BONS E MAUS PASTORES - Geraldo Barboza de Carvalho



BONS E MAUS PASTORES - Geraldo Barboza de Carvalho

"Eu sou o bom Pastor. O bom Pastor conhece suas ovelhas e dá a vida por elas". Por isto, ele é o símbolo do sumo Sacerdote, que dá a vida por nós. O bom pastor é a representação emblemática de Javé, haurida da experiência existencial do povo eleito com o Deus da sua fé. Sim, o que sabemos do Deus de Abraão, Isaac, Jacó e Jesus Cristo vem da experiência que temos dele em nossa história de vida e na história do povo em geral. A experiência de Deus brota da relação de fé, amor e esperança decorrente da sua aliança conosco. Chama-se revelação a experiência, o conhecimento de Deus por sinais historicamente observáveis.

Jesus diz claramente: "Alguém jamais viu (experiência direta) Deus: o Filho único, que vive na intimidade do Pai, este o deu a conhecer" Jo 1,18. Como? Mostrando o que o Pai faz por nós. "A prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós quando éramos ainda pecadores. Quando inda éramos inimigos de Deus, fomos reconciliados com ele pela morte de Cristo" Rm 5,8-9. A encarnação do Filho, sua vida pública, sua obra, sua Pessoa, sua dedicação aos fracos, sua morte de cruz pelos pecadores, tudo que ele fez e disse são fatos históricos registrados por hagiógrafos fidedignos e na história universal. Todos esses acontecimentos são sinais reveladores da Pessoa do Pai de Jesus e nosso Pai. Os sinais do Pai no mundo são parâmetros, balizas que apontam na direção dele e interpelam a nossa liberdade a favor ou contra ele. Nossa decisão por Deus a partir dos seus sinais na história chama-se fé. Fé é a livre e confiante adesão à revelação de Deus, arrimada nas provas, nos sinais históricos do amor de Deus por nós. Sem fé não teremos experiência de Deus. Só o Filho Unigênito sabe pessoalmente quem e como é o Pai, porque priva de sua intimidade na Trindade imanente desde toda eternidade. Só o Filho viu o Pai e pode falar dele em conhecimento de causa. Mas nós só temos acesso ao Pai mediante a fé na revelação que Jesus fez do Pai. O que Jesus revela do Pai é testemunho do que Ele viu e ouviu dele, não do que ouviu dizer dele. Nós sabemos do Pai por revelação de Jesus, em atos e palavras, que nós aceitamos na fé. Fazendo-se humano como nós, Jesus nos revelou o Pai por sua experiência histórica dele. Dando-nos a conhecer quem é o Pai, Jesus nos abre o caminho para chegar até Ele e experimentar sua bondade. "Eu sou o caminho, a verdade e a vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim" Jo 14,6. Com o detalhe não desprezível: O caminho de Jesus que leva ao Pai começa pela passagem da porta estreita e se torna caminho da cruz, que é outro nome da fidelidade ao Pai até dar a vida por amor dos pecadores que o Pai ama e perdoa com infinita compaixão, a ponto de entregar o Filho Único por nós. Na história, na condição encarnatória a experiência que Jesus teve do Pai foi sofrida e incluiu a cruz. E adverte: "Quem quiser me seguir para a casa do Pai, renuncie a si mesmo, tome a cruz de sua fidelidade, do seu compromisso, e lá onde eu estiver, aí estará meu discípulo também" (na cruz e na glória). O Filho veio viver conosco para nos ensinar essa sabedoria de vida: o caminho do céu é o da cruz, só verá o Pai quem o trilhar. "Ele não veio ocupar-se com os anjos, mas, sim, com a descendência de Abraão. Convinha, por isso, que ele em tudo fosse semelhante a seus irmãos, para expiar assim os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados. Convinha, pois, que aquele, por quem e para quem todas as coisas existem, querendo conduzir muitos filhos à glória, levasse à perfeição, por meio do sofrimento, o Autor da salvação deles. Nos dias de sua vida terrestre, ele apresentou pedidos, súplicas, com