BASTARDOS INGLÓRIOS - TARANTINO SABE QUE NÃO TEM GRAÇA JOGAR SOZINHO



BASTARDOS INGLÓRIOS - TARANTINO SABE QUE NÃO TEM GRAÇA JOGAR SOZINHO.

by Maria da Glória Stevam

Vamos ao cinema com Adolph ?

Está em cartaz um desses filmes que se revelam o "orgulho da nação", e levam a platéia ao delírio. Entre as mais variadas formas de crueldade, vamos rir muito vendo as mortes tortuosas de soldados e civis, torcendo para que o sangue escorra sobre as nossas cabeças. Hum...Uma pipoca com manteiga, por favor!!!

Alguma ironia nessas exclamações? Não, não estou sendo irônica. E sim, celebrando Quentin Tarantino, e sua mais nova aventura cinematográfica: "Bastardos e Inglórios". Neste caso, a exclamação, ao final da frase, é mera constatação da genialidade do roteirista/diretor.

Era uma vez... Um Sherlock nazista, que desejava o sucesso... Certo dia, ele decidiu visitar os três porquinhos franceses, em busca de ratos ilegais, e devido ao seu talento para a dedução, acabou, com seu sopro de balas malignas, derrubando toda a pobre casinha... Porém, a judia Rata Hamlet, que estava escondida no subsolo, sobrevive para vingar-se... Enquanto isso, em um castelo, quero dizer, em um cinema não muito longe dali, a Bela Enforcada Cinderela e seus comparsas, os três Corleones Frajutos, no melhor estilo 007, tentam salvar a humanidade do Hitler Napoleônico, com direito à franjinha sebosa caída na testa (ver animação da Disney*), e um escritório todo decorado com uma espécie de "boton suástico", enfeitando a "bota italiana" no mapa mundi. Ao final, Mr. Black faz o seu trabalho (segundo Joe de Cães de Aluguel, todos queriam ser o Mr. Black), e na sala de projeções explode um grande orgasmo, à moda Romeu e Julieta: love and blood, baby!

Tudo começou quando Albert Einstein disse: "a imaginação é mais importante que o conhecimento"**. E Quentim Tarantino. seguiu seu conselho. Após o longo período devorando a "História da Segunda Guerra Mundial", optou por nos presentear com a mordida na maçã: a sua imaginação... Com relação a esse tema, como diria Marcelo D2, preciso demais desabafar. Então, é o seguinte:

– Se a tal da Eva, só tivesse colhido a maçã, tava tudo bem cara, sem problemas, entendeu? Porque, pensa comigo, de que nos serve uma maçã intacta? Eu respondo pra você: absolutamente nada, cara... Com o tempo ela apodrece, tô certo? E sabe o que é mais engraçado nisso tudo? É que tá cheio de gente aí, enchendo o rolo de maçã, e fazendo boquinhas pro espelho, igual às filhas lá do camarada, lá... Lá do Lear***, lá... Cê tá entendendo? E pra quê? Pra nada cara... Nem uma mordia. E ainda acham que a gente tem que pagar por isso. Ah! É revoltante!

Acredito que Tarantino também pense dessa forma. Pois, em meio a tudo o que envolve a construção de seus filmes: amarelo, vermelho, azul, bussiness, Eisenstein, marketing, Gordad, Bob Dylan, Orson Welles, Pop Art, Kurosawa, e toda sua infinidade de conhecimento, o que é realmente apaixonante em seu trabalho é o resultado ousado de seu processamento de dados. Confesso, porém, que "Amor a Queima Roupa" ou "Assassinos por Natureza", não me interessaram muito, talvez por serem, sob o meu ponto de vista, menos inteligentes de que "Cães de Aluguel" e "Pulp Fiction' (concordo com Selton Mello, talvez a culpa seja de seus respectivos diretores). Mas, como disseram os "Bastardos":

– "Sabe Tentente, está ficando bom nisso"

–Sabe como se chega ao Carnegie Hall, não?"

– "Praticando".

