VERSUS



 

Minha sina é uma serpente cinza, que, sorrateira, singra a seara da vida rumo ao céu silente do sem-fim.

Sitiando a sorte de meu ser, ela assusta os sentidos e sussurra assim:


Tu és a morte

Tudo aquilo que não é forte

Aluno da vida, mestre da demência

O simples silogismo da existência


És o paradigma vil da evolução

O criador e sua maior criação

A certeza incerta da razão

A frágil máquina da emoção


Tua religião é a ciência

Teu dom, ignorância

Teu Deus, tua consciência

Tua bandeira, a arrogância


És o consumo e a cobiça

A mudez da democracia

O bolor da hipocrisia

A tropia da justiça


Pensa-te feitor da história?

És escravo dela

Filho da Hades e Mória

És poeira de Estela




És o plágio, a droga, a alergia...

A sombra, a fuga, a anemia...

Uma lágrima, uma triste elegia

Um ébrio buscando Sophia


És a fraqueza, a velhice:

A mais cruel doença

És a coletiva burrice

És a perda..., és a crença


És o hímen do ego, uma enzima

Um primata chamado Adão

Que Afrodite te negue a rima

Que Aletheia te negue a mão


Sim! Certo o silvo sincero da serpente soava enfim... Mas sou mais!

De olhos cerrados, a segui sofismando assim:


Sou a cura musical

O produto do real

O sonho do ideal

A anomalia mais normal


Sou a luta, o tédio, o cansaço

Sou magia, rubrica, um verso

A expansão do universo

Um terno-complexo laço


Sou o sorriso de Mona Lisa

A fome de mudança

Sou o vento que desliza

Sou amor, sou esperança


Sou o Demiurgo do acaso

Um espírito material

Um taumaturgo do ocaso

Um grito espacial


A tristeza é minha alegria

E a poesia me torna atleta

A solidão é minha companhia

E a dor me faz poeta


Sou o pesadelo da borboleta azul

O devir..., o movimento

Que Zéfiro me leve ao Sul

Aos braços do tempo


O meu olhar é agressivo

O meu ordinário é eclético

O meu sorrir, depressivo

Meu não-saber, profético


Eu sou o Um

O ar, o mar, o incomum...

Estou no Jardim de Epicuro

Sentado, sozinho, no escuro...


Sou epígrafe

Epidídimo

Epitélio

Epidemia

Epílogo

Epitáfio...


Sou o Homem!



Autor: Samyr Cruz Góis


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