Sob Um Velho Blues



O lugar era bastante confortável. A poltrona do 747-400 de primeira classe da British Airways acomodara Gascoin desde Londres. A noite estava fechada por uma tempestade que se anunciava breve sobre Newark.

Pegou sua passagen e saberia que teria problemas com a imigração americana. Dito e feito. Fora levado a salas abaixo de salas, abaixo de andares para ser examinado e revistado. Os americanos não gostam de gente que enriquece em pouco tempo como ele, ou pelo menos, sendo um não-americano.

O nome Henrique Gascoin significava atenção de todos os modos. Mas nunca tinham nada contra ele senão desconfianças e por isso, deixaram-no entrar no país.

Ele mesmo odiava ter de ir aos Estados Unidos, não mantinha negócios lá e não negociava com americanos, com o resto do globo, tudo bem, mas com eles, jamais.

Só estava lá porque seus patrocinadores pediram, haveria na noite seguinte uma festa de gala em que Gascoin teria de dar as caras para divulgar a próxima temporada de corridas. A BMW exigia. Muita gente da Europa estaria lá, ou seja, oitenta por cento do mercado da Gascomp- BMW Race Team.

Foi para um hotel, dormiu tranqüilo sob uma tempestade torrencial que ele mesmo, literalmente trouxe consigo. Gascoin tinha secretos poderes mentais, depois que uma bala ativou-lhe uma mutação genética latente, ele passou a controlar todo e qualquer movimento sobre tudo que é físico, ou seja, tudo no universo.

A tempestade era um presente já que aquela cidade, antes chamada Big Apple, fedia às suas narinas, ardia-lhe aos olhos e lhe amargava o paladar.

Passou o dia seguinte no hotel e à hora marcada, pediu um táxi à recepção e foi à festa. Sua cara não era das melhores e teria de sorrir e cumprimentar uma infinidade de gente: magnatas, empresários, políticos, artistas, milionários em geral. A única coisa que queria era voltar pra Europa, e faria isso imediatamente ao que saísse da festa. Seu vôo de volta estava marcado para as oito horas da manhã daquele dia.

Vestindo um Armani qualquer, chegando num táxi qualquer, usando um comportamento qualquer...dane-se. Estava pouco se lixando para os Estados Unidos. Planejava falar com o maior número de pessoas num tempo recorde, tomar o máximo de uísque antes de cair pra não lembrar de nada e sumir pro aeroporto umas seis horas antes do vôo.

O local era o salão John Kennedy, em West Sunset, logo em frente à prefeitura. Estava decorado a lá anos 20 devido ao homenageado, o falecido milionário William Hughes, representado pelo filho Don, hoje presidente do maior grupo de telecomunicações do país.

Falou com algumas pessoas, notou que os seguranças locais o olhavam demais, gente deixando o salão, aparentemente sem rumo, uma mulher na casa dos quarenta falando discretamente sozinha e usando óculos de sol ridículo. Notou ainda um homem que ao cumprimentar um senador americano, fez prender em seu terno um dispositivo de localização e escuta tão pequeno, que só mesmo chegando muito perto pra ver, mas Gascoin era um mercenário treinado, conhecia os movimentos.

___ Droga... – resmungava atrás do copo de uísque - ...a merda da NSA está aqui.

A famosa última linha de defesa americana, acima da CIA, acima do FBI, acima da CTU, em cima de sua cabeça, tinha plena certeza, estavam ali por ele.

Já havia verificado suas possibilidades de saída caso fosse necessário matar alguns inimigos de Alá. Como não estava com muita paciência para fugas espetaculares, pensou logo em derrubar o gigantesco lustre sobre o público, explodir as janelas, fazer entrar um vento devastador e sumir na confusão. Relaxou.

____ Você não odeia essas porcarias. – perguntou ele a uma estonteante morena ao seu lado, de beleza indizível, imensos olhos verdes delineados de preto, como os cabelos ondulados jogados de um lado.

Ela virou lentamente a cabeça.

___ Antes que continue, cavalheiro, devo avisar que aquele discursando lá em cima, é meu pai. Se pretende ser indelicado quando a uma festa em homenagem ao meu avô, por favor saia.

Toma, idiota.

