Nos Dédalos Da Memória



AGRADECIMENTOS

Esta compilação díspar de textos que se remetem – direta, alusiva ou indiretamente – a um mesmo tema genérico, que agora publicamos para que possa servir a todos aqueles que, suprindo as suas deficiências, possam utiliza-los em pesquisas afins, tinha inicialmente a pretensão de se constituir em dissertação de mestrado em História da Arte da Cultura, da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

A pesquisa teve início quando ainda aluno da graduação, bacharelado e licenciatura em História, no ano de 1986. Nos anos seguintes, esta pesquisa despretensiosa, realizada então sem qualquer profundidade, apenas com finalidade lúdica e “formativa”, transformou-se em projeto que foi exposto à banca que julgou os candidatos interessados em ingressar na primeira turma do mestrado em História da Arte e da Cultura da UNICAMP. Este projeto, aceito então pela banca, com poucas alterações, é hoje a introdução deste trabalho.

Agradeço à banca que me aprovou para cursar o mestrado e aos professores que, com dedicação e profissionalismo, cumpriram a sua tarefa de consolidar este curso.

Enquanto aluno regularmente matriculado no referido mestrado, recebi apoio do CNPq (do qual recebi, por dois anos, bolsa de estudos) e da CAPES (que financiou minha viagem à Itália, na forma de passagem ida e volta pela VARIG, em julho de 1990). Aos dois órgãos, o CNPq e a CAPES meus sinceros agradecimentos. As duas entidades não devem ser responsabilizadas por eventuais falhas ou resultados duvidosos que possam ser localizados neste trabalho.

Também não devem ser responsabilizados, sequer por “omissão”, os dois excelentes orientadores que tive no período durante o qual estive regularmente matriculado. Foi até mesmo pelo zelo excessivo de um deles, aliado à necessidade intrínseca e imperiosa de minha parte de buscar realização pessoal, que abandonei o mestrado – com a dissertação já praticamente concluída – em 1991.

Agradeço a minha mãe, Ignez App. Picchi Cappellano, que acreditou em meu trabalho, mesmo após eu ter deixado o mestrado e a minha irmã, Ana Flavia Cappellano Kaminski, que organizou meus rascunhos manuscritos e datilografados. Foi graças ao seu apoio e incentivo que não  desisti de tentar ao menos uma publicação.

Agradeço também à amiga Mayra Laudanna, professora do IEB da USP, pela seu precioso auxílio durante a fase de pesquisa e também pelo carinho, apoio e incentivo durante os episódios que culminaram com a minha saída do mestrado.

Abandonado o mestrado, requeri um certificado de aperfeiçoamento e este trabalho permaneceu absolutamente inédito, até o presente momento.

Agradeço, finalmente, à Editora _________ pela possibilidade da publicação.

ÍNDICE:

INTRODUÇÃO........................................................................................................... 3

         NOTAS DA INTRODUÇÃO..................................................................................... 6

 

BIOGRAFIAS REMISSIVAS DE LUIGI BRIZZOLARA E NICOLA ROLLO 7

NOTAS DAS BIOGRAFIAS.................................................................................... 11

 

CAPÍTULO   1   –   A CIDADE DE SÃO PAULO NA ÉPOCA.......................... 12

NOTAS DO CAPÍTULO 1...................................................................................... 24

 

CAPÍTULO 2 – A INSERÇÃO DOS ARTISTAS ITALIANOS NESTE    CONTEXTO...................................................................................................................... 25

NOTAS DO CAPÍTULO 2...................................................................................... 36

 

CAPÍTULO 3 – PANORAMA DA ESCULTURA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO...........................................................................................................................  37

NOTAS DO CAPÍTULO 3......................................................................................  42

 

CAPÍTULO 4 – UMA PONTE SOBRE O TIBRE...............................................  43

NOTAS DO CAPÍTULO 4......................................................................................  48

 

CAPÍTULO 5 – A PRODUÇÃO ESCULTÓRICA DE LUIGI BRIZZOLARA E NICOLA ROLLO.............................................................................................................  49

NOTAS DO CAPÍTULO 5...................................................................................... 86

 

CONCLUSÃO.......................................................................................................... 87

BIBLIOGRAFIA GERAL...................................................................................... 89

BIBLIOGRAFIA ESPECÍFICA............................................................................ 89

BIBLIOGRAFIA CAPÍTULO 1............................................................................ 89

BIBLIOGRAFIA CAPÍTULO 2............................................................................ 89

BIBLIOGRAFIA CAPÍTULO 5............................................................................ 90

BIBLIOGRAFIA PSICOLOGIA DA ARTE........................................................ 90

BIBLIOGRAFIA – LITERATURA....................................................................... 90

 

INTRODUÇÃO

A efervescência urbana da cidade de São Paulo sacrificou, em favor da agilização e fluidez crescente das massas humanas, grande parte do prazer lúdico que existia em adornar artisticamente e contemplar os monumentos e os passeios públicos.