E Q. T. praticou... Praticou... E acabou, através da fala do personagem de Brad Pitt, ao final de "Bastardos Inglórios", admitindo: " Acho que esta é minha obra-prima" (bom, eu assino embaixo). Até Hitler elogiou o filme, emocionado, dentro da ficção, mas emocionado:"...fenomenal, este é o seu melhor filme...".

Sim... O moço que aparece nas imagens do Google, com uma pistola apontada para a cabeça, é um tanto narcisista, mas quem não é? Vamos culpá-lo por isso, e deixar de nos unir contra o cineminha, americano sem vergonha, caça níquel? Não!Pois bem, espero que nisso esteja de acordo, contava com vossa confiança.

"Minha razão começa a vacilar"(...)...Vamos para a tal cabana"****, ou melhor, vamos falar sobre o escurinho da "caverna", da famigerada "caixinha do nada", ou seria uma "gaveta", Mr. Blue Eyes?

Bem... Assistindo a Cães de Aluguel, e a Pulp Fiction, pude observar a real existência deste "momento do nada" significando "nada mesmo", principalmente nos diálogos masculinos sobre queijo, mostarda, catchup, e batata frita.

Já em Bastardos Inglórios, Tarantino experimentou um "além nada", um nada mais próximo ao que seria o "nada feminino", digamos assim... Os diálogos sobre leite, creme, e charutos, tratam na verdade de poder e submissão. Até a letra do Coronel Hans Landa nos remete às famosas mensagens subliminares. Tive a impressão de que os números escritos à mão, pareciam muito com o formato das letras das embalagens da Coca-Cola... E segundo pesquisas históricas, o refresco, de rótulo vermelho, foi o hit da Segunda Guerra Mundial... Suspeito, não?

O diálogo extenso, entre Hans Land e LaPaditte, é genial. Depois dessa cena, os corredores de supermercado, as maçãs verdes, os doces de laranja, o pão francês e o todinho, já não são mais os mesmos. O que há de diferente entre o copo de leite que LaPaditte serve a Landa, e o hambúrguer da lanchonete de Pulp Fiction?

– O recheio.

Em Pulp Ficiton, Jules e Vic Veja comem, e comentam o fast food, sem psicologismo. Já o personagem de Christoph Waltz, por ser um homem especialista em tortura psicológica, transforma tanto o leitinho inocente, em um poderoso instrumento de intimidação. Como indica a frase dita após tomar, de uma golada só, o conteúdo do copo:

- "Monsieur LaPaditte, tanto pela família quanto pelas vacas, eu digo: bravo!"

            Ele entrou no seio da família, composta pelo pai e suas três filhas, exigiu tomar seu leite, o tomou de um gole só. E ainda ressalta a ligação entre aquelas pessoas e as vacas, animais sempre disponíveis para o deleite dos "homens".

Estes subtextos revelam outras possibilidades, dentro do estilo Tarantino. Desta vez, mesmo sem qualquer melodrama, ele optou por produzir diálogos que falam sim, sobre o enredo do filme. Solução, anteriormente, não explorada pelo roteirista Q.T.

"Pego personagens e situações, e dou a eles uma vida – uma realidade como a minha, dos meus amigos, e de outras pessoa – com referência no que as pessoas fazem, e personagens do cinema não fazem. E falam sobre bobagens, não sobre o enredo. A gente não fala do enredo em nossa vida. Falamos de outras coisas, de bobagens que nos interessam. Gangsteres não falam de enredo de gangsters. Eles ficam polindo as balas, falam de assassinatos, de músicas do rádio, o jantar ontem à noite, a garota. Eles falam das coisas. Gente é gente." (Q.T.para os "extras" do dvd de Cães de Aluguel)

Q.T.pode ter descoberto que falar sobre o enredo, não significa, necessariamente, tornar sua obra um melodrama.

Outro exemplo, de conversas sobre o enredo, é a cena, genial, em que Landa pede ao garçom um copo de leite para Shoshana. Abaixo a "tradução":

– E para a senhorita, um copo de leite.

