POR QUE JAMAIS HÁ CONSENSO SOBRE A BÍBLIA?



POR QUE JAMAIS HÁ CONSENSO SOBRE A BÍBLIA?

O texto polêmico é: "Os evangélicos sempre alegaram que são os maiores defensores da fé como elemento-chave para a salvação das almas. Até o Dr. CS Lewis, maior pensador cristão do Século passado, reconheceu isso quando revelou que eles 'reclamaram' a ausência de uma maior ênfase na fé em seu livro 'Cristianismo Autêntico' (ABU Editora, 1979). Entretanto e com efeito, um estudo mais apurado do Catolicismo termina por revelar verdadeiras 'cirurgias hermenêuticas' no Corpo Doutrinal Romano (exemplos abaixo), nas quais os evangélicos nem de longe conseguem crer. Isto nos conduz à inevitável conclusão de que a fé também é uma dessas coisas que passeiam ao sabor dos interesses individuais e denominacionais, com cada um destes fazendo uso dela apenas naquilo que lhes é conveniente (ou apenas no que se refere ao seu próprio ponto-de-vista individual ou denominacional) e por isso ninguém é, a rigor, cem por cento crente."

Um exemplo a ser dado de "cirurgia hermenêutica católica" com a qual os protestantes nem de longe se aventuram a crer (não porque não tenha fundamento, mas porque tal quesito porá em risco a própria identidade "político-partidária" de sua denominação) é o mais famoso de todos, a saber, aquele que na prática constitui a base de toda a fé católica na existência da Igreja de Roma, encontrado no Evangelho de Mateus, no cap. 16, versículo 18, quando Jesus diz a Pedro: "Sobre esta pedra eu edificarei a minha igreja". Há duas cirurgias aqui: os católicos dizem que a pedra é pedro, outros dizem que a pedra é a fé, e os protestantes dizem que a pedra é Cristo. Alguma delas está errada? Aguardemos um pouco. Prossigamos.

Outro exemplo de "cirurgia hermenêutica católica" se encontra em João 6, no qual Jesus diz explicitamente que Sua carne "é verdadeira comida, e seu sangue verdadeira bebida", com o que Deus avalizou toda a base da fé que crê que o próprio Cristo se fez pão, no Mistério sublime da Eucaristia. Novamente deve-se frisar que esta alegação também tem fundamento no "para Deus tudo é possível", e sua rejeição se dá apenas por bairrismo e divisionismo político.

Já um exemplo de "cirurgia hermenêutica protestante" com a qual os católicos nem de longe se aventuram a crer (repito, não porque não tenha fundamento, mas porque tal quesito põe em risco a identidade "político-partidária" do Catolicismo) é considerado "um clássico" dentre todos, e é encontrado no Livro de Atos, no capítulo 16, versículo 31, e afirma que basta apenas a fé para a salvação de uma alma (num simplismo que Lucas jamais indicaria como peça de evangelização). Este 'basta apenas' é que caracteriza bem o sentido de "cirurgia hermenêutica", ou extirpação.

Outro exemplo de "cirurgia hermenêutica protestante" se encontra em Marcos6, versículo 3, no qual o escritor canônico registrou alguns nomes da numerosa família consangüínea de Jesus, o que inexplicavelmente ofende a fé católica, como se para Roma o ato conjugal entre nossa mãe santíssima e seu legítimo esposo fosse pecado, um estranho pecado chamado "adultério contra o Espírito Santo", por ser Deus o único esposo de Maria!... Novamente deve-se ressaltar que essa alegação dos irmãos de Jesus também tem fundamento, e sua rejeição se dá por um divisionismo político injustificável, com base no lamentável erro de conceituação moral da virgindade.

As ressalvas que fiz, dando conta de que todas as 'cirurgias' têm fundamento (dependendo da ótica denominacional adotada), se baseiam no fato de que não há nem nunca existiu um único ser humano que tivesse ido à Palavra de Deus e não tivesse cometido o erro de julgar que a sua interpretação pessoal é a única ou a mais correta, esquecendo-se de que ele – ele também, por que não? – é repreendido pelo versículo que diz "nenhuma profecia deste livro provém de interpretação particular" (II Pe 1,20), e sem se dar conta de que a frase de Pedro se referia exclusivamente aos registros deles mesmos, i.e, aos escritores canônicos, e não àqueles que sairiam a pregar a Palavra de Deus pelo mundo. Melhor dizendo, o alerta de Pedro era para que nos lembrássemos de que todos os dados adicionados ao Cânon vieram de Deus, e não dos autores canônicos; ao passo que aquilo que se entendesse e se pregasse depois de registradas por escrito as memórias dos apóstolos, seria e tinha que ser produto de interpretação dos cristãos (leigos ou não), únicos guiados pelo Espírito de Deus. Logo, ao invés de estar desencorajando interpretações, na verdade Pedro estava dizendo que, SE o intérprete acreditar que a Bíblia vem de fato de Deus, então tudo o que ele interpretar a partir dessa fé é válido, tal como Paulo explicou em Rm 14,22-23. Aliás, por falar em Paulo, o próprio Pedro deu um sinal sintomático acerca disso, quando contou que os dados da Revelação bíblica são matérias difíceis de entender e que Paulo as enxergaria melhor do que ele (II Pe 3,15-16), o que prova que o ato de "interpretar particularmente", ou respeitando-se a inspiração aleatória do Espírito Santo – que sopra aonde quer (Jo 3,8) –, era um costume freqüente e salutar da igreja primitiva. Este parágrafo deve ser relido.

Isto posto, se tanto o Catolicismo quanto o Protestantismo têm fundamento em suas visões particulares da Palavra de Deus, então "o labirinto fica mais acima" (como diziam os bizantinos), e seria algo relacionado à própria comunicabilidade de Deus, que jamais foi nem podia ser simples, em razão de ser uma "Comunicação-via-Transposição" do Infinito incognoscível da mente de Deus para o finito de nossas mentes. Assim, portanto, todos os homens e todas as denominações, em todos os tempos, jamais chegam a errar totalmente em suas reivindicações de fé, embora também jamais acertem completamente. E convenhamos, esta é a única conclusão sadia e capaz de unir todo o Cristianismo.

Finalmente, se Jesus um dia afirmou que nem sequer uma folha cairá em terra sem o consentimento de Deus, bem como que todos os cabelos de nossa cabeça estão contados (não valem os carecas), é lícito supor que também é por vontade de Deus que o Catolicismo e o Protestantismo subsistem, e assim o fazem pela gloriosa liberdade dos santos e passeando ao sabor da vontade de seu único Pai, maior interessado em encorajar as pesquisas bíblicas, melhor exercício espiritual de todos os seus filhos.

Prof. João Valente.
Autor: João Valente


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