Com a necessidade de deslocar, cada vez mais rapidamente, grandes contingentes humanos, há um esquecimento e uma degradação dos espaços públicos, anteriormente dedicados ao lazer. A cidade esqueceu os seus monumentos e a prática do olhar tornou-se elitizada na mesma proporção em que o aproveitamento funcional de áreas anteriormente destinadas ao lazer tornou-se prática constante.

A arte vai, cada vez mais, sendo reservada aos espaços particulares, aos interiores. Apenas uma pequena parcela da população passa a deter o estatuto da legitimação cultural do objeto artístico, garantindo a si própria o exercício do olhar. 

Nos espaços públicos, onde a degenerescência e o esquecimento condenam a arte ao abandono, existe uma vasta produção artística que tem sido relegada ao ostracismo, mesmo pelos estudiosos da arte brasileira. É o abandono desta arte enquanto objeto de pesquisa que faz com que estes monumentos sejam considerados “irrelevantes culturalmente”, tratados ligeiramente como “arte periférica” e lançados à própria sorte. Então, transformados num amontoado de ruínas, são removidos “cirurgicamente”, tal como uma pústula, para um esquecimento indolor e definitivo.

Muitas vezes existe um momento crítico, um dado instante em que algo pode ser feito, no qual se decidem os destinos destes monumentos. É este momento crucial, o derradeiro instante que precede àquele no qual a degradação e o descaso acabam por triunfar sobre o objeto artístico, que algum trabalho de resgate e conscientização ainda pode ser feito.

Minha pretensão inicial é exatamente esta: recuperar para a nossa memória cultural a vida e a obra dos escultores Nicola Rollo (Bari, 1889 – São Paulo, 1970) e Luigi Brizzolara (Chiavari, 1868 – Gênova, 1937). Obra esta que é bastante representativa, enquanto exemplos de uma inserção muito particular no caminho da modernidade (cada um dos escultores conservando uma posição totalmente distinta, bem como soluções individualizadas em cada um dos casos), engendradora da São Paulo industrial, a metrópole moderna que conhecemos, e também como exemplo ilustrativo da formação de uma dada “identidade cultural”, que é própria do paulista e, mais especificamente, do paulistano do século XX. Esta “identidade cultural” se forma à partir da fusão da tradição local às inovações trazidas da Europa.

São estes os dois enigmas, que precisam ser procurados nos dédalos da memória. Estes escultores, injustiçados pela História e pela memória das gerações posteriores, estão jogados no limbo do esquecimento e a sua obra degrada-se, quase irreversivelmente, dia-a-dia.

Pretendi resgatar estas obras esculturais, enquanto objetos artísticos historicamente produzidos; ou seja, vinculados a um determinado contexto cultural, e também à vida dos dois escultores. Em outras palavras: a recuperação destas obras é tanto a recuperação do espaço urbano no qual elas estão inseridas, a recuperação de uma dada mentalidade de época, de um certo olhar, e a redescoberta da biografia e da personalidade dos dois escultores. Trata-se de uma contextualização o mais global possível destas obras, caracterizando-as enquanto objeto artístico e artefato cultural de uma época determinada.

Este exercício conjugado de história e arte visa recuperar a significação cultural primeira destes objetos artísticos. Não procurei recuperar apenas o seu efeito sensorial inicial, enquanto artefato cultural investido de um certo apelo aos sentidos (que visa impressionar favoravelmente a retina), mas também o seu efeito semântico inicial: o que significava para o paulistano da época, e o que significa para o paulistano de hoje, o encontro furtivo e casual com estas peças esculturais; bem como, se possível, o que significaram para o próprio artista, quando do momento da criação.