lágrimas, veemente clamor àquele que o podia salvar da morte; foi atendido por causa da sua submissão. Embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo sofrimento. Levado à perfeição, tornou-se para todos que lhe obedecem princípio de salvação eterna, tendo recebido de Deus o título de sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec" Hb 2,10-18; 5,7-10. Sacerdócio existencial, não ritual, oferta da própria vida, do próprio corpo em sacrifício de resgate dos pecadores, não oferta de animais. A figura do bom Pastor, que se dedica às ovelhas e generosamente expõe a vida por elas, é a imagem da entrega vicária de Jesus pelos irmãos até dar a vida por eles na cruz. A figura de Javé Pastor é tirada da realidade pastoril do povo de Israel. O pastor ama suas ovelhas, cuida delas, as defende como se cuidasse da própria vida. As ovelhas são a vida do pastor e de sua família, pois fornecem comida, agasalho e cordeiros pra o sacrifício ritual. Pastor e rebanho têm entre si relações quase afetivas. Ele as conhece pelo nome, trata-as com carinho de pai, especialmente as paridas e fracas. Elas conhecem a voz e os gestos do pastor, e lhe obedecem como filhas, quando as conduz para o curral ou para o pasto. Procura para elas o melhor pasto, mata sua sede com a água mais fresca, livra-as dos inimigos, abriga-as nas intempéries, por elas serem indefesas, presas fáceis do inimigo, carentes de cuidados do seu pastor que as conduz e apascenta. Enfim, ele dá tudo de si pelas amadas ovelhas. Foi do amor cuidadoso do pastor por seu rebanho, o qual visa mais os interesses das ovelhas que os seus, que se originou a emblemática, paradigmática figura de Javé Pastor do seu povo, que perpassa as Escrituras inteiras, cristalizando-se no Pastor por antonomásia, Jesus de Nazaré. O povo tem consciência nítida do pastoreio de Javé sobre ele e o confessa. "Sabei que só Javé é Deus, ele nos fez e a ele pertencemos, somos o seu povo, o rebanho do seu pasto. Javé é nosso Deus, nosso Pastor, e nós o seu povo, o rebanho que conduz com sua mão. Javé é meu pastor, nada me falta. Em verdes pastagens me faz repousar. Para as águas tranqüilas me conduz e restaura minhas forças; ele me guia por caminhos justos por causa do seu nome. Ainda que eu caminhe por um vale tenebroso, nenhum mal temerei, pois estás junto de mim; teu bastão e teu cajado me deixam tranqüilo. Aquele que tem caminhado nas trevas, sem nenhuma luz, ponha sua confiança no nome de Javé, tome arrimo no seu Deus. Diante de mim preparas uma mesa, diante dos meus opressores; unges minha cabeça com óleo, e minha taça transborda. Sim, fidelidade, amor me seguirão todos os dias da minha vida; minha morada é a casa de Javé por dias sem fim". Javé se declara pastor do povo: "Vós, minhas ovelhas, sois o rebanho humano do meu pasto e eu, vosso Deus, vosso pastor. Eu mesmo cuidarei do meu rebanho e o procurarei. Vou trazer salvação ao meu rebanho. Minhas ovelhas habitarão tranqüilas, sem que ninguém as amedronte" Sl 94 (95),7; 99 (100),3; Sl 22 (23); Is 50,10; Ez 34,11. 22.28.31. Ser pastor é, pois, um dos traços mais sensíveis da personalidade de Javé, que Jesus chama com ternura de "Pai misericordioso, Pai de toda consolação", aconselhando-nos a "ser bons e misericordiosos como o Pai o é, até para os maus e ingratos. Sede santos, porque Javé, vosso Deus, é santo "2 Cor 1,3; Lc 6,36; Lv 19,2. Ser santo não é uma opção, mas a única opção pra nos relacionarmos corretamente com Deus. Santidade não do mérito das obras sem fé, mas santidade que nos é comunicada gratuitamente pela fé na redenção operada por Jesus Cristo por nós. Justiça da fé, pois, não das obras da Lei. Mudança de água para vinho. Quem é ovelha e sabe o valor de um pastor entende o que é ter fé.