___ Helena Hughes! Quase não notei que era você.

___ Oi, Gascoin. Não sabia que havia sido convidado.

___ Não verificou a lista?

Ela baixou os lábios em sinal de desdém. Mentira, sabia e o esperava. Tiveram uma pequena história numa estação de esqui no Chile, um ano atrás.

Gascoin sempre quis saber, a título de curiosidade, de onde viera e como começara a fortuna da família dela, quase tão portentosa quanto a dele, mas Helena, ignorante das verdadeiras posses de Gascoin, sempre o achou um oportunista e golpista, nunca lhe disse.

Conversavam animadamente ao som dos anos 20, bebiam alguma coisa dos anos 20, vestiam roupas dos anos 20, a decoração era idêntica à original do salão, que fora inaugurado dos anos 20, tendo mudado de nome em 1976. O clima era de festa, perfeito, Gascoin até esqueceu que tinha que falar com aquele bando de gente e não mais pensou nos agentes federais ali presentes.

E é justamente quando se baixa a guarda que, merdas acontecem!

Num segundo, soldados descem do telhado de vidro, os agentes sacam suas armas e apontam para o alvo, mas nada era para Gascoin. Havia na festa um conhecido vendedor de armas que estava na mira dos tiras.

No meio da confusão, quando o homem tenta reagir sacando uma pistola para fazer alguém de refém, um dos soldados dispara uma bomba de gás, que por obra do destino atinge uma pilastra, vindo explodir sobre a cabeça de Gascoin e Helena.

No meio do gás, Gascoin sabe que pode usar seu poder para dissipar a nuvem e sumir dali, mas aquele não era um preparo químico normal. Em poucos segundos, ambos vão fechando os olhos um de frente para o outro.

Parecia que novamente seus caminhos haviam se cruzado...o que ambos não tinham idéia é que isso já havia acontecido muito tempo atrás.

Os primeiros acordes de um blues chorado espocam na estação central de trens em West Vilage. A fumaça do primeiro carro e seu estridente apito avisam que chegam novos rostos à Nova Iorque. À Nova Iorque de 1922.

Em meio às famílias de férias para Vermont, malas de couro e baús pesados, funcionários da estação gritando os locais de embarque, meninas melindrosas rindo de qualquer coisa, senhores impecavelmente bem vestidos caminhando com seus charutos de pontas finas, tudo num clima que parece de um marrom-acinzentado dominante por toda city. Era uma fria manhã de segunda feira.

Um menino de calças curtas, camisa branca e boina, de uns cinco anos, olha o estranho homem ao seu lado com cara de mal-encarado. Ele veste um terno extremamente bem cortado, preto tipo risca-de-giz, sapatos bicolores em preto e branco, reluzentes de atual verniz, malhas de metal sobre as línguas dos sapatos, camisa de seda branca com bravata fina também preta e sobre tudo isso, uma capa cinza-chumbo jogada displicentemente nos ombros, um anel de ouro ofuscante na mão esquerda e chapéu preto de fita vermelha.

O homem batia o filtro de um dos modernos cigarros Savois contra uma cigarreira dourada.

Tirou do bolso interno esquerdo do paletó um isqueiro de gás e acendeu o cigarro encarando o guri.

O menino sorriu maroto, firmou os olhos e fez os dedos da mão como uma pistola e emitiu um som parecido com um tiro em direção ao homem grande ao lado dele, esperava que ele sorrisse e fizesse o mesmo.

O homem equilibrou a fumaça na boca e depois soprou, abriu de leve a aba esquerda do paletó e sorriu enviesado. Sob a axila tremeluzia o pente de um Colt 45 prata num coldre de couro preto.

O menino arqueou pra dentro as sobrancelhas e atirou a cara contra a saia da mãe.

Um Ford 1922 pára perto no desembarque e chama.

___ Procuro o homem vindo de Paris. – disse o chofer.

___ Devia procurar na Champs Elisèe. – respondeu o outro.

Billy, o motorista, estava nervoso com aquela contra-senha. Haviam dito e repetido mas ele não entendia que raios de nome era aquele, mas diabos, o homem falava como seu chefe, devia ser ele.

Foram direto a Belfordshire. A mansão do chefe.

O chofer trouxe as malas, muito a contragosto, afinal, ele era o motorista do chefe, não o mordomo, mas o homem de Paris não tocara nelas.

