EDUCAÇÃO E LIBERDADE: o processo de ressocialização a partir da ação educativa



EDUCAÇÃO E LIBERDADE: O processo de ressocialização a partir da ação educativa

*Helison Cleiton dos Santos Ferreira

 

Introdução

 

       Durante muito tempo ouvimos falar que a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA) contribui para a educação de cidadãos que por motivos pessoais, financeiros e sociais não concluíram o ensino médio ou nem chegaram a realizar esse curso. Sensível a esta situação esta instituição desenvolve um trabalho educativo (PROEDUC/PJPS) no presídio Juiz Plácido de Souza que tem como finalidade ajudar, junto com alunos e alunas, os presos a terminarem o ensino médio, através das aulas do supletivo ministradas pelos alunos da FAFICA.

     O trabalho é desenvolvido semanalmente, especificamente aos sábados. Essa contribuição dos professores e coordenadoras faz com que a relação interpessoal entre presos e sociedade supere tabus. E muitos se perguntam: os presos são interessados? São quietos? Assistem às aulas? Ao discutir essas questões e tantas outras que norteiam a curiosidade das pessoas, este trabalho tentará refletir sobre a docência numa instituição prisional, mostrando resultados, pesquisas, relatos de professores e a própria experiência de campo com os detentos.

     Com a oportunidade de inserção no espaço prisional, percebemos que esse trabalho possibilita tanto aos pesquisadores (alunos mestres) como aos pesquisados (detentos) repensarem a sua prática e reforçarem a responsabilidade que ambos têm em relação ao seu desenvolvimento pessoal e profissional.

 

Referencial Teórico

     Neste início de trabalho, tentaremos destacar os fatores que levam os presos a assistir as aulas no presídio Juiz Plácido de Souza e mostrar a importância da educação nesse processo de ressocialização e de convivência entre eles, que muitas vezes se depara com realidades de difícil enfrentamento. Os detentos se frustram por não poder fazer parte da “sociedade” trabalhadora livre e por serem descriminados e rejeitados até mesmo pela família que é um grupo muito importante nesse processo. Já dizia Paulo Freire que faz parte do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. (Paulo Freire, 1996)

     Sabemos que na sociedade capitalista em que hoje nos encontramos, muitas pessoas não buscam entender o que os presos sofrem e sofreram, ou o que aconteceu para que eles chegassem até a penitenciária. O importante mesmo é lucrar e nessa cobiça, a sociedade esquece de que na prisão existem pessoas que vivem, que choram, riem, trabalham e pensam. É preciso que tanto os presos como a sociedade enxerguem que a melhor solução é fazer dessa relação de entendimentos um princípio adotado a priori. É importante que haja simplicidade e diálogo entre professores e presos para que o entendimento aconteça entre esses sujeitos, pois a dialética é a maneira de evitar a realidade aleatória. (Foucault, 2005)

     Um dos debates nas aulas de História no presídio, sobre a sociedade, mostra-nos o quanto é importante o trabalho dos professores em sala, pois os presos sentem de perto que a oportunidade está dada e que a escolha de vencer na vida é, sobretudo, deles. No início das aulas, percebemos que o interesse pelas aulas nos parece ser apenas por causa da diminuição da pena, pois, a cada aula assistida, ganham um dia de diminuição na pena. Mas no decorrer das aulas percebemos que a concepção de ensino e aprendizagem vai mudando e o principal motivo de estarem assistindo aulas é a vontade de querer aprender e querer ser outra pessoa, em sua liberdade tão almejada e deixar de ser “a engrenagem que move essa máquina que é a sociedade”, como falou um dos alunos/detentos.

