Contexto e características da Nova Psicologia Social



Comparando-se com outras disciplinas sociais e humanas, podemos seguramente considerar a Psicologia Social sendo bastante jovem. Contudo, sabe-se que questões como os comportamentos coletivos e as interações sociais se confundem com a origem do pensamento humano.

Assim como outras ciências, a Psicologia Social também possui em sua história importantes mudanças de paradigmas. Algo que acreditamos ser merecedor de atenção são suas transformações frente às noções do positivismo.

O positivismo, como filosofia, é datado oficialmente com o lançamento da obra magna de Comte, Princípios de Filosofia Positiva, em 1868. Passados alguns anos, mais precisamente em 1879, a Psicologia se emancipou de vez da Filosofia, ganhando status de ciência, com a inauguração do laboratório de Wundt, na Alemanha. (NOGUEIRA, 2001; SCHULTZ; SCHULTZ, 2005).

Conforme Nogueira (2001), o marco de nascimento da Psicologia Social como área específica da Psicologia aconteceu em dois momentos: o primeiro foi em 1908, com o lançamento de dois textos: Social Psychology de Ross, com ênfase nas questões sociológicas do comportamento e An Introduction to Social Psychology de Mcdougall, enfatizando as questões biológicas. Apesar de tratarem de assuntos distintos, estes textos iniciais ainda engatinhavam sob o solo da sociologia, o que nos leva ao segundo momento, que ocorreu em 1924, quando Allport publicou Social Psychology, separando a psicologia social definitivamente da Sociologia.

Sendo a Psicologia Social nascida no ventre do zeitgeist positivista, galgando notoriedade, seu foco de ação devia ser a prática econômica, para isto valia-se exclusivamente da análise de fatos passíveis de observação e controle: era a Psicologia Social Científica (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1995).

Buscando superar as limitações nas quais esta ciência se encontrava, sendo influenciada fortemente pelo marxismo, diversas críticas teóricas e epistemológicas foram realizadas provocando a famosa “crise na Psicologia Social” e chegando a um movimento denominado Nova Psicologia Social. Até a década de 60, dentre os autores que se destacaram, podemos citar os soviéticos Vigotski, Leontiev e Luria, já no Brasil, Silvia Lane e Antonio Ciampa são alguns dos pioneiros (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA, 1995).

Enxergando o ser humano como sujeito sócio-histórico, a Nova Psicologia Social o concebe como transformador de sua história, e não mais passivo e manipulável como dantes.

Bock (2004, p. 142), afirma que a Nova Psicologia Social “pretende ir além do que é observável, ou seja, além do comportamento, buscando compreender o mundo invisível do homem”. Invisível, não no sentido obscuro ou mesmo inconsciente, mas no sentido de não problematizado, não investigado, pois agora a Psicologia Social é uma ciência engajada, que enxerga o homem como um ser em constante transformação.

Nesta nova mudança de paradigma, mudam-se também os conceitos de estudo, buscando agora analisar questões como a atividade, a consciência e a identidade (BOCK, 2004). Diversas teorias são propostas no desafio de se compreender este homem em movimento. Inclui entre estas, estudos na perspectiva das representações sociais com Moscovici, o desenvolvimento da Psicologia Sócio-histórica com Bock e Lane e outras vertentes direcionadas à Psicologia discursiva e ao construcionismo social com Spink (CURADO, 2008).

Surgida como crítica pela visão individualizante, bem como pela psicologização das coletividades que a psicologia social vinha mantendo, a partir da década de 60, na Europa, os estudos de Moscovici o levaram à elaboração da Teoria das Representações Sociais. Segundo Bock (2003), as representações sociais são os conceitos elaborados coletivamente e praticados no senso comum, diferentemente das teorias científicas que apresentam um alto rigor lógico e de tecnicidade. Em suma, são as representações de mundo, criadas socialmente.

A Psicologia Social Sócio-histórica não ignora as noções supracitadas das representações sociais. Contudo, seu foco está no sentido pessoal que as produções fornecem aos indivíduos. Para realizar essa compreensão da relação entre indivíduo e sociedade, bem como objetivo-subjetivo, utiliza-se dos métodos de base marxista. Seus principais pressupostos são o materialismo, a dialética, e a concepção histórica: a) a concepção materialista implica que toda realidade material existe independentemente de qualquer crença ou idéia; b) a concepção dialética afirma que tudo existe devido ao movimento dinâmico e transformador da contradição; e c) a concepção histórica entende que as leis que regem a sociedade são resultado das ações do homem sobre o próprio homem (BOCK, 2003).

Já a perspectiva do Construcionismo Social tem como foco de atuação as atividades cotidianas, isto é, como as pessoas falam, percebem e experienciam o mundo em que vivem. A premissa principal desta vertente é sua postura antiessencialista, pois entende-se que os fenômenos humanos são construídos sócio-históricamente, não possuíndo qualquer forma de obscuridade ou "essência" (GERGEN, 1985).


REFERÊNCIAS:

BOCK, A. M. B.; FURTADO, O.; TEIXEIRA, M. L. Psicologias: uma Introdução ao Estudo da Psicologia. 8ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995.
BOCK, A. M. B. A perspectiva sócio-histórica de Leontiev e a crítica à naturalização da formação do ser humano: a adolescência em questão. Caderno Cedes, Campinas, vol. 24, n. 62, p. 26-43, abril, 2004. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ccedes/v24n62/20090.pdf. Acesso em: 20/11/2008.
_______________________. A perspectiva sócio-histórica na formação em psicologia. Petrópolis: Vozes, 2003.
CURADO, J. C. Gênero e os sentidos do Trabalho Social. Campo Grande: UCDB, 2008.
NOGUEIRA, C. Um Novo olhar sobre as relações sociais de Gênero. Perspectiva feminista crítica na psicologia social. Tese de doutoramento. Universidade do Minho. Braga, 2001.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. São Paulo: Cultrix, 2005.
Autor: Jeferson Taborda


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