QUE ESPÉCIE DE IGREJA HAVIA NA CABEÇA DE JESUS?



QUE ESPÉCIE DE IGREJA HAVIA NA CABEÇA DE JESUS?

Uma análise isenta e atenta nas declarações do Senhor fornece ao leitor da Bíblia um bom sinal para encontrar o Grupo que Jesus tinha em mente como sua "ecclesia (reunião) oficial"

A época atual, em que a religiosidade alcança índices de popularidade invejáveis a qualquer partido político, exige uma reflexão assaz cuidadosa para se tratar daquilo que, infelizmente, parece passar despercebido da maioria participante do "inchaço" das religiões. Refiro-me à gritante disparidade entre aquilo que perfazia, de fato, o conceito de igreja na cabeça de Jesus, e aquilo no qual a igreja se transformou, certamente ao contrário do que planejou o Seu Fundador.

O problema é, a rigor, o ser humano em si, e não as instituições que se formam após a devastação produzida pela vontade individual, que manipula a coletiva. Porquanto onde quer que o Homem entre, seja como convidado ou invasor, as coisas tendem a deteriorar em quantidade e qualidade, sobretudo nos aspectos morais e éticos. Inexoravelmente toda a História humana na Terra prova isso, e não é à-toa que a expressão "errar é humano" sempre alcançou de imediato unanimidade incontest, num dos raros exemplos onde isso ocorre sem exceções. Portanto, consciente e inconscientemente, a Humanidade sabe que ela mesma (todos nós em particular) é o grande instrumento da errância e da incoerência, em estrito e lato senso.

E sob toda e qualquer hipótese, foi neste quadro que a igreja foi fundada, correndo todos os riscos de naufragar nos erros humanos, visíveis e invisíveis. Dada a incalculável quantidade de danos e pecados produzidos dentro da igreja em geral (este artigo restringe-se apenas às igrejas cristãs), vou me ater tão somente ao erro mais "teológico" e universal, que é a "pressuposição de cerceamento da liberdade religiosa como solução para os perigos presumidos, resultantes desta mesma liberdade". Doravante chamarei este erro de "paradoxo do templo".

A idéia da criação de uma igreja nasce, com justa razão, na consciência das perversões e erros humanos, os quais nunca conseguiram se ocultar suficientemente de suas vítimas (nem jamais tiveram esta intenção), tornando-se sempre má influência e extremamente contagiosa perante almas errantes. A noção, pois, da utilidade da igreja, advinha com justiça da consciência de que "ruim com ela, pior sem ela", da mesma forma como, apesar dos terríveis erros da polícia, o mundo ficaria muito pior despoliciado.

Como então visualizar uma igreja perfeita num mundo de trevas? Não é preciso tanto. O próprio Jesus optou por formar um grupo de seguidores num mundo de pecadores (Mt 13,28-30), não apenas correndo o risco de "institucionalizar o desmando", mas de todos os perigos espirituais advindos da perversão e suas inimagináveis operações.

Se é certo que existe grande vantagem em se ter um grupo organizado de seguidores do único ser humano inerrante, como fazer para que este grupo não caia no paradoxo do templo? Ou seja: como chamar alguém à "liberdade de ser bom" sem tolher certas liberdades que a miopia ou a malícia humanas julgam como pecados?... Pois essas miopias e malícias também penetram nos corações religiosos, sobretudo nas lideranças eclesiais, e estas, julgando-se porta-vozes de Deus e da idéia correta de igreja, assumem um posto só cabível ao Criador, a saber, o de juiz moral das pessoas. E nesta empreitada terminam por julgar como pecado a quebra de regras e regrinhas que o próprio Deus jamais transformaria em cobrança para a santificação e muito menos para a salvação das almas (leia Col 2,20-23).