Leia se:

– Eu lembro de você garota, eu sei quem você é.

Ou seja, falar sobre o "copo de leite" dentro do filme, é falar sim sobre o enredo.

Bem, antes de prosseguir com outras considerações, preciso esclarecer,oo sobre as permitir adentrar seu mundoxar claro que n as minhas intenções: não pretendo desfilar conceitos formais acerca da obra de Q.T. Acredito mais em um mergulho, prazeroso, no estilo do diretor, para tentar compreendê-lo, do que um desfiladeiro de observações feitas de longe, imparciais. E tenho como objetivo, expandir esse meu recurso em outras análises. E, particularmente, acho esse método muito mais divertido e eficiente.

Permita-me seguir, partindo dos parênteses acima, sobre o leitinho e a letra da Coca-Cola, para aprofundar o olhar sobre o personagem de Waltz (diga-se passagem, esse ator é a descoberta do século). Desde o início do filme, quando ele inicia a sua eloqüente explicação sobre seu talento como "caçador" de "ratos judeus", algo me dizia que aquele nazista era diferente dos outros, não só por parecer com (o meu amado detetive londrino) Sherlock... Mas, por possuir, realmente, alguma coisa implícita, o definindo como "amoral" (fora o que ele próprio dizia sobre si mesmo).

O fato é: até Landa "trair" o Terceiro Reich, eu não havia percebido, exatamente, que o seu diferencial originava-se de seu super-objetivo (até aquele momento, obscuro). O que estou tentando dizer, é que o super-objetivo de Hans Land, assim como o do cineasta Harlan (Viet HarLan realizou o filme Jud Suss, um das produções responsabilizadas pela propagação do nazismo no mundo) era o sucesso profissional, político e econômico, e não a vitória da raça alemã, como muitos estavam predispostos a acreditar. Landa jamais foi um patriota, seus interesses eram outros, e tais características forjaram a atmosfera do personagem. Aprendi muito, refletindo sobre o poder do super-objetivo escondido do espectador. Inclusive, pode ser essa a razão de ter-me sentido, absurdamente, atraída pelo personagem, pois ele sequer acreditava nesta bobagem de raça ariana.

Quem sabe, seja mesmo possível, realizar um paralelo entre o coronel e o cineasta, pois tanto o personagem fictício quando o real, obtiveram um relativo happy end, sendo considerados inocentes. Porém, foram obrigados a carregar para sempre a marca de seu crime. Em Hans Landa, seu crime está tatuado na testa, em HarLan, na sua própria obra cinematográfica.

E já que estamos falando de Tarantino, e sendo o exercício da escrita um prazer para este ser que vos fala. Aproveito este momento para expor, minha teoria, utilizando-me dos personagens (recurso recorrente de Q.T. em seus diálogos) de "Seu Jorge" e "Selton Mello" (presentes no curta-metragem Tarantino's Mind), sobre as ligações implícitas, e pregressas, entre Hans Land e os EUA:

LANCHONETE – Interior – dia.

(Seu Jorge e Selton Mello sentados à mesa, conversando, enquanto comem e bebem)

S.J.– Vou te falar uma parada... Eu também descubro coisas.

S.M. – Tipo?

S.J.– Coisas cara, coisas... Olha só, quando o Landa girou a caneta pra escrever o número zero, cara!Eu já saquei tudo, pô! O zero dele é igual o "o" da coca-cola. Daí ficou fácil, né? Porque aquele nazista, filho da mãe, é viciou geral em Coca-cola, e acabou decorando o esquema... Ó... Pra falar bonito, ele: "incorporou"! Tá ligado?

S.M.– Incorporou o que, maluco?

S.J.– A letra da coca-cola, animal! Seguinte, concentra na jogada: durante a guerra, a coca-cola virou mania dos americanos, beleza?

S.M. – Até aí....

S.J. – Beleza então. O Landa... Presta atenção rapaz... O Landa vi-ci-ou no refri, quando começou a fazer contato com os neguinho lá do Tio Sam, ligou? E isso cara... Isso... Isso prova meu irmão, que desde o começo do filme, o Tarantino já tava dando dica da trairagem do malandro. Saco?

