O SENHOR ARRUDA E A CORRUPÇÃO BRASILEIRA



O SENHOR ARRUDA E A CORRUPÇÃO BRASILEIRA

                                   Por Marcelo C. P. Diniz

 

Tendo em vista os últimos acontecimentos, vale relembrar o discurso do senhor José Roberto Arruda, quando empossado no governo do Distrito Federal. Ele disse que os políticos precisam ter cuidado para não desiludir as pessoas. "E o que seria pior: deixar que elas transfiram essa desilusão para a própria democracia, que deve ser permanente". E reafirmou seus princípios, ao dizer que os políticos têm de agir "estritamente de forma ética, sem nenhum tipo de permissividade".

 

A pergunta que ficou no ar, para todos nós, é a seguinte: conseguiremos manter nossa fidelidade ao sistema, mesmo sendo furtados e achincalhados seguidamente pelos nossos representantes?

 

Os dados que vêem a seguir são de um livro que escrevi em 2004. Precisam ser atualizados, o que não invalida o seu significado, até porque a maioria deles, de lá para cá, só piorou.

 

A corrupção está em toda parte

 

A corrupção é a outra face da marginalidade, atingindo proporções frequentemente maiores do que os crimes comuns. Quando um governante recebe US$50 mil para favorecer um grupo econômico, na maioria das vezes aquele grupo está vendendo alguma coisa ao governo e aumenta o preço em, no mínimo, US$50 mil mais impostos. Pior será se estiver vendendo alguma coisa da qual o governo não precisa. Aquele servidor terá, então, criado uma necessidade fútil para a administração pública. Necessidade que poderá ter custado, quem sabe, US$500 mil, mais o ônus da sua implementação.

 

Uma piada corrente diz que o corrupto europeu recebe propina para fazer um metrô, beneficiando os seus eleitores. No Brasil, ele recebe para não fazer o metrô, beneficiando os donos de ônibus.

 

A ONG “Transparência Internacional”, que publica um índice de percepção de corrupção, afirma que latino-americanos, africanos e asiáticos acham que há mais corrupção nos seus países do que os cidadãos das nações ricas.

 

“A corrupção (no Brasil) chegou a um nível tão alto que acaba atrapalhando as relações comerciais em alguns setores e confundindo a missão da atividade política.”  

           Peter Eigen, fundador da Transparência Internacional

 

O Brasil deixa de receber U$40 bilhões anualmente porque os investidores estrangeiros desconfiam das instituições do país. E um estudo do BID diz que a América Latina perde 10% do seu PIB todo ano com a corrupção.

 

E o que acontece quando a corrupção é reduzida à metade? O Banco Mundial responde:

-          redução de 51% na mortalidade infantil;

-          redução de 54% na desigualdade de distribuição de renda;

-          queda de 50% na importância da economia informal em relação ao PIB;

-          queda de 45% na população que vive com menos de US$2 por dia.

 

Sabe-se também que, nos países mais corruptos:

-          as empresas têm resultados financeiros muito piores;

-          invertem-se as prioridades. Hospitais podem ser substituídos por gastos militares;

-          pequenas empresas podem gastar até um quarto do seu lucro para evitar multas;

-          os pobres gastam grande parcela do seu orçamento familiar pagando gratificações para conseguir um atendimento qualquer, seja da polícia ou dos serviços de saúde;

-          paga-se mais por empréstimos internacionais. No Brasil, o custo do dinheiro é bem mais alto que na Finlândia;

-          as empresas escapam do pagamento de propinas caindo na informalidade. Pagam menos impostos e enfraquecem o Estado.

 

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A corrupção é fruto, em primeiro lugar, do egoísmo natural do ser humano, da falta de civilidade, do espírito individualista em sociedade. Pode ser muito favorecida pelas desigualdades sociais ou pela ganância. E é alimentada pelo capitalismo, que, principalmente após a Revolução Industrial, formou a mentalidade de que é imperativo “vencer, ter, acumular”.

 

Neste quadro, as sociedades menos educadas, mais indisciplinadas e permissivas geram, com maior facilidade, indivíduos propensos ao ilícito. E, como sempre, tudo desagua na consciência. Se se consegue dormir com o crime, por que evitá-lo? Se também o sistema é facilmente driblado, se a impunidade é a tônica, por que se preocupar?

 

O que parece estar acontecendo no Brasil é que a caça aos corruptos dá votos e vende jornais e revistas, como também aumenta a audiência dos veículos eletrônicos. Consequentemente, gera poder e dinheiro, da mesma forma que faz perder, e o conflito de interesses é que vai mostrar quem tem a força.