Neste ponto pode-se ver que quanto mais uma igreja incorporar a teocracia, i.e, quanto mais a sua liderança assumir o lugar de Deus, mais riscos corre de corromper-se e degenerar-se em tirania sobre seus seguidores. Então aquilo que para Jesus era apenas um jeito descontraído de reunir, na paz e na alegria, um bando de gente feliz por sua salvação, acaba na blasfêmia de julgar o próximo (Rm 2,1) e no "silêncio dos inocentes", que não têm mais o direito ao livre-exame e não podem mais abrir a boca na sua legítima liberdade de expressão. Veja que é batata: a tirania teocrática sempre culmina na "eleição" (eleição entre aspas) de um líder divino sobre os demais líderes, e, infelizmente, na proibição da leitura da Bíblia, que nos tempos atuais está camuflada pela desculpa 'tecnicóide' de que "o povo não sabe interpretar nem anúncio de jornal, imagine a Bíblia" (isto é verdade, porém este fato isolado – isolado sobretudo nos países semi-analfabetos do 3o Mundo – não pode dar razão à proibição do estudo sistemático da Bíblia e da Teologia, e deveria, ao contrário, estimular os teólogos e estudiosos a fazerem outros rebanhos, aumentando o número de operários na messede Jesus).

Veja que era isso mesmo que pensava Jesus na época dEle, diante daqueles que mais tarde iriam ser tomados como "únicos detentores dos poderes celestiais", os apóstolos, os "perfeitos". Foi numa ocasião em que Jesus ia passando por um caminho ao lado de uma praça em Cafarnaum, na qual um homem qualquer (um cara até certo ponto "desconhecido" dos apóstolos) estava pregando a salvação – pelo Velho Testamento – e os "perfeitos" quiseram proibir o sujeito de fazer tal coisa. Jesus imediatamente os proibiu de o proibirem, dizendo: "ninguém há que faça milagre em meu nome e logo a seguir possa falar mal de mim". Lembre que a salvação é um Milagre – o maior Milagre do perdão – e a sua pregação também: convido o leitor a abrir a Bíblia em Mc 9,38-40.

Será que este trecho do Novo Testamento é falso? Será que ele seria mais uma espécie de "apêndice extemporâneo" adicionado à revelia dos autores canônicos, como alegaram isso para outro trecho de Marcos? (Mc 16,17-18). Não. Evidentemente não. Aqueles que desejam passar essa idéia certamente estão mal intencionados, ou não passam daquilo que Jesus chamava de "sepulcros caiados" em Mateus 23. Para o leitor ter uma visão melhor, veja qual poderia ser a idéia de Alguém que tinha os seguintes pensamentos na cabeça: "Onde houver dois ou três reunidos em meu nome, ali eu estarei" (Mt 18,20); "O Reino de Deus está no meio de vós" (Lc 17,21); "Alegrai-vos, ó pequenino rebanho, pois o meu Pai alegrou-se em dar-vos o Seu Reino" (Lc 12,32); "Estais vendo a beleza do Templo? Pois eu vos digo que não ficará pedra sobre pedra que não seja derribada" (Mt 24,1-2)... E então, em que Jesus pensava? Está claro que o conceito de 'igreja' (ecclesia) na mente do Mestre era muito diferente daquele que está em voga hoje em dia...

E a culpa pela distorção do conceito ao longo dos séculos não deve ser atribuída cegamente às multidões ignorantes que aderiam às paróquias e templos, nem mesmo às denominações após a Reforma. Deve-se responsabilizar, quase que exclusivamente, às lideranças eclesiais que a princípio buscavam alguma segurança duradoura para o Cristianismo, e que depois, contra a pureza da Palavra de Deus, transformaram sua denominação numa empresa como outra qualquer, com hierarquia, organograma, tesouraria, patrimônio invejável, 'seguro de vida' e até "banco oficial", capaz de garantir a perpetuidade da instituição perante todas as intempéries da História. É o paradoxo do templo em pleno vigor.

A idéia original de Jesus é que deve permanecer em nós. Nunca houve na História uma instituição que não obrigasse seus "clientes" a engolir as suas políticas, assim como nunca houve uma igreja que não se auto-elegesse "dona da verdade". Porém Nosso Senhor é um Deus que vê o coração, e sabe distinguir, sem erro, aqueles que são de fato seus. Olhando para estes é que Ele vê a Sua igreja, forte e corajosa, a trilhar o Caminho que culmina no Céu e é por ele iluminado. É uma igreja invisível aos olhos humanos, é verdade, mas possui poderes que não foram dados a empresa nenhuma, nem mesmo às 'religiosas', como São Marcos disse naquele trecho tido por "apêndice extemporâneo". Por último, só uma parte dela pode ser vista por nós: é o nosso corpo, o Templo do Espírito Santo, que é a ponta do iceberg daquela gigantesca ecclesia celestial, vitoriosa e jubilosa.

Prof. João Valente de Miranda.

([email protected])


Autor: João Valente


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