(silêncio constrangedor)

Corta.

Desculpe... Eu não resisti.... É que foi justamente esse o silêncio que se instalou quando acabei de interpretar essa passagem do texto, logo após tê-la criado, para a minha irmã. Ficamos ambas em um silêncio bem constrangedor... Achei interessante inseri-lo, devido à espontaneidade do acontecido.

Ok.Passou... Voltemos à vingança "tarantinesca".

Gostaria de fazer um comentário sobre Tarantino, propriamente, e também sobre a sua influência em trabalhos de uma diretora brasileira... Peço sua licença, para ousar bastante agora, já adiantando que essa só uma sensação, e não uma afirmação. Isso seria perigoso.

No ano de 2004, eu cursava meu primeiro ano de Rádio e Televisão, quando surgiu a oportunidade de fazer um curso de roteiro de cinema com a diretora Suzana Amaral. Naquele ano, ela ainda colhia os frutos do sucesso de "Uma Vida em Segredo", um filme que inclusive eu adoro, conheço-o de cor e salteado. Pois bem, durante as aulas, ela nos apresentou o trabalho de alguns diretores, dentre eles Quentin Tarantino, e seu "Pulp Fiction". Lembro-me como se fosse hoje, o momento em que aquela pequenina mulher, com um corte de cabelo que mais parecia um penteado indígena, ampliou meu horizontes. Suzana nos perguntou após a exibição:

– Sobre o que Tarantino está falando neste filme?

Alguns rapazes logo cochicharam, ainda com um pouco de medo de expressar as opiniões:

– Sobre drogas...

– Gangsters...

De repente ela completa:

– Sem dúvida, os personagens vivem nesse ambiente. Mas, nesse filme, Tarantino está falando sobre o "tempo". – ela dizia isso com entusiasmo e admiração.

Pronto! Abriu-se uma janela gigantesca, dentro do meu cérebro.

E você pode pensar agora que fugi do tema central desta análise. Talvez isso tenha ocorrido neste "tempo de flash back". Mas eu contei toda essa história (verídica), para dizer que essa questão do tempo, em Pulp Fiction, especificamente, foi a grande responsável pela "mudança de hábito" de Susana Amaral. Em seu 'Hotel Atlântico'(gostei muito do filme), ao contrário de seus outros trabalhos, a diretora finalmente explora a tal "caixinha do nada". Observe um trecho de sua entrevista sobre o personagem central de seu último filme: "Não tem psicologismo nenhum, ele só vive o momento, pula de circunstância em circunstância e uma não tem nada a ver com a outra. É antilinear". Se eu estiver errada, que a Suzana me perdoe, é complicado fantasiar sobre as motivações de uma respeitada veterena. Mas, é verdade que em um dos dias de projeção, durante o 33º Festival Internacional de Cinema de São Paulo (eu estava na platéia), a diretora nos pediu para assistir 'Hotel Atlântico' com a mente bem aberta, pois aqueles que acompanhavam sua obra a mais tempo poderiam estranhar a sua mudança temática, radical. Ou seja, passou do universo feminino para o masculino, do psicologismo para a caixinha do nada. Não poderia deixar de relacionar esse seuredirecionamento a`influência de Q.T.

No entanto, eu trouxe até aqui, principalmente pelo desejo, de com tal exposição, dizer algo que pode até ser óbvio, ao passo que consiste, em minha visão, na questão mais importante de 'Bastardos Inglórios':

– Exatamente, como 'Pulp Fiction' não falava só sobre drogas e gangsters, e sim sobre o tempo, o excesso de tempo, falta de tempo e a inversão do tempo, Bastardos Inglórios não é um filme sobre a Segunda Guerra Mundial, e sim um filme sobre a força da sétima arte, essa força colossal, capaz de destruir e transformar. Não compreender esse "além roteiro", espero não estar sendo muito abstrata em minha colocação, deve ser a causa de alguns espectadores não conseguirem assimilar seu conteúdo. Não estou dizendo que Tarantino faz filmes somente para os "intelectuais", absolutamente, a sua genialidade consiste em, justamente, jogar com todos os públicos.