Para conseguir uma conclusão favorável ao meu intento, utilizei-me de diversos métodos e técnicas de pesquisa. À observação direta e fotografia acresci extenso rastreamento bibliográfico, condição “si-ne-qua-non” para adquirir maior familiaridade com a arte da escultura. A bibliografia existente, ainda que não esteja relacionada à obra dos dois escultores, prestou-se a prover um maior embasamento teórico, bem como familiaridade com a escultura em geral.

Realizei um criterioso levantamento, visando a situar convenientemente os dois escultores. Como se tratam de obras públicas, oriundas de concursos ou contratações diretas, os arquivos competentes – da Prefeitura Municipal de São Paulo e de suas Secretarias – deveriam conter informações relevantes, bem como plantas, maquetes, esboços, ou coisa que o valha.

Pesquisando junto ao DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO (em 1986), situado à Rua da FIGUEIRA Nº 77, São Paulo – SP, encontrei apenas algumas informações e fotografias referentes ao Monumento a Carlos Gomes, implantado por Luigi Brizzolara,  ao lado do Teatro Municipal de São Paulo, mediante encomenda da colônia italiana , em 07/09/1922.¹

Como pode ser comprovado, este monumento – “o mais belo que hoje existe entre nós em matéria de escultura”, conforme afirmou Monteiro Lobato² - foi fundido em bronze (com exceção das alegorias de mármore) na oficina de Camiani e Guastini, em Pistóia. Logo, num esforço de reunir reminiscências destas obras, um contato direto com a produção italiana da mesma época foi bastante frutuoso.

Luigi Brizzolara e Nicola Rollo são, sucessivamente, o segundo e o terceiro colocados no grande concurso para o Monumento á Independência, realizado em 1922. O referido concurso foi amplamente noticiado pela imprensa, alcançando imensa repercussão. Uma pesquisa em arquivos, abrangendo tanto os jornais quanto os periódicos, subsidiou grande parte do trabalho de pesquisa.

 

A obra de Rollo, que é extremamente enigmática, apresentando uma simplificação crescente que vai da mímesis e do estudo anatômico exaustivo, na década de 1920, a uma grande linearidade, gestual e expressiva, no decurso das décadas subsequentes. Associamos esta simplificação crescente à biografia do artista: “playboy” inveterado (gostava das altas velocidades, de pilotar motocicletas usando paletó de couro e de montar à cavalo), Rollo tinha também aspirações a “físico-experimental”, tendo construído e demonstrado um moto-perpétuo³, e a metafísico, “de inabalável fé na transcendência da vida”(sic.)­­ 4­ .

Este humanista inveterado, com ares de “Leonardo da Vinci do século XX”, produziu toda a sua obra no Brasil. É um exemplo inequivocável do tipo de cultura que a imigração italiana pode produzir na cidade de São Paulo, fecundada que foi pelo gérmen da latinidade peninsular. Vicente Di Grado, Teresa D’Amico, Alfredo Oliani, Figueira e Raphael Galvez foram alguns dos alunos de Nicola Rollo e que estabeleceram a sua sucessão escultórica, podendo – os sobreviventes – dar testemunho vivo sobre o homem e o escultor Nicola Rollo.

Minha intenção, a partir de todo o material coletado, foi particularizar a obra dos dois escultores; tanto a produção “universal” de um “cidadão do mundo”, como foi Luigi Brizzolara (que projetou e executou o Monumento ao Iº Centenário da Independência da Argentina, em 1910), quanto a produção “imigrante” e “paulista” de Nicola Rollo. Pensamos ter dectado, afinal, qual é a “função social” da obra dos dois escultores e qual papel ambos desempenharam frente aos seus contemporâneos (ou seja, o que “significaram” as suas obras, quando da sua concepção).

Rollo, que foi chamado “o poeta da escultura”, por Luís Morrone 5 , e de quem foi dito produzir obras “plasmadas num estilo bem moderno, porém de modernismo que não se apoia em nenhum gênero de antiga ou recente importação” (sic.)6 , foi também professor de Victor Brecheret, considerado por muitos como o maior expoente da escultura moderna brasileira. Pretendemos ter estabelecido, pela análise direta da obra dos dois escultores, a filiação artística que existe entre ambos, bem como a maneira pela qual cada um dos escultores estudados reinterpretou as tendências mais gerais da escultura da época.

Realizei uma criteriosa análise individual das obras, viabilizada por uma bibliografia que atende tanto à história da escultura quanto aos aspectos da passagem da tradição ao modernismo, na qual esta produção artística está inserida. Além disso, utilizei-me o máximo possível, da memória, onde pude recuperar  a relação do público com a obra de arte. Utilizei-me de entrevistas e depoimentos de pessoas que estiveram em contato com as obras estudadas, em diferentes épocas.