     Quando os alunos-detentos que querem aprender, tanto os professores e coordenadoras se sentem gratificados pela realização deste trabalho, pois a cada aula, os detentos mostram que, apesar das dificuldades que eles têm no interior da penitenciária, como o controle de horários, de limpeza, de dormir, o tipo de alimentação, a liberdade que é suprimida, eles não têm tempo de pensar em bobagens, (Foucault, 2004). Temos observado que os presidiários estão progredindo quando se trata de desenvolvimento intelectual e que as aulas facilitam um bom relacionamento com os alunos-mestres. Nessa relação é importante mostrar a eles que a sociedade, estigmatizadora como eles chamam, não é tão mal quanto parece. Que os professores, filhos e esposas, podem ajudar no processo de ressocialização, mas são eles que precisam querer mudar sua realidade.

 

 

Metodologia

     Nesse ensaio sobre a relação professor/preso e vice-versa, consideramos as entrevistas feitas com os alunos mestres que lecionam no supletivo do presídio, com os presidiários nos intervalos das aulas de História, com os coordenadores(a) que lá atuam e, principalmente a experiência de campo no presídio.

     Esses conjuntos de dados são referentes à discriminação e aos preconceitos. Na primeira parte da pesquisa, observarmos como os presos pensavam sobre a sociedade e como se dava essa relação sabendo que o professor fazia parte dessa sociedade afastada temporariamente.

     Na segunda parte da pesquisa, fizemos entrevistas com alguns professores tentando encontrar pontos positivos e negativos de sua ação junto aos detentos.

     A sociedade vê os presos de forma reduzida, pelo simples fato de estarem em uma localidade com um símbolo (prisão). Daí surgem preconceitos e discriminações, sabendo que muitas vezes a sociedade é a que mais é presa e contida do que os próprios detentos. Já os presos vêem a sociedade como devoradora de oportunidades, que estigmatiza e generaliza toda e qualquer situação.

 

Resultados

     Pudemos observar que as relações objetivas e subjetivas dos indivíduos estudados não passam de deduções e falta de conhecimento. Os documentos, revistas, livros, sites e entrevistas favoreceram para que no final deste trabalho pudéssemos enxergar à luz da experiência um resultado gratificante.

     Fatores como a falta de emprego, de humanismo e solidariedade por parte dos presos e da sociedade que juntos geram a violência, sem perceberem que o maior causador são eles mesmos.

 

 

Considerações Finais

     Nas primeiras pesquisas no presídio, a expectativa era que o motivo principal que gerava esse descontentamento e revolta social e prisional eram o medo e a ignorância.   Mas no decorrer deste estudo, fomos percebendo a falta de humanismo entre sociedade e detentos, ocasionando esses sentimentos que de alguma forma gera violência moral, física e psíquica. Talvez os problemas econômicos e sociais sendo resolvidos, conseqüentemente serão resolvidos a violência. (Beato, C.C.)

     Não se entende como esses indivíduos não compreendem que a finalidade de viver é ser feliz e que no mais são conseqüências e relatividades. Que o mundo precisa de pessoas que se ajudem e olhem o próximo – como o Senhor fala – com um olhar de irmão e não de inimigo.

     Podemos dizer até que um dia essa relação humanística terá um fim próspero e não tão longe assim, podendo assim, quando os nossos netos e bisnetos chegarem ao mundo possam desfrutar da beleza e da magia que é a felicidade e a paz.

 

 

 

Agradecimentos

A Deus.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

 

BEATO, C.C.F; Reis, I. F. Desigualdade, Desenvolvimento socioeconômico e Crime: www.crisp.ufmg.br/desigualdade.pdf

 

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. Petrópolis: Vozes, 1987.

 

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 2007.

 

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à Prática Educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

 

ALVES, Rubem. Conversas Com Quem Gosta de Ensinar. Cortez, São Paulo, 1980.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Autor: Helison Cleiton dos S. Ferreira


Artigos Relacionados


A Raposa E A Ovelha

A Formiga E O Elefante

Saudade

Mensagem De Papai Noel Aos Pais E Av�s

Lbv Em Po�os De Caldas Realiza Entrega De Certificados Dos Cursos De Inform�tica E Maquiagem

Guerreiro Das Sete Faces

Entre Todas As Certezas