Voleibol, Mídia e Prática Pedagógica



Alcione Mafra

João Ricardo

Katya Simões

Leandro Souza

O esporte, inserido como prática pedagógica nas aulas de Educação física (EF) pode proporcionar aos alunos a interação social, o lazer, o prazer e fazer com que os alunos se sintam mais motivados a extrair lições daquilo que observa ou vivencia, tendo assim mais participação dentro da escola. Dentre todos os esportes trabalhados na escola, o voleibol não é só mais um esporte, ele apresenta consideráveis vantagens, pois através dele podemos melhorar as relações sociais em geral entre os alunos e desenvolver várias capacidades físicas dos alunos, como: coordenação motora e viso-motora, velocidade e agilidade. Mas o que observamos segundo nossa pesquisa é que o voleibol é pouco trabalhado nas escolas públicas, e quando acontece é apenas como recreação, ou seja, o jogar por jogar, não há um programa em que os alunos aprendam a jogar e ao mesmo tempo exercitem suas habilidades motoras, problematizando o esporte, isso ocorre com mais freqüência nas escolas particulares. Esta pesquisa objetivou estudar o voleibol em duas escolas, uma pública estadual, e a outra particular, situadas na cidade de Ananindeua. Com o intuito de analisar a prática do voleibol nestas duas instituições, verificando a utilização dos conteúdos e recursos do voleibol nas aulas de Educação Física e como a mídia pode influenciar nesta prática.

Inicialmente, pensamos ser necessário esclarecer a concepção do esporte voleibol, que orienta este artigo. Se por um lado, o voleibol é uma modalidade especifica e a mídia mostra isso como espetáculo de competição onde os melhores vencem, há a necessidade de uma mediação pedagógica para o ensino de seus elementos no contexto escolar (o otimismo crítico)[1]. Na concepção que aqui assumimos, o voleibol se mostra como uma possibilidade que permite a EF tratar pedagogicamente o esporte[2] a partir de uma compreensão crítico-emancipatório, sendo utilizado como um objeto de estudo do professor e, conseqüentemente, como tema importante a ser ensinado na EF escolar, sem desconsiderar seus elementos específicos, mas adicionando a este esporte um fundo crítico-social, onde nós possamos mostrar através dele ao contrario da mídia, que a competição não é essencial dentro da escola, mas sim a cooperação e a contribuição na formação do ser crítico. Segundo Assis (2005, p.36 e 97), para retraçar a gênese do esporte não interessa uma definição e sim uma compreensão explicativa, um enredo capaz de dizer, não só o que é, mas como foi, como está e o que pode vir a ser. E complementa: O caminho a perseguir é o de uma reinvenção do esporte, uma reorientação no seu sentido e significado, uma alteração no seu papel social.

De acordo com Dunning (1992 a) dentro da lógica da criação de tensões vale apena destacar o entendimento do autor sobre o desporto e a guerra. Para ele, ambos envolvem formas de conflito que se encontram entrelaçadas, pois "tanto um como o outro pode desencadear quer emoções de prazer quer de sofrimento e compreendem uma mistura complexa e variável de comportamento racional e irracional".

Betti (1991 p.54-56) argumenta que o ensino do esporte deve servir a usos diversos, considerando tanto o aprendizado para a prática, como a aprendizado para o consumo critico do fenômeno esportivo. [...] se admitimos a competição é porque lhe teremos reconhecido virtudes educativas.

O ponto crucial parece ser o acesso real e refletido à cultura corporal. Através da pratica efetiva das atividades, mas de uma prática capaz de aquisição e compreensão da expressividade da linguagem corporal, refletindo sobre o significado e os valores do mundo por ela representado e, também, construindo.

O primeiro passo é resgatar uma compreensão de que o esporte é produto do homem, ou seja, sua realidade e suas possibilidades estão inseridas na aventura humana, diferentemente de um entendimento que o coloca como algo natural e, contraditoriamente, estranho ao homem.

Trabalhar o voleibol escolar, nos moldes da esportivização Soares (2003), da competição, do procedimento eficaz, centrado apenas no que mostra a mídia, esquecida dos fins a que a educação se destina. Significa incentivar a exclusão social, colocando apenas os mais aptos na pratica do esporte, negando alguns dos principais valores como éticos, morais e sociais propostos pela escola. Será que a escola tornou-se um ambiente que também promove a competição valorizando somente aqueles que se sobressaem? No cotidiano, geralmente não podemos evitar a competição, mas no ambiente escolar, é possível trabalhar de maneira conjunta através do voleibol, buscando beneficio a uma coletividade a partir da soma de forças (cooperação).

Algum debate da nossa área se dá através da contraposição entre esporte na escola e o esporte da escola. Enquanto o primeiro estaria a serviço da instituição esportiva, o segundo estaria a serviço da instituição educacional ou de valores educativos. É de se registrar, porem, se não basta pensar numa pratica esportiva com valores educativos para absolvê-la de qualquer crítica. Para Freitag (1984, p. 15), educação "[...] sempre expressa uma doutrina pedagógica, a qual implícita ou explicitamente se baseia em uma filosofia de vida, concepção de homem e sociedade".

