Meu Filho



No dia em que esse velho pai já não for mais o mesmo em ânimo e vigor, tem paciência comigo e me compreenda ...

Quando eu derramar comida na roupa ou me esquecer de amarrar os cordões dos sapatos, tem paciência comigo e me compreenda ... Lembre-se de todas as horas que eu passei ensinando você a fazer essas mesmas coisas quando você era pequeno ...

E quando eu estiver conversando com você e ficar repetindo e repetindo ... Sempre a mesma coisa ... Tem paciência comigo e me escute ... Quando você era pequeno e para que você dormisse, eu tinha que ficar contando sempre a mesma estória até que o seu sono chegasse ...

E quando, sem querer, eu me sujar, não fique com vergonha de mim, não ! ... Compreenda e pense em quantas vêzes, quando você era pequeno, eu ajudei você nessas mesmas circunstâncias, ficando do seu lado pacientemente e esperando que você terminasse de fazer tudo o que estava fazendo ...

E não me reprove também por eu não querer tomar banho e nem me chame à atenção por isso ... Lembre-se da sua infância e dos mil pretextos que eu inventava para tornar o seu banho mais agradável ...

E ao me ver confuso diante de todos os avanços tecnológicos que eu já não consigo mais entender, dê-me todo o tempo de que eu preciso para isso, e não me machuque com nenhum sorriso sarcástico ... Lembre-se de que você aprendeu a andar, comer, vestir, e entender a vida tão bem como você o faz, como fruto do meu esforço e perseverança ...

E quando nós estivermos conversando e eu me esquecer do que estava falando, dê-me todo o tempo de que eu preciso para que me lembre e, se isso demorar um pouco, tem um pouco mais de paciência ! ... Afinal, talvez não fosse tão importante assim o que eu ia falar e, talvez, a única coisa que eu quisesse mesmo era ficar um pouco mais com você ...

E quando eu não quiser comer, tem paciência também ! Compreenda que, com o tempo, eu já não tenho mais os dentes bem fortes para morder e nem um bom paladar para sentir ...

E quando as minhas pernas falharem em razão do meu cansaço, dê-me a sua terna mão para que eu me apóie nela : assim como eu fazia com você quando você era pequeno e estava aprendendo a andar ...

E, finalmente, assim como eu ajudei você no início da sua caminhada, ajude-me também agora, no término da minha ! ...

Com um terno beijo do SEU PAI.
Autor: Marcelo Cardoso


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