A Aventura Sociológica



Problemas do pesquisador:

  • pesquisador deve ter uma distância mínima de seu objeto, a isto quer dizer: objetividade, no sentido de neutralidade e imparcialidade. A saber, o pesquisador deve ter olhos imparciais, evitando envolvimentos que possam obscurecer ou deformar os julgamentos e conclusões. Será possível?
  • Seriam os métodos quantitativos mais neutros?
  • Existe a noção de que um "envolvimento" é "inevitável". O que dizer sobre isso?
  • Lembrar que nada é natural, tudo é uma produção. A natureza humana não é natural ela é cultural.

Sobre a Antropologia:

A antropologia tradicionalmente se identifica com métodos qualitativos [por trabalhar com qualidades muito particulares, dos seres humanos, que não podem ser quantificadas, como os significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes] e para este fim usa a observação participante [para este tópico indico a leitura de William FOOTE-WHYTE. Treinando a observação participante] e a entrevista aberta. Tais técnicas de trabalho dependem do contato direto e pessoal.

Para conhecer, é necessário estabelecer contato, durante um período razoavelmente longo, pois alguns aspectos culturais não são explicitados, não estão na superfície, exigindo um esforço maior e mais detalhado de observação e empatia.

O que remete ao problema de por-se no lugar do outro, o que para Velho exige um mergulho na profundidade, por conta da distância social e da distância psicológica, que pode transformar o exótico em familiar e o familiar em exótico – aquele algo em comum que podemos ter com pessoas de outra cultura e podemos não ter com pessoas de nossa própria cultura por conta da complexidade social, por exemplo de um grande centro urbano, como é o caso da cidade do Rio de Janeiro.

Assim, a distância física e a diferença de língua existente entre a Inglaterra e o Sudão não impede que o interesse seja desenvolvido, nem a empatia, que servem como ponto de contato e aproximação.

Simmel oferece uma análise do caráter cosmopolita, sobre as fronteiras dos Estados mostrando laços comuns e distâncias em relações entre conterrâneos [lembrar do texto passado, do José Murilo de Carvalho, no Brasil: ausência de povo, visão negativa do povo, visão paternalista do povo. De um povo que não é conhecido, por isso imaginado]. E sem enfoque se dá sobre às diferenças de classe: camponeses, proletários e burgueses. E o patrimônio cultural comum entre estas classes e a nobreza. O que se destaca aqui é que dois indivíduos podem pertencer à mesma sociedade sem que isso signifique mais proximidade do que se fossem de sociedades diferentes. Sociedades diferentes podem produzir pessoas com as mesmas preferências, ou seja, com gostos e idiossincrasias aproximadas.

Fica a pergunta: até que ponto podemos distinguir o sócio-cultural do psicológico? Quantas vezes, no ambiente acadêmico, estamos mais à vontade com colegas de outra sociedade? Quantas vezes estamos à vontade com o porteiro?

Velho enfatiza: são as experiências comuns que partilhamos que permitem a integração. Lembra Marx, a tradição marxista valoriza a experiência comum de classe (de caráter extra, supra nacional). A unidade não seria dada pela língua ou por tradições nacionais, mas por experiências e vivências de classe. [Novamente lembro do texto anterior, do José Murilo de Carvalho.] Tais vivências de classe seriam sociológicas, econômicas e históricas, de forma a ultrapassar as fronteiras nacionais.

O Estado moderno é associado ao desenvolvimento da burguesia e ao nacionalismo, enquanto movimento intelectual é romântico, preocupado em pesquisar (ou até criar) raízes e fundamentos para a nacionalidade. Sabe-se que existe a manipulação de ideologias nacionalistas de oposição, simbólica, ao que vem de fora [no texto de Carvalho vimos o sou brasileiro porque não sou português, ou porque não sou inglês. O que pode gerar um artificialismo.

Cabe ao antropólogo relativizar essas noções, como algo fabricado, produzido cultural e historicamente, pois a distância é complexa e tem conseqüências. Observa-se Da Matta: temos um familiar que não é necessariamente conhecido e um exótico que é até certo ponto conhecido.

As grandes metrópoles são anônimas [complexas] e nas pequenas sociedades as relações são pessoais [simples]. Nas sociedades complexas o desconhecido pode ser exótico, porque as categorias que organizam a hierarquia podem estereotipar.

O familiar e o exótico, no que se refere ao conhecimento do outro, deve levar em consideração que o outro surpreende, não podemos ser onipotentes achando que sabemos tudo sobre o outro, assim é preciso vê-lo primeiro e não esquecer que conhecer depende da interação.

Velho lembra que GEERTZ enfatiza a interpretação, o conhecimento da vida social depende da subjetividade e esta tem caráter aproximado e não definitivo.

A realidade [familiar ou exótica] é filtrada sempre pelo ponto de vista do observador e percebida de maneira diferente, de modo que a objetividade é relativa, ideológica e interpretativa.

Devemos relativizar a distância e a objetividade para poder observar o familiar sem achar impossível encontrar resultados imparciais e neutros. É preciso questionar os estereótipos e as pré-noções, pois o conhecimento do familiar pode ser precário ao ser apressado e preconceituoso.

É preciso dar conta de que sempre estamos interpretando por mais que nossos dados sejam "verdadeiros" e "objetivos", porque nossa subjetividade sempre está presente. Porém, rever a própria interpretação é mais complicado. Em relação as sociedades exóticas e distantes, por serem menores as oportunidades de discussão e polêmicas, nossas versões ficam pouco expostas ao questionamento. Mas estudar o Brasil? Existem muitas opiniões na sociedade brasileira sobre Copacabana, carnaval, futebol etc. Tratar de um assunto assim costuma deixar a polêmica acirrada. [Segundo Boaventura de Souza Santos o objeto da sociologia julga conhece-la e triste é tratar de matérias de que todo se julgam competentes.]

Lembro que para Bachelard "a ciência se opõe absolutamente à opinião. O "senso comum", o conhecimento vulgar", a sociologia espontânea", a "experiência imediata", tudo isso são opiniões, formas de conhecimento falso com que é preciso romper para um conhecimento científico, racional e válido. A ciência se constrói contra o senso comum e dispõe de 3 atos epistemológicos: ruptura, construção e constatação] Mas, observa VELHO, se a familiaridade não é igual ao conhecimento científico ela é também um tipo de apreensão da realidade, que se refere a opinião, a vivência e as percepções não acadêmicas que podem ser valiosas para o conhecimento da vida social de uma época de um grupo. Assim, a opinião pode ser mais significante e reveladora do que trabalhos científicos, vide por exemplo a literatura [Machado de Assis – 1839-1908 – R. J. - foi o 1º presidente da Academia Brasileira de Letras 1897, ou a de Graciliano Ramos, ou de Osvald de Andrade – 1890-1954 – S. P. - era advogado e escritor teve papel destacada na semana de arte moderna em 1922, é o autor de Macunaíma], teatro, cinema, música, jornalismo, cordel, etc.

Assim, a antropologia é mais uma versão.

E quando se trata de estudos brasileiros é importante lembrar que estudar o familiar aumenta as possibilidades de confronto com outros especialistas e também com leigos, e que este fato é a causa da maior discordância em relação as interpretações do investigador.


Autor: Marcos Miliano


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