Folhas Secas



Declaro, para os devidos fins
que acima de tudo e de todos
e com a maior certeza do mundo
desisto.

Desisto
assim, com a mesma leveza
com que o vento desgruda
a folha seca no inverno,
que toca o lago, tranquila
criando ondas na noite.

Desisto.

E como tudo no mundo, o faço
da mesma forma que larguei o tênis
jogado no canto do quarto,
parei com o regime forçado
e tentativas improdutivas de produzir
cada vez mais e mais e mais e mais.
Desisto, como deixei meu amor morrer
sobre as folhas roxas de um ipê,
como a receita do doce de maracujá
que deu errado.

Desisto
e se pudesse medir esse grito
pediria pra deus mais universos,
enquanto jogo no chão minhas armas
junto com os escudos comprados
em uma loja de velharias qualquer.

Se ainda me fosse possível sentir,
ou fingir um sorriso de outrora
- aquele, de criança que encontra
a mãe perdida na multidão de uma magazine,
ou que ganha um brinquedo barato
do pai que volta do trabalho.

Se ainda me fosse permitido algum vício
algum desses que todos têm:
álcool, drogas, sexo fácil
violência gratuita, religião
novela, poker, café.
Nem isso.

Minha sentença corre em cada veia
enquanto fito meu algoz no espelho.

Se me entregasse inteiro às ilusões
(só mais uma vez, só)
ou pudesse confiar além de crer.
Só mais uma frustração,
só mais uma frustração
e mais uma frustração,
que nem pra fingir eu dou conta.

Desisto.

Autor: Vanessa Del Negri


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