"Eu adoro brincar com o público. Adoro faze-lo viajar. Não quero que veja um filme só com imagens passando. Quero mexer com a cabeça deles. Quero dar uma experiência. Eles recebem pelos nove dólares que pagaram. Eles foram ao cinema naquele dia. E tiveram uma experiência." (Q.T.para os "extras" do dvd de Cães de Aluguel)

Ainda acrescento que Tarantino se importa profundamente com a qualidade do jogo, ele não quer, de jeito nenhum, jogar sozinho, como fazem alguns cineastas. Q.T. leva suas brincadeiras a sério, e não quer que ninguém fique de fora.

Confesso que me irrita bastante comentários como:

– Ele não respeitou a história!

Ou então:

– Ele deveria saber que não se pode fazer piada sobre holocausto!

Minha resposta a esses ataques a Bastardos Inglórios é a pergunta:

– Desde quando cinema nasceu pra ser dicionário Aurélio ou Wikipedia?

E ainda:

– Porque, então, podemos fazer piadas sobre negros? Será que o problema está em os judeus serem brancos?

Agora, o mais ridículo de tudo isso, é que Q.T. não está fazendo piada do holocausto, ao contrário, está vingando os judeus, dentro da ficção, mas está vingando.

Para não dizer que esta afirmação é fruto de um estudo aprofundado sobre Tarantino, e que é algo nítido até para os leigos, relato o que minha irmã, que não leu nenhum artigo sobre o filme e menos ainda é estudiosa do assunto, disse, depois de assisti-lo: "É engraçado..." Ela hesitou, olhou pra mim como se tivesse dito algo errado (deve ter refletido sobre como pode ser engraçada uma tragédia) Mas, enfim prosseguiu, com coragem: "Eu achei o filme engraçado... E o legal, é que tem um final que a maioria das pessoas gostaria de ver..." E por fim, concluiu: "Quem não queria ter... Trucidado o Hitler?!"

E para esses politicamente corretos, já adianto, em caso de estarem planejando ampliar esse discurso esfarrapado, que já deveriam ter cortado relações com a Disney e outros diretores, e a partir deste momento, devem odiar Ang Lee. Esse último sim, poderia ser acusado de fazer graça dos tormentos nazistas, através de uma de suas personagens. Para comprovar, basta assistir 'Aconteceu Woodstock'(e sinto informar: o filme é bem interessante).

- Desabafou? Está mais calmo agora?

- Sim, acho que sim...

- Podemos continuar?

- Vamos lá... Depois de todas essas páginas, pretendo relaxar um pouco, e ser mais objetiva. Abaixo uma pequena lista de atividades recorrentes na obra de Tarantino, presentes em Bastardos Inglórios:

  • Flash back. – o inusitado em Bastardos e Inglórios, é a sua linearidade. Apesar dos Flash backs existentes, nada compara-se ao experimentalismo de Pulp Fiction, por exemplo.
  • Cores primárias, definido as imagens como se fossem desenhos. – Com relação às cores, sua pincelada não deixou de ser subversiva, mas com toda certeza, a maturidade lhe proporcionou um mão mais delicada e precisa. As cores berrantes transformaram-se em tons mais clássicos: o amarelo ouro virou ocre, e o azul intenso virou azul marinho (ver o cachorro da esposa do cineasta Goeblles) e azul rato dos uniformes militares... Q.T. só não abriu mão de seu vermelho sangue, por motivos evidentes: a bandeira nazista. Gosto muito da cena a la Nouvelle Vague, em que a Emanuelle "pinta o rosto" para a festa.
  • Diálogos triviais em situações tensas, inusitadas. – Sobre os diálogos, e seus momentos de silêncio, o próprio Tarantino explica, através da fala de sua ciração, o personagem Vicent Veja (que segundo a teoria de Selton Melo é parente do Mr. Blond de Cães de Aluguel), interpretado por John Travolta em Pulp Fiction, quando esse tenta convencer o personagem Jules (Samuel Jackson) de que massagear os pés de uma mulher é sinônimo de uma relação, quase sexual:

