Como A Experiência Influencia A Aquisição Da Linguagem



Márcia Rejane Alves Rodrigues
Maria Neuma Freire Araújo

Este artigo vem ilustrar de forma sintética os principais pressupostos da teoria do comportamento, mais conhecida como Behaviorismo1, tese embasada na corrente filosófica empírica, onde trata do conhecimento humano, incluindo a Aquisição da Linguagem, como sendo conseguido através das experiências vividas por cada indivíduo.

Como ocorre a aquisição da Linguagem? Que processos acontecem na mente de um indivíduo, quando este está aprendendo a falar determinada língua? O que está por trás desse processo de aquisição? O que influencia, favorece e/ou desfavorece essa aquisição?

Essas perguntas tem sido alvo de muitos estudos, desde muito cedo até hoje. E, como resposta dessas perguntas tem-se um acervo de teorias. Todas vêm contribuindo para novas descobertas, de uma maneira ou de outra, pois, a partir de suas postulações vem se especular mais, e pode ser que se esteja chegando cada vez mais próximo de responder com firmeza o que está em questão.

Uma das teses que se tem sobre a aquisição e o desenvolvimento da linguagem é a tese Behaviorista. E esta teoria, assim como todas as correntes teóricas “aquisicionistas” fazem ou fizeram suas especulações voltadas para fatos lingüísticos infantis.

O Behaviorismo é baseado numa proposta empirista cuja

...não considerava a mente como um componente fundamental para justificar o processo de aquisição. Para ela, importava o fato de o conhecimento humano ser derivado da experiência e de a única capacidade inata que ele possuía ser aquela de formar associações entre estímulos ou entre estímulos e respostas (E-R). (DEL RÉ et al., 2006).

Ou seja, o empirismo é uma corrente filosófica que afirma que todo e qualquer conhecimento deriva das experiências vividas por cada indivíduo.

Burruhs F. Skinner, psicólogo americano, um dos mais importantes behavioristas, acredita ter encontrado a explicação para o processo de aquisição do conhecimento humano de um modo geral, incluindo, certamente, o processo de aquisição da linguagem. “Skinner propunha ser capaz de predizer e controlar o comportamento verbal mediante variáveis que controlam o comportamento”2: estímulo-resposta, imitação e reforço. Sendo indutivo, o processo de aquisição do conhecimento.

Essa proposta afirma que um estímulo provoca uma resposta externa. Se esta resposta for reforçada positivamente, espera-se que esse comportamento se repita várias vezes. Já no caso da resposta ser reforçada negativamente, este comportamento tenderá a ser eliminado. E, no caso de não haver esforço algum, o comportamento também propende a não se repetir mais.

Hipoteticamente, uma criança deitada e acordada, ouve a voz de sua mãe (estímulo) e começa a chorar (resposta). Sua mãe vem e a coloca nos braços (reforço positivo). Essa ação da mãe faz com que a criança aprenda que, quando ela quiser ir para sua mãe, ela deverá chorar.

Para se aprender a falar o processo é o mesmo. Por exemplo, uma criança vê uma outra, mais velha, comendo chocolate (estímulo), e diz “dá” (resposta); se a criança mais velha lhe der um pedaço do chocolate, essa ação será, segundo Skinner, um reforço positivo, o que fará com que ela mantenha esse comportamento. Caso a criança mais velha não lhe ceda o chocolate (reforço negativo), ela não mais agirá dessa forma quando desejar algo semelhante.

O ambiente fornece os estímulos - neste caso, estímulos lingüísticos - e a criança fornece as respostas - tanto pela compreensão como pela produção lingüística. A criança, por esta teoria, durante o processo de aquisição lingüística, é recompensada ou reforçada na sua produção pelos adultos que a rodeiam (VICENTE MARTINS)3.

A imitação também é uma forma muito influente na aprendizagem da fala, já que as crianças aprendem muitas palavras através da imitação da fala de outras pessoas que falam próximo a ela. É muito comum ver crianças repetindo palavras que adultos ou crianças mais velhas próximas a elas falam.

Dessa forma, o Behaviorismo postula que o aprendizado da língua é semelhante ao de qualquer outro aprendizado, sendo adquirido através de reforços e privações.

A visão que os behavioristas tinham sobre a aquisição da linguagem assumia a afirmativa que as crianças nascem com comportamento inato preexistente, mas de forma bem reduzido. Por exemplo, acreditavam que as crianças possuíam, inativamente, algumas habilidades que seriam gerais.

Primeiramente, ela seria capaz de vocalizar. Depois, seria capaz de processar a vocalização de outros e presumivelmente, reconhecer similaridades entre essas e suas próprias vocalizações. Em terceiro lugar, teria a capacidade de relacionar a vocalização 'mamãe' com o contexto da mãe. Chamemos a isso a capacidade de formar associações. Além disso, a criança nasceria com impulsos básicos que a motivariam a formar associações. Por exemplo, um desses impulsos seria a necessidade de alimentação. As associações reais que se formariam, tais como entre a palavra ‘mamãe’, são resultados dessa experiência. (INGRAM,  1989).4

Apesar da explicação que o Behaviorismo oferece para entendermos a Aquisição da linguagem, encontra-se fatos que esta teoria não explica. Um deles é o evento de se conseguir produzir frases nunca ouvidas antes, como também compreendê-la; outro, é a rapidez do processo, pois uma criança de quatro anos, por exemplo, já utiliza um conjunto grandioso de regras da língua-mãe; um outro ponto seria o caso que ocorre com praticamente todas as crianças que estão aprendendo a falar que é o de dizer palavras que elas nunca ouviram antes mas, percebendo-se que nestas palavras a criança utiliza a forma regular em verbos irregulares, quando dizem, por exemplo, as palavras sabo, fazeu. Todos os casos citados negam, de certa forma, as postulações do Behaviorismo, fazendo crer que as crianças analisam a língua que falam e a partir daí produzem novas palavras.

Enquanto não se descobre qual a teoria certeira para explicar o processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem de forma completa, uma certeza já há: a tese behaviorista trouxe grandes descobertas para os estudos da Aquisição da Linguagem contribuindo consideravelmente para os estudos envoltos a questão de como o ser humano adquire a língua que fala e como esse processo se desenvolve, portanto, deve ser valorizada e tida como grande tributária na caminhada de descoberta dessa grande “capacidade” do ser humano.

NOTAS

1-     O termo Behaviorismo deriva da palavra inglesa behavior que significa comportamento.

2-     Esta citação foi tirada de uma apostila que não possuía as referências bibliográficas, inclusive o nome do autor.

3-     O ano da publicação não foi colocado porque não conseguimos localizá-lo na fonte pesquisada.

4-     Esta citação é uma tradução feita pelos autores do artigo do qual ela foi retirada, no entanto, a citação original é de autoria de INGRAM.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUGUSTO, M. R. A. (jul./dez. 1995) Teoria gerativa e aquisição da linguagem. Feira de Santana. p. 115-120.

MARTINS, V. A teoria behaviorista da aquisição da linguagem. http://www.profala.com/arteducesp71.htm. Acesso em: 22/01/2007.

RÉ, A. D. et al. (2006). Aquisição da Linguagem uma abordagem psicolingüística. Editora contexto. São Paulo.

Márcia Rejane Alves Rodrigues e Maria Neuma Freire Araújo escreveram o presente artigo sob a orientação do professor Vicente Martins, da Universidade Estadual Vale do Acaraú(UVA), em Sobral, Estado do Ceará.


Autor: Vicente Martins


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