____ Obrigado Billy, pode ir agora. – disse o chefe do alto da escadaria central, havia contratado recentemente o jovem motorista, mas gostava dele, tinha uma mãe doente e precisava de dinheiro para sustentá-la. O chefe era alto e corpulento, usava barba espessa e óculos profundos, sua filha descia ao lado dele. Uma jovem de pele branca, boca vermelha de batom como se quisesse diminuí-la, cabelos presos num coque alto e um vestido de seda creme todo bordado, tinha uma expressão mandona e aparentava ter menos de vinte anos.

Ele desceu e fitou o homem de Paris de cima a baixo.

O homem de Paris fitou a filha dele de cima a baixo.

___ Então é você. O homem que deu a Montgomery Starks a tranqüilidade de seu sono.

___ Posso dizer que hoje o senhor Starks dorme tranqüilamente. – pegou a mão da moça e a beijou – Enchanted, madame.

___ Sua frase tem um sentido bem ambíguo. Pode ter matado os inimigos de Starks...ou o próprio Starks. O fato é que o homem desapareceu das barbas da polícia. A lacuna deixada por ele nos negócios nos está sendo bastante proveitosa. Diga-me, o que houve afinal. – lançando um olhar para a menina mandando-a de volta ao quarto.

O homem deu outra baforada calma, conversavam agora no escritório do chefe.

___ Não matei Mont Starks. Ele me contratou para apaziguar as coisas em Chicago, foi o que eu fiz.

___ E agora, graças a você, somos os únicos fornecedores na costa leste, acho que lhe devo agradecer.

___ Vamos falar de negócios primeiro, pode mudar de idéia.

O chefe serviu-lhes de um uísque, sentaram-se nos sofás e foram aos negócios.

___ Michael Delano. Esse é nome do homem a quem devemos destruir. Os homens de Delano controlam negócios com os comerciantes de Hell's Kitchen a Brooklin. Vendem proteção, aplicam punições, cobram resultados de seus homens-de-recado, aproprinam a polícia e espancam informantes. O que queremos é uma limpeza geral, simples.

O homem de Paris emanou outra baforada de cigarro, tomou outro trago de uísque, franziu a testa e olhou o chefe. A sombra do chapéu ainda lhe cobria os olhos, não os tirara porque essa era uma maneira de dizer que ainda não respeitava aquela casa.

___ Sabe, a importância que damos à família aqui em Nova Iorque. Nessa nossa bela cidade sempre fizemos as coisas com correção, mesmo transgredindo a lei! – bradava o chefe.

___ Os comerciantes...quanto pagam pela proteção?

___ Não temos certeza.

___ Então quando são feitas as cobranças?

___ Semanalmente. Toda terça-feira de cada semana, enviam homens armados aos locais estratégicos. Sabemos que os lacaios recolhem e ao final da manhã, Delano e sua casta sentam para almoçar no Frank's Pasta. Contam a grana e vão pra casa.

___ Quantos mortos têm aparecido por semana em Hell's Kitchen? – pergunta o francês.

___ Está brincando? Com a "proteção" de Michael Delano absolutamente nenhum. Tenho um de meus homens morando por lá. A paz impera no bairro desde que se pague por ela.

____ Portanto se não há mortos, não há inadimplentes, certo? Todos estão pagando, e num bairro daquele tamanho não deve ser uma receita modesta.

Ele parou e olhava fixamente o chão.

___ Em que está pensando?

___ Amanhã é o dia. Pode me emprestar seu motorista?

O chefe assentiu. O homem levantou-se, manteve o cigarro preso nos dedos e apanhou seu sobretudo, ia saindo.

___ Ei! Gascoin! De quanto estamos falando? Quanto vai querem para trabalhar pra mim?

Gascoin mandou outro sorriso enviesado, escreveu uma coisa num papel e entregou ao chefe. Este olhou, sorriu novamente e deram as mãos.

___ Fechado!! – disse o chefe.

Na manhã seguinte Gascoin e Billy, o motorista, pegaram o Ford 22 preto e foram para a Cozinha do Inferno, um bairro que na Nova Iorque de 1920 contava com 23 mil pessoas sendo quase a metade de estabelecimentos comerciais entre açougues, padarias, casas de aposta e as chamadas Líqüor houses, que eram as casas de abastecimento de bebidas ilegais, mas que devido às propinas pagas à polícia, ficavam abertas livremente.