É preciso, então, reconhecer que o esporte na escola também educa. O próprio Bracht (1986), um dos pioneiros na apresentação da tal contraposição, em dois trechos distintos de um mesmo artigo, apresenta as seguintes considerações:

Precisamos entender que atitudes, normas e valores que o individuo assume através do processo de socialização e através do esporte estão relacionados com sistemas de significados e valores mais amplos, que se estendem para alem da situação imediata do esporte.

Assim, como vimos realmente o esporte educa. Mas, educação aqui significa levar o individuo a internalizar valores, normas de comportamento, que lhe possibilitarão se adaptar à sociedade capitalista.

Em nossa, entrevista percebemos que o voleibol é trabalhado na escola particular, de forma a gerar atletas, primeiramente na perspectiva da aptidão física, pois formando estes atletas, eles levaram o nome da instituição para a mídia, e quanto mais campeonatos a instituição conquistar mais alunos adentram na mesma pelo reconhecimento que a mídia proporciona para a instituição, ou seja, uma visão completamente capitalista. Por esse motivo esta escola dispõe de uma ótima estrutura física e materiais adequados para as aulas de educação física e pratica do esporte. Diferentemente da estrutura da escola particular, na escola pública percebemos que o professor não consegue seguir um planejamento adequado devido a uma série de fatores como materiais didáticos, estrutura física, apoio da gestão e do corpo docente, e a visão dos próprios alunos com relação às aulas de Ed. Física (recreação), onde acontece também que o aluno às vezes não se alimentou adequadamente ou até mesmo nem almoçou antes de ir para a aula, dentre outros exemplos semelhantes, ou seja, muitas das vezes o professor quer trabalhar o senso critico do seu aluno mas encontra diversas barreiras.

Na disciplina Ed física, o conteúdo voleibol é compreendido e inserido na perspectiva da cultura corporal de movimento, que trabalha de forma inclusiva, pois todos os alunos tem direito há vivenciar o movimento, seja ele de qualquer natureza, sem necessitar de perfeição ou qualquer aptidão física. Movimentos estes que devem ser trabalhado de forma rústica possibilitando que qualquer faixa etária execute o mesmo; neste caso o professor é o facilitador, mediador desse movimento que deverá promover ao aluno sua formação.

É preciso desmistificar o esporte com a oferta do conhecimento que permita criticá-lo dentro de um determinado contexto socioeconômico-político-cultural, promovendo a compreensão de que a pratica esportiva deve ter o sentido/significado de valores e morais que assegurem o direito à prática do esporte como bem social (Coletivo de Autores, 1992, p. 71).

Portanto para que o voleibol seja aplicado de forma pedagógica como conteúdo nas aulas de Ed Física, deve-se enfatizá-lo nas aulas de forma crítico-social com o objetivo de passar ao aluno o conhecimento de sociedade e não apenas para condicioná-lo. Podendo ser um instrumento educativo e de socialização, utilizando o seu aprendizado não somente dentro da escola, mas também no seu cotidiano, estabelecendo também relação com as outras disciplinas.

REFERÊNCIAS:

ASSIS DE OLIVEIRA, Sávio. Reinventando o esporte: possibilidades da pratica pedagógica/ Sávio Assis de Oliveira. -2.ed.-Campinas, SP: Autores associados, chancela editorial CBCE,2005.-(Coleção educação física e esportes).

BRACHT, Valter (1986). "A criança que pratica esporte respeita as regras do jogo... capitalista". Revista Brasileira de Ciências do Esporte, São Paulo, vol. 7, n.2, PP.62-68, jan.

BETTI, Mauro (1991). Educação física e sociedade. SP: movimento.

BRACHT, Valter (1989c). Esporte e poder. Trabalho apresentado ao 6° Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte, Brasília, 5 a 9 set.

CAMPOS, Luiz Antonio Silva. Voleibol "da" escola. Jundiaí (SP): Fontoura editora, 2006

COLETIVO DE AUTORES (1992), Metodologia do ensino de educação física. São Paulo: Cortez.

DUNNING, Eric(1992 a) "Prefácio". In: Elias, Norbert & Dunning, Eric. A busca da excitação. Lisboa: Difel, p. 11-37.

FREITAG, Bárbara (1984). Escola, estado e sociedade. 5. Ed. São Paulo: Moraes.

KUNZ, Elenor (1988). "A educação física: mudanças e concepções". Revista Brasileira de Ciências do Esporte, São Paulo. Vol. 10, n.1, p. 28-32, set.

SAVIANI, Dermeral (1993ª). Educação: do senso comum à consciência filosófica.11. Ed. Campinas: Autores associados.

RICHTER, Ana Cristina (2009). "Dos lugares do esporte nas aulas de Ed. Física: algumas possibilidades de intervenção pedagógica". Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Salvador. N.1, p.43-55, set.

 



Autor: Leandro Souza


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