Os Patriarcas eram pastores de ovelhas e constituídos por Javé como pastores do povo. Abraão foi arrancado por Javé de sua fazenda em Ur da Caldéia, na Mesopotâmia (Iraque e Kwait) para fazer uma caminha de mais de mil quilômetros e até Canaã e começar um novo povo, rebanho de Javé, cuja característica maior é a fé. Os descendentes de Abraão e Sara se relacionarão com Javé pela fé. Abraão é o pai da linhagem de filhos "não nascidos da carne e do sangue, mas nascidos do Espírito de Deus" mediante a fé. "Abraão creu contra toda expectativa e isso lhe foi contado como justiça". A justiça que se obtém pela fé será explorada abundantemente por Paulo de Tarso, a partir da fé modelar de Abraão, o pai da fé para judeus e cristãos, até muçulmanos. Moisés foi pastor de ovelhas na fazenda de Jetro, em Madiã, fugido do Egito depois que assassinou um feitor egípcio que maltratava um trabalhador hebreu, como Moisés. Depois de ficar rico na casa do sogro, Javé escolheu Moisés para libertar o povo da escravidão do Egito e conduzi-lo pelo deserto como um pastor conduz seu rebanho, até a Terra que mana leite e mel. Moisés foi o maior libertador e pastor do rebanho de Javé, com exceção de Jesus Cristo, o Pastor por antonomásia. Uma vez o povo instalado em Canaã, Javé constituiu os reis, sacerdote e profetas de Israel como pastores sobre seu povo. Muitos foram infiéis à missão, maltrataram, em vez de cuidarem das ovelhas de Javé. Javé ficava furioso com esses pastores relapsos e pedia-lhes severas contas pelo sofrimento que infligiam às ovelhas que lhes confiou. "Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho. Que direito tendes vós de esmagar o meu povo, moer a face dos pobres? Ai dos pastores de Israel que apascentam a si mesmos. Não devem os pastores apascentar o seu rebanho? Mas vos vestis de lã e vos alimentais com leite, sacrificais as ovelhas mais gordas, mas não apascentais o rebanho. Não restaurastes o vigor das ovelhas abatidas, não tratastes a ferida da que sofreu fratura, não reconduzistes a desgarrada, não curastes a que está doente, não buscastes a perdida, mas dominastes sobre ela com dureza e violência. Por falta de pastor, elas se dispersaram e acabaram por servir de presa para os animais do campo; e se dispersaram. O meu rebanho dispersou-se pelos montes, por todos os outeiros elevados, por toda a superfície da terra dispersou-se o meu rebanho. Não há quem o procure ou quem vá a sua busca. Por isso, assim disse Javé, Deus de Israel, contra os pastores que apascentam o meu povo: Dispersastes as minhas ovelhas, as expulsastes e não cuidastes delas. Visto que o meu rebanho é objeto de saque, já que os meus pastores não se preocuparam com meu ele, porque apascentaram a si mesmos, e não apascentaram meu rebanho, eis-me contra os pastores. Das suas mãos requererei prestação de contas sobre o rebanho, os impedirei de apascentá-lo. Castigar-vos-ei pela maldade de vossas ações. Deste modo os pastores não tornarão a se auto-apascentar. Livrarei minhas ovelhas da sua boca e não continuarão a servir-lhes de presa. O resto das minhas ovelhas, eu mesmo reunirei de todas as terras para as quais as dispersei e as farei retornar às suas pastagens: serão férteis e se multiplicarão. Eu mesmo cuidarei do meu rebanho, certamente o procurarei. Como um pastor cuida do seu rebanho, quando está no meio de suas ovelhas dispersas, assim cuidarei das minhas ovelhas e as recolherei de todos os lugares por onde se dispersaram em um dia de nuvem e escuridão. Apascentá-las-ei em um bom pasto. Elas repousarão num bom pasto e encontrarão forragem rica sobre os montes de Israel. Meu rebanho eu mesmo apascentarei e lhe darei repouso. Buscarei a ovelha que estiver perdida, reconduzirei a que estiver desgarrada, pensarei a que estiver fraturada e restaurarei a que estiver abatida. Quanto à gorda e vigorosa, guardá-la-ei e a apascentarei com o direito (As ovelhas anêmicas precisam de comida, não de instrução; as gordas, já bem alimentadas em seu corpo, precisam nutrir suas mentes pela instrução e serem educadas nas boas maneiras de Javé). Quanto a vós, minhas ovelhas, julgarei entre ovelha e ovelha, entre carneiros e bodes. Por ventura vos parece