A importancia da cumplicidade, entre professor e aluno.



A capacidade de fazer piadas consigo mesmo, faz a gente parecer mais humano aos olhos de nossos alunos, faz-nos descer do pedestal em que a história e a sociedade nos colocaram, passamos a ser simples mortal, passível de erros, que come, dorme, tem suas paixões, e desejos muitas vezes parecidos com os desejos de nossos alunos. Costumo usar várias frases para descer do pedestal, como: A outra turma disse que voltei das férias mais barrigudo, eu não gostei e vou logo avisando vocês que isto aqui (aponto para a minha barriga) não é barriga e sim minha camisa é que é de bolinha, estas camisas são feitas de encomenda (cito uma cidade) porque, quando escolhi estudar história me disseram que todo professor de história é barrigudo.(tudo isso dito de forma mais séria possível), ou dando uma de cego, trocando alunos por alunas ou fazendo que vou escrever na parede, quando lembro que estou sem óculos, digo que ele é bem fraquinho, apenas para descanso dos olhos, e por ai a fora, meus cabelos brancos se tornam luzes, que custaram muito caro, já que foram feitas fio por fio, algumas piadas oportunas são sempre bem vindas, para quebrar a monotonia de um assunto enfadante, pergunto se a turma sabe porque pessoas idosas tem a mania de chacoalhar a cabeça? Não sabem? Vou contar... (e ai em tom de segredo) é para ver se o cérebro pega no tranco. Então todo mundo chacoalhando a cabeça.
Trabalho muito com produção de textos, faço questão de ler um por um, comentando quando necessário, trechos ou idéias que percebo não estão indo ao encontro de meus objetivos, não considero para fins didáticos, capas bem feitas, letras bonitas ou coisas do gênero porem não deixo de citar por meio de anotações as coisas boas ou ruins que encontro nos trabalhos, incentivando desta forma um trabalho limpo, legível e agradável a leitura, ocasião em que não pouco comentários mesmo quando se trata de comentar alguma escultura feita com corretivo ou a transparência em trechos de palavras devido a borracha.
O aluno tem consciência de que estes erros menores não interfira nas suas notas porem como procuro destacar os trabalhos mais bem elaborados e seus criadores para toda a turma, acontece a prevalência da “cultura do mais” e o próprio aluno busca melhorar seus trabalhos. Por outro lado incentivo o uso de um estratagema desenvolvido por mim nos meus tempos de aluno, quando percebia ou suspeitava que meus professores não estavam lendo os trabalhos que fiz com tanto esforço e dedicação, pois ora tirava notas boas por trabalhos medíocres, ora tirava notas baixas por trabalhos impecáveis no meu julgamento: consistia em ao meio do texto acrescentar uma frase do tipo: para que eu saiba que leu, desenhe uma estrela no canto superior direito. Ou coisas do tipo, eu tinha a segurança de poder afirmar que o professor não tinha lido meu trabalho, e esta certeza no momento do confronto me dava tremenda satisfação, fiz algumas inimizades no meu tempo de escola e como dou esta dica para meus alunos, continuo fazendo inimizades entre meus colegas.

A prática mostrou-me que o desenvolvimento da empatia é essencial também para a relação professor/aluno. A quase cumplicidade que se desenvolve, quando nossos alunos procuram aconselhamentos sobre assuntos escolares e pessoais mostra o grau de degradação que as relações familiares estão passando, famílias “modernas” não tem tempo para seus integrantes e o professor acaba assumindo mesmo sem querer o papel de conselheiro, o aluno ou aluna muitas vezes vê no profissional da educação o amigo que gostaria de ter ou transfere inconscientemente para o professor o papel de pai ou mãe, fato que de certa forma explica a grande quantidade de alunos que se apaixonam literalmente por seus professores. È importante perceber que esta “paixão” na cabeça do aluno ou aluna não pode ser entendida como amor fraternal, para estes adolescentes este amor é quase carnal, acredito que isso se deva a idade pela qual os mesmos estão atravessando já que a maioria de nossos alunos são adolescentes ou pré adolescentes, então desta confusão de sentimentos temos que eles querem estar próximos, tocar e serem tocados, querem exclusividade, são ciumentos e estão passando por uma experiência que não entendem, pois o sentimento que quando muito deveria ser o mesmo que se nutre por um parente próximo é confundido com o sentimento que um adolescente normalmente teria por outro que se sentisse atraído, isso é uma situação perigosa e que requer muito tato na solução, cortar abruptamente a relação e correr o risco de “traumatizar” ou fazer de conta que nada está acontecendo e correr o risco de ser entendido como quem está aceitando e incentivando tal relação?
Pode ocorrer também que um aluno goste tanto de um professor que na sua mentalidade passe a considera-lo um pai, mas ele já tem pai, então este aluno estaria gostando de outro homem, como na maioria dos casos estes alunos não dispõem de maturidade suficiente para separar as coisas, correria o sério risco de se achar um homossexual, coisa que causaria tal descontrole emocional que o mesmo passaria a se tornar indisciplinado nas aulas deste professor para simplesmente negar esta possibilidade
As relações que se desenvolvem nas salas de aula, são complexas e pouco estudadas porem é seguro afirmar que um bom professor não se esquece.

Autor: Wolney Blosfeld


Artigos Relacionados


Dificuldades Na Aprendizagem Da Leitura

Psicologia E Educação

Sobre O Tutoramento Durante O Transporte Escolar

"meu Amor"

Os Dez Mandamentos Do Professor

O Chão

'o Trajeto Do Conhecimento: Uma Proposta De Interdependência Entre Professor E Aluno'