Fracasso Escolar



Fracasso Escolar

Este artigo apresenta as explicações do fracasso escolar baseados na teoria do difícil de diferença cultural que precisam ser revistas a partir do conhecimento dos mecanismos escolares produtores de dificuldades de aprendizagem. A evasão e repetência na escola pública, principalmente  nos primeiros anos, não é novidade para os educadores brasileiros. A coexistência de altos índices de reprovação   e    abandono escolar e inúmeros estudos e pesquisas sobre o tema levou Maria Helena Souza Patto,      na primeira parte de seu livro; A produção do fracasso escolar, (Ed. T. A. Queiroz), a fazer um balanço da produção especializada, do inicio do século até os nossos dias. Antes de começar uma releitura dos textos acadêmicos ou governamentais publicados no Brasil, a autora faz uma retrospectiva desde o século XVIII com a intenção de criar um quadro de referências histórico e sociológico para uma reflexão a respeito da natureza das concepções dominantes sobre o fracasso escolar em uma sociedade de classes. Desta forma, o leitor vai desvendando o caminho da hegemonia do pensamento liberal e de ascensão da burguesia.  Explicar, então, as desigualdades de uma sociedade com modo de produção capitalista tornou-se o objetivo de ciências nascentes, como a sociologia e psicologia. Porém, frutos de uma mesma época, tais ciência estavam impregnadas pela mesma ideologia que, apesar da intenção de reverter à situação distante dos ideais da Revolução Francesa, elas serviram para reforçar. Exaustivamente, Maria Helena apresenta os mecanismos e teorias que vão se sucedendo para explicar e produzir o fracasso da população de baixa renda na escola. Nascida de um ramo da medicina, a psicologia cria desde a teoria da hereditariedade da inteligência – onde negra e pobre são inferiores – até difícil ou carência cultural que impedem o aluno diferente, dos da classe privilegiada, de competir ou desenvolver-se em pé de igualdade. A autora dedica grande parte de sua análise à preocupação de se conferir o mais cedo possível as diferenças de habilidades e aptidões entre o conjunto de alunos, independente de sua origem, como se esta justificasse a desigualdade de oportunidade e do caráter seletivo da escola em uma sociedade de classe. A escola vai se pautando por essas teorias. No discurso, persegue o ideal de uma educação igualitária. Mas, ora depositada no aluno a responsabilidade do seu fracasso, ora assume sua própria inadequação, mas quase sempre atribui suas dificuldades a fatores externos. Seguindo a revisão feita pela autora, onde os textos presentes nas revistas brasileiras de Estudos Pedagógicos têm um lugar de destaque, é possível ter uma visão panorâmica e histórica da construção do conhecimento pedagógico no Brasil e de como esse conhecimento norteou a prática e a organização do sistema de ensino. Do manifesto dos pioneiros, nos anos 30, passando pelo tecnicismo dos anos 70 e as teorias crítico- reprodutivas da última década, a marca indelével do pensamento escolar é preconceito e a crença na inferioridade intelectual das classes subalternas. A autora identifica na produção do fracasso convivendo com outras que buscam demonstrar as deficiências cognitivas da criança pobre  uma espécie de confirmação cientifica do preconceito de classes. Para que erros do passado não continuem a se repetir, segundo ela, é fundamental reexaminar a questão do método, dado que a produção cientifica na área mostra dificuldades e impasses metodológicos. Como referencial teórico-metodológico, a autora se baseia nas idéias da pensadora marxista húngara Agnes Heller. Partindo de uma contradição do pensamento de Marx, Heller coloca no centro de suas reflexões a temática do individuo, voltado para as atividades de sua sobrevivência – o individuo da vida cotidiana é, dialeticamente, o lugar de dominação ou da revolução, daí a importância de se analisar os centros moleculares de poder e promover a tomada de consciência da própria alienação e de sua superação.


Autor: Jâmita Teles Rocha


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