UM NATAL BRASILEIRO



272 - UM NATAL BRASILEIRO

De Romano Dazzi

 

A tarde acaba. Suas cores se apagam, encolhem, perdem-se umas nas outras.

A noite sobe lenta do mar, puxando sobre tudo um  leve lençol  transparente

A terra respira; pausadamente, como uma mãe, cansada das tarefas do dia.

 

As pessoas passam rápidas, como se a escuridão as empurrasse para casa .

O dia que se vai lembra-nos que é mais tarde do que achávamos.

A pequena vila está tranquila, quase  entorpecida

Cada coisa em seu lugar,cada pessoa em seu serviço.

Como foi na geração anterior, como será na geração seguinte

Somos estranhos, que não se vêem

Somos amigos que não se conhecem.

 

Mas esta é uma noite especial

Eis que, do fundo do vale, sobe uma música alegre, colorida, ritmada

uma fanfarra, ruidosa e insistente, com bumbos, caixas,  tímpanos, tambores.

 

Sobe pela fita clara e torcida da estrada, mais forte a cada curva, mais próxima

a cada reta.  E chega à praça.

Todos saem de casa e  correm para ver, curiosos, interessados:  primeiro tímidos, depois pulando, vibrando, soltando a alegria.

Batem os pés, as mãos e gingam o corpo,  acompanhando o ritmo.

As arvores da praça se iluminam, porque esta banda é  mágica. 

O maestro se espalha, ginga , pula, se agita

Todos se dão a mão, formam uma fila, uma roda, uma trança.

Se sorriem e se abraçam

Provam uma sensação entranha, diferente, que nunca provaram antes.

Pulam juntos, dançam juntos.

Todos se conhecem e se reconhecem; e se cumprimentam com a alma

Os colegas tornam-se  amigos; e os amigos, irmãos.

Este é, este deve ser,  o nosso Natal; o Natal brasileiro.

Não há neve, vento,gelo, frio.

Mas um grande calor humano, uma lufada de carinho  forte, solidário, confortador, capaz de vencer qualquer barreira, de conquistar qualquer coração.   

Feliz Natal, meu irmão!  Feliz Natal, minha irmã !

Não um Natal de poucos ricos, cada um entocado em sua mansão,

mas um Natal de tantos e tantos pobres. 

Pobres, mas juntos, unidos, nesta grande praça que é a casa do Senhor.

Na nossa pobreza, sentimo-nos ricos

É um momento sublime. Uma sensação gloriosa  para a alma de cada um. .

 

Agora, a fanfarra lentamente se vai O som se dispersa, a luz enfraquece, o batuque desce devagar a longa estrada prateada. 

Nossos corações sorriem. Não somos mais os mesmos.

Esta experiência nos renovou, ficamos  melhores.

Olhamos o vizinho e ele agora se tornou  nosso irmão.

Este é o espírito do Natal.

Um Natal de pobres, uma Festa de Reis.

 

 

 

 


Autor: Romano Dazzi


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