( 3ª pessoa do presente do indicativo do verbo CURAR) - cura ( substantivo)

É, ALVO=MIRA, META E ALVO=BRANCO, SEM TRAÇO COMUM DE SENTIDO, É HOMONÍMIA... MAS...:

Graça e de graça têm uma relação comum de sentido, a gratuidade, portanto, parecem-me mais termos polissêmicos...

E OS PORQUES??? :

Onde podemos inserir os PORQUÊS?
Fiquei com dúvidas pululando a minha cabeça...
São Polissêmicos ou Homônimos?

POR QUE você não foi à festa?
Eu não fui PORQUE estava triste...
Ninguém entendeu o PORQUÊ da briga.
Você não terminou a tarefa, POR QUÊ?

Pensei serem homônimas homógrafas, mas também acho que são polissêmicas porque possuem propriedades diferentes, isto é, funções diferentes nas frases

ANALISANDO PELO TRAÇO DE SENTIDO...:

Um porque interroga, outro explica, o terceiro pergunta a causa, e o final: qual a razão? Parecem-me empregados com traços semânticos diferentes e assim sendo seriam homógrafos homônimos ou homônimos perfeitos.

HOMONÍMIA E POLISSEMIA:

Para Bechara (2004:402) a polisisemia é o fato de haver uma só forma (significante) com mais de um significado unitário pertencentes a campo semânticos diferentes. Cada um destes significados é preciso e determinado. Como é extenso fica aqui o site, caso queiram consultar:
http://www.filologia.org.br/revista/36/10.htm

Veja o sentido do verbo romper em :
Rompeu a roupa no arame farpado (rasgou)
Romper um segredo (revelar)
Romperam as música (principiaram)
Ou os do adjetivo grave, em:
Doença grave (séria)
Voz grave (baixa)

SERÁ MESMO ISSO QUE DIZEM PERINI E LYONS? POLISSEMIA PONTUA SEMANTICAMENTE...:

            Será mesmo isso que dizem Perini e Lyons? Polissemia pontua semanticamente a maioria das palavras da língua - naturais?...

            Realmente, a extensão, um traço comum de sentido que permeia os sentidos dos termos polissêmicos... E da maioria das palavras da língua natural?... Onde há algum traço comum de sentido em manga fruta e manga parte de tecido de uma camisa?... Será que quem pensou na manga da camisa pensou na imagem da fruta manga?...

Cortar o tecido / cortar o baralho - ambos têm o traço semântico da separação...

 *

Essa ginástica é barra: tomou de uma barra e pôs alguns pesos em ambos os lados, e lhe pesavam como uma barra de chocolate; as mãos robustas do halterofilista todos a olhavam surpreendidos observando aquele homem musculoso erguendo pesos incríveis com inusitado esforço mínimo. Um saiu-se de repente em dizer provocante: - Esse esforço é barra mesmo, ou ele está erguendo halteres de isopor!? O homenzarrão num salto a pôs nas mãos do moço brincalhão, e a barra desceu lépida com as suas mãos ao chão... Caras!, isso foi barra pesada!!!

            Pelo site http://www.filologia.org.br/soletras/8/14.htm a nós indicado, tem realmente casos a pensar...:

Um impasse de ordem conceitual, consoante Lyons?

Diz Lyons segundo o artigo do site:

// A distinção entre homonímia e polissemia é indeterminada e arbitrária. Depende, em última análise, do juízo do lexicógrafo sobre a plausibilidade da 'extensão' do significado, ou de alguma prova histórica de ter ocorrido particular extensão. A arbitrariedade da distinção entre homonímia e polissemia se reflete nas discrepâncias entre diferentes dicionários (...) (p. 431) //

Perini (1996): //A polissemia é uma propriedade fundamental das línguas humanas, que sem ela não poderiam funcionar eficientemente. Seria impraticável dar um nome separado a cada 'coisa', incluindo aquelas que nunca vimos. (p. 251)//

// Em princípio, diz-se que o fator marcante da polissemia é a "extensão" de significados. A questão a ser colocada é: qual(is) fator(es) é(são) levado(s) em consideração para a ocorrência da extensão de significado(s)? Esse é um questionamento atual, mas Lyons já o apontava há tempos atrás, como foi exposto em um fragmento anterior. //

// Perini complementa:

A polissemia confere às línguas humanas a flexibilidade de que elas precisam para exprimirem todos os inúmeros aspectos da realidade. (...) Conseqüentemente, a maioria das palavras são polissêmicas em algum grau. Palavras não-polissêmicas são raras e freqüentemente são criações artificiais, como os termos técnicos das ciências: fonema, hidrogênio, pâncreas, etc. Nestes casos, a polissemia é realmente um inconveniente; mas o discurso científico, em sua procura de univocidade semântica, difere enormemente da fala normal das pessoas. Nesta, a polissemia é indispensável. (Idem, p. 252) //


Autor: sergio carneiro de andrade


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