VENDE-SE FORÇA DE TRABALHO



VENDE-SE FORÇA DE TRABALHO

 

Amália Raquel Ribeiro de Sousa¹

 

 

 

 

 

 

1          INTRODUÇÃO

 

 

 

             O presente artigo aborda a categoria trabalho e suas derivações, a partir das concepções marxianas, contribuindo para a compreensão da unidade contraditória que considera o trabalho do assistente social como significado de valor social e concomitantemente, agregador de trabalho alienado.

            No que se refere as considerações finais, considerou-se que a construção de uma relativa autonomia do assistente social, subsidiada por estatutos legais , além de uma formação  acadêmica crítica e da adoção de um projeto ético-político para a profissão possibilitará o repensar de uma nova direção social para o exercício profissional.

 

 

2          MARX EXPLICA

 

 

            A categoria trabalho é concebida por Marx como uma atividade existencial humana, isto é, necessária para produção da vida material e sua continuidade. Neste sentido, a satisfação material das necessidades sociais é obtida a partir de um processo de interação que coloca o homem em relação de igualdade perante a natureza. Segundo Marx (1989):

 

...o trabalho é um processo entre homem e a natureza, um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza...

 

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1 Acadêmica de Serviço Social da Universidade Federal do Maranhão

           

            Esta relação dual não caracteriza uma relação de dominação, visto que a ação humana será sobre a relação material, assim, nem o homem supera a

natureza nem a natureza ao homem. Pelo contrário, existe uma relação entre ambos no processo de trabalho, no qual o homem se naturaliza e, ao mesmo tempo, humaniza a natureza.

            O trabalho se difere das atividades naturais, pois se especifica por uma relação objetiva entre o seu sujeito e o seu objeto, mediado por uma ação teleológica e instrumental, visando finalidades. Assim,

 

No processo de trabalho a atividade do homem efetua, portanto, mediante o meio de trabalho, uma transformação do objeto de trabalho, pretendida desde o princípio. O processo extingue-se no produto. Seu produto é um valor de uso; uma matéria natural adaptada as necessidades humanas mediante transformação da forma. O trabalho se uniu com seu objetivo. O trabalho está objetivado e o objeto trabalhado( MARX, 1989).

 

 

            Essa forma específica de trabalho, é de fato, resultado do processo de trabalho elementar; em outras palavras, o produto e o usufruto do trabalho aparecem sob a forma concreta, que expressa a relação homem- natureza. O trabalho é assim, útil e concreto, uma condição natural de existência humana, sendo comum e presente em todas as formas sociais.Porém, com o avanço das forças produtivas e sob compulsão do homem na criação e satisfação de novas necessidades, o trabalho passa de atividade sensível para um consumo de força produtiva direcionada à produção de valores de troca garantida pelo trabalho que assume a forma de trabalho abstrato. Como define Marx:

 

...mas como valores de troca representam trabalho igual não diferenciado, isto é, trabalho no qual se apaga a individualidade dos trabalhadores. O trabalho criador do valor de troca é, pois, o trabalho geral abstrato.

 

            O trabalho abstrato produz não somente valor, mas mais-valia, e esta mais-valia se acumula como capital, através da exploração constante do trabalho abstrato (ou assalariado).

            Marx também acrescenta que “o operário vende não é diretamente o seu trabalho, mas a sua força de trabalho, cedendo temporariamente ao capitalista o direito de dispor dela”. Neste sentido, a força de trabalho é uma mercadoria, pois encerra seu duplo caráter do trabalho, isto é, nela está contido tanto o trabalho concreto como o abstrato.

            Portanto, a partir das noções elementares da teoria marxiana acerca da concepção de trabalho, é compreensível considerar que a força de trabalho do assistente social também contém contradições características de toda mercadoria entre trabalho útil e trabalho abstrato, dimensões indissociáveis para se pensar o trabalho na sociabilidade capitalista. Assim, o assistente social ao ingressar no mercado de trabalho, vende sua força de trabalho como mercadoria que tem um valor de uso, porque responde a uma necessidade social e um valor de troca expresso em salário.

 

 

3          VENDE-SE FORÇA DE TRABALHO

           

           

            O Serviço Social é uma das especializações do trabalho, inserida na divisão social e técnica do trabalho coletivo, bem como na totalidade das relações sociais, por isso é historicamente determinado pelas relações entre as classes em confronto na sociedade capitalista.

             A sua intervenção profissional desenvolve-se nas organizações estatais, empresariais e filantrópicas e em atividades assistenciais através da execução direta de serviços sociais. Neste sentido, o significado social do trabalho profissional do assistente social depende das relações que estabelece com os sujeitos sociais que o contratam. Assim, o assistente social, ao ser inserido nesta divisão social e técnica, como vendedor de sua força de trabalho (mercantilizada), tem que atender as demandas constituídas pelas instituições as quais está vinculado, e é isso que marca o seu perfil de assalariado, um pressuposto que contribui para aflorar a consciência de classe trabalhadora (ou não).

            Nesse processo, o Assistente Social encontra-se submetido aos ditames de seus empregadores, aos parâmetros que permeiam as relações de trabalho, acarretando assim, uma diminuição da autonomia em seu exercício profissional, porém, não a extinguindo totalmente, pois esta se legitima através da construção histórica de estatutos legais e éticos que regulam o exercício profissional.

            Neste sentido, as demandas profissionais que chegam ao Serviço Social se metamorfoseiam, e passam a ser entendidas com canais de legitimidade das demandas sociais, mas que expressam fundamentalmente as necessidades do capital. Os empregadores definem as necessidades sociais que o trabalho do assistente social deve responder, bem como distinguem suas funções e atribuições, além de interferir na operacionalização de sua prática. Afinal, trata-se de uma mercantilização da força de trabalho qualificada: o empregador paga e exige, o empregado trabalha, produz e recebe, participando na produção e distribuição da mais-valia socialmente produzida.

           

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

                       

            A possibilidade de imprimir uma nova direção social ao exercício profissional do assistente social decorre da relativa autonomia, fruto de uma construção história alcançada por esta categoria, de que dispõe, subsidiada pela legislação profissional. Bem como, legitimada por uma formação acadêmica crítica, pela formulação de um Código de ética e principalmente, por um projeto ético-político com vistas em um novo projeto profissional e societário.

            Ao analisar a profissão, faz-se necessário articular o projeto profissional, historicamente legitimado, e o trabalho assalariado. Neste sentido, retomemos que apesar de estar inserido em uma dimensão abstrata, o trabalho do assistente social é útil, concreto, possuidor de dimensões ontológicas e teleológicas, constituindo-se a materialização da práxis, reflexiva e interventiva na realidade social.

            Tratando-se, portanto de trabalho com valor de uso social, subsidiado por um conhecimento teórico, técnico e metodológico, por valores ético-políticos a fim de participar da construção de espaços democráticos, onde a classe subalterna e trabalhadora tenha seus direitos universais respeitados, bem com atuar na construção de um projeto societário contra-hegemônico, onde os trabalhadores despertem a consciência de classe, e que o próprio assistente social se perceba como classe trabalhadora alienada.

           

           

           

 

 

 

 

 

 

 

           

           

           

                       

           

           

           

           

           

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

REFERÊNCIAS

 

 

 

Disponível em : <http://www.klepsidra.net/klepsidra8/marx.html> Acesso em: 10/11/ 2008.

           

 

IAMAMOTO, Marilda Villela. Serviço social em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. São Paulo: Cortez, 2007.

 

 

 

MARX, Karl. O capital – crítica da economia política. Livro I, v. 1. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.  

 


Autor: AMÁLIA RAQUEL


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