OS CONTOS DE FADAS



OS CONTOS DE FADAS

Por: Deuzirene S. da Gama

Quem lê "Cinderela" não imagina que há registros de que essa história já era contada na China durante o século IX d.C.. E, assim como tantas outras, tem-se perpetuado há milênios, atravessando toda a força e a perenidade do folclore dos povos, sobretudo, através da tradição oral. Pode-se dizer que os contos de fadas, na versão literária, atualizam ou reinterpretam, em suas variantes questões universais, como os conflitos do poder e a formação dos valores, misturando realidade e fantasia, no clima de "Era uma vez...". Por lidarem com conteúdos da sabedoria popular, com conteúdos essenciais da condição humana, é que esses contos de fadas são importantes, perpetuando-se até hoje. Neles encontramos o amor, os medos, as dificuldades de ser criança, as carências (materiais e afetivas), as auto-descobertas, as perdas, as buscas, a solidão e o encontro.

Os contos de fadas caracterizam-se pela presença do elemento "fada". Etimologicamente, a palavra fada vem do latim fatum (destino, fatalidade, oráculo), tornaram-se conhecidas como seres fantásticos ou imaginários de grande beleza, que se apresentavam sob forma de mulher. Dotadas de virtudes e poderes sobrenaturais, interferem na vida dos homens, para auxiliá-los em situações limite, quando já nenhuma solução natural seria possível. Podem, ainda, encarnar o Mal e apresentarem-se como o avesso da imagem anterior, isto é, como bruxas. Vulgarmente, se diz que fada e bruxa são formas simbólicas da eterna dualidade da mulher, ou da condição feminina. O enredo básico dos contos de fadas expresso os obstáculos, ou provas, que precisam ser vencidas, como um verdadeiro ritual iniciático, para que o herói alcance sua auto-realização existencial, seja pelo encontro de seu verdadeiro "eu", seja pelo encontro da princesa, que encarna o ideal a ser alcançado.

A estrutura básica dos contos de fadas se norteia sempre em um inicio, nele aparece o herói (ou heroína) e sua dificuldade ou restrição. Problemas vinculados à realidade, como estados de carência, penúria, conflitos, etc., que desequilibram a tranqüilidade inicial. A ruptura, é quando o herói se desliga de sua vida concreta, sai da proteção e mergulha no completo desconhecido. O confronto e superação de obstáculos e perigos, busca de soluções no plano da fantasia com a introdução de elementos imaginários. A restauração no inicio do processo de descobrir o novo, possibilidades, potencialidades e polaridades opostas. E o desfecho, quando volta à realidade. União dos opostos, germinação, florescimento, colheita e transcendência.

É no encontro com qualquer forma de Literatura que os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar e enriquecer sua própria experiência de vida. Nesse sentido, a Literatura apresenta-se não só como veiculo de manifestação de cultura, mas também de ideologias.

A Literatura Infantil, por iniciar o homem no mundo literário, deve ser utilizada como instrumento para a sensibilização da consciência, para a expansão da capacidade e interesse de analisar o mundo. Sendo fundamental mostrar que a literatura deve ser encarada sempre, de modo global e complexo em sua ambigüidade e pluralidade.

Até bem pouco tempo, em nosso século, a Literatura Infantil era considerada como um gênero secundário, e vista pelo adulto como algo pueril (nivelada ao brinquedo) ou útil (forma de entretenimento). A valorização da Literatura Infantil, como formadora de consciência dentro da vida cultural das sociedades, é bem recente.

Para investir na relação entre a interpretação do texto literário e a realidade, não há melhor sugestão do que obras infantis que abordem questões de nosso tempo e problemas universais, inerentes ao ser humano. "Infantilizar" as crianças não cria cidadãos capazes de interferir na organização de uma sociedade mais consciente e democrática.

O caminho para a redescoberta da Literatura Infantil, em nosso século, foi aberto pela Psicologia Experimental que, revelando a inteligência como um elemento estruturador do universo que cada individuo constrói dentro de si, chama a atenção para os diferentes estágios de seu desenvolvimento (da infância à adolescência) e sua importância fundamental para a evolução e formação da personalidade do futuro adulto. A sucessão das fases evolutivas da inteligência (ou estruturas mentais) é constante e igual para todos. As idades correspondentes a cada uma delas podem mudar, dependendo da criança, ou do meio em que ela vive.

A relação entre a literatura e a escola é forte desde inicio até hoje diversos estudiosos defendem o uso do livro em sala de aula, mas atualmente o objetivo não é transmitir os valores da sociedade, ou seja, os primeiros livros infantis queriam estipular padrões comportamentais exigidos pela sociedade burguesa exigia, mas sim proporcionar uma nova visão da realidade, estimulando o exercício da mente:

§A percepção do real em suas múltiplas significações;

§A consciência do eu em relação ao outro;

§Dinamizar o estudo e o conhecimento da língua (falada e escrita);

Ainda assim podemos ver o sentido pedagógico atribuído à literatura infantil:

§Estimular o exercício da mente;

§Despertar a criatividade;

§Reflexão pessoal;

§Percepção de mundo;

Não é fácil no meio de tantos livros escolher um livro infantil de boa qualidade. O mercado vendo na literatura infantil uma forma de ganhar dinheiro fácil lança uma enxurrada de livros não tendo, porém o cuidado na escolha dos temas e dos materiais utilizados na sua publicação. Muitas vezes, se escolhe um livro pela capa ou desenhos e não pelo conteúdo ou mensagem que ele transmite. O incentivo a leitura e a escolha desses livros deve ser preocupação dos pais, professores e governo de foram geral. As histórias infantis devem ser vistas como uma forma das crianças encararem o mundo e analisarem esse mesmo mundo, de terem sua opinião e de poderem opinar em cima do conteúdo apresentado pela história, procurando formar cidadãos capazes de interferir na organização de uma sociedade mais consciente e democrática.

Cada fase do desenvolvimento da criança existe um tipo de livro infantil adequado, pois a cada fase os seus interesses mudam então cabe ao adulto fazer a escolha do livro adequando ao interesse da criança.


Autor: Giovanni Tibaldi


Artigos Relacionados


Eu Jamais Entenderei

Soneto Ii

Dor!

Pra Lhe Ter...

O Resgate E A ValorizaÇÃo Da ContaÇÃo De HistÓria

Tudo Qua Há De Bom Nessa Vida...

Blindness