Com todo esse contingente de pagantes, a grana devia ser boa. Gascoin no banco do passageiro do Ford olhava toda a movimentação. Um homem entra nas casas, sempre o mesmo, enquanto outros dois fazem a guarda na porta.

____ Só três caras? – perguntava Billy.

___ Dê outra olhada. – apontou para a rua lateral.

Havia outros dois carros parados com os motores ligados, quatro homens em cada carro, pelas pontas pretas, todos armados de metralhadoras.

___ Fazem isso toda semana, estão acostumados.

___ Por isso deve ser complicado pegá-los. – reclamava Billy, num misto de medo e excitação.

___ Vamos pra casa, Billy.

O homem de Paris queria das umas aulas de direção ao rapaz, teriam a semana toda para isso.

Gascoin repetiu a operação mais duas semanas. Mudou de motorista uma vez e notou que sempre os homens que ficavam de fora eram os mesmos. Dentro dos carros os homens riam, fumavam muito e brincavam uns com os outros.

Na terceira semana Gascoin reuniu três homens do chefe: Li'l finger, Burner Fairfax e Billy.

___ É o seguinte, senhores: os homens que ficam de fora são mais experientes, por isso fazem sempre a mesma coisa, são nossos alvos primários, ou vou abatê-los sozinho; os caras que ficam no carro estarão fumando demais para que possam identificar com precisão nossa posição, quando fizerem isso já estarão mortos, Finger e Burner acabam com eles; o segundo carro deverá ficar intacto – os homens olharam-se estranhando- exato, intacto até que eu pegue a mala com o dinheiro...

___ E eu? – perguntava Billy – o que eu faço? Aquelas coisas que a gente treinou a semana toda? – empolgado.

___ Dirija muito bem quando eles vierem atrás de nós.

___ Por que não acabamos logo com eles e pronto?

___ Calma, Burner, quero confundi-los primeiro.

Simples, os homens de Delano jamais imaginariam que seu inimigo número um na cidade, atacasse com somente quatro homens, devia haver outro, um homem mais burro ou forte para fazer uma coisa dessas.

Saíram em diligência, o mesmo Ford 22 agora com quatro caras dentro. Os dois atrás, como metralhadores usando as Winchester Pointers de pente circular, Gascoin na frente com suas duas 45 e Billy com o pé embaixo.

___ E se vierem os tiras?

___ Concentre-se rapaz. Nada de manobras malucas, pare o carro sem arrastar os pneus, não precisamos chamar a atenção dos três carros ao mesmo tempo, vocês dois abram fogo somente quando tiverem certeza! Lembrem-se, rapazes, o segundo carro deve ter medo de reagir e, vir atrás de nós somente depois de ter pego a gaita. Trouxeram as tiras de couro?

Não sabiam porque aquelas tiras simples de couro, mas haviam trazido.

Na porta de uma loja de armarinhos. Onze e vinte e cinco da manhã, quase hora do almoço, seria a última remessa. O coletor era experiente e Gascoin já havia visto isso: entrava de mãos vazias, deixando a mala dentro do carro com o motorista.

___ Lá estão eles, atenção!

___ Ainda não sei por que não acabamos logo com todo mundo!

Billy parou o carro na contra-mão de direção deles, há uns trinta metros da porta do local, Gascoin cuspiu o cigarro, desceu do carro, sacou as duas 45 que levava sob o paletó e disparou uma vez com cada uma, simultaneamente os dois homens das portas caíram.

Mais um tiro e o coletor estava derrubado. O motorista de Delano tinha seu motor desligado o que deu a Gascoin o tempo necessário para sorrir-lhe enviesado e tirá-lo do carro.

___ Agora!

Burner e Finger põem meio corpo pelas janelas traseiras e peneiram o primeiro carro com as Pointers, quatro línguas de fogo emanam dos canos enquanto uma enxurrada de cápsulas deflagradas cobrem o chão.

Gascoin tira o último pacote de dinheiro das mãos do coletor e, agachado, enfia dentro da mala. Finger e Burner atiram nos contornos do segundo carro.

