INOVIVER



A inovação é essencial para o desenvolvimento? É claro. A compreensão do que significa o desenvolvimento não pode se desligar da mudança sistemática, progressiva e competitiva: inovadora.

No mundo dos negócios, quando falamos em "Inovar" o objetivo é o desenvolvimento de novos negócios bem sucedidos; incluindo o desenvolvimento de novos produtos e / ou entrar em novos mercados.

A inovação deve ser pragmática e comercialmente eficaz, os países latino-americanos podemos usá-la como uma alavanca dinâmica de desenvolvimento, o que está faltando para consegui-lo?

Latino-americanos: criativos sim, mas inovadores?

Uma das características mais unificadoras dos latino-americanos, é definir-se como criativo. No mercado peruano, a Inca Kola, a empresa mais emblemática de refrigerantes, emprega o conceito de criatividade como uma bandeira. Uma de suas principais campanhas publicitárias recria essa "criatividade peruana" com produtos que visam alcançar conotações inovadoras, como algumas "ojotas" (sandálias) com rodas, emulando os patins.

Para aqueles que vivemos na América Latina, a criatividade foi, é e será uma ferramenta cotidiana, mas será que ela é suficiente para superar o subdesenvolvimento e projetar nosso futuro?

No processo inovador o componente criativo é essencial, mas por si só ele é insuficiente, exige outros componentes, tais como: registro de patentes para proteger as invenções, pesquisa de mercado, muito útil para a compreensão das necessidades dos clientes; o desenvolvimento do protótipo, essencial para avaliar um novo produto; entre outros. Sem eles, a criatividade pode tornar-se uma ilusão atraente, porém com poucas oportunidades de gerar valor.

Para seguir o exemplo da campanha da Inca Kola, é possível que a idéia de umas "sandálias- patins " seja boa, no entanto, é evidente que a sua aplicação comercial- falando sério-seria improvável.

Na América Latina, nos casos como a mexicana CEMEX, a Embraer no Brasil, a indústria do salmão no Chile, entre outros, mostram a nossa capacidade de inovar, o que está faltando é transformarmos essas exceções em eventos do dia a dia, Como fazê-lo? Superando a tendência da imitação dependente e da inovação truncada- apenas criatividade- para nos projetar em função do desenvolvimento auto-controlado, a través  de uma forma diferente de encarar a vida e os negócios, "inoviver".

Um novo estilo de vida e gestão nas empresas: Inoviver (2*)

O estilo de vida do inoviver, pode se ligar  a filiações ancestrais encontradas na filosofia grega. Para Heráclito, "Tudo o que existe é a mudança" (3*). A mudança é a essência do inoviver.

Inoviver é viver inovando, é o oposto de sobreviver. Quando os gerentes de uma empresa gerem uma estrutura que lhes possibilita "inoviver" o que eles conseguem é promover e sustentar o desenvolvimento deles a través da inovação em novos negócios.

O inoviver é também um estilo de gestão, onde um sistema de mecanismos: estratégicos, táticos e operacionais, fazem com que a inovação vire um fluxo,  isto pode ser observado num estudo apresentado pela Wharton Business School (4*), que diferencia três níveis durante o desenvolvimento de uma inovação tecnológica. A seguir,as descrições e exemplos deles:

Nível 1: No Heatshielding, definem-se os tipos de inovações que são desejáveis, são estabelecidos processos que garantam o apoio delas e cria-se e gerencia-se um clima que favoreça o desenvolvimento dessas inovações.

• Na Cam, existe uma Gerência  Regional de Desenvolvimento de Negócios e Tecnologia, replicada nos 5 países da América do Sul onde estamos presentes, ela é a área responsável pela inovação em novos negócios para a empresa. Ainda temos um Centro de Inovação Tecnológica (CIT) dedicado exclusivamente ao desenvolvimento de produtos inovadores aplicáveis ao setor da energia, a espinha dorsal da nossa missão.