Vic Vega"Olha, eu já fiz milhões de massagens, no pé de milhões de mulheres, e todas elas significaram alguma coisa. E agimos como se não fossem nada, mas são... É é isso que as faz ficar tão interessante, fica uma coisa sensual rolando, enquanto isso ninguém se fala, mas você sabe e ela sabe(...)Deu pra entender?"

Jules"É um bom argumento, vamos entrar na personagem."

Abaixo outros elementos que ajudam a contar a história:

  • Zoom in (até o close, intensificando a tensão).
  • Cenas aparentemente tranqüilas seguidas de cenas agitadas.
  • Plano alto, como se a câmera estivesse apresentando um tabuleiro de um jogo.
  • Personagens que avançam pelos corredores.
  • Imagens contraditórias compondo um mesmo quadro.
  • Música melodramática nos levando ao riso, em momentos realmente trágico/dramáticos.
  • Mulheres aparentemente frágeis, surpreendendo pela coragem.
  • Pistolas, metralhadoras, facas e sangue.

Bom, alcanço já a sétima página, e não me é fácil parar de elaborar... Ainda falta refletir sobre milhares de questões, dentre elas: a caricatura de Brad Pitt, não muito crível, mas interessante. Apontar a dificílima cena do bar, onde acontece a briga entre bastardos e nazistas, filmada com maestria. Falar sobre o interprete do personagem francês LaPaditte, que não precisou de nada, além de do olhar, para contar a sua história.

E na tentativa de conseguir finalizar essa análise, começo a me questionar. Porque eu gosto tanto de Tarantino? Porque eu gosto dos personagens, tão sanguinários e loucos?A verdade é que essa minha paixão por Q.T me assusta. Assim, sou tentada a acreditar que sou fã é da estética e não da violência, do ritmo e não da histeria. Porém, o que me vicia no diretor, e sobre isso não há dúvidas, é o poder do seu "jogo". É impossível analisar Q.T. sem desenvolver teorias, e sem se permitir brincar.

Desculpe o corte brusco. Mas, agora, vou finalizar:

– Espero, durante esse texto, ter exposto minhas visões e ter-lhe proporcionado, pelo menos um pouco de diversão. Porque, como me ensinou Quentin Tarantino, não tem graça jogar sozinho... Então... Até a próxima facada!

Enquanto isso, na lanchonete...

S. J. – Cara! Eu descobri de onde vem o brilho da maleta lá do Pulp Fiction.

S. M. – Já te falei, rapá! É o reflexo dos diamantes dos Cães de Aluguel, pó.

S. J. – Isso, é o que você acha, mano... Mas, quer saber cara, essa já é outra história...

S. M. – Mew! Olha lá...O filme vai começar...

S.J.– Então pra fila irmão!

S. M. – Não eu estou esperando o rapaz lá...

S.J. – Vamos ao cinema com Adolph?

(sobe som).

          Abaixo uma lista de licenças poéticas:

*Pato Donald – Der Fuehrer's Face- Confira também, a verdadeira inspiração de Tarantino, ao definir a aparência de Hitler, com sua franjinha, sebosa, caída na testa.

http://www.2guerra.com.br/sgm/index.php?option=com_content&task=view&id=618&Itemid=30

**Citação de Albert Einstein, retirada da Revista Veja (outubro 2009).

*** Alusão a Rei Lear.

****Frase de Rei Lear, após a sua revolta contra a natureza.

CURIOSIDADE: Conheça a verdadeira origem de Bastardos Inglórios:

Os Três Porquinhos – Segunda Guerra Mundial.

http://www.2guerra.com.br/sgm/index.php?option=com_content&task=view&id=672&Itemid=30


Autor: Maria da Glória Stevam


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