pouco o pastardes no melhor pasto, mas inda pisais o resto do pasto com vossos pés, beberdes água limpa, mas ainda turvais o resto com vossos pés? E minhas ovelhas hão de pastar o pisado pelos vossos pés e beber o turvado pelos vossos pés? Eis que vou julgar entre ovelha gorda e ovelha magra. Visto que empurrastes com os ombros e os lados, escorneastes as ovelhas abatidas, a ponto de afugentá-las para longe, eu mesmo vou trazer salvação ao meu rebanho, de modo que não mais sejam saqueadas. Eu estabelecerei pastores para elas, que as apascentarão; elas não mais terão medo nem pavor, não se perderão. Dias virão em que suscitarei a Davi um germe justo; um rei reinará, agirá com inteligência e exercerá na terra o direito e a justiça. Ele as apascentará e lhes servirá de pastor. Concluirei com elas uma aliança de paz, extirparei da terra as feras, de modo a habitarem no deserto em segurança e dormirem nos seus bosques. Não voltarão a servir de presa às nações, as feras não as devorarão. Habitarão tranqüilas, sem alguém amedrontá-las. Não voltarão a ser colhidas pela fome na terra. Então saberão que eu, Javé, estou com elas e elas constituem o meu povo. E vós, minhas ovelhas, vós sois o rebanho humano do meu pasto, eu o vosso Deus" Jr 23,1-6;Is 3,15; Ez 34. Bela declaração de amor do Pastor apaixonado por suas ovelhas. Em nome deste amor, Javé se indigna contra os pastores que não respeitam as ovelhas que lhe foram confiadas. Não as respeitam porque não as amam. "Ai dos pastores que perdem e dispersam as ovelhas do meu rebanho. Que direito tendes de esmagar o meu povo e moer a face dos pobres? Eis que vou castigar-vos pela maldade de vossas ações. Deste modo os pastores não tornarão a apascentar a si mesmos. Livrarei minhas ovelhas da sua boca e não continuarão a servir-lhes de presa".

Quando chegou a plenitude do tempo, no alvorecer da nova aliança, as promessas de Javé realizaram-se na Pessoa Jesus Cristo. 1a-: "Suscitarei a Davi um germe justo; um rei reinará e agirá com inteligência e exercerá na terra o direito e a justiça". O Germe justo de Davi, o rei-pastor Jesus, dedica-se por inteiro às ovelhas que o Pai lhe confiou. Ao longo de sua vida pública, nos sermões e parábolas, Ele usa com abundância a figura do pastor. 2a-: "Eu mesmo apascentarei meu rebanho". O Filho de Deus, enviado do céu para cumprir à risca o seu projeto salvífico, incorpora o espírito do pastor zeloso, Javé, e como ele ama as ovelhas e cuida delas, em oposição aos maus pastores, que só as exploram e maltratam. Ele é o bom pastor, oposto aos pastores mercenários, que cuidam das ovelhas por dinheiro, não por amor. 3a-: "Estabelecerei pastores pra minhas ovelhas". Durante a missão profética e diaconal, o bom pastor Jesus escolheu doze apóstolos e setentas e dois discípulos e lhes transmitiu, e a seus sucessores até o dia de hoje, o múnus de pastorear suas ovelhas. Como os primeiros discípulos eram pescadores, escolhidos à beira-mar, Jesus lhes diz: doravante sereis pescadores de homens. A idéia de pescador de gente não pegou, mas a de pastor terá longa história. Já durante a vida pública Jesus se identifica mais com o pastor que com o pescador, e transmite aos discípulos a missão de apascentar suas ovelhas, não pescar seus peixes, "com perseguições. Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. O servo não é maior que o seu senhor, ou o discípulo que o mestre, ou o enviado que aquele que o enviou. Basta que o discípulo se torne como o mestre e o servo como seu senhor. Se chamaram Beelzebu o chefe da família, quanto mais chamarão assim aos seus familiares. Se me perseguiram, vos perseguirão também. Se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa. Mas tudo isto eles farão contra vós, por causa do meu nome, porque não conhecem (não crêem) aquele que me enviou. Como o Pai me enviou, eu vos envio também. Recebei o Espírito Santo. Quem recebe aquele que eu enviar, a mim recebe e quem me recebe, recebe aquele que me enviou. Eis que vos envio como ovelhas entre lobos. No mundo tereis tribulações. Expulsar-vos-ão das sinagogas e entregarão ao sinédrio (assembléia político-religiosa judaica) e flagelarão em suas sinagogas. Por causa de mim, sereis conduzidos à presença dos governadores e dos reis, para dar testemunho perante eles e as nações. Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados em saber como ou o que haveis falar. Naquele momento vos será indicado o que deveis falar, porque não sereis vós que estareis falando, mas o Espírito do vosso Pai é que falará em vós. Sereis odiados por todos por causa do meu nome. Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro, me odiou a mim. Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que é seu. Como não sois do mundo e minha escolha vos separou do mundo, por isso o mundo vos odeia. Virá a hora em que aquele que vos matar julgará realizar um culto a Deus. Mas coragem: eu venci o mundo", e vós o vencereis também se acreditardes em mim. E é esta a vitória que venceu o mundo: a nossa fé. Se compreenderdes isto e o praticardes, felizes sereis" Jo 13,16-17.20; 15,20; 16,2; 20,21-22; Mt 10,16.24-25; 1 Jo 5,4. Ao concluir sua missão visível entre nós com a morte cruenta e ressurreição gloriosa, ao retornar para o Pai de onde veio, Jesus reitera a transmissão do pastoreio aos Doze e seus sucessores, que serão os novos pastores do novo povo Deus, encabeçados por Pedro, na continuidade do pastoreio de Javé e de Jesus. Às margens do Lago de Tiberíades, logo após uma pesca abundante por ordem de Jesus e uma refeição com eles à beira-mar – pesca improvável, pois os discípulos haviam pescado a noite inteira e nada conseguido – "depois de comerem, Jesus disse a Pedro: Simão, filho de João, tu me amas mais que a estes? Ele lhe respondeu: Sim, Senhor, sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta os meus cordeiros. Segunda vez: Simão, filho de João, amas-me? E Pedro: Sim, Senhor, sabes que te amo. E Jesus: Apascenta minhas ovelhas. Terceira vez lhe disse: Simão, filho de João, tu me amas? Entristeceu-se Pedro porque pela terceira vez lhe perguntara: amas-me, e lhe disse: Senhor, sabes tudo; sabes que te amo. Jesus lhe disse: Apascenta as minhas ovelhas. Toda autoridade sobre o céu e a terra me foi entregue. Ide por todo o mundo e proclamai o Evangelho a toda criatura: fazei que todas as nações se tornem discípulos, ensinando-as a observar tudo que vos ensinei. E eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos. E eles saíram por toda parte a pregar, agindo com eles o Senhor, confirmando a Palavra por meio dos sinais que a acompanhavam" Jo 21,15-17; Mc 16,15.20; Mt 28,18-20. Está implícita na intenção missionária de Deus Trino de salvar todos os povos, de hoje e do futuro, a transmissão do mandato apostólico aos Doze antes de Jesus subir ao Pai, em continuidade ao mandato que recebeu dele e cumpriu até a instituição da eucaristia, quando encerra sua missão profética e régia e inicia a missão sacerdotal junto ao Pai. "Deus, nosso Salvador, quer que todos os seres humanos sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade" 1 Tm 2,3-4. A Verdade é Jesus. Por isso, 4a-: Pedro e companheiros saíram - alguns, obrigados - de Jerusalém a anunciar a boa nova da salvação às nações. "Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, na Judéia e Samaria, até os confins da terra". Pouco a pouco, foram passando a seus sucessores o mandato recebido de Jesus, mantendo a sucessão missionária, apostólica até hoje. ("stolé" é carta, mensagem enviada, missiva; daí, epístola = carta circular [epi = o que está em torno de, o que circula; apóstolo = o enviado, missionário]. "Aos presbíteros que estão entre nós eu exorto: Estai atentos a vós mesmos e a todo o rebanho de Jesus Cristo: nele o Espírito Santo constituiu-vos guardiões, para apascentardes a Igreja de Deus, que ele adquiriu para si pelo sangue do seu próprio Filho. Apascentai o rebanho de Deus que vos foi confiado, cuidando dele, não como por coação, mas de livre vontade como Deus o quer, não por torpe ganância, mas por devoção; não como senhores daqueles que vos couberam por sorte, mas, antes, como modelos do rebanho. Assim, quando aparecer o supremo Pastor, recebereis a imarcescível coroa da glória"1 Pd 5,1-4; At 1,8; 20,28. O rebanho é do bom Pastor Jesus; nós somos seus servidores, não donos das ovelhas que ele nos entregou para pastorear.

