O VENDEDOR DE JÓIAS



Marcelo se casou. Casou-se Marcelo e casou com uma mulher branca. Ele era negro. A mulher era rica, trabalhava em um grande banco. Marcelo também trabalhava em um banco, mas com uma função muito baixa. A renda da mulher era alta, a de Marcelo baixinha.

A mulher deu para reclamar. Marcelo ganhava pouco, mas gastava muito. Todo dinheiro que lhe caía às mãos, saía imediatamente. A mulher sustentava a casa sozinha. Assim não seria possível. Afinal a despesa da casa pertence ao homem e não a mulher. Foi assim que ela resolveu ter uma conversa séria com Marcelo. Ou ele arrumaria um segundo serviço ou caía fora.

Pela primeira vez Marcelo ficou pensativo. Arrumar outro serviço? Ele não sabia fazer mais nada. Não tinha estudo algum, nem pistolão. Perder a mulher e uma vida doce e tranqüila? Jamais. Passou a semana meditando, tomando conselhos com os amigos sobre o que ele poderia fazer. Nada lhe caía na mente. Adular o gerente para subir de posto, não adiantaria...

Andou perambulando pela cidade, olhando os classificados dos jornais, nas portas dos prédios comerciais, procurou uma agência de emprego. Nada. Não conseguia mesmo descobrir uma atividade que pudesse fazer.

Marcelo ia voltando à sua casa pensativo quando deparou com uma placa em frente a um ourives e escrito: "precisa-se de vendedor de jóia". Taí uma coisa que Marcelo sabia fazer. Vender jóias. Era um serviço fácil e muito leve.

Entrou imediatamente na ouriversaria e conversou com o proprietário, sujeito barbudinho, baixinho, muito alegre e sorridente. Combinaram tudo, Marcelo fez a ficha, deu os seus dados, disse que tinha muitos amigos no banco e que poderia vender tudo aquilo no banco mesmo.

Tudo pronto, Marcelo pegou o porta-jóias e foi para casa todo satisfeito. Lá chegando mostrou tudo e contou à sua mulher sobre o novo serviço. a mulher não achou muito legal, disse que havia muitos larápios atrás de jóias, que por isto ele poderia até perder a vida. Marcelo deu uma risadinha e disse queaquilo ali era coisa simples, ele era forte e enfrentaria qualquer um. Tudo combinado, almoçaram mais tranqüilos e Marcelo foi trabalhar.

Marcelo foi oferecer as jóias ao gerente do banco. Mostrou tudo, disse que aquilo era barato, que eram jóias finas, que ele não se arrependeria. Uma mulher que estava com mais dois homens conversando com o gerente, entusiasmaram-se pelas jóias. Olhou uma por uma e disse que se interessaria por todas. Marcelo ficou todo sorridente.

- Levo todas, seu Marcelo - disse a dona - o senhor procure o dinheiro lá no Ministério da Fazenda. Eu sou fiscal de rendas e o senhor está preso.

Marcelo levou um choque elétrico. A mulher tinha já colocado o porta-jóias na bolsa enquanto osdoishomensconduziamMarceloaumaviatura.Marcelotentoureagir, contando que era funcionário do banco, que pegou aquele servicinho apenas como um bico para ajudar na renda familiar, que não era marginal, que as jóias não eram dele, que então prendesse o dono das jóias.

Os fiscais não queriam saber de quem eram as jóias. Ia para a cadeia quem estava com elas. O moço foi mesmo trancafiado. Passou a noite lá. No outro dia pediu para avisar sua esposa que já estava sabendo. Ela veio com um advogado. Deu um trabalho danado retirar o homem de lá. Só saiu com uma condição que era mostrar onde pegara aquelas jóias para revender. Ele concordou. Foram lá, mas o baixinho, dono das jóias, já tinha sabido do ocorrido e se mandado.

Marcelo foi liberado, mas as jóias foram confiscadas.

Hoje Marcelo continua seu simples servicinho no banco. Não pretende dobrar a sua renda, se a mulher quiser dar o fora, ela que se dane, mas passar por outro vexame daquele, nuca mais.

Obs: Este conto é verdadeiro, não é ficção, só foram trocados os nomes das pessoas.


Autor: Henrique Araújo


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