• Nos escritórios do Google, a abordagem das necessidades de conhecimento de cada cibernauta é coerente com sua cultura organizacional. Prova disto é que cada pessoa enfeita seu escritório do jeito que quiser, tudo sob a lógica de que um ambiente descontraído e personalizado, é fiel representante do espírito inovador focado em cada um de nós, os usuários.

Nível 2: O Venturing, inclui os procedimentos que possibilitam descobrir o que os clientes precisam e como responder a essas exigências de forma rentável.

• Na filial peruana da Cam, há um sistema de inteligência de mercado (SIME), que gere o conhecimento da empresa, alimentando-o, organizando-o e direcionando-o para as pessoas chave da organização, conforme o caso, com o intuito que todos saibam o que têm de saber, no momento certo.

• A 3M possui um Customer Innovation Center , que tem desenvolvido até agora mais de 50.000 produtos inovadores, um de seus princípios diz: "Seja o primeiro a fazer com que seus próprios produtos virem obsoletos".

Nível 3: o Championing, é considerado pela The Economist como uma das Top 100 ações de negócio mais importantes do século XX.  Ele pretende assegurar, a través de defensores, que novos negócios não sejam prejudicados pela forma  como algumas pessoas usualmente assumem as inovações: com indiferença e descrença.

• Um dos defensores mais notáveis é o Howard Schultz, CEO da Starbucks, quem bateu mais de 200 portas antes de obter o financiamento necessário para comprar a sua empresa atual. Sua coragem e persistência deram-lhe resultado: após de tê-la adquirido em 1987 por USD 4 milhões, apenas 5 anos mais tarde, na sua primeira cotação na bolsa de valores, a empresa atingiu USD 273 milhões. Hoje, o valor da marca Starbucks é de USD 3,879 milhões.

• No início da Sony, a imprensa japonesa, a considerava como uma "cobaia", porém, isto não intimidou Masuro Ibuka e Akio Morita, os fundadores, que usaram aquela aparente ofensa como uma motivação. Quando o Ibuka conduzia o projeto da TV em cores Trinitron, a empresa estava à beira da falência, no entanto,  o Morita, nunca retirou o apoio dele, aliás, ele defendeu até o fim. Anos mais tarde, o Imperador do Japão, presenteou o Ibuka com um porquinho da índia de ouro em tamanho real  em agradecimento pela sua contribuição para a imagem do Japão no mundo.

Em conclusão, para conseguir o grande desafio de inoviver na América Latina, temos de: garantir um foco de negócios na inovação, gerir o conhecimento, desenvolver uma grande velocidade de adaptação às mudanças do mercado, e , capacitar nossos funcionários com habilidades e atitudes adequadas para transformar os projetos deles em grandes realizações: úteis e rentáveis.

NOTAS
(*1) A ojota é uma forma de calçado parecido com as sandálias feita de couro ou fibras vegetais que utilizavam os índios do Chile, e que ainda utilizam alguns camponeses na América do Sul, mas agora com pedaços de borracha de pneus usados. Adaptado do Dicionário da Real Academia da Língua Espanhola (www.rae.es)
(*2) O neologismo Innovivir, mas na versão em Português Inoviver foi apresentado pela primeira vez pelo autor do artigo na palestra Gerência da Inovação, realizada no Brasil.
(*3) A filosofia baseada no reconhecimento da mudança como um valor fundamental no desenvolvimento humano,  já teve defensores e detratores na mesma Grécia clássica, o Aristóteles e  o Heráclito,  a defenderam, enquanto o Zenão e o Parmênides a definiram como irrelevante.
(*4) Nove novos papéis para os gerentes de tecnologia: para ligar a criação de tecnologia com mercados rentáveis é preciso que o gerente de tecnologia de hoje pratique os novos papéis,  mais abrangentes e integrais, que correspondem ao ¨gerente de desenvolvimento tecnológico¨ (2004). Rita Gunther McGrath (Columbia University) e Ian C Macmillan (Wharton Business School).


Autor: Edgar C. C.


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