Jesus, Rei, Sacerdote, Profeta, Morada de Javé entre o povo, é o Pastor por antonomásia do rebanho do Pai. Todas as promessas do AT se realizam plena e definitivamente em, por e com Jesus. O Menino entrou no mundo entre carneiros e ovelhas. "Maria o envolveu em faixas e o deitou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles (Maria, José e Jesus) na hospedaria" onde se amontoavam homens, mulheres e crianças da tribo de Judá, estirpe de Davi, vindos de toda parte para o recenseamento convocado pelo Imperador Augusto. "Veio ao mundo para os que eram seus, e os seus não o receberam" Jo 1,12. As primeiras pessoas a visitar e acolher Jesus na noite do seu nascimento em Belém foram pastores de ovelhas, considerados impuros. "Na mesma região havia pastores que estavam no campo e durante as vigílias da noite montavam guarda ao seu rebanho. O anjo de Deus apareceu-lhes e a glória do Senhor envolveu-os de luz; e ficaram tomados de grande temor. Mas o anjo lhes disse: não temais! Eis que vos anuncio uma grande alegria, que será para todo opovo: Nasceu-vos hoje o Salvador, que é Cristo Jesus, na cidade de Davi. Isto vos servirá de sinal: encontrareis um recém-nascido deitado numa manjedoura envolto em faixas . De repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste, a louvar Deus e dizer: Glória a Deus no mais alto do céu, paz na terra aos homens que ele ama. Quando, em direção ao céu, os anjos os deixaram, os pastores disseram entre si: Vamos a Belém e vejamos o que aconteceu, o que o Senhor nos deu a conhecer. Então, foram às pressas, encontraram José, Maria e o recém-nascido deitado na manjedoura. Vendo-o, contaram o que lhes fora dito a respeito do menino; e todos os que os ouviram ficaram maravilhados com as palavras dos pastores. Mas Maria guardava cuidadosamente todos esses acontecimentos e os meditava em seu coração. E os pastores voltaram, glorificando e louvando Deus por tudo que tinham visto e ouvido, conforme lhes fora dito" Lc 2,8-20. Jesus, conforme prometido, é o Germe justo de Davi, o rei-pastor que reina com inteligência e exerce na terra o direito e a justiça, dedicando-se por inteiro às ovelhas que o Pai lhe confiou. Mas o rei Jesus, ao contrário de seu poderoso ancestral, nasceu, viveu e morreu pobre, embora seja o Senhor de tudo que existe. Ele renunciou a todo direito para ser só dever, só dom. Renunciou até à glória que lhe é devida, em nome da auto-estima daquele que nada têm e nada são. "Conheceis, por certo, a generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo: de rico, pois tudo que existe foi feito por ele e para ele, fez-se pobre por causa de vós, para que vos enriquecer por sua pobreza". Ele, "no qual habita corporalmente toda a plenitude da divindade", tinha aparência humana humilde, aparência de pobre, de servo, mas trazia em si a riqueza que o mundo não tem: a vida gratuita do Deus trino e uno, Origem da vida, Criador de tudo que existe no céu e na terra. O Pai o enviou ao mundo, com o poder da Mãe Ruah, com a missão exclusiva de dar esperança, auto-estima, alegria, paz, numa palavra, dar vida abundante ao rebanho humano abandonado, sem pastor, auto-estima nem esperança. Estas ovelhas perdidas são as cordas vibráteis do coração misericordioso do bom Pastor. Dizia aos fariseus e doutores da Lei: "Não vim buscar os sadios, mas os doentes; não vim salvar os santos, mas os pecadores". Compadece-se do povo abandonado das autoridades religiosas de Jerusalém, vagando sem rumo pelas cidades e aldeias de Israel como ovelhas e carneiros sem pastor, sem dono ou guia. Pastores havia, mas não amavam as ovelhas, não tinham laços afetivos com elas. Por isso, em lugar do rebanho, cuidavam dos próprios interesses, sobretudo os materiais. Na parábola da ovelha perdida, Jesus dá o tom do seu pastoreio: prefere as ovelhas perdidas: pobres, doentes, deficientes, prostitutas, publicanos, crianças, mulheres, órfãos e viúvas. As ovelhas marginalizadas são o alvo dos cuidados do bom pastor. O amor de Jesus por elas é tão grande que é capaz de deixar 99 em segurança no aprisco e sair em buscas da única ovelha que se desgarrou. É que, como Javé, "não lhe interessa perder o pecador, mas que se converta e viva" Ez 18,23. Ao invés de maltratar e matar as ovelhas, por elas o bom pastor dá a vida, qual cordeiro de expiação entregue em sacrifício pelos que ama. "O Filho do Homem não veio ser servido (como os reis da terra), mas servir e dar a vida em resgate da multidão" (a realeza de Jesus é de serviço, não