Dediquei-me também, convém ressaltar mais uma vez, a um rastreamento de outras obras dos dois escultores – junto aos arquivos, entidades culturais e aos particulares – e uma análise comparativa de todas esta produção. Esta contextualização mais global, no sentido de tentar traçar um panorama mais global da obra dos dois escultores, poderia ter alcançado uma abrangência muito maior, se tivessem sido encontradas obras suficientes para uma amostragem mais completa.

 

O texto se inicia exatamente pela sua “conclusão”, ou seja, as biografias, finalmente levantadas, dos dois escultores, ao que se seguem cinco capítulos: o primeiro capítulo situa a cidade de São Paulo nas primeiras décadas do século XX, bem como a transição da metrópole do café para a metrópole das indústrias; o segundo capítulo explicita a inserção dos artistas estrangeiros (mormente italianos) neste contexto; o terceiro capítulo trata da escultura na cidade do rio de Janeiro, o quarto capítulo, chamado “uma ponte sobre o Tibre” é um breve panorama da escultura em Roma nesta época  e, finalmente, o quinto e último capítulo, “a particularidade da obra dos referidos escultores”, estabelece um catálogo da produção brasileira destes expoentes, analisando as obras levantadas. Finalmente, encerramos nosso trabalho, esboçando algumas conclusões a respeito dos dois artistas e sua posteridade.

NOTAS:

1.       informações existentes no DEPARTAMENTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO:

título: “Monumento a Carlos Gomes”

Autor: Luiz Brizzolara

localização atual: Praça Ramos de Azevedo

Distrito: Sé

Subdistrito: Consolação

Adm. regional responsável: Sé

Tema: homenagem a Carlos Gomes, alegoria à Música e à Poesia

Descrição: conjunto urbanístico distribuído pela praça, composto de: um monumento em sua parte superior o qual se ergue a estátua de Carlos Gomes e as esculturas alegóricas à Música e à Poesia. Desce desse plano, ladeando a fonte simétricamente, uma escadaria, que serve de suporte às esculturas alusivas a Lo Schiavo e a Maria Tudor e, tem em suas extremidades as alusivas à Fosca e Condor. A FONTE DOS DESEJOS, assim chamada, eleva a escultura glória sobre um globo, com os dizeres “Ordem e Progresso”, o qual é sustentado por 3 cavalos alados, com meio corpo sob a água. Mais abaixo da praça, vemos as esculturas alusivas ao Brasil e à Itália (que sustentam em sua parte posterior um mastro porta-bandeira) que ladeiam as outras duas mais centrais, alusivas ao Guarani e a Salvador Rosa.

Execução: Camiani e Guastini – Fonderia Artística in Bronze – Pistóia, Itália

Data da implantação: 07/09/1922

Informações existentes na obra: inscrição

Transcrição dos dados encontrados:

-letras em relevo (no pedestal, abaixo de Carlos Gomes): “Antonio Carlos Gomes/ ao grande espírito brasileiro/ que conjugou o seu gênio/ com a Itália inspiração/ a colônia italiana de São Paulo/ no primeiro centenário/ da independência do Brasil/ 7 de setembro de 1922”.

-na base; lado esquerdo da peça (incisão): “CAMIANI E GUASTINI – FONDERIA ARTISTICA IN BRONZE – PISTOIA ITALIA”

Dados técnicos:

-material:

-Carlos Gomes – bronze

-Música e Poesia – mármore Carrara

-pedeastal: granito de bareno alpicoadone lustrado em camadas alternadas verticalmente.

2.       LOBATO, Monteiro – Revista do Brasil, nº 83, novembro de 1922

3.       sobre o moto-perpétuo de Nicola Rollo, vide : Correio Paulistano, domingo, 16 de fevereiro de 1941.

4.       (citação) GRACIOTTI, Mário – Os deuses governam o mundo, Nova Época Editorial Ltda.; São Paulo-SP, 1980, p. 120.

5.       entrevista in: revista Visão, nº 23, ano 36, 10 de junho de 1987, p. 73.

6.       (artigo) Monumento a Oswaldo Cruz, in: Diário de Notícias, 17/01/1940.


Autor: Luiz Carlos Cappellano


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