Oralidade e Escrita: Relevância Necessária



Ana Cristina Oliveira Klava

"A maior ou menor possibilidade de um homem dizer o mundo e se dizer está ligada ao maior ou menor desenvolvimentode sua expressão verbal e escrita." (Lígia Cademartori, p.67)

Tendo como pressuposto de que a língua é produzida socialmente, percebemos que sua produção e reprodução é um fato corriqueiro na vida do ser humano.

Sendo a realidade econômica brasileira ainda assustadora, e ao mesmo tempo com fortes injustiças, esta distribui as pessoas em um grande grupo de desfavorecidos e "miseráveis" e uma pequena parcela com privilégios.

Esta diferença social e econômica contribui também para a "diferença" da língua em que milhares de pessoas, ao conseguirem sobreviver, segundo Almeida, não conseguem mesmo falar, mas sim, apenas emitir sons para suprir as necessidades básicas diárias.

Vivemos numa sociedade consumista e individualista, que prega a valorização do ser humano pela aparência física e pela forma de expressão, não levando em conta a formação étnica do povo brasileiro.

A escola, como em qualquer outra entidade, ainda reproduz essa ideologia e esquece que educação é um problema social.

Segundo Paulo Freire, "a educação é um forma de intervenção no mundo. Intervenção que além do conhecimento dos conteúdos, bem ou mal ensinados e/ou aprendidos, implica tanto esforço de reprodução da ideologia dominante quanto o seu desmascaramento.

A educação escolar tem um papel fundamental na reprodução ou desmascaramento da ideologia dominante. A de desenvolver uma prática em sala de aula de trabalho não alienante, em que o aluno seja considerado "transformado" em sujeito do dizer e do saber. E este sujeito agirá sobre o mundo para transformá-lo, fugindo assim da alienação e afirmando a sua liberdade através da linguagem. (CHIAPPINI, apud Geraldy, 1997:17)

Mas a grande preocupação é que na escola a linguagem não cumpre sua função real, se transformando apenas numa situação artificial. O aluno não é valorizado totalmente, não é levado em conta o conhecimento adquirido anteriormente e, principalmente, não se dá atenção a linguagem cotidiana de cada grupo social.

O importante é perceber que a pedagogia, desenvolvida dessa maneira, traz conseqüências sérias, as de ensinar o aluno a grafar, dando pouquíssima importância ao fato de que isso não garante o aprendizado da escrita.

Sabe-se que o texto escrito é muito diferente do texto oral e exige uma preparação anterior do aluno para produzi-lo. O aluno quando vai produzir textos, depara-se com um momento individual para a realização desta ação.

Quando se pretende trabalhar a produção escrita com alunos, deve-se levar em conta de como será o caminho que estes deverão percorrer até a sua construção final.

Mas percebe-se que esta preocupação, muitas vezes, é deixada de lado devido a idéia errônea de que o trabalho com textos sem significação nenhuma para os alunos seja mais eficiente.

Nesse sentido, o que falta segundo Orlandi (apud GALLO, 1995:57), é o entendimento do processo em que ocorre a inserção do sujeito no contexto histórico-social e de seu papel de sujeito-autor[1].

Nessa perspectiva também, devemos perceber, para se ter sucesso na aprendizagem que, vivemos num mundo de transformações e "a verdadeira transformação de um povo se faz ao nível da mente, ao nível da consciência-de-mundo que cada um vai assimilando sobre a infância. Ou ainda, que o caminho para se chegar a esse nível é a palavra. Ou melhor, é a Literatura." (COELHO, 1991:14).

Do ponto de vista de que "a língua é um sistema de signos histórico e social, que possibilita ao homem significar o mundo e a realidade, aprendê-la, portanto, não é apenas decodificar palavras, mas sim seus significados culturais." (PCN, p.24)

É neste ponto que está o grande desafio da escola e, especialmente, do professor, o de compreender a linguagem da criança e não tentar transformá-la.

Sendo assim, a escola necessita respeitar e trabalhar com a diversidade cultural existente em nosso país.Somente depois dessa valorização da fala cotidiana dos alunos, da elevação da auto-estima de cada um é que poderemos ter aluno capaz de colocar-se como sujeito-autor de seus próprios textos, tornando-se assim sujeito crítico e dono de seu próprio ponto de vista.

Sem esquecer da importância fundamental que a escrita desempenha em nossas vidas, devemos nos propor, enquanto docentes, a realizar trabalhos significativos com nossos alunos, sendo os professores apenas interlocutores de seus alunos.

Com a convicção de que na Escola sempre produziu-se e, ainda se produz,textos voltados para a ideologia dominante questiono-me porque nós educadores não despertamos ainda mais em nossas salas de aula alunos criativos e/ou capazes?

Aliando a esses aspectos, ressalvo a importância da formação do professor e também o fato de que é preciso acreditar nas capacidades dos alunos. Portanto, cabe a nós educadores do século XXI nos capacitarmos cada vez mais para enfrentarmos os desafios que o mundo moderno nos propõe a cada dia, e como Ezequiel Theodoro, acreditar que "lutar contra as amarras do cotidiano, pela prática da reflexão e reflexão da prática, deveria se transformar em hábito para todos os educadores."

Portanto, somente respeitando a individualidade e estimulando cada vez mais a auto-estima dos alunos, que as formas de ver a realidade serão possíveis e também a partir do momento que o professor ensinar a aprender, ou seja, criar possibilidades para que uma criança chegue com uma pequena intervenção do professor às fontes de conhecimento que estão a sua disposição na sociedade.




Autor: Ana Klava


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