de mando). João Batista reconheceu em Jesus o novo Cordeiro de expiação dos pecados do povo. "Ele vê Jesus aproximar-se dele e diz: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo". De fato, o mundo não pratica nem tem pecado, mas as pessoas. Mas, há o pecado do mundo. Que é o pecado do mundo? São as instituições e estruturas religiosas, sociais, políticas, criadas por poderosos visando seus interesses, excluindo os interesses da maioria da população. Estas entidades religioso- sócio-políticas só garantem direitos aos poderosos, e impõem pesadas obrigações, pesados fardos à população: pagar impostos, cumprir obrigações religiosas. Coisas que o povo não tinha condições de cumprir. Por isso, as autoridades os declaravam pecadores. Essa carga de obrigações não cumpridas que pesava na consciência do povo é o pecado do mundo. Não se trata de pecados praticados pelo povo, mas pecados sofridos por ele, imputados pelas autoridades religiosas judias, geradores de culpa patológica, configurados em baixa auto-estima, discriminação, paralisia incapacitante de mente e corpo. O pecado do mundo, introjetado como uma pústula no coração, na mente do povo pobre, ignorante, era a grande enfermidade social que infelicitava o povo judeu no tempo de Jesus, que surge como luz na escuridão: "O povo que andava nas trevas viu a grande luz". Luz que é vida e remédio para as enfermidades do povo. Como o povo vivia paralisado sob a culpa patológica, que o incapacitava para reagir à opressão que sofria, Jesus assume a causa e as dores, morais e físicas do povo e enfrenta as autoridades religiosas de Jerusalém, cujo símbolo de opressão era o Templo, disposto a pôr termo à situação deprimente do povo, mesmo que tivesse de dar a vida pela causa que abraçou. "Eram nossas enfermidades e dores que ele carregava, levava sobre si. Mas nós o tínhamos como vítima do castigo, ferido por Deus e humilhado. Mas foi transpassado por causa das nossas transgressões, esmagado em virtude das nossas iniqüidades. O castigo que havia de trazer-nos a paz, caiu sobre ele, sim, por suas feridas fomos curados. Todos nós como ovelhas, andávamos errantes, seguindo cada o caminho próprio, mas Javé fez cair sobre ele as iniqüidades de todos nós. Foi maltratado, humilhou-se livremente e não abriu a boca, como um cordeiro conduzido ao matadouro, uma ovelha que permanece muda na presença dos seus tosquiadores, não abriu a boca. Se ele oferece sua vida em sacrifício pelo pecado, certamente verá uma descendência, prolongará os seus dias, e por meio dele o desígnio de Javé há de triunfar. Após o trabalho fatigante de sua alma ele verá a luz e se fartará. Pelo seu conhecimento (por sua experiência da desgraça humana, que ele tomou sobre si por amor por nós para destruí-la e transformá-la em vida), o justo, meu Servo, justificará a muitos e levará sobre si suas transgressões. Levou sobre si o pecado de muitos (pecado do mundo, culpa patológica), pelos transgressores intercedeu" Jo 1,29; Is 53,4-15. O sacrifício do Cordeiro de Deus é paradigmático: todo que quiser se salvar, fazer parte do reino de Deus terá de passar pele batismo de fogo, pela angustura, a porta estreita por onde Jesus passou. "Larga é a porta da perdição, estreita, a porta do redil das ovelhas. Mas, quem não entrar pela porta estreita, mas por outra, é ladrão e assaltante; quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. A este o porteiro (o Pai, dono do rebanho) abre: as ovelhas ouvem a sua voz, ele chama suas ovelhas uma a uma e as conduz pra fora. Tendo feito sair todas as ovelhas que são suas, caminha à frente delas, elas o seguem, pois conhecem a sua voz. Elas não seguirão um estranho, mas fugirão dele, pois não conhecem a voz dos estranhos. Eles, porém, não entenderam o sentido da parábola que Jesus contou-lhes. Disse-lhes novamente Jesus: Eu Sou a porta das ovelhas. Todos que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta. Se alguém entrar por mim, será salvo; entrará, sairá, encontrará pastagem. O ladrão vem só pra roubar e matar, destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância. Eu Sou o bom Pastor: o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas. O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê o lobo aproximar-se, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as arrebata e dispersa, porque ele é mercenário, não se importa com as ovelhas. Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: devo também conduzi-las; elas ouvirão minha voz; então haverá um só rebanho e um só pastor. O Pai me ama, porque dou minha vida para retomá-la. Ninguém a toma de mim, mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e retomá-la; este é o mandamento que recebi do meu Pai: Ele quer que todos as ovelhas se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade" Jo 10,1-18; 1 Tm 2,4. A verdade é Jesus. "Eu Sou a verdade. Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. Eu poderia confiar também na carne (valores e vaidades humanos). Se há quem julgue ter motivos humanos para gloriar-se, maiores os possuo eu: circuncidado aos oito dias, da raça de Israel, tribo de Benjamim, hebreu e filho de hebreu. Quanto à Lei, fariseu (separado, santo segundo a Lei); quanto ao zelo, perseguidor da Igreja (que substituía a Lei); quanto à justiça da Lei, declaradamente irrepreensível. Mas tudo isto, que para mim eram vantagens, considerei perdas por Cristo. De fato, julgo perda todas as coisas em comparação com o bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo, meu Senhor. Por ele, tudo desprezei, tenho na conta de esterco, pra ganhar Cristo e estar com Ele. Não com a minha justiça, que vem da Lei, mas pela justiça que se obtém pela fé em Cristo, a justiça que vem de Deus pela fé" Jo 8,32; 14,6; Fl 3,4-11. Paulo entendeu o alcance do projeto do Pai. Para realizá-lo, o Pai não hesita em entregar o Filho amado. "Deus amou tanto o mundo que entregou seu Filho único, pra que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Deus demonstra seu amor para conosco pelo fato de Cristo ter morrido por nós quando ainda éramos pecadores. Cristo sofreu por vós, deixando-vos o exemplo, a fim de que sigais seus passos. Ele não cometeu pecado algum; mentira alguma foi achada em sua boca. Quando injuriado, não revidava; ao sofrer, não ameaçava, antes punha sua causa nas mãos daquele que julga com justiça. Sobre o madeiro levou nossos pecados em seu próprio corpo, a fim de que, mortos para os nossos pecados, vivêssemos para a justiça. Por suas feridas fomos curados: estávamos desgarrados como ovelhas, mas agora retornamos ao Pastor e Supervisor das nossas vidas. Sabeis que não foi com coisas perecíveis, com prata ou ouro que fostes resgatados da vida fútil que herdastes dos vossos pais, mas pelo sangue precioso de Cristo, como de um cordeiro sem defeito e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo, mas manifestado no fim dos tempos, por causa de vós. Deus, que é rico em misericórdia, pelo amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, nos vivificou com Cristo, com ele nos ressuscitou e fez assentar nos céus, em Cristo. Já não sois estrangeiros ou adventícios, mas concidadãos dos santos, membros da Família de Deus. Pela graça fostes salvos, por meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem das obras, pra ninguém se encher de orgulho. Pois somos criaturas dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já antes tinha preparado para que nelas andássemos" Jo 3,16; Rm 5,8; 1Pd 2,21-25; 1,18-20; Ef 2,4-8.19.

Eis o quilate do bom Pastor. Ele conhece cada ovelha sua pelo nome e elas conhecem a generosidade e grandeza do seu coração, sua fidelidade e respeito pelas diferenças de cada ovelha. Ele nada lhes impõe, mas dá motivos para optarem pelos valores do Reino de Deus e por serem felizes na Casa do Pai. Deu-lhes, não um curral, mas a aconchegante Casa do Pai, onde filhos e filhos vivem em segurança, sem lágrimas, fome ou dor. Para ele, somos mais que ovelhas: somos filhos amados do Pai e irmãos de Jesus, com direito a chamar de Pai o Pai de Jesus. Isso nos foi conquistado pelo sacrifício do Cordeiro de Deus, o Pastor das nossas vidas, a Luz que ilumina nosso caminho nas trevas do mundo, "Aquele que nos ama, e que nos lavou dos nossos pecados com seu sangue e fez de nós uma Realeza e um Sacerdócio para Deus, seu Pai. A ele pertence o domínio pelos séculos dos séculos". Ele merece nossa gratidão, adoração, louvor, honra, respeito, conquistados com o testemunho de obediência ao Pai e amor aos irmãos, cujo sinal maior é o perdão dos nossos pecados, seguido da filiação divina e fraternidade com Jesus. Por tudo isto, realmente "é digno o Cordeiro imolado de receber o poder, a riqueza, sabedoria, a força, a honra, a glória e o louvor. Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro pertencem o louvor, a honra, a glória e o domínio pelos séculos sem fim"Ap 1,5-6; 5,12-13.


Autor: Geraldo Barboza de Carvalho


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