Investidores Institucionais: diversificação é inevitável
Maio de 2005
Existem razões para acreditar que a manutenção de algumas tendências já identificadas na economia brasileira deve demandar profunda revisão das políticas de investimento dos investidores institucionais, cuja execução oferece grandes desafios e oportunidades para seus administradores e participantes. A continuidade do crescimento dos recursos mobilizados por esses investidores e a execução das metas de redução da carga da dívida pública nos próximos anos, com a consequente queda da taxa de juros, implicarão significativa diversificação da carteira de investimentos dessas entidades.
De acordo com recente estudo realizado pelo RiskOffice ¹, o valor consolidado dos ativos de fundos de pensão, previdência aberta, fundos de investimento e companhias de seguros atingiu R$ 776,3 bilhões no final de 2004, ou 44,2% do PIB (Produto Interno Bruto), contra 24,9% em 1996. Mantida essa tendência de crescimento, esses recursos podem atingir mais de 57% do PIB em 2009. Admitindo que o PIB cresça 3,5% ao ano até 2009, o valor da carteira consolidada será de R$ 1,2 trilhão no final daquele ano (preços de dezembro de 2004), com acréscimo absoluto da ordem de 415 bilhões.
Em recente pronunciamento no Congresso, o secretário do Tesouro Nacional anunciou que a meta oficial é reduzir a relação entre dívida líquida do setor público sobre o PIB dos 51,8% observados ao término de 2004 para 40% em 2010. Admitindo que a dívida pública mobiliária se reduza com igual intensidade, ao final de 2009 seu valor será da ordem de R$ 786 bilhões.
Admitindo que no período de 2005 a 2009 esses investidores mantenham sua participação no estoque de títulos públicos, a proporção desses papéis em sua carteira cairá de 68% em 2004 para 43% em 2009, e a de outros ativos crescerá dos 32% atuais para 57%. Nesse cenário, essas instituições deverão investir cerca de R$ 431 bilhões em ativos gerados pelo setor privado no período de 2005 a 2009, ou seja, R$ 86 bilhões anuais, o que equivale a cerca de 20% da formação bruta de capital fixo projetada para esse período. Utilizando hipóteses semelhantes para os fundos de pensão, verifica-se que a proporção de ativos gerados pelo setor privado na sua carteira se elevaria dos 46,7% atuais para 66,2%.
Em contrapartida, nos últimos dois anos tem ocorrido grande avanço no ambiente regulatório do mercado de capitais, que tem ampliado consideravelmente o leque de alternativas de investimento. Com a criação de novos instrumentos financeiros, organização de mercados, maior proteção ao investidor e racionalização da tributação, o mercado de capitais oferece hoje uma extensa gama de opções de investimento, tais como os CR Is [Certificados de Recebíveis Imobiliários], FIDCs [Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios], FIPs [Fundos de Investimentos em Participações], vários títulos com base imobiliária, outros gerados no âmbito do agronegócio, além dos ativos a serem gerados pelas PPPs [Parcerias Público-Privadas]. Tudo indica que o desempenho do mercado de capitais em 2004 e no início de 2005, qualitativamente superior ao observado no passado, marca o início de um processo de crescimento de longo prazo do mercado de capitais brasileiro.
Configura-se assim uma nova realidade, em que, paralelamente à sua crescente importância na mobilização de recursos, os investidores institucionais se defrontam com profundas mudanças nos padrões e mecanismos de financiamento da economia brasileira. A redução do peso da dívida pública e a desintermediação financeira resultam no forte crescimento da participação dos instrumentos do mercado de capitais no financiamento do setor privado.
Apresentam-se assim novos desafios e oportunidades para esses investidores, cujo gerenciamento vai condicionar cada vez mais a qualidade de seu desempenho. O desafio é representado pela necessidade de conhecer em detalhe e avaliar corretamente as características de risco, retorno e liquidez das novas alternativas de investimento, algumas das quais ainda em processo de regulamentação final como é o caso das PPPs. A oportunidade é promover uma otimização de suas carteiras face aos seus objetivos de investimento, tarefa essa que será facilitada exatamente pela correta exploração das oportunidades de diversificação oferecidas pelos novos instrumentos financeiros.
1 Disponível no site www.riskoffice.com.br
* Carlos Antonio Rocca é doutor em economia pela FEA-USP, coordenador técnico do Comitê para o Desenvolvimento do Mercado de Capitais (fbmec) e sócio diretor da consultoria Risk Office. Rocca lambem foi secretário da Fazenda do Estado de São Paulo e membro do Conselho Monetário Nacional
Diretor da PR&A Financial Products Ltda.* desde 2008-07 (antiga Prandini, Rabbat & Associates, que fundou e foi diretor de 1997 a 2008-06), Marcelo Rabbat também é diretor da Risk Office Consultoria Financeira Ltda. desde 1999.
*A PR&A é uma consultoria de investimentos especializada em risco de crédito, risco de mercado, análise de fundos de investimento, análise de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), construção de softwares para mensuração de diversas modalidades de risco financeiro e de consultoria para a criação e aprimoramento das Áreas de Risco em empresas e bancos. Tem como diretores Marcelo Rabbat, Sérgio Malacrida e Ricardo Pires.
Autor: Agência Goodae
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