 

Aqui, vale um parêntesis: num país que tem uma polícia e um sistema judiciário às avessas, o papel da imprensa, enquanto responsável, é extremamente importante para fazer vir à tona os escândalos que nos rondam. A imprensa, em alguns casos, passa a exercer o papel de polícia. Acontece que a imprensa vive de novidades. Nada mais inútil do que um jornal velho. Então, o que acontece? A imprensa levanta um ato de corrupção altamente relevante. Alguns dias depois, surge outro. O primeiro caso passa para o segundo plano até desaparecer das manchetes. E, se a polícia e o judiciário não tomarem conta, temos mais uma pizza.

 

Para vencermos a corrupção, muita civilidade ainda terá que ser conquistada, o judiciário deverá recuperar agilidade e confiabilidade, os políticos deverão agir, sem sombra de dúvida, em prol do interesse público, os empresários deverão gerir seus negócios com responsabilidade social e o povo deverá estar mais educado.

 

Mas, cuidado, a corrupção não está apenas nos países pobres.

 

“Reside em...administrações vassalas, nas mais refinadas e nas mais podres forças policiais administrativas, nos lobbies das classes dominantes, nas máfias de grupos sociais emergentes, nas igrejas e seitas, nos autores e perseguidores de escândalos, nos grandes conglomerados financeiros e nas transações econômicas corriqueiras.”

Michael Hardt e Antonio Negri em “Império”

 

Transações econômicas corriqueiras: a Kroll e a ONG Transparência Brasil resolveram ouvir as empresas. 72% delas têm código de ética ou de conduta que proíbe especificamente a prática de corrupção. Será que cumprem? Segundo Claudio Weber, “o poder de se corromper virou fator de produtividade”. Pode haver um absurdo maior?

 

A Kroll e a Transparência Brasil relataram a segunda edição da sua pesquisa:

-          cerca de 70% das empresas afirmaram gastar até 3% do seu faturamento com o pagamento de propinas. Para 25% delas, este custo eleva-se entre 5% e 10%;

-          metade das empresas da amostra se candidaram em licitações públicas. Destas, 62% foram sujeitas a pedidos de propinas;

-          investigações de casos de suspeita de corrupção ocorreram apenas em 22% das empresas;

-          punições de funcionários culpados aconteceram em 14% delas.

 

Meu caro leitor, sempre que tiver oportunidade, diga não à corrupção. Os economistas do Banco Mundial chegaram à conclusão que o Brasil ocupa o 70º lugar no ranking dos países corruptos. Se chegarmos ao índice de Angola (152º), sem considerar nenhum outro fator, vamos ter uma renda per capita 75% menor em oito décadas. Se, por outro lado, chegarmos ao nível da Inglaterra (10O), ficaremos quatro vezes mais ricos no mesmo período, com a invejável renda per capita de US$14,000/ano.

 

Finalizando, vamos pegar alguns ensinamentos do Deputado Chico Alencar e criar

 

OS DEZ MANDAMENTOS DO DEPUTADO DISTRITAL
 

  1. Realizar um mandato de serviço em favor das maiorias, para que todos conquistem seus direitos sociais.
  2. Considerar que um mandato de serviço é a expressão de uma vontade coletiva, não é um emprego.
  3. Ouvir e aprender com os seus representados antes de falar ou legislar.
  4. Buscar a justiça em todos os projetos de sua autoria, assim como naqueles em que for chamado a opinar ou votar. O interesse público deve prevalecer sobre o interesse particular.
  5. Agir com coerência: fazer o que fala, realizar o que promete, cumprir as promessas de campanha.
  6. Agir com transparência e honestidade, denunciando tráfico de influência e negociatas que possam ocorrer.
  7. Defender as denúncias infundadas que ofendem a classe política de forma generalizada com absoluta coragem e sinceridade.
  8. Agir com humanidade e sensibilidade quanto ao sofrimento das pessoas. Seres humanos são seres humanos, não apenas eleitores.
  9. Manter sua simplicidade depois de eleito.
  10.  Buscar a excelência em sua atuação, analisando os problemas com profundidade para encontrar as melhores soluções.

ESTES MANDAMENTOS FORAM INCLUÍDOS NUMA LICITAÇÃO PARA A CONQUISTA DA CONTA PUBLICITÁRIA DA CÂMARA MUNICIPAL DE BRASÍLIA. A PROPOSTA FOI PERDEDORA.

 


Autor: Marcelo Diniz


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