____ Corre, eles estão arrancando!

Gascoin corre pela rua atirando sem ver para onde, atira-se dentro do Ford e Billy arranca na direção oposta da deles. Os homens começam a revidar os tiros.

___ O que estão esperando? Mandem fogo, rapazes! – Gascoin vira pra trás e para fora do carro, aperta o chapéu contra a cabeça, firma o cigarro nos dentes e abre fogo também com as pistolas.

Os pesados Ford 22 tinham motor potente mas de pouca descompressão, ou seja, aceleravam bastante mas não corriam muito. Suficiente para manter os carros juntos pelas ruas estreitas.

___ Ali, naquele beco! – gritou Finger, dentro do carro enquanto recarregava a arma.

O lugar era pouco maior que os carros, agora eles se aproximavam e continuavam a trocar tiros. Os vidros do Ford de Gascoin já estavam destruídos e Finger recebera uma bala de raspão no rosto.

___ Metam as tiras de couro na boca e segurem-se! Lembra das lições que te dei!? Usa-as, Billy!

Sorrindo, o jovem motorista pôs o carro em marcha neutra, puxou as travas de roda e virou o volante com toda sua força. O resultado foi que ficaram frente a frente os dois carros e bateram de forma violenta.

De dentro do Ford, Gascoin sai cuspindo o couro com um corte na cabeça mas dentes intactos e consciente, assim como os demais. Já no carro dos homens de Delano, todos estavam zonzos pela batida.

Gascoin executou três deixando o mais ferido vivo.

___ Diga a Delano pra dar o fora enquanto está vivo. – resmungou entre dentes.

De volta á mansão. Dois dias depois, Finger foi ao médico da família e o carro ao mecânico apenas para troca do pára-choque, o chefe quis falar com Gascoin.

___ Excelente! Digo...vocês acabaram com sete homens do Delano, tiraram a grana de suas mãos e o Finger só arranhou o rosto?

Gascoin mordiscava alguma coisa, fumava e bebia uma cerveja, sentado no escritório do chefe.

___ E agora? Como Delano deve reagir?

___ Já reagiu. Estive com ele ontem.

___ O que?!

___ Mandou me chamar. Disse que me pagaria o dobro do que o senhor paga se eu o matasse.

O chefe olhou Gascoin fixamente.

___ E você deve presumir que eu vou pagar ainda mais para você não fazer isso? – disse calmo.

___ Na verdade não. – levantou-se – posso pegar um uísque, chefe?

Ele fez sinal de "fique à vontade". Gascoin continuou.

___ Senhor, Michael Delano é um homem que não veio de baixo, como o senhor, eu e o Billy, por exemplo. Ele herdou boa parte de sua fortuna. Quero dizer, o valor que nós damos a nossas conquistas é diferente. O que eu proponho é que além de tirar de Delano o poder dele sobre boa parte da cidade, é dá-lo toda a cidade!

O chefe não gostou e pediu explicações.

___ Não entende? O que vocês dois juntos controlam? A distribuição de bebidas, quem vive e quem morre, quem assume a prefeitura...

___ Nem tanto, meu rapaz. Não nos metemos um política.

___ E eis seu maior erro, senhor. É exatamente na política que estão os seus maiores lucros. Quando conseguirem ter alguém no gabinete da prefeitura, não precisarão contrabandear bebidas, basta produzi-las e vendê-las. Não será mais ilegal.

___ Sabe quanto tempo isso demoraria!?

___ Muito pouco se agirem sozinhos e ficarem se engalfinhando como dois coiotes.

O chefe sentou-se. Já começava a ter se arrependido de contratar aquele homem. O tal Gascoin agora vinha com idéias de controlarem tanto a cidade, quanto a polícia, quanto seus eleitores, que tudo seria dominado pelas duas famílias! Teriam tanto poder financeiro e político que seriam, intocáveis!

De repente isso passou a parecer interessante.

___ Está propondo o que, exatamente?

___ Já provei a Michael Delano que está em perigo. Executei seus melhores homens, aqueles que cuidam da arrecadação de seu dinheiro. Foi fácil, ele não ficou pobre mas sabe que posso fazê-lo a hora que bem entender, afinal, eu limpei Chicago.

___ Mas Delano lhe propôs um acordo, deve supor que irá me matar.


Autor: Brunno Bueno


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